In Perfect Harmony escrita por EsterNW


Capítulo 6
Sabores do Velho Mundo


Notas iniciais do capítulo

Olá, povo! Preparados para o último capítulo? Eu não, mas estamos aqui mesmo assim xD
Leiam as notas finais, temos coisas importantes por lá.
Boa leitura ;)



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Foram mais de vinte coches desde que chegara à ponte. William contou cada um deles, na expectativa de que fosse aquele que traria Elise para ele. Todos passaram reto. Isso porque contou apenas os que vieram da direção da Strand Street, caso contrário, estaria arrancando tufos de cabelo em aflição naquele instante.

Pegou o relógio de bolso mais uma vez, vendo que passavam dois minutos do meio dia. Olhar as horas a cada minuto não ajudaria em nada. Com isso, castigaria-se ainda mais com a aflição crescente. William suspirou, chutando terra do calçamento e apoiou os braços sobre a amurada da ponte Blackfriars.

Se tudo fosse tão simples como ele desejava, não precisaria estar contando os minutos que andavam a passos de tartaruga naquela cidade, sufocando-o com o medo de que Elise não viria. Sim, William tinha medo que ela o abandonasse. Mas a escolha estava toda nas mãos de Elise. A vida era dela e cabia a ela, e apenas ela, decidir o que fazer. As opções estavam dadas e a ele restava apenas aguardar. Torcia para que Elise escolhesse o lado dele, mesmo sabendo que tudo era incerto demais. 

Será que ela seria capaz disso? O ator preferia acreditar que sim. Caso contrário, deixaria seu país de origem de coração partido. Não que isso não tivesse acontecido outras vezes, mas William não desejava repetir a experiência outra vez. Apesar da crença popular de que, por ser um ator, ele obrigatoriamente seria um boêmio e libertino, William Edwards tinha um coração. E, para seu infortúnio, este coração apaixonara-se pela Elise que conhecera através de tantas cartas trocadas. Aquela era a Elise verdadeira, sem impedimentos, sem preocupações com regras de etiqueta e decoro a ser seguido e conversas afuniladas para tópicos como o tempo e as estradas. Eles podiam falar sobre o que quisessem na privacidade daqueles papéis.

William tirou novamente o relógio do bolso, vendo que passavam cinco minutos do meio dia. Enfiou o objeto de volta em um lugar sombrio de seu colete, querendo parar de olhar as horas e sentir-se pior. Ele não se importaria em esperar quanto tempo fosse necessário, contudo, a companhia não faria o mesmo por ele. Mais dez minutos? Era o máximo que poderia dar.

Abaixou a cabeça, encostando a fronte no metal frio da amurada da ponte. Assim como o céu sobre a sua cabeça, cinzento pelas nuvens de fumaça jogadas na atmosfera pelas fábricas, misturado ao tempo nublado tão contumaz da capital, as águas do Tamisa possuíam uma coloração parecida. William torceu o nariz, não aguentando observar aquela água suja e fétida.

Olhou mais uma vez para a extremidade da ponte, na direção da Strand Street, algumas ruas atrás. Seu coração acelerou como os passos dos cavalos, ao ver mais um coche, porém, como os outros tantos que passaram por ali naquele início de tarde movimentada, passou de largo. William olhou para as nuvens cinzentas, soltando uma maldição entredentes. Fechou os olhos, soltando a respiração lentamente, como se fosse um dos exercícios que aprendera no teatro.

— William? — ele ouviu seu nome ser chamado ao longe, olhando novamente para a mesma extremidade da ponte, vendo um coche estacionado e Clint ajudando Elise a descer. O veículo parecia ter brotado em um passe de mágica.

Sem importar-se com o tráfego de pessoas, William correu, envolvendo Elise em um abraço tão forte que tirou a moça do chão. A dama riu ao sentir o calor dos braços do ator ao seu redor, tentando devolver o gesto enquanto enterrava o rosto na curva do pescoço dele.

