Dany estava sentada em sua cama, ainda era noite. Em sua testa o suor pingava e ela respirava com dificuldade por conta do sonho que teve. Sonhara que era um dragão. "Seja um dragão" ela escutou em seus sonhos a voz da velha Olenna ecoando ao longe, enquanto seu corpo se retorcia e asas enormes saiam de suas costas. "Seja um dragão" ela escutou quando seu corpo ganhou escamas, e da sua garganta não saíam mais gritos de dor ou medo, e sim fogo. "Seja um dragão" foi o que escutou antes de acordar.

Não conseguia voltar a dormir, então Dany saiu pelos corredores dos castelos, observando toda a sua estrutura, seus desenhos e esculturas desenhadas na parede daquele enorme e frio castelo. Aquele não era um lar para ela, era só um lugar onde os fantasmas do que um dia fora a sua casa restou. Ela queria se sentir em casa, mas só conseguia se sentir solitária, vazia.

— Não consegue dormir, garota?— ela escutou uma voz atrás dela, o que a fez pular com o susto que levara. Era Lady Olenna, que riu da cara de espanto da jovem Targaryen. "Uma garotinha", era o que pensava toda vez que olhava para a jovem de cabelos prateados a sua frente. "Uma garotinha sozinha no mundo, cercada das pessoas erradas."

— Não, tive um sonho... estranho. Acordei e não consegui voltar a dormir, então resolvi dar uma volta pelo castelo. - Dany respondeu após se recuperar sob o olhar duro e preocupado da velha a sua frente, e então se perguntou se era assim que uma avó olhava para seus netos, ou uma mãe para seus filhos.

— E sonhou com o quê, minha querida?- A senhora dos espinhos perguntou, estendendo o braço para ela, que logo enlaçou e então puseram-se a caminhar.

Dany não respondeu de imediato, mas havia algo naquela mulher que chamava a sua atenção. - Que eu era um dragão. 

Olenna sorriu discretamente, mas não disse uma palavra, o que deixou a garota Targaryen levemente irritada. 

— O que pensa realmente, Lady Olenna? Sobre tudo isso? - Perguntou então, depois de um tempo caminhando até pararem em frente a sala que outrora todos estavam reunidos discutindo o que fariam. 

A rainha dos espinhos olhou para a garota, e analisou seu rosto. Seus olhos lilases brilhantes carregavam preocupação, medo, poder. 

— Quando minha família toda fora morta, eu já não tinha mais esperança de mais nada. E quando Varys veio até mim para apresentar você, confesso que não quis no início, mas vim. Vim por vingança. Meu último desejo antes de morrer: vingar a minha casa, nem que para isso eu tivesse que me aliar com a filha do último Rei Targaryen, o Rei Louco. 

Dany se mexeu desconfortável na cadeira. Odiava como no fim, tudo se resumia a seu pai. Mas deixou que a senhora a sua frente continuasse.

— Confesso que senti medo, principalmente por saber que além de filha de quem é, você tem três dragões enormes. Mas Varys tranquilizou a mim, me falando de seus feitos. Aceitei por desejo de vingança, vim até você, jurei lealdade, entreguei meus soldados a seu dispor pois só queria vingança contra aquela mulher que hoje ocupa o Trono que você quer conquistar. Nada que você não saiba.

— E você não deseja mais isso? - Questionou Dany.

— Ah minha querida, e como desejo ainda. Sonho todas as noites com isso. Por isso estou aqui. Os inimigos dos meus inimigos são meus amigos, certo? Mas... Algo mudou agora. 

— O que mudou? - perguntou a platinada, curiosa.

— Você. Não você, claro. Mas... em quem você deposita a sua confiança, minha Rainha. Você se recorda do que eu disse antes a você, hum? Sobre homens, sobre sua mão. Sobre homens inteligentes. 

Dany fez que sim.

— Então você já sabe o que fazer. Sei de toda a sua trajetória por Essos, mas aqui não é Essos, minha garotinha. Aqui o jogo é diferente, é mais perigoso, mais difícil. Você vai precisar de algumas cinzas se quiser conquistar esse Trono, é inevitável. Você é poderosa, sim. Mas Cersei é esperta, e sua Mão sabe disso. Sei que confia nele, principalmente por ser um homem inteligente, mas lembre-se de quem ele é, lembre-se do sangue que corre em suas veias.

— Está dizendo que devo desconfiar do homem que escolhi para me aconselhar? 

— Minha querida menina, um último conselho de uma mulher que viveu tempo o suficiente para aprender algumas coisas: nesse mundo não há um só homem em quem uma mulher deva depositar toda a sua confiança. E não deixe que eles o digam o que deve fazer, nunca. Se eles o fizerem uma vez e você obedecer, eles o farão sempre.

*** 

A rainha dos espinhos era uma mulher sábia, Dany sabia disso. E por isso ficou o resto da noite rolando em sua cama pensando no que ouvira daquela mulher, que nem percebeu que o dia havia amanhecido, somente quando Missandei entrou em seu quarto para ajudá-la com seu banho e suas tranças.

Enquanto estava de molho, contou a Missandei sobre seu sonho e sua breve conversa com Lady Olenna durante a madrugada. Sabia que ela seria a única a escutá-la e falar algo sem insinuações. 

— O que você acha sobre isso? 

— Não sei se devo, minha Rainha. - Missandei disse.- Não sou a melhor pessoa para tratar sobre esse assunto com a senhora.

— Dany, me chame de Dany. Aqui não existem formalidades entre nós - ela disse calmamente.- E você é minha conselheira tanto quanto Tyrion ou Varys. Nós estamos juntas a muito mais tempo do que um dia eles estarão ao meu lado. Por isso eu confio em você mil vezes mais do que confiarei em algum deles. Me diga o que pensa sobre.

Missandei sorriu docemente, estava envergonhada pois por mais que há tantos anos esteja ao lado de sua Rainha, ela ainda não estava acostumada a ser sentir alguém, a ser ouvida, a ter suas próprias vontades e muito menos a dizer ou ter suas próprias opiniões. Tudo aquilo ainda era novo para ela, mas ela gostava. Então respirou fundo antes de dizer:

— Quando eu vi você pela primeira vez, eu fiquei encantada. Ver você falando com os meitres, se dirigindo a eles, mesmo que eu traduzisse, era fantástico. Os homens com você apenas a acompanhavam, mas era você quem falava. Eles apenas a escutavam e a seguiam. Quando você exigiu a mim para os meitres e depois me libertou, nenhum homem lhe disse para fazer aquilo. Quando libertou o exército, ninguém lhe disse para fazer aquilo. Não havia uma Mão, como você chama. Não havia conselheiros sussurrando em seus ouvidos. Era só você, era só Daenerys Targaryen. Não que esses homens ao seu lado agora não sejam bons, mas certamente você é melhor que eles. É por isso que os imaculados estão ao seu lado, por isso os Dothrakis a seguem fielmente. Por ser você, por acreditarem em você.

 Dany sentiu as lágrimas brotarem em seus olhos, e então abraçou a amiga. Passara muito tempo escutando seu irmão, e ele lhe causou coisas horríveis. Mas quando ela resolveu escutar a si, sua vida mudou completamente. E foi assim que pediu para que suas convidadas ficassem mais um pouco.