Primeiro, eu matei o meu pai... escrita por Myu Kamimura, Madame Chanel


Capítulo 19
Capítulo XVIII




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No Salão Dourado, os cavaleiros aguardavam em seu lugar a presença de Arles. O Patrica não demorou a chegar. Estava com todos os rosários e segurava com firmeza o cajado com a mão direita. Camus o notou inquieto:

—Cavaleiros de Ouro - indagou, batendo o cajado no chão - Os Cavaleiros de Bronze do Japão, após eliminarem valorosos guerreiros e bradarem aos quatro cantos que uma garotinha é Athena vieram nos desafiar de frente. Óbvio que não passarão da Casa de Touro, mas mesmo assim, exijo cautela. Não soaremos os sinos de alerta, mas o Relógio de Fogo deve ser aceso.

Os cavaleiros de aquário, Virgem e escorpião se entreolharam, até que Shaka tomou a frente:

—Eu cuidarei disso -  falou, dando um passo à frente.

—Está bem, Shaka - o Grande Mestre respondeu, meneando a cabeça - Aos demais, voltem para o Zodíaco Dourado. Lembrem-se: mesmo lidando com inimigos de baixo nível, peço que tenham prudência, não tirem suas armaduras e, principalmente, não deixem o Zodíaco Dourado.

—Sim, senhor.

Enquanto os demais saíram pela mesma porta que vieram, Shaka se dirigiu a uma porta menor, que havia no fundo da sala, dando de frente para o enorme relógio de fogo. Buscou no chão a marca de seu signo. Se posicionou sobre ele e foi elevando o cosmo, ao mesmo tempo em que entoava o Cântico a Athena:

 

“Atena, Atena, Atena!

Atena, Atena, Atena!

Teu escudo reflete o luar

Tua lança revolve o ar!

 

Força e coragem para te encontrar

No longo caminho que resta a andar

Atena, Atena, Atena!  

No Teu peito a Medusa a gelar

Atena, Atena, Atena! 

Nos Teus olhos o fogo a queimar!

 

Senhora dos Campos de Marte a guerrear

Erga as oliveiras para libertar

 

Atena, Atena, Atena!  

Na batalha Teu nome a clamar

Atena, Atena, Atena! 

Justa espada irá triunfar

Se Tua coruja consente em guiar

O nosso destino para Te encontrar

 

Atena, Atena, Atena!  

Os Teus ventos precisam voltar

Atena, Atena, Atena! 

Novos monstros para derrotar

Entre nós revivam as glórias do mar

Caiam os tiranos que querem voltar

 

Atena, Atena, Atena! 

Imortal é quem segue a lutar

Atena, Atena, Atena!  

Nessa terra a virtude é sonhar

Atena, Atena, Atena!

Faça-nos heróis para Gaia honrar

Chama o Povo Antigo para celebrar

 

Atena, Atena, Atena! 

Teu escudo reflete o luar

Atena, Atena, Atena!  

Tua lança revolve o ar

 

Atena, Atena, Atena! 

Teu escudo reflete o luar

Tua lança revolve o ar

Atena, Atena, Atena!"

 

Por fim, todas as chamas do relógio se acenderam. O virginiano inspirou tranquilo e acalmou o cosmo, retornando para sua casa em seguida. 

 

***

 

Kammy ainda estalava os dedos ansiosa na área comum de Aquário quando viu o relógio de fogo acender. Suspirou:

—Eu tinha esperanças que isso não fosse acontecer…

—Todos nós - falou Camus, que vinha num passo lento, segurando o elmo nas mãos. Só nos resta ver até onde essa batalha vai.

A loira queria descer. Queria uma desculpa para ficar na parte baixa, mas não tinha nenhuma. Com o Relógio de Fogo aceso, os treinamentos estavam suspensos, então ela não poderia dizer que ia socar uns aprendizes… Também não conversava com as outras Amazonas, logo, não tinha o que fazer na área restrita a elas:

E não tenho mais o Misty para visitar na cabana— pensou, deixando escorrer uma lágrima por trás da máscara. O jeito era esperar.

