Corações e almas escrita por Barb B


Capítulo 4
Nunca se esqueça de mim




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Já era noite completa e o Impala preto cortava a estrada. Sam, Dean e Castiel viajaram o sábado todo com apenas algumas paradas para comer, abastecer e esticar as pernas.

— Porque mesmo eu estou indo numa viagem de carro longa até Montana, se posso estar lá em segundos? – Castiel perguntou sentado no banco de trás do Impala

— Exatamente por isso, Castiel. – Dean respondeu com as mãos no volante. Sam o olhou segurando o riso. – É como um castigo, entende?!

— Não!

— Por você ter feito aquela “ceninha” lá no motel, “Mas nós estamos na Georgia! Vamos atravessar o país por causa de alguns sinais que nem sabemos o que é? ” – Dean falava com um tom debochado, imitando o anjo. – Portanto, você vai com a gente nesta viagem longa, de carro!

— Entendi, mas não vejo como isso ajuda. – Castiel respondeu, voltando a olhar para a estrada, sem se importar muito com o deboche do Dean.

— Não ajuda, mas também não atrapalha. Você vai conosco de carro, e pronto!

— Vocês sabem que não podem me prender aqui, certo?! Posso ir quando quiser.

— Poder, você até pode, mas se você “evaporar” agora... quando nos encontrarmos, eu vou socar sua cara. Entendeu? – Dean fitou Castiel pelo retrovisor.

— Dean, acho que podemos parar em algum lugar para dormir. Você já dirigiu o dia inteiro. – Sam disse mudando de assunto.

— Certo! Vamos parar na próxima cidade... e achar um bar também!

Sam olhou para o irmão, balançando a cabeça em sinal de reprovação, mas Dean nem notou. Ou fingiu que não.  Ele apenas continuou olhando para a estrada, afinal pouco importava se Sam aprovava ou não, ele só precisava beber. Ele precisava beber para dormir. Rodaram ainda uma hora e meia até chegarem na próxima cidade. Estacionaram o Impala no primeiro motel disponível e alguns minutos depois estavam entrando num dos quartos, mas Castiel já não estava mais com eles.

— Cadê o Cas? – Dean perguntou enquanto Sam fechava a porta.

— Achei que tinha ficado com você no carro. – Sam respondeu com semblante despreocupado.

— E eu, achei que ele tinha ido com você fazer as reservas. – Dean bufou e abriu a porta novamente. – Desgraçado! Ele sumiu!

— Ele vai voltar Dean. Deixa ele. O cara precisa de um pouco de espaço, afinal você o obrigou a viajar o dia todo dentro de um carro e, ele é um anjo, acostumado a sei lá.... Voar por ai!

— E se ele nos deixou aqui e foi para essa tal de Havre? – Dean olhava pela janela ainda inconformado com a escapada do amigo.

— Mesmo que ele tenha ido, ele vai voltar. No final ele sempre acaba fazendo as coisas do seu jeito. Acho que você devia relaxar um pouco está pegando pesado com ele. – Sam continuava a tirar algumas coisas da mala.

— Pode ser, mas ele está estranho. Eu conheço o Cas, está escondendo alguma coisa. Eu sinto!

— O que acha de procurarmos algum lugar para comer? – Sam pegou o casaco e jogou a chave do carro para o irmão.

— Tá certo! – Dean respondeu, mas ainda estava irritado.

Entraram no carro e rodaram alguns quarteirões até encontrar um lugar. O local estava cheio, afinal era sábado à noite. Um rock tocava ao fundo. Alguns grupos espalhados pelo salão e outros tantos pelas mesas, as garçonetes se espremiam para passar as pressas, na tentativa de atender todos os clientes da casa.

— Vão querer o quê? – Perguntou a moça segurando o bloco de pedidos e a caneta.

— Eu quero um hambúrguer, batata frita...uma porção bem grande e uma cerveja. – Dean pediu com olhar faminto.

— Eu quero essa salada especial e uma cerveja. – Sam disse devolvendo o cardápio para a garçonete.

— Ok, vou trazer os pedidos.

Sam voltou sua atenção para os papeis que Bobby havia mandado. Estudava cada detalhe na tentativa de encontrar algum sinal do que estava acontecendo nos arredores da tal Havre.

A garçonete voltou com as cervejas e avisou que os pratos demorariam ainda uns quinze minutos. – Casa cheia! – Ela disse.

