Juntos por uma Eternidade escrita por CamilaHalfBlood


Capítulo 15
Capítulo 15 – O Fenômeno


Notas iniciais do capítulo

Opaa, dessa vez eu não atraseei :3
O prox talvez nn saia nesse domingo pq eu to decidindo algumas coisas ainda, maaas nn vai passar de duas semanas nn tá ;-;



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Capítulo 15 – O Fenômeno

Pov. Bella

Havia começado a nevar novamente, mas a combinação com a chuva causou a formação de uma camada de gelo por cima do asfalto: perfeita para se desequilibrar facilmente.

Esse fato já me fez querer faltar na escola.

Mas nesse dia eu não iria o fazê-lo, não importando o quanto me parecesse tentador, por que mesmo que nunca fosse falar em voz alta, eu estava com saudades de Edward.

No primeiro dia estranhei, mas não no segundo dia. Quando não o vira, meu humor se foi. A única coisa que conseguia pensar era – Eles haviam ido embora .— por que era a única explicação, finalmente havia chegado, não é?

Sabia que haveria uma momento que eles fugiriam de mim, quando a verdade fosse revelada. Era o destino derradeiro, se não fossem embora quando soubesse o quanto eu sou perigosa ou pelo o que eu fiz quando fui expulsa, então seria pelo o que havia feito com Elisabeth.

Mas não achara que nunca teria a oportunidade de ao menos contar a verdade ou pelo tentar me explicar.

Não que contar a verdade para eles estivessem em meus planos, mas me aproximar deles também não estava e isso tinha acontecido.

Entretanto, no mesmo dia recebi aquela mensagem que fez meu coração bater forte contra o peito.

E depois disso, tínhamos nos falado todos os dias, sempre no mesmo horário e apenas desligávamos quando Edward insistia em eu ter que dormir.

Lembrar disso foi o suficiente para me levantar e me preparar para a escola.

Além do mais, não conseguiria ficar mais um dia dentro de casa, não com a agonia de não saber o que estava acontecendo. Charlie não havia voltado e isso ainda me preocupava. Desde o dia onde ele havia saído junto com Jacob sem me explicar seus motivos eu não ouvi nada do seu paradeiro, apenas Billy que me ligara no segundo dia para me deixa um recado do mesmo.

Estou bem, apenas estou investigando aquilo em Seattle, volto logo”— Isso não me ajudava em nada.

Claramente ele estava tentando me acalmar, mas eu duvidava que era algo tão banal dessa forma para mantê-lo longe de casa por tantos dias ainda mais com Jacob ajudando.

Depois disso, mesmo que eu ligasse todos os dias para a casa de Billy querendo informações de Charlie ninguém nunca atendia, tocava até cair na caixa postal.

Essa situação me deixava tão estressada que, se Charlie não houvesse levado a caminhonete, já teria ido atrás do mesmo ou pelo menos ido até a reserva.

Tentei esperar o máximo que me permitia por Charlie, mas não houve nenhum sinal dele, então deixei um bilhete pedindo para me ligar assim que voltasse para casa.

Mas sua ligação nunca vinha, mesmo eu tenho deixado o mesmo bilhete em todos os dias que eu fora a escola.

Peguei a chave reserva de Charlie e tranquei a porta assim que sai.

Charlie havia saído com a picape e deixado o carro da polícia estacionado no meio fio, entretanto eu não tinha autorização ou chave para usá-la.

Então teria que ir andando para a escola como estava fazendo em todos esses dias, suspirei amargamente com esse fato.

O gelo no chão estava pior do que eu imaginava, então tive que tentar andar o mais devagar que conseguia para não ocorrer o risco de perder o controle e cair no chão.

A escola ainda não estava aberta. Havia chegado um pouco mais tarde do que o habitual, já que estava esperando Charlie voltar.

Todos os dias quando chegava não havia ninguém no estacionamento. Neste dia, todos estavam ali, cada grupo conversando animadamente. Ver aquilo de longe era calmante, suspirei pensadamente, ver de perto não me dava a mesma impressão.

Era mais solitário.

Faltavam apenas 5 minutos para o início das aulas, então não daria tempo para ir até o telhado.

Olhei pelo estacionamento e vi Edward encostado em seu volvo com sua família ao seu redor. Percebendo que eu o olhava, acenou para mim as e eu retribui sorrindo.

Dei um passo em sua direção, não me importando que nesse momento sua família ficasse incomodada com a minha presença. Eu só… Precisava ir até ele.