— É realmente uma lástima ter que interrompê-los, mas... — Clint manifestou-se, apontando para os transeuntes que observavam o casal com curiosidade e até censura. Mais um pouco e algumas pessoas parariam para assistir tudo como um espetáculo.

— Para os diabos a opinião dos outros, Clint! — William amaldiçoou para os curiosos e colocou Elise no chão. A dama ergueu as sobrancelhas, surpresa com as palavras do outro e o ator desculpou-se.

Clint deu uma gargalhada nada discreta, apenas tornando a situação ainda pior. As pessoas dispersaram-se aos poucos, ignorando o trio.

— Está entregue, Srta. Elise. — Clint fez uma reverência polida para ela, gerando riso na moça que era toda sorrisos naquele instante. — Peço-lhe que cuide bem do meu amigo — ele brincou com uma piscadela.

— Cumprirei o seu pedido — ela devolveu uma piscadela e Clint sorriu, observando o casal.

O cocheiro desceu, deixando a mala de Elise no chão e William pegou-a com uma das mãos, passando a outra pela cintura da amada. Ela estava ali com ele e com ele iria embora. Sem mais delongas e aflições.

— Bem, resta-me apenas dizer adeus. Sem lágrimas, por favor. — Clint estendeu a mão e o casal despediu-se do amigo.

Os dois deram as costas para Clint, que acenava na direção do casal, e partiram juntos. Elise sorriu para William assim que sentiu a mão dele envolver a dela. Ela abraçava a incerteza e deixava seu coração livre para voar com ela sobre as águas do Canal da Mancha.

 

 

Londres, 10 de julho de 1869.

Cara Elise,

Sofro a cada dia mais com saudades suas. Meu coração palpita a cada vez que vou junto de Camille ao Kensington Gardens e vejo vazio o lugar que pertencia a você. Clint insiste em assegurar-me que vocês estão bem, entretanto, não estarei segura disso enquanto não ver vinda de você a resposta, pois tenho certeza que sempre será sincera para comigo: está tudo bem? William mostrou-se um bom marido? Vocês não estão passando por dificuldades pela Europa, estão?

Minha vontade é de tentar colocar algum bom senso em você, porém, sei que agora é tarde demais. Portanto, tudo que me resta é apenas desejar que tudo esteja correndo bem para vocês dois, minha querida amiga.

Afora minhas preocupações, a vida ainda continua quase a mesma aqui em Londres. Digo quase a mesma, pois agora estou noiva! Acredita que papai deseja que eu me case com o filho mais velho dos Michaels, Elliot? Segundo ele, os planos foram alterados de última hora por culpa sua. Questiono-me por quê... 

Elliot é um bom rapaz, reconheço, contudo, não é novidade para você a quem pertence meu coração... Sonhava com o dia em que seríamos cunhadas, porém, as lágrimas vêm ao perceber que isso não será possível. Mesmo assim, quero que saiba que sempre a considerarei como minha irmã. Mesmo que não seja pela lei, você sempre será minha irmã em meu coração, querida Elise.

Espero uma resposta com urgência, para amainar minhas dúvidas e aflições. Escreverei novamente no começo de agosto, quando seu irmão retornar de Oxford, pois tenho certeza que você desejará saber sobre ele. E eu também.

Sinceramente, Caroline Jones

 

Elise repousou a carta de Caroline sobre a escrivaninha velha daquele quarto de hotel. Voltou o rosto para cima, sentindo o sol fraco do verão do verão russo atingir-lhe a face. Tomando coragem, molhou a ponta da pena e tentou procurar as palavras, riscando algumas e adicionando outras no processo.

 

Moscou, 7 de agosto de 1869.

Querida Caroline,

Antes de qualquer coisa, sinto a necessidade de desculpar-me. Saiba que nunca foi minha intenção ser a causa de tamanha aflição nem para você e nem para minha família. Eu fiz o que tinha que fazer, caso contrário, estaria fadada a uma vida (de conforto, é óbvio) de amargura pelo resto de meus dias. É provável que veja esta linha como um exagero dramático de minha parte (consigo imaginar com clareza a expressão de seu rosto com o início dessa carta), mas, como não poderia proceder de outra forma com você, estou sendo sincera. Seria desgostosa por todos os meus dias, com meu coração perdido junto de William pelo globo e também seria o mesmo para Elliot, apaixonado por outra pessoa, como creio que irá descobrir. 