 

***

 

Tremy de Sagitta guiou os Cavaleiros de Bronze e Saori Kido até a ponta do Zodíaco Dourado e explicou que, para chegar ao Grande Mestre, teriam doze horas para atravessar as Casas do Zodíaco e enfrentar os Cavaleiros de Ouro. Após isso, atacou-os com as Flechas Fantasmas, sendo derrotado por Seiya, mas não sem antes cravar uma flecha no peito de Saori:

—A Flecha só pode ser removida pelo Mestre Arles - o Cavaleiro de Prata falou  agonizante - Acham mesmo que conseguem chegar até ele em 12 horas?

Os quatro cavaleiros de Bronze saíram correndo em disparada rumo a Casa de Áries, se deparando com Mu de Jamiel, trajando sua armadura de ouro. Ele atacou Seiya e Shiryu, mas apenas para provar que as Armaduras deles não estavam em condições para enfrentar os Cavaleiros de Ouro. Pediu uma hora para restaurar todas e, enquanto os fazia, lhes informou a necessidade de elevar seu cosmo ao máximo, para, ao menos, se igualar ao poder dos dourados: eles precisavam despertar o sétimo sentido. 

 

A cada casa ultrapassada pelos Cavaleiros de Bronze, os servos iam se comunicando através da rotas alternativas entre as casas. Assim, todas as informações chegavam rapidamente a Aquário, onde uma apreensiva Kammy andava de um lado para outro na escadaria da casa, acompanhando a batalha pelas fofocas, alterações cósmicas e pelo Relógio de Fogo. A chama de Touro já havia se apagado quando ela sentiu uma energia estranha. Camus também, pois veio correndo para fora do Décimo Primeiro Templo:

—Você também sentiu? - Ele perguntou sério.

—Sim… - respondeu, virando o rosto prateado para ele - Parece que, após 10 anos, Gêmeos retornou ao Santuário.

—Sei não… Essa energia é hostil demais. Não lembra em nada o cosmo de Saga.

—Hm...

—Eu vim te chamar para tomar um chá… - tocou-lhe levemente o ombro - Você está muito tensa… Aimée.

A sobrancelha direita foi arqueada por baixo da máscara. Ele nunca a chamava pelo nome. 

 

***

 

Em Capricórnio, Shura estava pensativo, encostado na entrada de sua sala de música, portando a armadura de Capricórnio. Sentia no fundo que toda aquela loucura que o santuário vivia nos últimos anos ia acabar, mas se questionava profundamente a qual custo humano, pois Arles não pararia até derrubar o último cavaleiro de bronze, sem pensar nas consequências, até o último cavaleiro. Se arrependia de tê-lo obedecido naquela noite, de te matado seu melhor amigo… de ter vivido sob a sombra do monstro que se tornara desde que matara Aiolos. Suspirou, enxugando uma lágrima teimosa e pensou na raiva que se apoderava de si.

“O Cavaleiro mais fiel à Athena”... Grande merda! É isso que você é Shura: um grande merda…— Ele caminhou até o interior da sala em busca de privacidade, se encostando em frente a sua vitrola. Não se lembrava do disco que estava ali, portanto sentiu a curiosidade de ouvir a música que provavelmente dava alento ao seu passado, girou a manivela algumas vezes e ouviu a voz potente de Maria Callas, ousou acompanhar as palavras da cantora lírica, na língua que ele falava com seu sotaque forte com um ar de riso - L'amour est enfant de Bohême....Il n'a jamais, jamais connu de loi… 

E sua mente foi invadida pela voz rouca de Tatiana cantando aquilo, sorriu, pois nas últimas semanas que ela esteve ali com ele, parecia sentir uma falta imensa do pai e portanto o obrigava diariamente a ouvir a ópera favorita de ambos: Carmen.  Ao pensar nela, sentiu um pesar, tirou de um canto da armadura, uma das fotos que tiraram em Paris quando ele a levou de volta, a pedido de Afrodite. Sentia falta dela, e um arrepio na espinha no risco que corria de morrer, sem viver metade do que havia lhe prometido, tudo que tinham planejado, escondidos pelos cantos, dormindo juntos, dentre tantos outros momentos. Sentiu o cosmo de Saga em Gêmeos, mas deu de ombros, pois duvidava que ele fosse se arriscar assim tão cedo. Guardou a foto e se ergueu. Não sabia o que aquela guerra arrancaria de bom de sua vida, mas esperava profundamente que não fosse tudo.

