A compilação do primogênito escrita por Lily


Capítulo 3
A antelação do favoritismo




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A antelação do favoritismo

Katie estava chorando. E por um segundo Penny não soube o que fazer. E isso a assustou, muito.

—Papai! Papai! - Katie gritou estendendo os braços para Leonard esperando que ele a pega-se, Penny teve que soltar sua filha para que seu marido a segura-se. - Tá doendo.

Katie apontou para o joelho ralado e avermelhado. Penny deu um passo para trás para que Leonard a senta-se na ilha da cozinha.

—Você quer alguma, abelhinha? - Penny indagou segurando a filha pelas coxas para que ela não caísse. Katie choramingou tentando de afastar dela e ir para Leonard que buscava o kit de primeiros socorros em cima da geladeira.

—Eu quelo o papai. - Katie murmurou sem conter as lágrimas.

—Está tudo bem, abelhinha. Eu estou aqui. - Leonard disse jogando o kit em cima do balcão, Penny deu um passo para o lado e deixou que ele cuidasse de Katie. Sua filha soltou pequenos soluços enquanto Leonard limpava seu machucado.

Penny mordeu o lábio observando o rosto de Katie se tornar sereno e seus olhos se acalmarem. Quando ela tinha caído alguns segundos atrás, Penny havia entrado em pânico porque de repente se viu sem saber o que fazer, o que não era comum. Ela sempre soube o que fazer quando se tratava de Katie. Ou pelo menos era isso que achava.

Penny achava que sabia qual era o cereal favorito de sua filha, mas descobriu logo pela manhã que Katie havia enjoado dele e preferia outro com menos açúcar. Penny achava que sabia qual era a música predileta de Katie, mas o jeito como ela se contornou em seus braços enquanto ela cantava na hora da soneca lhe dizia o oposto. E ela achava que sabia acalmá-la, mas pelo visto não.

—Que tal um beijinho para curar a dor? - Leonard sugeriu depois de colocar o band-aid. Katie assentiu limpando as lágrimas com o punho de seu casaco, Penny então se lembrou porque Katie havia caído do sofá. E como havia sido sua culpa.

Ela havia passado no shopping para comprar o presente de um colega de trabalho, mas quando estava saindo viu um casaquinho em uma loja infantil, era laranja com botões na frente, o capuz imitava uma juba de leão com orelhinhas e tinha uma cauda que balançava de um lado para outro. Penny sabia que Katie iria amar aquele casaco, por isso não hesitou em comprar. Mas então, depois do jantar, Katie começou a brincar pelo apartamento pulando de um lado para o outro balançando sua cauda, ela subiu no sofá e a calda enrolou em seus pés.

—Papai, eu quelo domi. - Katie disse coçando os olhos.

—Desculpe, abelhinha, mas você bateu a cabeça e acho melhor você não dormir agora. - Leonard falou movendo os fios da franja de Katie para o lado, Penny então notou a pele arroxeada no meio da testa dela.

—Por quanto tempo ela tem que ficar acordada?

—Algumas horas, até o inchaço diminuir. Mas eu vou ligar para a nossa pediatra de qualquer jeito.

Penny assentiu ainda mordendo o lábio, então estendeu os braços para pegar Katie.

—Eu quelo o papai. - a pequena falou desviando dos braços dela. Penny respirou fundo tentando manter a calma.

—Vamos trocar de roupa, meu amor. Vamos pegar aquele pijama lindo que você ama. - ela sugeriu pegando Katie em seu colo sem dar a chance dela se afastar.

Penny a sentou na cama e a segurou pelas pernas para que ela não corresse atrás de Leonard. As duas então se encararam com olhares sérios. Katie podia ter apenas dois anos e meio, mas algumas vezes ela podia ser bastante séria, quase como uma mini adulta.

—Vamos vestir aquele pijama azul de bolinhas que você tanto gosta? - Penny sugeriu abrindo um pequeno sorriso, mas Katie continuou com a cara fechada.

—Eu não goto dele. - ela disse cruzando os braços. Penny piscou confusa, o pijama azul de bolinhas amarelas era o favorito de Katie, ela mesma havia escolhido com carinho durante um passeio no shopping.

—Por que não? É o seu favorito. - Penny falou lembrando do pequeno escândalo que Katie havia feito para não usar outro pijama já que o seu estava sujo.

—Papai deu oto. - Katie apontou para um pijama jogado em cima da poltrona que ainda ficava no quarto, era verde com nuvens cor de rosa. - Eu amo aquele.

Penny suspirou e esticou a mão para pegar o pijama. Mais uma coisa que havia mudado e ela não tinha percebido.

