Primeiro, eu matei o meu pai... escrita por Myu Kamimura, Madame Chanel


Capítulo 8
Capítulo VII




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Alguns dias depois, Sammyrah, que tinha o costume de ir até a cantina do Carlo para pedir por telefone que o pai lhe explicasse as fotos e clippings de notícias que ele lhe enviava junto com as cartas - tudo a um preço já elaborado pelo italiano - franzia a testa na biblioteca da Casa de Peixes, lendo notícias sobre danos estratosféricos e anormais em uma das estações de petróleo de um grande amigo de seu pai, o marroquino Yussef Al Alam. A estação havia se implodido do nada, havendo fortes indícios de que a destruição tinha sido intencional e não uma obra do acaso.

Aquilo tinha ficado na cabeça da ruiva, até porque o pai havia citado que a equipe de segurança tinha encontrado uma filmagem na plataforma de quatro indivíduos de indumentárias estranhas que passaram uma fração de segundos. Algo na cabeça dela insistia que poderia ser alguma coisa ligada a inimigos do Santuário, portanto, pediu encarecidamente que seu pai lhe enviasse uma cópia do vídeo e ela daria um jeito de verificar. 

 

A rotina de treinos a exauria um pouco, especialmente os treinos que eram passados pelas amazonas. Geisty tinha mais jeito com as garotas, mas Shina era completamente descompensada e a irritava profundamente. Com Afrodite as coisas se desenvolviam com mais facilidade, se entendia muito bem com seu Mestre e, nas últimas semanas, tinha até conseguido criar algumas rosas brancas de seu próprio cosmos.

Em mais uma das sessões de treinos no campo das amazonas, em que tinha fugido para a floresta para fofocar com Astrid e Maggie numa clareira próxima ao lago da pedra da deusa, Sammyrah parecia estar com um pressentimento estranho:

—O que foi, maluca? - disse Astrid debochada - Tá adivinhando os números da loteria?

—Não… sei lá, tem algo fedendo por aqui…

—Deve ser alguém sem tomar banho direito. Você sabia que a Astrid e eu constatamos que uma das garotas da Ellen não é muito chegada em asseio? - Disse Maggie mordendo uma maçã

—Qual delas? - A ruiva suspirou 

—Ah, uma de cabelo curtinho azul..

—Ai Deuses, ainda bem que nunca nem vi… já não basta estar malocada aqui, ainda tem que ser imunda …

As três deram um risinho e ouviram o mato se agitar, logo deram de cara com Kammy e Satrina, que pareceram bem infelizes em as encontrar ali:

—AFF! O que vocês duas vieram fazer aqui? - Maggie reclamou - Não deveriam estar morrendo nas mãos da Shina? 

—A mesma coisa que as três madames queridinha! - Satrina resmungou tirando a máscara - Ninguém aguenta a Cobra Italiana como mestra de treino físico, não é exclusividade de vocês não!

—Mas bem que a gente poderia tornar, não é? - Sammyrah checou as unhas com um ar despótico - Só nós fugimos e vocês que se virem com elas..

—Autoritária você, não é? - Kammy interviu falando baixo.

—Por isso que teus parentes foram destituídos do poder na Rússia, criatura - Riu Maggie - Até nas fugas dos outros vocês querem mandar!

Astrid deu uma gargalhada e a ruiva revirou os olhos. Kammy tirou a máscara e olhou para Sammyrah:

—Vamos fazer assim: Como estamos em uma área pública do Santuário, vocês ficam aqui, enquanto Satrina e eu ficamos na outra margem, pode ser? 

—Não se incomodem com isso - a ruiva falou, tirando um pirulito das polainas, tirando da embalagem e colocando na boca - Se ajeitem ai. Tal como a Kammy falou, é uma área pública.

—Isso, lado oposto e de costas! - Maggie falou acenando - Não quero ter que olhar pra cara de azeda da Satrina.