 

***

 

Trancados dentro da biblioteca, Camus e Kammy tomavam chá em silêncio. A loira sabia que aquilo não aliviaria sua tensão. Ainda sentia o cosmo sombrio vindo de Gêmeos quando Camus ficou de pé abruptamente:

—O que foi? - a amazona perguntou assustada, pousando a xícara na mesa

—Hyoga, ele… O cosmo dele desapareceu repentinamente.

—Foi eliminado?

—Não… Parece que está vagando entre dimensões.

—Então deixe-o lá - falou tranquila, pegando a xícara de chá novamente, dando um gole curto - Ainda é um castigo brando, considerando o que ele fez com Crystal.

—Kammy… Ou melhor, Aimée… Você realmente acha que ele fez uma vila inteira de refém e matou Crystal por despeito?

—Sim… Crystal sempre me disse que Hyoga era um jovem cheio de sentimentos e que isso seria sua ruína. Ele merece ficar para sempre preso em Outra Dimensão.

—Você está sendo tão sentimentalista quanto ele agora.

—NÃO ME COMPARE COM ELE, DIDIER!

—Baixe o tom e me responda com total sinceridade - falou firme - por que você não matou o Seiya?

—Aconteceram coisas no Japão… Coisa que não posso falar totalmente, mas que me fizeram entender que Seiya não teve escolha. 

—E você o perdoou?

—Não. Eu apenas compreendi que, se ele não o matasse, o Mis o faria…

—E por quais razões você acha que o mesmo não aconteceu com Hyoga? - a olhou sério. Percebeu que ela enfim perdeu a fala e continuou - Algumas vezes, Kammy, você permite que suas emoções ofusquem sua razão. Com isso, não enxerga coisas simples. Seja lá o que aconteceu no Japão, foi de grande ajuda.

—E o que eu não enxerguei no caso do Crystal, Mestre Camus? - o rosto estava sério. Era possível ver as faíscas saindo dos olhos azuis.

Ele respirou fundo e tornou a se sentar. Deu um gole profundo na xícara de chá, resmungando que estava frio, e disparou:

—Crystal foi vítima do Satã Imperial. Eu constatei isso quando cheguei a Sibéria - tamborilou os dedos na mesa - Relatei a Arles que cheguei tarde, que Hyoga já havia partido, mas não foi bem assim. Eu vi boa parte da luta. Crystal me chamava de Mestre apenas por eu ser de patente superior, mas ele já estava aqui quando cheguei, um jovem e prodigioso Cavaleiro de Prata. Ambos tínhamos um enorme respeito um pelo outro e eu o conhecia muito bem. Aquele que lutava com Hyoga era um demônio sanguinário… Você sabe como funciona, não é?

—Misty me falou sobre esse golpe… O Grande Mestre nunca luta, já que, normalmente, não possui armadura, porém é a última proteção antes do Templo de Athena. Se o Cavaleiro de Peixes for derrotado, o Patriarca possui uma técnica psíquica, capaz de acabar com o oponente de dentro para fora, pois ele estará totalmente à sua mercê.

—Exato. É uma técnica de domínio mental, que serviria para expulsar o adversário sem a necessidade de uma luta física, mas suspeito que Arles não a domina totalmente.

—E por que acredita nisso?

—Crystal não agia como alguém controlado para se afastar. Ele era uma máquina de combate… Até seu cosmo estava estranho. Ele tentou matar Hyoga de todas as formas possíveis e, em alguns momentos, atacou civis - a voz estava pesada, como se ele quisesse chorar a qualquer momento - Hyoga não teve escolha. Se ele não o detivesse, Crystal não pararia até acabar com o último habitante daquela vila. 

—Talvez Arles tenha te enviado para matá-lo quando ele derrotasse o Cisne - ela falou trêmula, apertando a ponta da mesa

—É uma probabilidade, mas nunca saberemos - ele ficou de pé e pegou o elmo - Eu já volto.

—Mas… Arles disse que vocês não devem sair das Doze Casas!

—Sim. Ele disse que não podemos sair do Zodíaco Dourado, mas não disse nada sobre sairmos de nossa para outra casa. Eu vou até Libra, resolver um assunto.

A princípio, a Loira não entendeu o que seu primo faria na vazia Casa de Libra, até que a alteração de Cosmos chamou sua atenção: Hyoga reapareceu, reacendeu por alguns instantes e sumiu de novo. Quanto a Camus, mostrou duas explosões moderadas. Kammy colocou a máscara e voltou para a frente da Casa de Aquário, mas seu primo viera pelo outro lado:

—Usou a tal rota secreta?