Bem, sobre seu casamento com o Michaels, confidencio que a destinada a ser a noiva de Elliot era eu, e a você restaria casar-se com Sebastian, o mais novo, segundo meu pai contou-me no dia anterior à minha fuga. Sinto muito, pois sei de seus sentimentos para com meu irmão. 

A você, querida Caroline, apenas desejo que também tenha coragem para moldar seu destino. Não é necessário uma fuga e uma vida de incertezas como a minha, mas oriento para que tome as rédeas em suas próprias decisões, pois coragem para tal eu sei que tem, querida amiga.

Em resposta às suas questões do início de sua carta (neste momento, deve estar ainda mais aflita por minha causa, perdão): estou bem, como nunca imaginei que estaria!

É difícil, admito, acordar a cada mês tendo um novo céu sobre minha cabeça e uma cidade desconhecida à frente, porém, eu não poderia estar mais feliz! E grata. Agradeça ao Clint por mim, por favor.

A vida é incerta e fui obrigada a deixar o luxo de lado (tanto que nem sei o que é ter um vestido novo desde que saí de Londres), mas o sacrifício valeu a pena. Apenas sinto por papai e mamãe, imagino como devem estar desapontados comigo... A este ponto, creio que eu tenha sido deserdada, o que não incomoda-me tanto.

Antes de finalizar esta carta, preciso contar-lhe: graças a William, consegui encontrar compradores interessados em meus desenhos! Não posso assinar com meu próprio nome, por ser mulher, e vi-me obrigado a adotar o pseudônimo de Linton Davidson (nome estranho, não?). Apesar do caminho duro que tenho pela frente, sonho com o dia em que exporei meus próprios quadros. E você será a primeira a saber através de uma carta, Carol!

Despeço-me de você com minhas felicitações. Tente dar uma chance a Elliot, aconselho-te. Às vezes, não percebemos pessoas maravilhosas ao nosso lado, pois estamos com a mente perdida em nuvens altas demais.

Sempre sua, Elise Edwards

 

— O sobrenome Edwards fica mais belo em sua assinatura do que na minha. — A voz de William sussurrou na orelha de Elise, fazendo com que ela tivesse um sobressalto e colocasse a mão sobre a boca, engolindo o grito de susto. 

Elise riu, voltando os olhos para o marido e vendo o sorriso dele dirigido para ela. Não era a primeira vez que via a mesma expressão no rosto do ator, tanto que ela brincava que William, apesar da boa atuação, nunca seria capaz de esconder a expressão de rapaz apaixonado.

— Elise Edwards... — ela disse, saboreando cada sílaba do próprio nome. — Gosto da sonoridade.

Aos risos, ergueu-se da cadeira em que estava sentada, deixando que os braços de William envolvessem-na e seus lábios tocassem os seus em um beijo que nunca cansaria de saborear.

 


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Notas finais do capítulo

E aqui terminamos a IPH, com um final docinho entre esses dois, por que não? Apesar das dificuldades que esses dois com certeza vão enfrentar, vamos nos focar nas coisas boas por aqui :)
Como disse nas notas iniciais, tenho uma coisa importante pra contar pra vocês: alguns leitores comentaram que ficaram surpresos que esse seria o último capítulo, mas, apesar de darmos adeus à Elise e William, esse não será o adeus ao universo IPH!
Perceberam esse rolo todo da Caroline ter que se casar com o Elliot, mas, ao mesmo tempo, gostar do irmão da Elise? Fechando essa ponta, no desafio de drabbles do Nyah, teremos um spin-off com a história desses três. Pra quem quiser, pode vir pode chegar ♥ https://fanfiction.com.br/historia/782550/Choose_Me/
Até mais ver, povo o/



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