—Você gostou do casaco que a mamãe te deu? - ela indagou enquanto desabotoava os grandes botões do casaco, Katie balançou a cabeça freneticamente abrindo um enorme sorriso.

—Leão faz “graurrr”! - Katie disse erguendo as mãos curvada como se seus dedos fossem garras. Penny riu imitando o gesto e o rugido da filha.

Katie riu e como se tivesse abrido uma comporta de reservatório, ela despejou tudo o que havia acontecido no seu dia na escolinha e em casa. Penny ouvia atentamente acenado com a cabeça quando necessário e dando pequenas risadas. Para uma garotinha tão pequena com pouco vocabulário, Katie podia ser bem tagarela.

Aquela era uma das partes favoritas do dia dela, ajudar Katie a se trocar e ficar ouvindo ela falar. Mas pensando bem, fazia um bom tempo desde que Penny havia feito aquilo, como todo o lance da promoção em seu trabalho ela mal havia tido tempo para ficar perto de Katie ou de Leonard. Ela mordeu o lábio e piscou rapidamente, se sentia culpada por abandonar sua família e aquele não era um sentimento novo. Fazia alguns dias que ela havia percebido que estava negligenciando eles dois, por isso havia comprado aquele casaco para Katie e estava planejando ter uma noite romântica com Leonard, ela queria compensar a sua falta.

—Mamãe, po que você tá cholando? - Katie indagou colocando a mãozinha no rosto de Penny. A mulher rapidamente balançando a cabeça, mas usou a mão esquerda para apertar a mão de sua filha contra seu rosto.

—Mamãe não está chorando, abelhinha. Eu apenas estava pensando. - ela disse colocando um sorriso no rosto.

—Algo tiste?

Penny abriu a boca para responder, mas antes que pudesse fazer isso notou Leonard parado na porta.

—Papai! - Katie pulou da cama e correu até Leonard que a pegou no colo.

—O que a dra. Swan disse? - Penny indagou enquanto pegava o casaco e o levava até o armário para colocá-lo no cabide, e também isso evitava que Leonard visse seus olhos avermelhados.

—Ela falou que é melhor deixar Katie acordada por mais duas ou três horas, se não houver vômito ou tontura ela pode ir dormir, se não, é melhor levá-la ao hospital.

—Ok. Então acho que podemos ter uma noite de cinema. - ela disse se ocupando em reorganizar os casacos. - Por que vocês dois não vão escolhendo o filme enquanto eu tomo um banho, em?

—Então Katie, o que você sugere? - Leonard indagou. Pelo canto do olho Penny observou eles saírem do quarto, ela respirou fundo, mas de repente sentiu uma enorme náusea que a fez correr para o banheiro. Ela vomitou no vaso sanitário apoiando as mãos na lateral, sua boca era ácida e os fios de cabelo que grudaram em seu rosto estavam cheirando a podridão.

Penny respirou fundo e se sentou no chão jogando a cabeça para frente.

—Penny? Você está bem? - Leonard indagou, o apartamento era pequeno e a agitação dela não passou despercebida.

—Sim. Apenas estava muito apertada. - mentiu enquanto se levantava com esforço e apertava a descarga. - Saio em um minuto.

—Ok. - Leonard murmurou não parecendo realmente crer na afirmação dela. Penny se esforçou para entrar no chuveiro e tomar seu banho. Então correu para o seu quarto, onde Katie já estava na cama buscando algum filme em seu tablet, Penny pegou seu velho pijama, uma blusa antiga de Leonard e uma calça de ginástica desgastada, vestiu rapidamente antes voltar a sala.

—Você viu minha bolsa? - ela indagou a Leonard enquanto olhava pelo sofá.

—Na sua mesa.

Penny suspirou e pegou a bolsa de couro abrindo-a, seus olhos se fixaram na sacola branca, apertou a bolsa contra seu corpo e voltou a correr para o banheiro.

—Penny?

—Podem começar sem mim. - ela gritou girando a chave e se trancando. Penny abriu a bolsa e pegou a sacola, de dentro tirou o teste de gravidez que havia comprado na farmácia da esquina.

Uma outra gravidez não estava em seus planos. Ela estava preste a ganhar uma promoção e o apartamento deles era minúsculo, não tinha a menor chance dela ter outro bebê saindo de si por um longo tempo. Mas o enjoos e as tonturas repentinas acionaram um alerta vermelho em seu mente, por isso o teste de gravidez agora estava na bancada do banheiro enquanto ela esperava aqueles tortuosos minutos passarem.