Estava no meio do caminho do estacionamento quando aconteceu. Ouvi um forte estrondo, como um som bestial, rasgando o ruído das conversas dos humanos. Olhei para a origem do som e me senti gelar por um momento, quando via a cena em minha frente.

A camada de gelo havia feito uma picape deslizar pelo asfalto, perdendo o controle e vindo em minha direção.

Eu sabia o que fazer. Já não estava travada no lugar, a adrenalina limpou minha mente rapidamente me deixando totalmente desperta.

1 minuto? Não, menos. Pela velocidade em que a picape estava, em segundos ela me alcançaria.

Mas era o suficiente.

Soltei minha mochila no chão e joguei-me para frente o mais longe que conseguia. Nesse momento, agradeci todo o treinamento que havia passado no Paraíso, por que sem eles, nunca teria reflexos suficientemente rápidos para sobreviver aquilo.

E por um momento, havia conseguido sair da linha de impacto. Mas a picape, em sua tentativa vaga de não me atropelar, havia tentado virar para o lado contrário ao que eu estava. Os pneus deslizaram sobre si mesmos com a falta de fricção no chão, a fazendo ir para a direita, ao invés do que era o seu objetivo.

Se ele tivesse continuado em frente, teria então passado reto por mim e batido em outro carro, me errando por muito pouco. Agora, eu estava novamente na linha de impacto.

Tentei me levantar e voltar a me lançar para frente novamente, mas dessa vez meu pé derrapou no gelo. Segurei no carro ao meu lado para me manter em pé e então de repente não tinha mais como eu escapar.

A janela de tempo havia se fechado para eu conseguir fugir.

Minha cabeça ainda tentava achar formas de escapar daquilo. Várias probabilidades me ocorreram: poderia voar e sair da linha de perigo rapidamente, mas então eu estaria em expondo na frente de todos aqueles humanos. Se fossem pelo menos poucas pessoas, estaria tudo bem. Mas com tanta gente ali, eu não podia fazer nada.

Nada além de me deixar ser atingida.

Não pude conter o riso que se irrompeu dentro de mim com esse pensamento. Sempre havia pensado que morreria lutando, mas morrer dessa forma era quase como se alguém estivesse brincando com a minha cara.

Apenas fechei os olhos, esperando o impacto.

Mas ela nunca chegou, em vez disso senti braços gelados me apararem, me jogando no chão, fazendo minha cabeça bater no asfalto de maneira surda. O barulho de motor rugia nos meus ouvidos, ouvi a pessoa fraquejar e uma dor alarmante se espalhar pelo meu braço direito.

Foi então que os gritos começaram, vinham de todos os lugares, cortando o zunido que havia em meus ouvidos, tentei abrir os olhos, mas minha cabeça estava tão pesada que mesmo com os meus esforços eu não conseguia.

Senti um líquido quente correr pelo meu braço.

Forcei minha cura, tentando forçar minha mente a permanecer consciente, mas já sentia a força da escuridão me puxando, forte demais para eu conseguir suportar.

E eu não conseguia me concentrar o suficiente para que aquilo fizesse efeito.

Não desmaie”— pensei, em pânico.

— Bella? – escutei, em meio ao meu torpor. A voz saiu assustada, quase desesperada. – Bella, fala comigo.

Grunhi tentando achar uma ponte entre a dor da minha cabeça e a escuridão que me envolvia.

Foi quando senti. O cheiro que eu não queria sentir, impregnando o ar, dessa vez muito mais forte do que a primeira vez que sentira.

Antes o ar entrava com dificuldade em meus pulmões, mas assim que aquele cheiro veio a mim, já não havia dificuldade. Respirei fundo sentindo a dor e o alívio que aquilo trazia.

Sangue.”

Abri os olhos alarmada, enquanto colocava minha mão por cima da minha garganta.

Edward estava ali comigo, com uma das suas mãos em volta de mim, mantendo-me perto, olhei para a direita onde a picape azul de Tyler estava deformada contra o carro e outra parte perto de nós, onde Edward havia parado o avanço com as proprias mãos.

Se fosse em outra ocasião, talvez eu tivesse ficado preocupada com esse fator. A mão dele estava nítida contra a carroceria, qualquer humano poderia ver aquilo.

Mas nesse momento não.

O sangue estava tão perto.

Tyler estava atrás dessa placa de aço, com a janela quebrada não seria um problema para mim ir até ele, eu poderia me saciar.

Como seria ter aquilo descendo pela minha garganta?