Ele acenou positivamente com a cabeça. Estava calado e cabisbaixo. Kammy apenas se aproximou e o abraçou:

—Você fez o que precisava fazer…

A princípio, Camus ficou atônito, mas logo se entregou ao abraço da prima, afundando a cabeça na ombreira da armadura da mesma, deixando as lágrimas escorrerem. Por fim, as enxugou e ficou em pé na porta da casa, olhando fixamente para a chama de Câncer se apagando no Relógio de Fogo.

—Aiolia… - Kammy murmurou - Ele também foi pego pelo Satã Imperial… Sinto o cosmo de Seiya em Leão. Temo pelo que possa acontecer com ele.

—Mas o Seiya já o derrotou uma vez, não é? - Camus jogou no ar. Nunca soube o que, de fato, aconteceu no Japão - Quem sabe, ele não consiga repetir o feito.

—Pouco provável… - ela ficou quieta por alguns instantes e, depois, murmurou em sua língua materna - Il l'a vaincu parce qu'il avait l'aide de l'armure du Sagittaire (Ele o derrotou porque teve ajuda da Armadura de Sagitário)

—O que você está-...

—Por isso não contei o que aconteceu no Japão - suspirou em alívio - Eu não sabia qual seria sua reação e… As paredes, ultimamente, têm ouvidos supersônicos e multi linguísticos.

—Compreendo.

—Eu… Eu queria muito ir a Leão, mas… 

—Além de não ser prudente, não sabemos os efeitos que esse “Satã Imperial Descontrolado” exerce sobre quem o recebe.

—Você viu o que aconteceu com Crystal quando Cisne lhe deu o golpe fatal?

—Eu observava de longe… Eu o percebi mais calmo, como se o golpe do Hyoga tivesse acabado com o domínio mental.

—Eu tenho uma teoria… - olhou para ele e o viu sinalizar para que ela continuasse - Acho que o golpe perde o efeito quando quem o recebe toma ou dá um golpe fatal. Ou seja, se o Aiolia matar o Seiya, ele sai do “transe”.

—É algo que faz sentido… Crystal escravizou a vila, mas não feriu ninguém mortalmente… - suspirou, sentindo os primeiros pingos de uma chuva que começava a cair - mas, por hora, não podemos fazer nada. Vamos entrar.

 

***

 

Enquanto isso, aproveitando que todos os soldados e cavaleiros estavam em alerta geral devido a “invasão” dos Cavaleiros de Bronze, Marin subia o monte Star Hill. A mestra de Seiya tinha dentro de si diversas suspeitas, que sabia que só seriam sanadas com a escalada ao local restrito ao Grande Mestre e ao subcomandante:

O Grande Mestre deveria ser alguém amado por tudo e todos, mas Arles é totalmente voltado para o mal— pensou, após finalmente colocar os pés no topo da colina sagrada - Eu esperava encontrar alguma resposta aqui, mas… 

Ela caminhou até o pequeno templo que ali havia e o baque veio: havia um corpo deitado sobre o altar. Conforme se aproximava, reparava nos detalhes das vestes, no rosto senil, os cabelos azulados e as sobrancelhas raspadas até um ponto específico:

Quando um Grande Mestre morre os ritos fúnebres são os mesmos concedidos aos Cavaleiros… Porque este estaria aqui em cima?— Foi então que a Amazona de Águia reparou na cosmo energia que o envolvia - Isso não é comum. E se eu…

Ela o fez. Tocou no ombro do cadáver e a energia permitiu que ela visse o que acontecera. Aquele corpo era de Arles, do verdadeiro Arles de Altar:

—Isso significa que aquele no trono é…

O pensamento foi interrompido por uma energia assustadora. Quando Marin virou, deu de cara com o Cavaleiro de Gêmeos em sua armadura:

—Então você viu tudo! - a voz era rouca, aterrorizante. Nada que lembrasse o Saga que todos no Santuário respeitavam - Agora não posso deixar que você viva!

Ele a atacou, porém Marin manteve a sua reputação como um dos membros mais fortes, tanto física quanto mentalmente, do hoste prateado, detectando a ilusão e vencendo com apenas um golpe:

—Essa foi por pouco… Mas, agora que sei de tudo, não tenho tempo a perder. Preciso alcançar o Seiya e contar isso a ele!