Ela sabia que Leonard estava feliz com Katie, mas ele já tinha demonstrado que gostaria de ter outro filho, eles ainda não haviam tido uma conversa séria sobre isso e Penny estava tentando adiar o máximo possível, ela tinha seus motivos e maior parte deles eram relacionados a sua atual situação emocional. Quando ela havia descoberto a gravidez, Penny de repente se sentiu a mulher mais sortuda do mundo, ela nunca acreditou naquele papo que a maternidade iria lhe mudar, porém quando pegou Katie em seus braços, ela foi tomada por uma mistura de sentimentos, mas o principal deles era o medo. Medo de fazer tudo errado e de sua filha lhe odiar pelo resto da vida. Medo de fazer tudo errado com Leonard e ele lhe deixar.

Deus! Ela podia ser tão insegura de vez em quando.

Mordendo o lábio ela pegou o teste, o analisou por um segundo antes de colocá-lo na caixa, enrolar no papel higiênico e jogá-la na lixeira. Voltou para seu quarto e encontrou Leonard e Katie sentados na cama com o olhar fixo no filme que passava no tablet.

—Qual vocês escolheram? - ela indagou se sentando ao lado do marido e puxando Katie para seu colo.

—Aladdin! - Katie gritou enquanto o gênio dançava na tela. Penny riu passando a mão pelo cabelo de Katie e começando a fazer pequenas tranças.

×××

Depois de três horas alternando entre desenhar e assistir desenhos animados, Katie finalmente dormirá. Sem vômito ou tontura para a felicidade Penny. Mas mesmo assim eles decidiram deixá-la dormir no quarto deles pelo menos por aquela noite.

Penny fechou o tablet e o deixou na cabeceira da cama, passou a mão entre os fios do cabelo e esperou Leonard voltar do banheiro. Ela então segurou sua própria mão direita observando o anel em seu dedo.

—Algum problema, amor? - Penny ergueu os olhos encarando Leonard que havia acabado de se sentar à sua frente. - Você parece estar um pouco distante.

—Você acha que eu estou sendo uma péssima mãe? Acha que eu estou priorizando meu trabalho ao invés de ficar mais tempo com você e Katie? - ela indagou tentando conter as lágrimas. Quando estava perto de Leonard, ela se sentia segura o bastante para deixar seus muros caírem.

—Não! Você é a melhor mãe do mundo.

—Então por que eu não sei qual é o cereal favorito dela? Ou qual é a sua nova música favorita? Ou por que eu simplesmente não consegui acalmar ela?

—Você não precisa saber de tudo. - Leonard disse segurando o rosto dela com as mãos. - Katie é uma criança que está constante mudança, daqui a pouco ela começa a gosta de outras coisas. E você só não conseguiu acalmá-la porque estava nervosa demais para isso. Katie sabe quando você está inquieta, ela não gosta disso e procura alguém mais calmo. Mas isso não quer dizer que você é uma mãe ruim. - ele assegurou pegando as mãos dela e beijando o dorso. - E por favor não comece a chorar, porque eu vou chorar também.

Penny riu erguendo a mão para limpar as lágrimas que escorriam pelo rosto dele. Ela se aproximou encostando a testa contra a dele.

—Sinto muito, meus hormônios estão me enlouquecendo. - ela sussurrou antes de beijá-lo.

—Me conte uma novidade então. - Leonard murmurou fazendo-a rir. Penny tocou o rosto dele, roçando as ponta dos dedos em sua barba por fazer, os olhos de Leonard sempre lhe traziam paz, eram como porto seguro para casa. Ela sempre se sentia bem com ele ao seu lado.

—Eu estou grávida. - ela disse com a voz calma, Leonard se afastou dela com os olhos arregalados. - Vamos ter outro bebê.

—Você tem certeza?

—Eu estou atrasada, enjoada e me sinto do mesmo jeito que me senti quando estava grávida de Katie.

—Não que eu esteja reclamando, porque estejam estou esteja um êxtase agora, mas  pensei que não quisesse ter outro filho.

—Eu não queria, mas assim como Katie, eu já o amo. - ela afirmou colocando a mão sobre a barriga. Leonard sorriu puxando-a para um beijo, então colocou a mão sobre a dela.

—Eu te amo tanto.

—Eu sei. - ela sorriu sentindo ele sorrir também.

—Mama. - Katie a chamou, Penny se gastou de Leonard e olhou para a filha que havia rolado em sua direção e coçava os olhos ainda sonolenta.

—Abelhinha, você tem que dormir. - Penny estendeu os braços pegando-a em seu colo. Katie deitou a cabeça contra o ombro dela e pareceu relaxar novamente voltando a dormir. Penny sorriu fechando os olhos e beijando o cabelo castanho claro dela Katie. Ela sentiu Leonard beijar seu rosto e assim ela soube que tudo ficaria bem.


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