— Vou até o banheiro. – Sam se levantou e caminhou para os fundos do bar.

Dean deu um gole na cerveja e continuou observando as pessoas que circulavam. No balcão do bar ele avistou uma mulher sentada, cabelo longo loiro, um vestido curto bem justo que deixava à mostra suas pernas e valorizavam demais seu corpo. Assim que ela se virou e o encarou ele fez aquele olhar sexy mordendo o lábio inferior e sorrindo, como o bom sedutor cafajeste que era. Deu um outro gole na cerveja e olhou na direção das mesas, e de repente como um flashback ele se viu sentando em uma das delas, Jenny estava na sua frente e eles conversavam animadamente.

Você sempre escolhe as piores. – Jenny sentenciou, virando um copo de tequila, enquanto ele devorava com os olhos uma morena encostada no balcão.

— As piores são sempre as melhores Jen. – Foi a vez de ele virar o copo de tequila.

Ela desdenhou das suas palavras.

— Você consegue deveria escolher melhor. Para mim, parecem vadias.

— E o que você espera que eu consiga com a vida que temos? Uma bela esposa, filhos, uma cerca branca e um belo jardim?

— Você esqueceu do cachorro. – Outro copo de tequila. – Nenhuma família é feliz sem um cachorro.

Ele encheu os copos novamente.

— Ah claro, um cachorro! – Ele riu debochado. – Ninguém pode ser feliz sem um maldito cachorro! – Virou outro copo. – E elas não são vadias. São moças que gostam e sabem se divertir, e o papai aqui é a diversão em pessoa.

Beberam mais um copo.

— Bom, então, já que essa é sua definição de diversão... vamos testar! – Jenny virou mais um copo de tequila e se levantando da mesa cambaleante.

— Onde você vai? – Dean ficou sério e segurou o braço dela, evitando que se afastasse.

— Eu vou....me divertir! – Com um movimento brusco ela se soltou e caminhou até um grupo de rapazes que bebiam a poucos metros deles. Dean ficou lá sentando observando, sem entender ao certo qual era o objetivo daquilo.

— Olá rapazes! – Jenny falou com aquele sotaque que a embriagues provoca. – Estão se divertindo? Dean continuava a observar da mesa.

— Você está sozinha? – Um deles perguntou.

— Agora não mais! – Ela riu mordendo os lábios.

Rapidamente um dos rapazes passou a mão pelos cabelos dela enquanto o outro colocou a mão na sua cintura.

Dean sentiu um calor subir pelo peito e levantou-se. – Mas que merda é essa? – Tirou uns trocados do bolso, atirou sobre a mesa e caminhou em direção ao grupo onde Jenny estava.

— Já chega! – Ele disse pegando Jenny pelo braço. – Você bebeu demais!

— Ei! – Ela tentou se soltar, mas ele apertou mais.

— O que você pensa que está fazendo, Jenny – A essa altura, Dean já estava nervoso.

Ela chegou o rosto bem perto do dele.

— Me divertindo. Não foi isso, que você disse?

Enquanto os dois falavam, com Dean ainda segurando o braço dela, um dos rapazes se intrometeu.

— Ei cara, larga a gata! .

— Gata?! Ela não é nenhuma gata, falou! E isso não é da sua conta então sai fora! Vamos Jenny. – Ele se virou ainda segurando o braço dela.

— Me solta! Eu não quero ir! - Jenny tentava soltar o braço a todo o custo, mas era em vão.

— Escuta aqui, camarada. – O mesmo cara, interveio novamente – Se a gostosa quer ficar, ela fica e pronto. – Ele terminou a frase e deu um empurrão no ombro do Dean.

Dean já estava furioso com toda aquela situação e, aquele gesto foi a gota d´água. Num movimento rápido, ele soltou o braço da Jenny, se virou e nocauteou o cara com um soco. Os outros rapazes partiram para cima do dele, e foi o suficiente para que a confusão se estabelecesse. Voavam cadeiras, garrafas, copos. As pessoas corriam para se proteger. Um caos total. Os seguranças surgiram e começaram a separar.

— Vamos, Dean – Jenny o puxava pelo braço em direção a porta, mas ele era mais forte. Tentar segurá-lo era quase impossível, então ela gritava na tentativa de controla-lo. – Dean para... Dean... Dean...

— Dean! Você está bem? – A voz do Sam soou como um estalo. Dean o encarou como se tivesse sido arrancado de um sonho.