 

***

 

Não era apenas os habitantes de Aquário que estavam acompanhando a batalha com certa tensão. Em Peixes, Afrodite estava no ápice de seu stress. A cada cavaleiro derrotado, um servo diferente da casa precedente a sua vinha avisar. Shaka foi derrotado, Milo travava uma batalha ferrenha e isso era preocupante…  O pisciano estava com uma máscara hidratante no rosto, encarando o espelho impaciente. Respirou fundo e pegou um caderno em uma gaveta. Precisava deixar algo a ela, já que não sabia mais o que ia acontecer. Com sua escrita delicada e algumas lágrimas no olhos, Afrodite escreveu rapidamente ali uma espécie de testamento para a sua aprendiz favorita, uma espécie de última declaração de carinho e amor. Assim que finalizou o conteúdo da carta, rapidamente a endereçou a residência francesa de Tatiana e lacrou o envelope com o selo da casa de peixes. Após aquilo, levantou-se e removeu a máscara do rosto em seu lavabo e rapidamente caminhou pela casa de peixes buscando por Dione, a pessoa quem mais confiava na vida e a chamou num cantinho:

—Dione, te peço que leve esta carta agora ao seu salvador para que ela seja entregue a Tatiana-o pisciano viu o olhar preocupado da serva mas prosseguiu- É de suma importância para mim que…

—Mas mestre… o senhor acha que??- A serva não teve coragem de prosseguir

—Não sei minha querida, mas sempre existe a possibilidade não é?

 

Antes de partir a serva abraçou seu mestre que continha as lágrimas, naquele momento, Afrodite amaldiçoou Arles por  todo mal e tristeza que vinha causando.

 

***

 

Por fim, Cassius se sacrificou para que Aiolia saísse do efeito do Satã Imperial, confirmando a teoria de Kammy. Shaka foi derrotado por Ikki, Hyoga foi resgatado em Libra - graças a armadura enviada pelo Mestre Ancião e a Shun, que doou o calor de seu cosmo para que o Cisne pudesse viver. Em troca do suplício de Andrômeda, decidiu enfrentar Milo de Escorpião, que sabia o que se passou entre ele e Camus na Casa de Libra. 

 

Quando sentiu a presença de Hyoga, Camus se agitou. Ficou de pé e começou a andar de um lado para outro. Kammy notava o primo cada vez mais tenso,  murmurando coisas em latim em alguns momentos. Ela convivia com ele tempo o suficiente para saber que aquilo eram orações que aprendera quando era criança, orações que estavam no fundo de sua mente. Até que ele saiu do cômodo. A Amazona de Cervo ainda fez menção em seguí-lo, mas desistiu rapidamente. Continuou acompanhando a batalha pelo cosmo dos guerreiros, sentindo o avanço deles até Sagitário.

O sol estava quase se pondo. A loira encarava o relógio de fogo pela janela da biblioteca, quando Camus entrou:

—Eu preciso falar com você... Aimée.

Ao ouvir o primo chamar-lhe pelo nome civil, virou de imediato, vendo-o com os olhos cheios de lágrimas: 

Mon dieu... - falou, tirando a máscara e se aproximando - o que aconteceu, Didier?

—Hyoga... Ele...

—Eu sei... Eu senti toda a batalha.

—Eu tentei dar-lhe uma lição em Libra, mas, pelo jeito, não foi suficiente. 

Ele sorria em meio às lágrimas. A filha de Dorothée sabia o que aquilo significava:

—Você irá lhe dar a última lição, não é?

—Crystal foi uma vítima dessa batalha horrível e sem sentido - respirou fundo e começou a sussurrar - eu sei que Arles não representa a justiça. Eu tinha minhas desconfianças, Crystal também me alertou algumas vezes, mas aquilo que aconteceu com ele foi a confirmação. Eu nunca me expus ou fui contra ele por medo do que podia acontecer com você... 

—Você não deveria se preocupar tanto comigo - o abraçou.

—Não adianta nada você falar isso... Mon petit bien-Aimée lembra? Nunca deixarei de te proteger. Nunca! - apertou o abraço - Crystal caiu perante o mal... Então, eu darei essa lição a Hyoga.  Eu peço que você não o odeie...