Sem perceber, um sorriso se formou em meus lábios. Agora que eu não lutava mais contra aquele sentimento, não estava desesperada, como se o monstro entendesse que já havia ganhado.

— Seus olhos. – falou Edward interrompendo meus pensamentos – Eles estão...

Mesmo que ele ainda estivesse me segurando, já havia esquecido sua presença. A única coisa que importava era Tyler.

Mas quando o mesmo falou, percebi a ameaça que ele era.

Ele era um vampiro, afinal, mais experiente que eu na questão de caçar. Seus olhos estavam negros, o monstro dentro de mim protestou.

Se ele quisesse se alimentar também...

Um rugido ameaçou sair de mim, minha presa.

Minha reação fez Edward me soltar instantaneamente, percebendo o que estava acontecendo, me agachei em posição de ataque rosnando o fazendo recuar.

Uma parte de mim comemorou com isso, a parte que queria a morte de Tyler a cima de tudo.

Mas o medo que eu vi passar em seus olhos me fez parar.

Era Edward.

Foi com esse pensamento que uma linha de razão voltou a mim, fazendo-me recuar envergonhada, tranquei minha respiração temendo que perdesse a razão novamente.

Tinha que conter aquilo dentro de mim de alguma forma. E rápido.

Olhei para o meu braço onde ainda havia Sangue saindo do corte.

Provavelmente Edward havia usado muita força para parar o avanço da picape, dessa forma quebrando o vidro do passageiro, os detritos pularam para todos os lados com o impacto.

Um deles estava fincado agora em meu braço.

Olhei para Edward sabia que aquela situação era igual para ele, agora entendia a sede que ele sentia, mas ele ao contrário de mim conseguia se conter mesmo que seus olhos estivessem negros.

— Me desculpe – sussurei – Eu sou... nova nisso.

— Você é uma vampira.

— Não me deixe atacar ninguém. – Pedi, respirando devagar e apenas o suficiente.

— Você era uma humana há alguns minutos.

— Edward, agora não. Você está com sede?

— Estou bem.

— Você tem certeza? - mordi meu lábio - Seus olhos estão negros.

— E os seus estão vermelhos – ele constatou

— Prenda a respiração – Falei com um pouco de dificuldade – Eu vou tentar consertar isso

— Como? – Ele perguntou, ignorando meu pedido – Consertar o que?

— Precisamos sair daqui - agarrei minha garganta – Não sei quanto tempo eu aguento.

Senti Edward pegar minhas mãos nas suas, me segurando no lugar, ele não estava usando muito força, mas usaria se fosse necessário, e eu o agradeci por isso.

— Não tem como nós sairmos daqui correndo – ele disse olhando por cima do ombro – E se não sairmos...os humanos vão ver seus olhos. Eles não podem ver você assim.

“Se ao menos eles me deixassem ir embora.”

Ainda seria estranho eu ter que ficar o tempo com os olhos fechados.

Mas se eles não me levassem para o médico, se eu não atacasse ninguém... Olhei para o meu ferimento. Tinha que fechá-lo, se eu não tivesse machucada, eles poderiam me deixar ir, certo?

Tentei forçar minha cura novamente. Agora que estava desperta devia funcionar, estava concentrada o suficiente.

Mas percebi que eles nunca haviam ficado tão longe de mim como agora. Antes de sentir a sede, os sentia, como se pudesse agarrá-los se me esticasse o suficiente, se tivesse força para isso, mas agora...

Olhei para Edward. Era assim que ele sentia?

Por baixo daquela fachada eu via a sua dor, havia uma linha de concentração em baixo de seus olhos e já percebia que ele já havia parado sua respiração.

Eu suspirei me concentrando, não sabia muito bem como fazer o que queria. Mas aquela era uma emergência, eu ainda podia fazer semi-laços. Ou pelo menos era assim antes.

Já não sabia mais ao certo.

Mas criar laços era a forma básica de um protetor, a primeira coisa que nós aprendíamos e a última também.

Se a água-light não voltasse a mim se eu criasse um, então ela nunca mais voltaria.

Tentei chegar a ele com meus poderes. Arfei de dor quando senti algo fisgar dentro de mim, mas não liguei para isso, estava dando certo e isso era o que importava.

Procurar por Edward devia ser fácil, sabia como ele era, a lembrança da sensação vivida em minha mente, mas da forma como eu estava era como procurá-lo cega tateando em uma escuridão que meus olhos nunca se acostumavam.

Assim que acabado, o alívio foi instantâneo. Não apenas por que minha cabeça começou a formigar pela cura, mas por que parecia que algo finalmente havia voltado ao seu devido lugar.