—HEY - resmungou a grega 

—Vocês podem param de fazer barulho, inferno? - a loira falou

—Verdade... Deixem as picuinhas de lado e vamos só ficar em paz

—Eu não quero ficar com essas garotas Kammy … - Resmungou, Satrina 

—Fiquem quietas -Tatiana tirou o pirulito da boca e falou - A camponesa tem razão! Bem sensata inclusive…

—Aff, Sammyrah! - a loira se irritou, ficando de pé, mas ainda falando baixo - Eu desisto. É simplesmente impossível manter um diálogo com você.

Satrina e Kammy iam se debandar para a outra margem, quando o mato se agitou, revelando uma estressadíssima Geisty:

—Muito bonito, hein?! - a alemã falou com as mãos na cintura - Eu já esperava isso do trio ali - apontou para Sammy, Astrid e Maggie - mas jamais imaginei que vocês duas iriam fazer isso!

—A Satrina passou mal, Mestra Geisty - Kammy falou, cutucando a amiga, que começou a tossir - Trouxe ela para tirar a máscara e vomitar.

—Verdade - Satrina completou, ainda fingindo ânsia - Não gostamos muito desse lago, Mestra. Ele é muito mal frequentado

Astrid apenas cruzou os braços indignada, tirou o pirulito da boca e Resmungou:

—Que mentirosas! Vocês mesmo estavam fazendo acordo para coexistir com a gente aqui! Palhaçada 

—Isso é verdade Geisty! Duas madames cínicas!

Sammyrah ficou apenas concentrada no seu pirulito, já tinha aceitado seu destino e estava com preguiça de rebater as questões de Geisty, até que percebeu que ela mesma estava distraída, aparentemente pensando em algumas notas de dólar que estavam malocadas no forro de sua cabana. Tatia franziu a testa e estranhou, falando em voz alta:

Mas como ela conseguiu isso?

—Como ela conseguiu o quê, Sammyrah?

—Como que essa cínica conseguiu te ludibriar, Mestra Geisty? - se corrigiu

—Ninguém me ludibria nesse lugar, garota. Vamos, coloquem suas máscaras e vamos voltar ao treinamento.

—Ah, fala sério - Maggie resmungou

—Graças a sua amiguinha, vocês ganharam mais 200 agachamentos cada.

A Amazona de Serpente, apesar da fala firme, seguia distraída e preocupada, possibilitando a ruiva visualizar imagens desconexas. Pela primeira vez sentiu por estar tão atrás com seu treinamento. Se treinasse no ritmo de Astrid, Maggie e até de Kammy, a mente da alemã seria um doce livro aberto:

Ah, mas nesse mato tem coelho... - pensou - E eu vou descobrir o que é.

As garotas treinaram por mais algumas horas, até que o céu tingiu-se de laranja. Astrid, Maggie e Satrina migraram para a casa das Amazonas, Kammy espreitou-se pelo bosque rumo a cabana que dividia com Misty, enquanto Sammyrah era guiada por Geisty de volta a Peixes:

—Sabe, eu já tenho idade suficiente para voltar sozinha para casa.

—Eu sei disso... Eu tinha quase a sua idade quando te resgatei junto ao Mestre Afrodite.

—Então por que ainda tá me acompanhando?

—Porque o Frô só teme uma pessoa na face terrestre e esse alguém é aquela mulher com uma postura de aço, que deixou ordens específicas para que ele cuide de você... - Geisty viu a Sammyrah erguer as mãos sem entender e completou - Sim, eu falo de sua mãe.

—Verdade - deu de ombros - com Dona Raíssa não se brinca mesmo 

Já fora do perímetro das Amazonas, alguém chamou o nome de Geisty nos arbustos:

—É... Espera aí, ruiva. Só vou falar com um amigo aqui.

—Amigo, é? - esticou o olhar e pode ver o cavaleiro de Golfinho, cujo o nome ela não sabia - Não sabia que esse aí fazia seu tipo.

—Cale-se! Apenas dois minutos

E se enfiou atrás do arbusto com ele. A discípula de Afrodite não queria se arriscar em ouvir a conversa, então se concentrou no máximo que pôde, tentando entrar na mente de Geisty. Mar aberto, navios e baías petrolíferas, sequestro, explosões, dinheiro... Foi tudo que ela viu. De repente, lembrou dos relatos do pai sobre o petroleiro de Yusseff:

Tatiana... Não crie teorias da conspiração— pensou - Você não precisa disso agora.

