Yours Green Eyes escrita por Itiana Chan


Capítulo 1
Capítulo 1- depressão...




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Erros já não mais sangram

Ossos não mais se quebram

A dor se desfaz no sono

Pois, a morte é um descanso

Mas viver ainda é a melhor opção...

 

— você é apenas um lixo inútil! A voz rude e embriagada de seu padrasto ecoou pelo cômodo enquanto suas costelas eram violentamente chutadas. A dor fez com que o rapaz se encolhesse no chão sentindo o gosto de sangue inundar sua boca.

Cuspiu um dente que fora arrancado durante os primeiros golpes e tentou erguer-se ainda em silencio. Nunca ousara retrucar aquele homem que os espancava sempre que estava bêbado e a única coisa que o consolava era saber que ao menos ele não bateria em sua mãe, já que que descontara todo o seu ódio em si.

“O que exatamente você quer? Já fica com todo o meu salário!” O jovem loiro perguntava-se vendo o padrasto afastar-se para acender um cigarro que logo seria apagado em sua pele como de costume.

Kurtis acordou de seus devaneios ao ouvir seu nome sendo chamado por uma voz irritada. Abriu seus belos olhos azuis um tanto apagados e encarou o amigo, tentando descobrir onde estava.

— porr* você viajou dessa vez! Chuck exclamou rindo, tão chapado quanto o amigo e o viu sentar-se ao seu lado no sofá de couro. – tem uns quinze minutos que estou te chamando, temos um show daqui a menos de uma hora...

— estava lembrando de umas coisa...- Kurtis explicou com a voz arrastada, ainda bem intoxicado pela droga que corria em suas veias. Puxou o elástico do braço e olhou em volta constatando que estava em seu camarim.

— eu vou tomar um banho... – Avisou erguendo-se lentamente e cambaleou até a porta que dava para o banheiro interno do quarto.

— Kurtis... – A voz de Chuck soou com um tom carregado de preocupação e o amigo virou-se para o observar.  – cara, você está bem? 

— estou bem! O loiro sussurrou para si mesmo, tentando se convencer de que realmente estava bem e riu baixo fazendo uma careta por não conseguir reconhecer sua própria voz. Antes que o amigo pudesse retrucar novamente, o loiro entrou no banheiro antes que o amigo o deixasse ainda mais depressivo.

Despiu-se e permitiu que a água fria escorresse por seus músculos dormentes e perdeu-se novamente em pensamentos. Socou os azulejos frios com força até que os ossos estalassem e gritou de frustração, porque não podia simplesmente esquecer todas aquelas malditas lembranças ruins?

De repente, a imagem dos cabelos longos e loiros de sua mãe retornaram a sua mente, seu sorriso carinhos que parecia dizer que tudo ficaria bem, mas logo relembrou todo o sangue que manchara seu vestido florido e belo. Chorou sentindo uma dor insuportável e escorreu pela parede até sentar-se no chão frio.

“Pode até estar preocupado mas, jamais entenderá a minha dor...” Pensou consigo mesmo.

—______________________________

Algumas horas se passaram e rapidamente estava pronto para fingir que estava bem o suficiente para realizar mais um show da banda que formara com seus antigos amigos do colegial. Observou com agastamento seus companheiros passarem o som e os instrumentos musicais, aos poucos aquela rotina deixava-o cada vez mais abatido e tentava a todo custo não demonstrar o que estava sentindo.

A constante pressão sufocava-o ao ponto de não conseguir mais compor, o que sempre fora sua grande paixão. Sabia que não conseguiria manter aquilo por mais tempo, seguindo apenas por afeto a seus amigos e temer em prejudica-los com sua saída da banda.

O som de sua própria voz ecoou por seus ouvidos e um suspiro de alívio pode ser ouvido por toda a plateia, sentia-se bem em saber que sua voz estava normal e não desafinara como imaginava que aconteceria.