Quanto tempo havia passado desde aquele dia na campina quando cortara minha ligação com Edward?

Para mim pareciam décadas mesmo sabendo que não fora nem um mês desde o acontecido.

Claro, essa ligação não era como a que tínhamos naquela época. Era fraca e quebradiça, e nem um pouco intensa. Conseguia sentir apenas os sentimentos mais superficiais e os pensamentos mais rasos.

Semi-ligações com humanos eram apenas para os anjos em treinamento, para que quando chegasse a hora conseguissem suportar a força de uma verdadeira.

Percebi um segundo depois que a água-light havia feito mais do que isso.

Eu já não sentia mais a sede.

Mas logo depois as consequências me atingiram, me fazendo instantaneamente me sentir fraca, substituindo a queimação. Não sabia o quanto de Água havia no meu organismo, e sabia que não a teria para sempre para bloquear a fome de sangue, mas naquele momento era extremamente necessário. Sabia que sustentar aquela ligação iria eliminar ainda mais o que sobrou do meu organismo.

— Bella? – ele me chamou a atenção. Olhei em seus olhos, agora ele parecia pelo menos um pouco melhor, seus olhos ainda escuros pela falta de caça, mas percebia que o leve contorno que antes havia tinha se dissipado – você está bem?

Edward podia ter um alto controle bom, mas havia passado sua eternidade me tendo como apoio, lidar com tudo isso de uma vez devia ser pior do que ele estava mostrando.

— Estou bem. – Falei, aliviada. Sabia que havia sido pura sorte o fato de eu utilizar meus poderes, mas o fato de tê-lo feito havia acabado com a minha sede e eu finalmente, finalmente, pude respirar fundo.

— Seus olhos... Voltaram ao normal... Como? Como você consegue fazer isso?

Não tive chance de responder, a ambulância tinha chegado a alguns minutos, e depois de conseguir tirar o carro de forma que pudéssemos sair dali.

Tentei negar a ajuda, estava fraca demais para manter uma semi-ligação com Edward sem contato físico, e sem ela não teria nada para parar o monstro dentro de mim, mas claro que eles não me ouviram.

Edward também tentou argumentar, mas eu mesma não havia tirado o caco de vidro que ainda estava alojado em meu braço para que meus poderes pudessem ter o curado, devia-telo feito quando havia tempo, mas o alivio e a surpresa de não sentir a sede tinha me tirado do foco.

Quando minha mão soltou o braço de Edward, algo dentro de mim se rompeu, fora tão forte que não pude conter o grito que subiu pela minha garganta.

Tudo ricocheteou para mim, senti-o voltando com tamanha força que fez todo o ar dos meus pulmões ser expelido. O baque das emoções veio para mim repentinamente, uma atrás da outra, curiosidade, confusão, terror, amor e por fim a sede avassaladora.

Arfei. Aquilo não era para estar acontecendo, eu apenas queria aplacar e ajudá–lo a aguentar tudo aquilo, mas não voltar nossa ligação, isso era algo impossível teoricamente, não era algo que um anjo de baixo escalão tivesse poderes para fazer, ela havia sido cortada naquele dia na floresta, e nunca mais deveria voltar.

Mas eu a sentia, tão firme quanto sentia antes.

Só que tão fraca quanto estava nesse momento, não consegui suportar a força com que ela veio a mim.

E quando me vi novamente estava dentro da ambulância, sendo levada para o hospital junto com Tyler que gemia em sua maca com um paramédico tratando meu braço.

O formigamento de cura do meu braço começou logo depois que retiraram o objeto do meu braço, e isso havia me acordado, não estava tão descansada quanto deveria estar ainda, provavelmente teria dormindo mais horas a fio

Agora meus poderes tentavam a todo custo fechar a ferida, mas estava usando toda a minha concentração para impedir. Teria que esperar estar em casa sozinha para a ferida se fechar e tudo isso multiplicado pela ligação que eu estava sustentando com Edward, todo esse esforço fazia minha cabeça doer.

— Você vai ficar bem. – o homem disse, calmamente, me dando remédios para aplacar a dor, mesmo que eu já não estivesse sentindo nada.

Os humanos costumavam entrar em pânico naquele tipo de situação?

Considerando todo o drama que Tyler estava fazendo em sua maca, imaginei que sim. Entretanto, diferente de mim, o mesmo não havia tido tanta sorte, tinha batido a cabeça com força no volante ao bater com o carro, sangrando pelo ferimento em sua testa.