A ruiva suspirou e se esforçou um pouco mais, até entender localizações e visualizar uma espécie de centro de controle. Rapidamente tudo sumiu e viu Geisty se aproximando, cruzou os braços e falou com um ar de deboche:

—Garota, tenha fé, que você consegue coisa melhor... Se esforça!

—Me erra, fedelha! Agora sobe pra casa antes que Afrodite desça e desconte seus atrasos em mim. 

Sammy subiu ainda desconfiada e, ao chegar em Peixes, analisando todas as informações que havia conseguido, anotou tudo que se lembrava e fez um pedido estranho ao mestre: que lhe fornecesse o jornal por uma semana, só para garantir que não estava sendo paranóica. Dois dias depois, lá estava a notícia do sequestro de um cientista em uma base de controle no Golfo Pérsico. A ruivinha sentiu um arrepio na espinha e decidiu: esperaria as fitas chegarem, caso seu pai as enviasse e procuraria na mente de Geisty mais algum resquício.

 

Semanas depois, assim que chegou em casa, viu em cima do criado mudo, um envelope branco com algumas cartas e a fita. Sorriu, pois o pai confiava no seu faro e sabia que com aquelas imagens a ajudariam a desvendar aquele enigma que rondava sua cabeça há dias. Mas aonde ela veria aquilo? O local mais próximo que contava com energia elétrica era o restaurante do Carlo, mas Afrodite não a deixaria sair sem uma boa desculpa. Passou mais alguns minutos confabulando o que fazer, até que ouviu a porta abrir:

—O que foi, Sammyrah? - Disse seu mestre - Você tá focando tanto o pensamento em mim que eu consegui chamar o Camus três vezes de Sammyrah quando nos encontramos nas escadarias.

—Bem… é um assunto complicado Dite... - Ela mostrou a fita cassete ao mestre 

—Ah, Ruiva… não inventa de ver um filme agora, que não tem condição… não vou descer ao Carlo só pra você assistir FILME

—Mas Dido, essa fita não contém um filme… ao menos não um cinematográfico.

—O que é então?

A ruiva começou a explicar detalhadamente tudo que havia acontecido e todas as suas suspeitas quanto a Geisty e suas companhias, junto com as notícias que vinha coletando e das coisas que viu na mente da amazona também. 

—Tatiana… se isso for verdade, é uma acusação muito séria! - Afrodite se sentou na cama da discípula - Você me jura que não está fazendo por implicância?

—Juro, Dido! -  A ruivinha cruzou as pernas e pegou a mão do mestre, a colocando em sua testa - Você pode ver na minha cabeça se quiser…

A jovem elevou o cosmos e abriu sua mente, para que seu mestre pudesse ver tudo o que ela tinha relatado. Depois daquilo, Afrodite suspirou e apenas respondeu, enquanto via a aprendiz respirando fundo com a bombinha de asma na mão:

—Come uma fruta e põe sua máscara. Nós vamos ao Carlo tirar isso a limpo, pois tudo isso que você viu é, no mínimo, questionável. 

—Sim - respondeu, após uma inspiração profunda.

Logo, Afrodite foi com sua aprendiz por um caminho alternativo até o estabelecimento do italiano. Chegando lá, conseguiu que assistissem a fita e para a surpresa de ambos, lá estava estampado o rosto mascarado de Geisty antes de lançar um golpe e destruir a câmera. Tatia ficou mais aliviada ao ter respostas mais concretas, já Afrodite parecia fumaçar de raiva. Em seu íntimo, não acreditava que sua assecla poderia ser tão suja e se vender por tão pouco. O pisciano removeu a fita do leitor VHS da televisão de Carlo e saiu puxando a aprendiz pelo braço:

—Pra onde a gente vai?

—Vamos mostrar ao Grande Mestre tudo isso que você me contou. Só vamos passar em casa antes para pegar as notícias. 