Enquanto cantava, pensou em algumas frases que poderia incorporar a uma nova canção e perguntou-se quanto tempo sua garganta aguentaria naqueles acordes mais longos, quase aos gritos. Gostava de pensar que ao menos na música, conseguia extravasar suas emoções e após o sucesso do álbum Green eyes tudo se tornou ainda mais agitado.

Depois de duas horas quase ininterruptas cantando, o show finalmente terminou e recolheram-se para que a próxima atração da noite entrasse no palco. Chuck sorriu animado e arrastou os amigos para um bar que ficava na mesma rua da boate.

— vamos encher a cara, o cachê foi bom essa noite! Exclamava quase pulando de euforia, chacoalhou seus cabelos negros e cumpridos como se dançasse ao som de uma guitarra.

— eu passo, ainda “tô” chapado de mais pra isso! Kurtis debochou e começou a caminhar sem rumo pela calçada até afastar-se dos amigos. – podem ir... daqui eu pego um taxi e vou pra casa!

Ao finalizar a frase sorriu despedindo-se com um aceno casual, Chuck ainda pensou em retrucar, mas acabou sendo arrastado pelos outros em direção ao bar, olhou uma última vez para o amigo loiro que sumia e não tendo mais opções, deixou-se ser levado.

— deixe-o em paz! Ele deve estar pensando em alguma letra nova... não é sempre assim? Kurtis ouviu um dos amigos dizer ao longe e sorriu com tristeza.

“Acho que poderia dizer que sinto muito.” – Pensou consigo mesmo e continuou caminhando enquanto tragava um cigarro. Avistou uma antiga ponte construída com grandes vigas metálicas, notando que sob ela havia uma lago de água bem agitada e sentou-se na borda com as pernas voltadas para a bela vista que tinha.

— é um belo lugar para um fim! Pensou equilibrando-se de pé, fechou os olhos e respirou fundo aceitando o que lhe parecia inevitável. Ergueu os braços pronto para pular porém, foi interrompido por uma voz que gritou próximo e em seguida, mãos pequenas agarraram sua perna direita.

— não faça isso... pense bem! A voz tornou a chamar sua atenção, virou-se para encarar a pessoa que o impedira e reparou em seus grandes olhos verdes que pareciam brilhar na escuridão, seus cabelos estavam cobertos por um chapéu mas, pode notar que eram dourados como os de sua mãe.

— melhor ir embora... – Resmungou vendo que a pessoa escalava tropegamente as vigas de metal e sentar-se ao seu lado, aparentando não estar com medo do perigo que corria subindo ali. – apenas deixe-me adormecer eternamente...

Seu rosto estava coberto parcialmente pela escuridão, mas podia sentir empatia por aquela pessoa que tentava o ajudar sem ao menos conhecê-lo.

— há um escritor que não me recordo o nome... – A pessoa sussurrou olhando para a água a alguns metros de distância. – ele diz que a morte é mais dolorosa para quem fica do que para os que vão e acabamos chorando pelos familiares e não pela perda.

— tenho certeza que há alguém te esperando em casa... – Continuou e Kurtis sentiu uma estranha sensação de familiaridade naquelas palavras que o calou por estar perdido em pensamentos.

 No fim, acabara cedendo e desceu da ponte sendo seguido pela pequena pessoa desconhecida que parecia orgulhosa de sua façanha.

— então... eu me chamo Kurtis Williams! O loiro se apresentou erguendo a mão esquerda em um cumprimento formal. – acho que devo te agradecer...

— eu sei! Sou Loren Fox... – O outro respondeu parecendo ansioso e após alguns segundos observando a mão estendida a sua frente, sorriu aceitando o cumprimento.

— esse nome... – Kurtis exclamou com um olhar surpreso, puxou-lhe pelos ombros e pode ver seu rosto sob a claridade do poste no início da ponte. – Meu Deus... mal posso acreditar nessa coincidência!

— achei que não me reconheceria! Loren sorriu se balançando lentamente de um lado para o outro com animo, mostrando suas covinhas nas bochechas. – já faz tantos anos que não nos vemos...


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