Até considerei atuar um pouco, mas naquele momento tinha coisas mais importantes do que convencer alguns humanos.

Fixei meu olhar no teto, tentando não pensar no sangue e muito menos em seu cheiro, até podia estar controlada nesse momento, mas não sabia até quando a água-light conteria o monstro dentro e se aquilo voltasse teria que estar pronta.

Me colocaram em um quarto só para mim, tudo era tão branco e com luz tão fortes que não ajudava com as dores já que o excesso de branco parecia berrar em minha mente.

Mas era melhor aguentar a dor do que tentar desligar meus poderes e virar uma algo faminto por sangue em um hospital.

A porta se abriu e Carlisle apareceu. A saudade alojada em meu peito, Esme e Carlisle que eu não havia visto ainda desde que desci do céu e vê-lo foi como um banho de água fria.

— Olá, Bella. – Perguntou ele – Como está? Com dor?

— Não, estou bem. – menti

— Certeza?

— Sim. – confirmei

— Edward me pediu para deixar você em um quarto separado. – ele disse, enquanto se acomodava na cadeira ao lado da minha cama – Pelo seu problema com sangue.

— Não faz tanta diferença agora – dei de ombros – Mas obrigada, posso ir para casa?

— Acho melhor darmos um jeito nisso primeiro. – ele disse indicando o meu braço

Ele tirou o curativo improvisado que haviam colocado em mim, olhei para o meu ferimento e sabia que tinha fracassado, mesmo tentando conter minha cicatrização, aquilo quase não era mais um corte.

Tinha me concentrado esse tempo todo em não deixar ela se fechar externamente, mas não havia me preocupado no interno.

Antes era profundo e se fosse humana com toda a certeza precisaria de pontos para me recuperar. Mas agora era tão superficial que não precisaria de mais nada.

— Eles disseram que você tinha se cortado com os cacos de vidro. – ele franziu o cenho

— Foi tudo muito rápido. – dei de ombros – Eu disse que estava bem.

— Acho que sim – ele piscou, curioso – Bom, de qualquer forma, quero que mantenha o local limpo e coberto o tempo todo, não queremos uma infecção.

— Posso ir embora agora? – perguntei, quando o mesmo terminava de colocar um novo curativo em mim.

— Só preciso fazer esses testes e você vai poder ir – ele pegou a prancheta ao lado de minha cama – Você teve muita sorte, aquele carro podia ter te ferido gravemente.

— Tenho sorte que seu filho estava perto de mim para me salvar – contei, sabendo que o mesmo saberia da mentira.

Ele me olhou por um momento me analisando, talvez tentando entender se eu estava falando aquilo para enganá-lo ou para aplacar sua preocupação, mas por fim sorriu.

— Posso confiar que irá contar essa história para todos?

— Claro. – sorri para o mesmo – Eu prometo.

— Obrigado Bella, não gostaríamos de ter que sair da cidade ainda. – o mesmo começou os testes, tirou minha pressão, minha temperatura só parando quando parecia certo que não havia mentido de minha saúde depois checando minha cabeça e perguntando várias vezes se realmente não sentia nenhuma dor no local, mas quando mais ele demorava mais a dor piorava – Os paramédicos disseram que você desmaiou no caminho para cá. Você consegue se lembrar do que aconteceu?

— Nada, acho que foi o choque.

— É o que eles disseram. – ele me olhou – Mas Edward disse que você parecia tranquila antes de tentarem tirar você do lugar.

— Eu não sei o que aconteceu. – menti – Só lembro-me de desmaiar.

— Nenhuma dor na cabeça pouco antes disso?

Voltei a negar e vi ele suspirar enquanto percebia que eu não iria ceder.

— Você se machuca e sangra como um humano – ele disse, sério – Seu braço estava cortado mesmo que tenha sumido de uma hora para outra, mas você bateu a cabeça. Se o desmaio for indicação de alguma fratura eu preciso saber, se você não me falar o que está sentindo, eu não posso te ajudar.

— Eu estou bem, Car... – Parei quando percebi que iria chamá-lo pelo primeiro nome – Dr. Cullen, eu só... Quero ir para casa

— Pode me chamar de Carlisle. – ele disse, por fim – Se sentir qualquer coisa, alguma dor ou queda de pressão repentina volte para fazer alguns exames, certo? – assenti mesmo sabendo que nunca o faria – Não conseguimos ligar para Charlie, você tem alguém para te levar para casa?

— Não, Charlie saiu em viagem. – respondi, me levantando – Mas posso ir para casa a pé, sem problemas.