Voltaram pelo mesmo caminho que vieram, passando em Peixes como prometido e Afrodite, sem titubear, requisitou uma audiência de urgência com o Patriarca. Relatou tudo o que Sammyrah havia lhe contado, pois naquela situação ela não poderia denunciar a amazona de Serpente por ser aprendiz. Shion, embasbacado com o que ouviu do Pisciano, pediu para que a garota o mostrasse o que viu e ainda acrescentou:

—Mas quanto às notas de dólar que você viu na cabana da amazona? Como você explica isso?

—Estava na mente dela. Num dia, em que eu estava no território das amazonas, ela pensava fixamente nisso, excelência... Nesse dinheiro e nesses locais que ela visitou… Os mesmos que eu tenho aqui nos recortes e no jornal… - A pequena respirava fundo, aquelas demonstrações de suas lembranças a estavam exaurindo - E  eu captei mais algumas coisas e foi assim que eu soube o que ela planejava com o Cavaleiro de Golfinho…

—Ele também está envolvido?

—Sim. Ele e mais dois comparsas, mas, aparentemente ela é a líder do bando.

Shion encostou o rosto em uma das mãos preocupado, conseguia perceber que a aprendiz de Afrodite não mentia em pela agitação do pisciano, sabia que se tratava de algo muito sério. Logo ordenou que soldados trouxessem Geisty e seu capangas a sua presença, orientando a um deles que investigasse a cabana da mesma.

 

Momentos depois, a jovem amazona subiu acompanhada pelos soldados. Tinha recebido as instruções de Genevieve para subir ao décimo terceiro templo, mas não entendia o chamado naquele horário e ainda mais naquela pressa. Estava tão presa, nervosa, pois sairia com o Golfinho, Serpente Marinha e Medusa para mais um ataque no mar Egeu. Se falhasse com aqueles clientes, perderia seu prestígio no Mercado Negro. Para a surpresa dela, ao adentrar no Salão do Grande Mestre, a amazona se deparou com seus asseclas, de joelhos perante Shion. Geisty sentiu o sangue gelar. 

—Bem, como informado, vocês foram convocados para uma missão de última hora, não é mesmo? - Disse Shion mantendo o tom tranquilo 

—Sim, excelência - Respondeu o Golfinho - Estamos sempre a postos para defender os interesses de nossa deusa!

Geisty assentiu com a cabeça e levantou o rosto para observar o mestre:

—Preciso só de um momento…

Os quatro se entreolharam e ouviram as portas abrirem, Medusa se atreveu a olhar e viu dois Soldados entrando com sacos de dinheiro: 

—M-mas o que isso significa, Grande Mestre? - perguntou Serpente Marinha nervoso

—Não sei, mas espero que vocês me esclareçam o mais rápido possível o que estão fazendo contra as leis do Santuário para obter tamanha soma.

—M-mas esse dinheiro não é nosso, Senhor… - Exclamou a amazona de Serpente sobressaltada - Nunca fizemos nada contra as leis do Santuário.

—Senhores - Ignorou Shion, dirigindo-se aos soldados - Onde encontraram tais valores?

—Os sacos com notas verdes foram encontrados no forro da cabana onde habita a amazona de Serpente. Estava da exata forma descrita por seu informante, excelência.

—M-mas, quem?! - Exclamou Golfinho, entregando o jogo

—Vocês, que tem poderes tão especiais e habilidades inimagináveis por tantos humanos comuns, esquecem que não são os únicos com poderes especiais e habilidades não é mesmo?

Os quatro cavaleiros encararam o mestre com medo, Medusa assumiu uma postura de luta, mas foi rapidamente contido por alguns soldados.

—Graças a Geisty, vocês foram descobertos por uma aprendiz, que detém habilidades mentais poderosíssimas e leu tudo que pôde sobre os seus pensamentos escusos. Fato corroborado por um Cavaleiro de Ouro, que está aqui presente. 