— Você está bem, cara? Estou falando com você a cinco minutos!

— Eu.... eu... hã... – Dean não conseguiu responder.

— Parecia que estava em outro mundo! – Sam continuava a encará-lo.

Dean se deu conta que fora apenas uma lembrança. Balançou a cabeça, sorrindo e deu um gole na cerveja.

— Não foi nada cara, dei uma viajada! – A garçonete chegou com os pratos. – Que bom! Estou morto de fome.

Eles comeram em silêncio, enquanto Dean ainda saboreava os momentos relembrados há pouco, e ria consigo mesmo. Aquela cena há anos atrás não fez sentido na época, mas agora. De súbito, a continuação daquela noite também lhe veio à mente. Momentos que ficaram guardados por tanto tempo, mas nunca esquecidos!

Agora ele entendia. Fechou os olhos como quem se dá conta de como tudo era tão claro e ele não percebeu. – Como pôde ser tão estupido! – Pensou. Mas não queria pensar. Não queria lembrar. Porque as lembranças, e as verdades que elas traziam, vistas agora, tornavam ainda mais difícil aceitar o que aconteceu no Arizona. Ele nunca soube quão difícil seria não a ter mais ali, suas broncas, suas risadas, seu mau humor de manhã. Ela fazia muita falta, e não era por causa do costume, afinal ela esteve com eles nos últimos 14 anos, era outra coisa. Ele só não sabia exatamente ou, era melhor não pensar, isso só deixaria as coisas piores.

Terminaram de comer e Dean quis voltar para o motel, o que Sam estranhou um pouco, principalmente depois que ele desistiu da loira no bar.

— Você tem certeza que está bem? – Sam insistiu no caminho de volta.

— Estou! Acho que só preciso dormir um pouco! – Dean estava distante.

Sam sabia que havia algo errado. O irmão não estava bem, a culpa o corria, e ele simplesmente não sabia o que fazer! Por enquanto, ficar ao lado dele, evitando que ele desmoronasse, era tudo que ele tinha a oferecer. Estava dedicando todos os esforços para encontrarem o Crowley, e destruí-lo de uma vez por todas. Ele guardava, porém, um fio de esperança, que houvesse também uma maneira de trazer Jenny de volta, mas esse fio ficava mais fraco conforme o tempo passava. Mesmo que conseguissem resgatá-la, quem podia garantir em que estado estaria sua alma, depois de tanto tempo no inferno. Mas esses eram pensamentos que ele guardava para si. Dean não aceitava a hipótese de não a resgatar, se houvesse uma chance. Caso isso não acontecesse, eles iriam acabar com o Crowley de qualquer maneira. Quem sabe assim, quando tudo estivesse terminado, Dean conseguisse colar os seus pedaços.

Entraram no quarto e não havia sinal do Castiel.

— Mas que droga! Onde foi que esse maldito anjo se meteu? – Dean esbravejou!

— Calma. Ele vai voltar. – Sam falou de modo complacente.

— E quando ele voltar... eu vou acabar com ele. – Disse, deitando na cama.

  Mas a raiva de Dean, por ele ter sumido, era a menor das preocupações de Castiel. Naquele momento, bem distante daquele motel, o anjo estava parado, na varanda de uma casa.

Ele não pôde evitar. Não conseguira se livrar da ideia do Dean de leva-lo, junto de carro, mas durante toda a viagem a preocupação só aumentava – Ela pode estar em perigo. – Pensou, várias vezes, em sair sem levar sua forma física, mas Dean podia perceber, então ficou – Na primeira oportunidade – pensava.

Mesmo que ela não estivesse em perigo, ele precisava avisá-la que eles estavam a caminho.

Porém, o que ele presenciou, parado ali naquela varanda, o deixou ainda mais preocupado. Ainda podia sentir a alma machucada dela, mas o coração, agora, estava leve, alegre. Não havia mais medo, sofrimento e nem dor. Estava em paz. Ela estava feliz!

Não tinha a intenção de ficar espiando Jenny e Scott, mas precisava falar com ela. A última vez que se viram foi há 3 anos, quando ela lhe pediu que não voltasse mais, e foi o que ele fez. Mas diante do eminente encontro com Sam e Dean e, de um provável perigo que cercava Havre, ele precisa alertá-la. Percebeu, porém, que aquele não era o melhor momento, decidiu esperar, não sairia dali enquanto não falasse com ela. Já tinha sido difícil se livrar do Dean uma vez, poderia não ter uma segunda chance depois que voltasse. Virou-se para a parte de fora da varanda e olhou para o céu, repleto de estrelas, adorava o seu lar! Esperaria ali até que ela acordasse, os garotos já sabiam que ele tinha partido, voltar agora seria perda de tempo.

