Arquivos da Frota Estelar 6 - Jean-Luc Picard escrita por Valdir Júnior
Mal haviam se passado cinco minutos quando o painel do posto tático do tenente Worf emitiu um pequeno sinal sono. Depois de consultar o monitor, o oficial Klingon informou preocupado:
— Capitão, um cruzador de batalha cardassiano classe Galor acabou de entrar no sistema. E está com os escudos levantados e as armas em prontidão.
Picard olhou surpreso para seu oficial tático, franzindo a testa.
— Capitão – disse por sua vez o comandante Data – estão nos saudando.
Picard levantou-se da cadeira e se colocou em pé logo atrás da estação de pilotagem da nave.
— Na tela, Data – ordenou ele.
Imediatamente o rosto agressivo de um oficial cardassiano surgiu no grande monitor.
— Eu sou o capitão Jean-Luc Picard da nave da Federação U.S.S. Enterprise, respondendo ao seu chamado – disse o oficial da Frota – podemos ajudá-lo em algo?
O cardassiano olhou para Picard com certo ar de desprezo e disse irritadiço:
— Eu sou o Gul (1) Makbar, comandante do cruzador da União Cardassiana Ghemor. Posso saber por que vocês estão abrigando um criminoso de guerra em sua nave?
Picard olhou calmamente para o oficial da armada cardassiana e suspirou, antes de responder.
— Gul Makbar, isso é novidade para mim – disse o capitão – você poderia esclarecer melhor esta sua afirmação?
— Um terrorista bajoriano chamado Benten Falor vem atacando instalações em Olmerak e Goralis, dentro do território da União Cardassiana — disse Makbar – nós conseguimos rastreá-lo até aqui, mas quando nos preparávamos para capturá-lo, vocês o recolheram em sua nave.
O capitão Picard deu mais dois passos em direção à grande tela da ponte e encarou o cardassiano com certa irritação.
— A questão de Benten Falor ser um “terrorista” ou não vai ser investigada – disse ele sério – no entanto o que mais me preocupa no momento é ver um cruzador de batalha cardassiano entrando sem qualquer aviso no espaço da Federação com armas em prontidão e uma postura tática ofensiva.
A resposta de Picard não agradou em nada o gul cardassiano. Os músculos do seu maxilar se retesaram e ele retrucou de modo duro.
— Humano, nós assinamos recentemente um tratado de paz com a Federação – disse Makbar – e estamos negociando o realinhamento das nossas fronteiras. A pouco mais de um ano esta região estava sob a nossa administração. Por isso esperávamos certa dose de boa vontade da parte de vocês em auxiliar seus vizinhos.
Jean-Luc esboçou um sorriso irônico. “Boa vontade? Ele só pode estar brincando!”, pensou o capitão.
— Makbar – disse Picard – é justamente em nome da “boa vontade” é que por enquanto não estamos encarando sua presença aqui como uma incursão hostil de cardassia.
O gul cardassiano abril a boca para protestar, mas antes que falasse o capitão da Frota Estelar levantou a mão, interrompendo-o.
— Dito isso – continuou Picard – recomendo que até que este assunto se resolva você desative as suas armas e aguarde. Vou entrar em contato com o comando da Frota informando suas alegações e motivos. Assim que eu tiver uma resposta informo o que foi resolvido.
O oficial cardassiano olhou desafiador para o capitão.
— Eu se eu não achar estas condições satisfatórias?— perguntou Makbar.
Picard cruzou os braços sobre o peito e respondeu calmamente, devolvendo com firmeza o olhar do cardassiano.
— Então você estará arriscando quebrar um tratado que levou muitos anos para ser negociado e que vai beneficiar a ambos os nossos governos. E como você está no nosso quintal, a prerrogativa de responder a uma invasão seria nossa.
O cardassiano estreitou os olhos e depois de alguns segundos respondeu irritado:
— Fico aguardando o seu contato. Mas espero que não demore, porque paciência é uma virtude que eu não possuo.
E dizendo isso, fechou o canal de comunicação.
— Sr. Worf – disse Picard para o seu oficial klingon – levantar escudos. E fique de olho neles.
— Sim, senhor – respondeu Worf.
O capitão tocou o broche-comunicador (2) no lado esquerdo do seu peito e abriu o canal para o seu primeiro-oficial.
— Número Um – perguntou ele – o sr. Falor está com você?
— Acabamos de deixar o hangar de atracação e estamos a caminho dos alojamentos, capitão— respondeu Will Riker.
— Muito bem – disse Picard – logo que ele estiver instalado, encaminhe-o ao meu gabinete. Precisamos conversar com certa urgência.
— Entendido, senhor – o primeiro-oficial.
E o capitão Jean-Luc Picard olhou mais uma vez para o grande cruzador cardassiano que ocupava quase toda a tela da ponte da Enterprise. “Isto é tudo de que eu não precisava”, pensou ele preocupado.
Referências do Capítulo:
(1) Gul é um posto militar cardassiano que designa o comandante de uma nave, instalação ou possessão e é compatível com o posto de capitão ou comodoro na hierarquia de comando da Frota Estelar, dependendo da situação.
(2) O broche-comunicador é uma tecnologia desenvolvida pela Frota Estelar no início do século 24, que miniaturizou os comunicadores e os acoplou às insígnias dos seus oficiais e tripulantes, tornando a comunicação entre eles mais rápida e dinâmica. Eles também servem como marcador para transporte e para monitorar os sinais vitais de quem os usa.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!