Afrodite surgiu das sombras com um olhar sombrio. Ele estava tão decepcionado com Geisty que, se pudesse, preferiria matá-la:

—Sim, a jovem me relatou tudo. Grande Mestre. Meu pedido é que o nome de Geisty seja apagado da história dos asseclas da Casa de Peixes - Suspirou - Não quero que a nobre história de minha casa seja maculada com isso.

—Mas, Mestre Afrodite…- Suplicou Geisty

—SILÊNCIO! - Ele a interrompeu ríspido - Tenho vergonha de ter sido seu mestre e de tê-la tido como minha assecla.

—Sim Afrodite, seu pedido será acatado imediatamente - Shion suspirou - Enquanto isso, vocês perderão temporariamente seus títulos e direitos sobre suas armaduras. Não são mais dignos de porta-las. - Com as palavras do patriarca, as armaduras brilharam e deixaram os corpos dos cavaleiros. Shion ao ver a cena continuou - E serão condenados ao isolamento até seu julgamento, amanhã ao meio dia no Coliseu. Mas fiquem sabendo de antemão, que seus nomes serão banidos do exército desta terra santa, e ficarão marcados como traidores até o fim dos tempos. A Cavalaria de Athena decidirá o destino de vocês.

Finalizada a declaração, Shion e Afrodite visualizaram os quatro serem levados pelos soldados até as masmorras de isolamento. O semblante de Afrodite possuía uma grande decepção. 

—Pode partir agora Cavaleiro de Peixes, acredito que sua aprendiz precise de cuidados.

—Sim Grande Mestre, obrigada por ter confiado em nós - Afrodite se curvou e voltou atordoado para casa. 

 

Ao bater do sol do meio dia, estava a formação completa da cavalaria presente no Santuário. O Grande Mestre colocado ao centro da Arena, acima de um palanque e acompanhado por Arles. Em frente a eles, os quatro condenados, presos por correntes de Gamânio, estavam de joelho.  Dali, em semi círculos em volta do palanque, estavam em primeira linha os Cavaleiros de Ouro, alguns asseclas os rodeavam, logo em seguida os cavaleiros e amazonas de Prata também acompanhados, depois os de bronze. Nas arquibancadas, soldados, servos e aprendizes em geral. O julgamento de um traidor naquele lugar era um fato digno de uma platéia. Havia um grande burburinho, até que Shion se levantou e ergueu o cajado pedindo silêncio. As vozes rapidamente silenciaram e o Grande Mestre proferiu sua sentença:

—Eu, Shion, Grande Mestre do Santuário, condeno em nome da Deusa Athena, Geisty de Serpente e os Cavaleiros de Golfinho, Serpente Marinha e Medusa, ao exílio na Ilha do Espectro e que seus nomes sejam marcados como os de traidores na história da cavalaria da deusa da Justiça. Sem chances de correção. Utilizar-se de seus poderes para interesses pessoais e ainda mais, para causar caos aos civis, percebendo vantagens, é crime inafiançável e passível de enclausuramento na ilha - Suspirou - Eis minha decisão. Se alguém dentro da cavalaria discorda… Que se pronuncie em benefício dos exilados!

Cavaleiros e Amazonas se entreolhavam indignados com o que ouviam e um novo burburinho começou. Dentre os cavaleiros de prata, Misty de Lagarto estava perdido em pensamentos, não conseguia acreditar na cena que presenciava. Apenas sentiu um solavanco quando Kammy o abraçou mais forte. O único reflexo em meio aquela balbúrdia de Misty foi alisar os cabelos da discípula:

Ela deve estar bem assustada com tudo isso…— Pensou o lagarto

De fato, Kammy estava apavorada. Misty tinha lhe explicado com detalhes o que estava acontecendo, já que seu grego ainda não era dos melhores. Em seu íntimo, se perguntava se seu pai também teria passado por isso se tivesse sido encontrado. Será que sua mãe e ela também seriam desonradas? Aquilo mexia com a mente dela de um jeito que ela não esperava. 