Colocou as mãos dentro dos bolsos do sobretudo e ficou contemplando as estrelas!

Sam já estava dormindo há um bom tempo, enquanto Dean continuava acordado. Não conseguia dormir. Deitado na cama, olhando para o teto, continuava mergulhado em suas lembranças. Aquele flashback no bar foi tão real. Os sentimentos daquela noite, as conversas. Era como se acabasse de acontecer. Dean fechou os olhos e suspirou.

A imagem de Jenny tão viva. Ele quase podia ouvir a voz dela. Seu sorriso largo e verdadeiro, aqueles olhos castanhos e profundos. Aos poucos, a imagem da Jenny como ele se lembrava, foi dando lugar a uma outra. Não a Jenny crescida, mulher, mas uma menina, que ele conhecera há dezoito anos atrás. Uma menina franzina, de treze anos, com olhos marcantes e cabelos compridos.

Eles eram meninos ainda. Na época, Dean estava com dezessete anos e Sam treze.  Era um caso sobre um fantasma, que assombrava um orfanato. O lugar era dirigido por freiras, em Nevada. John se passara por um padre, e os meninos eram seus ajudantes. Eles disseram às freiras que estavam de passagem, mas uns dos meninos estava doente e assim, conseguiram se hospedar ali por uns dias.

Entre as crianças daquele lugar, havia uma que era diferente. Jenny era esperta, não levou nem um dia para descobrir que John não era padre. Ela ficava o tempo todo atrás deles. Fato que irritava demais o Dean.

Jenny foi a primeira garota a irrita-lo, em toda a sua vida!

Com o Sam foi diferente. Os dois se deram bem desde o primeiro minuto.

— Dois nerds! – Dean pensava quando olhava para eles.

Jenny era inteligente e muito astuta, isso Dean não conseguia negar. Durante a vida, ele nunca conseguiu negar a capacidade que aquela garota tinha.

John sempre brincava que Jenny era a mistura perfeita. A inteligência do Sam, com a personalidade do Dean.

Bom, a verdade é que havia realmente um fantasma assombrando o orfanato. Os Winchesters claro, acabaram com ele. Jenny teve sua parcela de contribuição na história toda. Por isso, e talvez, por ela ser órfã, é que Jenny insistiu para ir com eles, quando tudo acabou. John explicou, pacientemente, que isso não seria possível, por diversas razões.

— É porque eu sou menina, não é?! – Ela questionou raivosa, enquanto John explicava.

— Não! – John respondeu. – É porque você é uma criança.

— Mas eu e o Sam temos a mesma idade. – Ela tentava argumentar desesperadamente. Sam e Dean assistiam a discussão calados. Apesar do pouco tempo, tinham apreendido a gostar daquela coisinha irritante e intrometida.

— Mas o Sam é diferente, Jenny. – A voz de John era paternal. Dean se lembra de pensar, naquele momento, que poucas vezes, viu seu pai ser tão cauteloso com as palavras

— Tudo bem! – Ela disse, no final, com tom conformado. As lagrimas rolaram pelo rosto pálido dela, antes que saísse correndo para fora do quarto.

Eles não viram mais a Jenny naquele dia, nem na hora do jantar. Sam quis muito se despedir, mas procurar foi em vão. Quando partiram na manhã seguinte, a última imagem que levavam, era ela saindo do quarto chorando.

Claro que, não demorou muito para descobrirem o motivo do sumiço.

Naquele dia, eles aprenderam a primeira lição sobre aquela magrela, de olhos castanhos. Como ela podia ser extremamente teimosa!

Depois de terem andado quase metade do dia e, já terem cruzado praticamente o estado, eles escutaram um barulho no porta malas.

— Pai... – Sam disse sentado no banco de trás. – Tem alguma coisa estranha no porta malas.

John imediatamente jogou o carro no acostamento e desceram os três. Armas em punho, prontos para abater o que quer que estivesse escondido lá. Ainda hoje, não era possível para Dean, descrever a cara deles, quando ao abrirem a tampa traseira do Impala, viram Jenny, encolhida lá dentro. Ela estava assustada, mas o olhar era firme e não vacilava.