— Edward se ofereceu para te levar se você quiser, estará te esperando na frente do hospital.

Sorri um tanto forçadamente e agradeci. Me sentia como se estivesse indo ser pega como presa, encurralada por Edward em seu carro, um lugar onde não poderia fugir de suas perguntas.

No caminho para fora do hospital não esperava ver tantas pessoas, todos muito preocupados com minha saúde mesmo que nunca tenham falado comigo antes, tive que repetir tantas vezes “Estou bem, só preciso ir para casa” até sair da recepção que poderia proclamar como meu bordão.

Quando finalmente saí, procurei Edward pela rua, mas achei apenas seu volvo do outro lado da rua. Fui em sua direção, sabendo que aquela conversa aconteceria de qualquer forma, se não hoje então seria outro dia. Pelo menos ali, estaríamos só eu e ele, sem humanos em volta ou a família dele com a audição vampiresca para ouvir nossa conversa.

Parei ao lado do passageiro, a porta se abrindo quase que instantaneamente.

Engoli em seco enquanto entrava no carro.

— Olá Edward, eu... – comecei, mas quando vi seu olhar fixo em mim minha voz morreu

— Você está bem? – ele perguntou, preocupado

Acenei positivamente ainda presa em seu olhar

— Obrigada, pelo que você fez.

Ele abriu um leve sorriso para mim, e senti a felicidade vir dele.

— Por que não me contou antes? – ele perguntou quebrando o silencio, magoado – Por que não me disse que era uma vampira também?

— Edward... por favor, confie em mim.

Fixei meu olhar no chão sem olhar para Edward, sabia que ele não desistiria tão fácil dessa conversa, nem que de certa forma estava sendo justa com o mesmo.

Mas ele não podia saber, não ainda.

Contar meu segredo seria devastador, iria colocá-los mais em perigo desnecessário, eu podia estar fraca, mas ainda conseguia protegê-los, mas se eles me mantivessem longe ou saíssem da cidade, como eu poderia protegê-los?

Ouvi ele suspirar enquanto ligava o carro e começava o trajeto.

— Não irei contar a ninguém o que você é. – Prometi.

— Agora tudo faz sentido – ele apertou o volante – É por isso que você nunca questionou nada, você deixava eu mentir, por que? Podia ter dito desde o começo que você sabia, ou o que você era.

— Por que eu queria evitar perguntas. – suspirei

Percebi que o desconforto vindo de Edward aumentou consideravelmente agora, me fazendo me encolher em meu assento.

— Meus olhos são dourados por que eu caço animais invés de humanos – ele disse, sem olhar para mim

— Eu sei – franzi a testa sem entender a onde ele queria chegar

Sabia? — sua voz saiu surpresa - Eu achei... Achei que você....

— Bella. – ele me chamou – Você vai ter que sair de Forks.

— Voce quer que eu vá... embora? – Perguntei sem conter a tristeza que saiu em minha voz, abaixei meu olhar para minhas mãos

— É perigoso para você ficar aqui. – ele disse assustado com minha reação – Os lobos não permitem vampiros de dieta normal em Forks.

— Jacob não vai me machucar – Franzi a testa

Jacob?— sua voz se elevou em descrença- Você foi até a Reserva?

— Charlie me levou lá. – Contei sem entender o seu espanto – Por que?

— Os lobos não permitem que Vampiros entrem no território deles. – ele disse - Se eles saberem sua dieta... Eles vão matar você.

— Edward – o parei – Do que está falando?

— Da sua Alimentação – ele desviou o olhar

— Você acha... que eu me alimento de humanos? – perguntei em choque quando entendia o que o mesmo queria dizer

— Seus olhos estavam vermelhos. – Ele disse como se aquilo explicasse tudo

Não consegui segurar o riso com isso, era apenas aquilo que estava o incomodando?

— Eu não me alimento de humanos – falei tocando de leve em seu braço – Não precisa se preocupar com isso.

— Bella... – ele começou, cético

— Não sou humana, Edward.

— Eu sei. – ele se voltou para mim com os olhos confusos – Você é vampira.

— Não, eu não sou vampira.

— O que? – seus olhos se arregalaram em descrença – Eu vi seus olhos.

— Eu não sei o que é aquilo. – engoli em seco – Não era para isso estar acontecendo, mas isso começou naquele dia da quitagem sanguínea, lembra de como eu fiquei?

— Estava apavorada. – ele disse, compreendendo

— Sim... Nunca tinha sentido a sede na minha vida – dei de ombros – eu quase ataquei um humano naquele dia.