 

Já no círculo dos dourados, Sammyrah estava escondida atrás de Afrodite. Estava morrendo de medo que alguém descobrisse que foi ela quem dedurou os três. Sabia que todos tinham um grande prestígio dentre a cavalaria. Podia ver claramente a mente de Geisty se lembrando da conversa que tivera com a menina enquanto a levava de volta para a casa de Peixes. A pequena sentiu o corpo tremer ao ouvir a voz firme de Shion:

—Ninguém defenderá os acusados? - Ao perceber o silêncio prosseguiu - Cavaleiros de Ouro, qual o seu veredicto? 

Os cavaleiros se entreolharam, e Camus cutucou Afrodite para que desse o veredicto:

—Eu, Afrodite, Cavaleiro da casa de Peixes, determino em nome dos Cavaleiros de Ouro aqui presentes e, por consequência, daqueles que não puderam se manifestar, que os quatro cometeram um crime imperdoável e que sua pena é certa, Grande Mestre. Mas, na MINHA sincera opinião, o banimento é pouco - rosnou - Deveriam sofrer a pena em Cocyte...

—Por exporem o Santuário de forma tão leviana… - Prosseguiu o jovem Aldebaran de Touro, interrompendo a fala furiosa de Afrodite - Ainda por cima por desejos escusos, por moeda civil que sequer tem valor aqui dentro.

—Acredito que falta nos três - Pronunciou-se Camus de Aquário - O verdadeiro espírito de Justiça e honestidade que permeia aqueles que servem à Deusa Athena…

—É triste ver jovens promissores se venderem por tão pouco - Suspirou Shaka de Virgem - Mas existem males que vem para o bem. Provavelmente falhariam em provar seu valor quando a batalha pedisse… O essencial, Grande Mestre, é que tenhamos um exército unido em prol da paz na terra, não de seus interesses mundanos e pessoais. 

Shion observou as palavras de sua elite, e depois confirmou sua sentença:

—Mantenho então minha decisão. Suas armaduras já lhe foram destituídas, e os três serão banidos para a Ilha do Espectro, presos sob um selo que eu mesmo criei com ajuda de Shaka, ou seja, não poderão sair de lá nunca - Disse o Ariano, segurando o selo em suas mãos e elevando o cosmos para criar um buraco no tempo e espaço abaixo deles.

Assim que os três foram sugados pelo túnel, pode-se ouvir o grito de Shina ao fundo, que chamava pela mestra e amiga Geisty. A amazona de Ofiúco, encarada por outros, apenas correu para fora da arena, dando um ar dramático para aquela cena que já era bem triste.

 

Mais tarde, em Peixes, Afrodite fazia sua refeição tranquilo com Sammyrah, quando o assunto do julgamento voltou a tona:

—Eu me senti em um daqueles filmes em preto e branco que minha avó adora assistir - a ruivinha falou, após engolir um pedaço de carne de cordeiro - Foi tudo tão enérgico, a firmeza na voz do Grande Mestre, seu parecer, o sotaque classudo do Camus… 

—Apesar disso tudo, na hora vocês estava apavorada. Posso saber o por quê?

—Meio óbvio, né? Fiquei com medo de que alguém descobrisse que fui eu que contei tudo a você e ao Mestre Cabeça de Alface.

—Nem brinque com isso… Ainda mais porque, agora que não temos mais a Geisty, você vai fazer o treinamento especial com a Shina. E você sabe que, apesar de mestra e discípula, elas se consideram irmãs.

—A Shina? - revirou os olhos - ela vai querer que eu arraste pedregulhos igual o brutamontes do Cassius.

—Mas não mesmo… Eu ainda sou o superior dela e seu mestre oficial. Eu dito as regras do jogo, minha rosa.

Mal sabia Afrodite que a Amazona de Ofiúco tinha subido a sua morada justamente para se prontificar ao treinamento de Sammyrah e acabou por ouvir a conversa. Shina sentiu o sangue ferver ao ouvir Sammyrah afirmar que ela tinha denunciado Geisty. Como já sabia que ela cuidaria do treinamento da Grã-Duquesa, saiu da Casa de Peixes o mais rápido possível e sem ser notada. Teria sua vingança no campo de treinamentos

 

Semanas depois, Afrodite finalmente conversou com Shina e encaminhou Sammyrah ao treinamento na área das Amazonas. A italiana tinha certeza que ela havia delatado Geisty por pirraça e não pelos motivos apresentados e corroborados pelo Grande Mestre, portanto, resolveu ignorar todas as recomendações dadas pelo pisciano em relação aos treinos da jovem e decidiu colocar toda sua raiva naquilo:

—Agora é sua vez, princesinha - Shina falou, apontando para a ruiva no meio do círculo - Soube que é bem flexível graças ao Ballet clássico.

