O dia estava chuvoso, mas eu não podia faltar a escola sem um motivo importante, e a chuva- por pior que fosse- não era um desses.
O caminho era sempre o mesmo, a distância entre minha casa e a escola era de 2 quilômetros, eu costumava ir de bicicleta, mas a câmara furou o que me obrigou a ir a pé.

A escola não era o melhor lugar pra mim, embora eu gostasse de estudar e os professores fossem gentis, os alunos me detestavam e nada que eu fizesse mudava essa condição. A única outra pessoa que era tão desprezada quanto eu era um menino chamado Wendell.

Wendell era gentil, ele é muito tímido e recluso, tinha um sotaque paulista e era muito inteligente, mas sofria um bullying pior que o meu. E hoje eu decidi defende-lo

Já li histórias onde o bullying leva a morte, e não quero ver esse menino gentil morto por idiotas como meus colegas de classe. Eu sempre via Wendell indo pra escola no mesmo caminho que eu, hoje parei na esquina que ele sempre surgia e o esperei.

Dez minutos depois ele passou, de cabeça baixa e parecia chorar, me aproximei com cuidado

—Wendell? Posso andar com você?

Ele estremeceu, levantou um pouco a cabeça e eu pude ver seus olhos vermelhos.

—por que?

—eu quero um amigo, e você parece a melhor pessoa para ocupar esse cargo, então posso?

Ele assentiu em silêncio e eu passei a andar ao seu lado. Puxei conversa tentando anima-lo

—ei você já fez o trabalho de inglês da próxima semana? É pra fazer em duplas mas eu fiquei sozinha

—não fiz

—legal você pode ser minha dupla! Tem umas canções legais pra duas vozes

Ele parou de andar e me olhou desconfiado.

—o que você quer?

Seus olhos mostravam tristeza, desconfiança e medo. Eu quis desesperadamente tirar isso deles

— eu quero um amigo, cansei de ficar sozinha e cansei de ver os outros te maltratando. Se não quiser ser meu amigo tudo bem, mas eu vou te defender do mesmo jeito- terminei meu discurso e sorri para ele- conte comigo

Ele arregalou os olhos surpreso com o que falei e sorriu minimamente

—ok

O resto da caminhada foi calma, eu falei todo o caminho sobre o trabalho de inglês, em que tínhamos que cantar uma música. Wendell apenas me ouvia, mas parecia feliz

Na escola, a visão de nos dois juntos causou um burburinho de conversas, coisa que eu ignorei, arrastei wendell comigo para que ele se sentasse ao meu lado e continuei a conversar. Durante uma semana fomos observados, sendo alvos de toda fofoca, na sexta feira nos confrontaram 

—o que temos aqui? -era a voz desagradável de Raul o menino que fingiu ser meu amigo no inicio do ano passado- Wendell e Judy? Estão namorando é?

Me levantei para enfrenta-lo mas Wendell foi mais rápido, ele segurou minha cintura e olhou para Raul

—por que? Esta interessado nela ou em mim? - houve gritinhos de provocação para Raul

Eu entendi sua ação no mesmo momento,coloquei meu braço entre torno dos ombros de Wendell, para atuar também

—vocês não estão falando sério-falou Raul, embora sua voz hesitante

—e devemos alguma explicação pra você por acaso?- questionei

—provem!

Wendell me olhou pedindo permissão, revirei os olhos e assenti. Os nossos lábios se encontraram pela primeira vez e um grito alto se ouviu da sala.

—ma-mas -Raul perdeu a voz mas eu não liguei, abri meus olhos que se fecharam durante o beijo

Eu estava corada e fiquei feliz ao ver o sorriso de Wendell, ele parecia radiante