— Você conseguiu suportar sendo a sua primeira vez sentindo a sede?

Assenti.

— E hoje?

— Foi pior que a primeira vez, estou ficando cada vez com mais sede – pigarreei desconfortável – Se você não estivesse lá... Eu teria... Teria...

— Nunca vi isso antes, você é muito controlada Bella.

— Não tanto quanto eu gostaria.

— E por que seus olhos estão vermelhos ainda?

— Eu acho que como eu não estou me saciando... Eu estou utilizando o meu próprio sangue - respondi - Sangue humano... Olhos vermelhos

— E como você volta ao normal? – ele perguntou, depois de absorver tudo o que eu havia dito. - O que você é?

— Isso eu...não posso dizer.

— Então é isso? – ele disse - Você só vai me dizer isso?

— Me desculpe.

Fechei meus olhos por alguns instantes. Tudo parecia rodar em minha volta, senti a dor de cabeça piorar, gemi de dor quando percebi que Edward estava tentando ler minha mente novamente, sem conseguir pará-lo soltei ele em minha mente.

Estava exausta demais, a força de parar a cicatrização era muita e a utilização mesmo que automática com Edward estava acabando com o resto que eu tinha de forças, então parei de segurar a regeneração, já sentia o formigamento no braço onde a ferida estava se fechando, pelo menos a faixa iria impedir de Edward visse o machucado já não existente, era o máximo que eu conseguia fazer por enquanto.

— Pode parar de tentar ler minha mente?

— Como sabe disso? – perguntou ele me olhando. Vi a preocupação se alastrar dentro dele enquanto percebia que eu também sabia disso

— Eu sinto quando você força. – respondi a dor bem evidente em minha voz – Dói muito quando você o faz.

Comecei a tentar o bloquear, pensar em coisas banais, em um livro que havia visto, em um programa qualquer, tudo para mantê-lo longe dos meus segredos.

Sabia que não era tão eficiente como o mantê-lo fora da minha cabeça, mas era o máximo que eu podia fazer no momento.

— Desculpe por isso – pedi sabendo que o mesmo odiava quando Alice o fazia.

— Você já disse isso. – respondeu, curto.

— Não, por isso. – falei ignorando a irritação em sua voz – Pelo o que eu estou pensando,

— Você é muda para mim, Bella – voltou a dizer como se fosse obvio

— Sim, mas agora não estou te bloqueando.

— Está sim, você continua completamente muda.

Paralisei, como podia ser, não sentia ele tentando penetrar minha mente,

— Eu deveria conseguir? – perguntou, mas não obteve resposta de mim já que ainda estava incrédula demais - Eu percebo a diferença, antes parecia que estava sendo empurrado para fora, agora parece mais como uma parede me bloqueado.

“Como um escudo?” – pensei comigo mesma, aquilo não vinha do meu lado anjo, isso eu tinha certeza, todos os poderes de Anjos necessitam de concentração uma mente focada e treinada, mas uma barreira que funciona sem nem eu saber de sua existência não era muito comum.

— Esses são poderes que você tem? – voltou a falar ainda tentando tirar-me informações – Ou isso é...

— Edward, se continuar a perguntar eu vou ter que me afastar de você. – o interrompi suspirando – Não me faça fazer isso, por favor.

Ficamos em silêncio por alguns minutos. Sentia a confusão que se alastrava no interior de Edward, como água borbulhando dentro dele e subindo, a ligação estava intacta então sabia como ele se sentia, e mesmo não gostando de deixá-lo tão angustiado, não havia nada o que eu podia fazer.

— Você acha justo você saber o meu segredo, mas eu não saber o seu?

— Não. – disse, suspirando – Mas ainda não posso te contar. Você me contaria se fosse o contrário?

— Não – disse ele derrotado

— Então deve me entender – me inclinei em sua direção, tocando-lhe o braço – Por favor Edward. Temos um trato, lembra?

— Ele não parece tão justo agora que só aplica para você. – ele resmungou

Sorri de leve quando percebi que ele já não estava mais tão irritado com a situação.

Ele parou o carro e me encarou, ficamos naquela posição por minutos incontáveis, meu coração batia tão forte que podia ouvi-lo em meus ouvidos, quase em câmera lenta ele subiu sua mão até meu rosto colocando uma mecha atrás de minha orelha.

— Tudo bem, Bella. – disse por fim sorrindo para mim - Posso tentar adivinhar?

— Duvido que conseguirá – correspondi sentindo meu rosto queimar – Agora preciso mesmo ir, te vejo amanhã.