—Moderadamente - respondeu com leve sarcasmo.

—Pois bem… Você ficará entre aqueles dois cavalos - apontou para os equipamento de ginástica feito pelas próprias amazonas a partir de troncos - pernas abertas em espacate. Quero mil flexões abdominais. Assim que terminá-las, sequência de ataque e defesa comigo. E quero a contagem em voz alta.

A ruiva sabia quando era desafiada. Todas aquelas garotas sentiam inveja dos privilégios que ela tinha. Ignorou todos os conselhos que recebera para não se forçar e efetuou as flexões com maestria, mas, vez ou outra, sentia uma pontada do lado esquerdo, mas bastava respirar que passava. A parte mais complicada foi acompanhar o “jogo” de ataque e defesa de Shina, já que a italiana fazia de tudo para tentar acertá-la. Como estava subestimando a ruiva, acabou por chocar o punho em uma árvore, deslocando-o de imediato, porém manteve a pose:

—Vocês têm 30 minutos para descansar, comer algo e beber água - vociferou - não aceito atrasos - olhou para Maggie, Astrid e algumas outras amazonas, que estavam atiradas no chão - Acho que peguei pesado demais com vocês.

Em outras circunstâncias, a ruiva esperaria as amigas, mas estava com fome e com uma leve dor. Decidiu ir sozinha para o lago, pois sabia da macieira que lá havia. Subiu sem dificuldades, já que escalava muitas árvores com Vlad no rancho de sua avó. Ficou deitada em um galho, deliciando-se com as maçãs, quando viu Shina chegando:
—Ah não… - sussurrou - Não tem nem dez minutos que cheguei aqui…

De repente, o mato se agitou e saiu um coelho. Shina tirou a máscara e exibiu uma face terna, pegando o pequeno animal no colo e lhe fazendo um carinho. Uma nova agitação no mato e, dessa vez, um garoto apareceu. Tatia sentiu pena dele, pois, obviamente, seria massacrado pela italiana por estar em uma área proibida, mas não contava com o punho ferido, que a impediu de atacar. O garoto, em um gesto de cavalheirismo, rasgou um pedaço de seu uniforme e fez uma atadura improvisada:

—Bom, isso deve ser o suficiente - o garoto falou se levantando. Nessa hora, ele ergueu o rosto e a ruiva o reconheceu do Coliseu. Era discípulo de Marin, Seiya - Eu vou cair fora antes que você faça picadinho de mim.

Ele partiu e Shina o ficou encarando por um tempo. Sammyrah espiava toda a cena e, a guarda baixa da Amazona de Ofiúco foi um prato cheio para ela:

Ora, Ora…— pensou - Parece que ela tem um coração, afinal.

 

No outro dia, Sammyrah já se acordou sentindo a respiração pesada e antes mesmo do desjejum, tomou seus remédios da asma, espantando seu mestre, mas ela apenas respondeu:

—Deve ter sido a poeira de ontem Di… nada demais.

Por volta das  10 da manhã, o Coliseu estava cheio, Sammy tinha levado sua bombinha de asma - coisa rara de acontecer, pois desde a noite anterior tinha dificuldades de respirar mesmo com os remédios . Assim que chegou no seu ponto na arena, acenou para Astrid e Maggie que já duelavam entre si. Riu de Maggie, que fez uma dança estilo Michael Jackson para Astrid e tomou uma rasteira, até que Afrodite chamou sua atenção:

—Tatiana, você certeza que tem condições de treinar no sol ?

—Tenho sim, Dite.  Dei uma puxada no remédio antes de entrar - A ruiva fez uma rosa com seu cosmos e colocou na orelha direita - Vamos lá que eu tenho umas aprendizes pra atemorizar hoje...