—Não poderia odiar alguém que é digno do amor do Mago da Água e do Gelo. 

—Cuide-se...

Ele lhe deu um beijo no topo da cabeça. Ela recolocou a máscara e partiu para o bosque. Não tinha necessidade de deixar o 11º templo, mas não queria estar perto quando a batalha começasse.

O céu já oscilava em tons de violeta e laranja e a estrela d'alva já era totalmente visível quando o sangue de Kammy gelou. A batalha havia começado. A loira abraçou os joelhos e ficou observando seu reflexo na água, enquanto cantarolava uma antiga canção de ninar francesa, a música que tanto Dorothée, quanto Camus, Crystal e Misty já haviam cantado para ela:

 

Frère Jacques, Frère Jacques. 

Dormez-vous? Dormez-vous?

Sonnez les matines, sonnez les matines.

Ding, ding, dong. Ding, ding, dong

Olhou para o céu. Ainda era cedo para ver as estrelas, mas elas certamente brilhariam com a lembrança:

—Você deve estar orgulhosa dos homens que eles se tornaram, mamãe… Sobretudo, o Didier. 

De repente, o ar ficou mais frio e um solitário cristal de gelo caiu nos cabelos da amazona de cervo. Um beijo de adeus. Ela tirou a máscara e deixou as lágrimas caírem, misturando-as com a água do lago. Era outono, mas estava nevando. Nevando no bosque onde outrora o pequeno Didier treinou com Dorothée de Flamingo. O bosque que Misty de Lagarto fez questão de apresentar a pequena Aimée e dizer o que significa aquela cabana escondida e esquecida no meio da floresta. As lágrimas pareciam lâminas afiadas rasgando-lhe os olhos. Ele não gostaria de vê-la chorar, mas era impossível. As estrelas estava no céu agora. Cintilavam agitadas com a batalha. Ela levou o olhar até a constelação de Aquário: 

—Todo encontro levava a uma partida, e assim será, enquanto a vida for mortal. Em todo encontro, há um pouco da tristeza da separação, mas, em toda separação, há um pouco da alegria do encontro... Que sua alma guerreira possa descansar com os grandes filósofos, Camus de Aquário. 

O brilho da constelação se foi, assim como a neve. Kammy enxugou as lágrimas e ia colocar a máscara no rosto, quando sentiu alguém tocar-lhe o ombro. Era Ellen de Lebre:

—O que faz aqui? - a amazona de cervo perguntou - Eu sei que você detesta esse bosque.

—Shina precisa de nossa ajuda.

—Com o q-…

—Ela está enfrentando diversos soldados do Piton sozinha, mas ainda não está totalmente recuperada do ferimento que sofreu no Japão - a puxou pelo braço - Não há tempo! Marin também voltou e, se a Shina está ajudando-a, significa que ela não nos traiu. E eu sei que você conhece a rota secreta das Doze Casas.

—Você tá enganada no último - ela recolheu o braço e o usou para enfim colocar a máscara - Não conheço a rota secreta, mas posso facilmente descobri-la.

Ambas eram ágeis e, graças a isso, chegaram rapidamente no local. A amazona de Ofiúco pelejava com dificuldade contra alguns soldados. A máscara estava jogada no chão, o rosto e o dorso totalmente ensanguentado. Ela sorriu e respirou em alívio quando viu as duas “Filhas do Vento” chegando ao local:

—Vocês sabem que, se me ajudarem, estão indo contra Arles, não é? - a italiana falou, apoiada nos braços da amazona de Lebre, enquanto Kammy, sem esforço algum, deixou alguns soldados desacordados.

—Não sei a Ellen, mas eu nunca estive ao lado dele - a prima de Camus respondeu. A voz ainda estava pesada pela tristeza - Só o obedecia para não morrer.

—Você também estava no Japão, Kammy de Cervo. Sabe da verdade… - sorriu - Por favor, ajude Marin a salvar Seiya! Ela seguiu com Piton por alí - apontou - rumo a rota secreta das Doze Casas.

—Eu desconheço essa rota, porém consigo sentir o cosmo da Marin e creio que isso pode me ajudar.