Saí do volvo, a casa estava exatamente como eu havia a deixado. indicando a falta da presença de Charlie.

Suspirei pesadamente e me dirigi ao banheiro para tirar o curativo. A ferida já havia sumido como se nunca ao menos estivesse existido. Depois, tirei a roupa, colocando a primeira que eu vi.

Então finalmente me deitei.

Sentia-me como se tivesse corrido uma maratona durante o dia todo, e esperei o sono vir. As emoções de Edward eram intensas, tive décadas para me acostumar com aquele sentimento e era forte o suficiente para silenciar quando necessário. Claro que, nem na minha melhor forma eu conseguiria cortar uma ligação, mas não tinha forças para nem ao menos silenciar nesse momento. Depois de ficar semanas sem essa sensação, parecia que tudo estava pior, como se estivesse segurando uma pedra muito maior do que eu conseguia suportar por muito tempo e depois de ser libertado a volta para segurar o peso, a lembrança de ser livre tornava a pedra ainda mais pesada.

Raiva, uma raiva intensa vinda de Edward, e que me tomou sem eu conseguir me precaver. Em um momento irracional pensei em sair atrás de Edward, mas assim que me levantei sabia que não poderia.

Durma Bella, não há nada o que você possa fazer, confie em Edward”

Mas não adiantou. Estava muito cansada, mas simplesmente não conseguia, me remexi tentando ignorar os sentimentos gritantes de Edward.

Enfim me levantei, desistindo de dormir, saí pela janela com o livro em mãos, mas assim que me posicionei no teclado e abri o mesmo, soube que não conseguiria me concentrar o suficiente para entender a leitura, minha mente cansada demais para pensar em qualquer coisa com clareza.

Fechei os olhos prestando atenção nos sentimentos de Edward.

A raiva estava sumindo aos poucos, sendo tomado pouco a pouco pela ansiedade e então mudou quase que instantaneamente para curiosidade.

A mudança para um sentimento bom e fez abrir um sorriso, me distraindo o suficiente para fazer perder a estabilidade do meu pé na calha.

Me segurei na janela, impedindo minha queda, abrindo os olhos e observando ao redor.

O medo que veio de Edward no momento da minha quase queda, não podia ser tanta coincidência.

Ele estava ali.

— Edward? – perguntei para a noite já que não conseguia vê-lo. – Pode aparecer, por favor?

Nada aconteceu por alguns minutos, apenas os sons calmantes de uma cidade do interior, mas então Edward, como um piscar de olhos, estava ao meu lado.

— Como sabia que eu estava aqui? – me perguntou, com as sobrancelhas franzidas.

Sabia que era estranho eu saber que um vampiro estava ali dessa forma, entretanto realmente não ligava naquele momento.

— Você é muito barulhento – respondi sorrindo para o mesmo – O tédio estava tão grande que teve que vir me ver?

— Minha casa está um caos, tédio é a última coisa que sinto. – disse brincando, mas percebi a verdade em suas palavras.

— O que houve? – piscando os olhos tentando afastar o sono.

— Alguns acham que você é uma ameaça para o nosso segredo, ou que você em si seja uma. – respondeu – Mas eu nunca vou deixar que você seja afetada.

Senti a pontada de raiva de Edward voltar a me abalar, eu sabia de quem ele estava falando, mesmo que ele não tenha dito com todas as letras, “Rosalie” - nenhum dos Cullens pensariam em me machucar além dela.

— Não tenho medo deles – falei – Mas não brigue com sua família, não por mim, sei me cuidar.

Claro que não de modo agressivo, eu nunca machucaria um Cullen, mas sabia como fazer Rosalie mudar de ideia se fosse necessário.

— Está tarde, não está com sono?

— Você é muito barulhento – repeti, encostando minha cabeça em seu ombro fechando os olhos, ele paralisou por um momento, mas me aconchegou melhor em seus braços logo depois, a explosão de emoção vinda dele foi instantânea, mas diferente de como era antes, era de Felicidade, suspirei deixando aquele sentimento me preencher – Assim é bem melhor, pode entrar na próxima vez, eu não me importo.

Estava tão cansada que mesmo ali, sem conforto algum apenas nos braços de Edward, dormi em um sono reconfortante que não tinha a muito tempo.

No dia seguinte, acordei em minha cama, percebendo que depois de tanto tempo pela primeira vez os pesadelos não assolaram meus sonhos.

Fim do Capitulo 15.


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Notas finais do capítulo

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