O pisciano balançou a cabeça com um mau pressentimento, mas iniciou os treinos, o aquecimento foi feito rapidamente. Logo o pisciano orientou a ruiva a fazer uma série de socos e chutes enquanto cumprimentava Máscara da Morte. Minutos depois, quando ele voltou, apenas encontrou Tatiana deitada sobre os joelhos encolhida, enquanto respirava alto e fundo e Astrid abanava seu rosto enquanto Margareth corria atrás dele:

—Sammy, tá tudo bem? - Disse o pisciano preocupado

—Ela não consegue falar, Mestre Afrodite - Respondeu Maggie ansiosa - Só fica respirando alto, e fazendo barulho 

A ruivinha ergueu o olhar e fez o tal sim, fazendo a espinha de Afrodite gelar, ao lembrar que anos atrás, Raissa Romanova o alertou sobre o pulmão ferido da filha.

—Astrid, peça que chamem o Grande Mestre AGORA! - o Cavaleiro ergueu o cosmo tentando chamar atenção do patriarca enquanto via a garota correr 

Sammyrah emitiu o som mais uma vez e ele a viu colocar uma das mãos no rosto para tirar a máscara. Antes que ela o fizesse, a pegou no colo e avistou Astrid puxando, literalmente, o mestre pela toga e correu até ele.

 

***

 

Para Tatiana tudo aquilo tinha sido muito estranho, o frio do lugar a espantava. Abriu os olhos lentamente estranhando o ambiente que era muito branco, até encontrar o rosto aflito de seu irmão, encostado na barra da cama:

—Vlad? - Ela disse meio fraca - Aonde eu estou?

—Oi irmã!- O ruivinho deu um meio sorriso - Não fala muito tá? Você tá no hospital, tiveram que te operar de novo, o Afrodite apareceu do nada, por uma espécie de portal... Te trouxe às pressas...,

A ruivinha franziu a testa e percebeu uma máscara imensa de respiração em seu rosto. 

—M-mas o que?

—Não sei - Ele respondeu - Mas vou chamar papai e Afrodite...- O menino deu um beijo na cabeça da irmã- Depois me diz quem te machucou, posso bater nele com o skate...

Ainda meio zonza ela apenas assentiu. Apenas viu a figura do jovem ruivo ser trocada pela do Pai, que parecia ter os olhos inchados e de Afrodite:

—Oi minha rosa... como você está?

—E-eu...

—Amorzinho… - Dimitri falou - Tenta não falar tá? O médico pediu pra você ficar mais quieta.

Ela apenas assentiu e ouviu o mestre e o pai relatarem brevemente o que tinha acontecido.

—Bem meu amor, seu pulmão aparentemente não pode ser bem suturado quando você era mais nova... por isso os cuidados com os exercícios

—E a Shina, de birra, ignorou minhas instruções - Afrodite revirou os olhos com raiva - Mas o mais importante foi ter te trazido o mais rápido o possível pra cá!

Ela sorriu alisando as mãos daqueles dois homens, tão importantes para ela:

— E eu vou poder voltar?

—Não agora - Afrodite prosseguiu - Você precisa curar o pulmão e descansar por alguns meses... mas prometo te visitar sempre que der 

—Afrodite me disse que você já estava fazendo rosas, não é? - O russo sorriu vendo o sueco balançar a cabeça - Sua mãe vai gostar da floricultura ambulante que você se tornou...

—Papai... são rosas venenosas… - A pequena completou, vendo o mestre sorrir

—Então não fale para sua mãe… É capaz dela enviar uma dúzia de buquês delas para sua tia - Dimitri franziu a testa piscando para filha

Afrodite riu, acompanhado da discípula daquela situação. O Pisciano passou mais alguns dias aguardando a alta da aprendiz, mas assim que ela foi liberada do hospital ele voltou para a Grécia com sangue nos olhos. Aquela atitude de Shina não sairia barato.


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Notas finais do capítulo

Só quero saber quem conseguiu identificar os easter-eggs



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