Shina e Ellen assentiram com a cabeça, enquanto a prima de Camus saiu em disparada pelo caminho indicado pela italiana. Era uma passagem sinuosa, cheia de pequenas ruelas, rochas e colinas. A loira fechou os olhos e se concentrou um pouco, sentindo Marin um pouco mais à frente. 

Seus sentidos não a traíram. Kammy encontrou a ruiva segurando o Subcomandante pelo pescoço, prestes a dar-lhe o golpe final:

—Espere, Marin!

A interrompeu. A japonesa ergueu o rosto prateado e pode-se ouvir seu suspiro de decepção no momento em que ela soltou Piton, que caiu de joelhos no chão. Ele abriu um sorriso e começou a tagarelar:

—É o seu fim, traidora safada - indagou, indo para o lado de Kammy - eu confio em seu poder para liquidar ela, Cervo.

—Oh, claro Píton… - a fala saiu suave, cínica e irônica. Atreveu-se a colocar a mão direita em seu ombro - Você conhece meu legado familiar…

—Logicamente… Você é Kammy de Cervo, a Herdeira dos Ventos. 

—Eu detesto quando me chamam assim… Eu gosto mais da outra alcunha que me foi atribuída.

—Qual?

—A Assassina de Traidores - dito isso, ela usou a mão que estava no ombro do subcomandante para o lançar no ar, desferindo a técnica que Camus implorou que selasse - Wuthering Heights! Eu te disse que ia punir os responsáveis pela morte do Misty, Piton - respirou e percebeu a ruiva ainda parada, a encarando - Marin do céu, o que você tá fazendo aí parada? Não achou mesmo que eu ia te matar, né?

—Eu já não sei quem é amigo ou inimigo aqui, Kammy.

—Na atual situação não dá pra saber mesmo, mas… Sem tempo, ruiva! Vá logo ajudar o Seiya. A última chama está prestes a se apagar.

A amazona de Águia assentiu com a cabeça e seguiu rapidamente para o Caminho das Rosas Diabólicas. Kammy, por sua vez, sentou em uma rocha ali mesmo e ficou observando a última chama tremeluzente do Relógio de Fogo, quando sentiu uma presença vinda do outro lado. Atreveu-se a olhar e, graças a longa túnica negra, soube quem era:

—Marie?

—Eu queria saber porque sempre rola esse espanto quando vocês me veem - a voz tinha o tom apático de sempre - Mas não agora… Quero ficar com a Violeta, porque já percebi que esses patetas de bronze não serão capaz de salvá-la.

—Co-... Quem é Violeta?

—Aquela a quem chamam de Saori Kido - tirou a máscara, puxou um pequeno chocolate de dentro da manga da túnica e mordeu

—Quer dizer Athena?

—Achei que todas as Amazonas fossem acéfalas… Pelo visto, você foge à regra, Cervo - deu um leve sorriso de lado - Dez anos atrás eu ajudei Aiolos a tirá-la daqui… E ela prometeu voltar para me salvar - suspirou e tornou a colocar a máscara - Eu adoraria te contar essa história, mas restam menos de 30 minutos para a última chama se apagar e eu preciso estar ao lado da minha amiga.

—Eu vou com você - ficou de pé - Se você quiser, é claro.

Marie acenou em concordância e Kammy a seguiu pela rota sinuosa, até a casa de Áries. Aproveitando, a morena contou a prima de Camus tudo que estava acontecendo no Santuário desde a “traição” de Aiolos, inclusive, a verdadeira identidade de Arles:

Agora, sabendo que Arles é, na verdade, Saga de Gêmeos, acredito mais ainda que Sammyrah o ajudava por interesse... — pensou

Quando chegaram ao 1º templo do Zodíaco Dourado e avistaram a jovem deusa deitada no chão ladeada por Mu e alguns Cavaleiros de Bronze, um facho de luz dourada cruzou o céu noturno e, em seguida, a última chama do Relógio se apagou. Marie caiu de joelhos, arrancou a máscara e postou-se a chorar. Kammy permaneceu em pé, atônita, pensando no sacrifício de seu primo, de seu Mestre e de Crystal. As lágrimas também queriam sair, mas a vontade de dar meia volta e acabar com Arles - mesmo que morresse no processo - era maior. Ela o teria feito, se Athena não tivesse ficado de pé, inundando o Santuário com seu cosmo cheio de amor. 




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Notas finais do capítulo

Tcham tcham tchammmmm novas emoções se aproximam...



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