John começou a esbravejar.

— Jenny! O que você está fazendo aqui, garota?

— Eu pedi que me levassem com vocês, mas você não aceitou me trazer, então, eu decidi arrumar outro jeito de vir. – A sua voz era segura.

— Mas Jenny – John adotou novamente aquele ar paternalista que ele só usava com ela. – Eu expliquei os motivos. Você não pode ir conosco! Isso é loucura. Agora, teremos que voltar o estado inteiro para te levar de volta. A essa altura, as freiras já devem ter dado pela sua falta.

— Exatamente por esse motivo, você não pode me levar de volta! – Dean tinha que admitir, ela tinha muita coragem para uma garota. Jenny falava com John de igual para igual, e foi assim por todos os anos seguintes.

— Se me levarem de volta...eu direi que vocês me raptaram! – Ela hesitou um instante e depois foi firme. – Direi que que vocês fizeram coisas horríveis comigo.

Sam estava surpreso. Ele mesmo, era rebelde com seu pai, mas até então nunca o afrontara assim.  Dean estava prestes a estapear aquele pedacinho de gente e jogá-la de volta no porta malas. Quem ela pensava que era, para falar assim com eles. Mas, assim que ela terminou de falar, John soltou uma gargalhada e, com um movimento, a pegou pelos braços e colocou ela sentada na tampa do porta malas.

— Muito bem! Então você acha que pode ser uma caçadora? – O tom dele era sério.

— Sim! - Jenny respondeu sem vacilar.

— E acha que dá conta de viver na estrada?

— Sim! – Respondeu novamente, balançando a cabeça.

— Caçando monstros, que antes só existiam nas suas histórias de dormir?! Você terá que aprender a lutar, atirar e sobreviver! Não acha duro demais, para uma garotinha?

Ela levou dois segundos para responder, mas quando o fez sua voz foi ainda mais firme do que antes.

— Eu luto desde que nasci para sobreviver então, só terei que aprender a atirar. Quanto a família e amigos não se pode sentir falta de algo que nunca teve. Nunca leram histórias para eu dormir então, os únicos monstros que conheci foram os da vida real e as princesas e príncipes nunca me foram apresentados, assim como os finais felizes.

John, no fundo, estava admirado com a maturidade e coragem da menina. Os garotos ouviam calados.

— Portanto, - Ela continuou. – Acho que não será “duro” demais, para uma garotinha. E, eu prometo uma coisa. Não serei um peso, ou uma responsabilidade. Caso, isso um dia aconteça, eu mesma pego minhas coisas e vou embora, do mesmo jeito que vim.

— Escondida no porta malas?! – Dean não conteve o sarcasmo. Apesar de admirado, ele também estava muito irritado com todo aquele tempo perdido, embaixo do sol. Porque ficar li argumentando? Era só jogar ela no porta malas, e leva-la de volta.

Ela olhou para ele com desdém e, voltou rapidamente a olhar para o John.

— Por favor! Só me deem uma chance!

— Está bem! – John a colocou no chão.

— Como é que é?! – Dean sacudia os braços sobre a cabeça, não era de confrontar o pai, mas aquilo soou ridículo.

— O senhor não pode estar falando sério?!

— Mas estou! – Ele virou as costas e caminhou de volta para o carro.

— Se ela quer ficar conosco, ok! Não vou ficar tentando convencê-la do contrário. Vamos, entrem no carro!

Jenny correu para o banco de trás do Impala, enquanto Sam entrou do outro lado.

Dean pôs a mão no ombro do pai, antes de entrarem no carro.

— Pai?! – Ele disse baixo. – Isso é loucura! - Aquilo era absurdo para ele. A simples ideia, de ter uma garota com eles era ridícula.

— Não se preocupe, Dean. – John respondeu. – Não dou uma semana, para essa menina pedir para ir embora. Confie em mim!

Mas isso não aconteceu.

Pela primeira, e única vez, os irmãos Winchester, viram seu pai errar em algo. A menina magrela, como Dean adorava chama-la, não desistiu. Nem na primeira semana, nem no primeiro mês, nem nunca.

Quanto mais puxado era o treinamento, que John impunha a Jenny, mais forte ela se tornava. Quando ela conseguia terminar uma tarefa, ou ficar boa em alguma lição, ela olhava para eles triunfante.

Com o tempo, ninguém mais falava sobre ela ir embora. No começo, foi difícil se adaptar com uma garota por perto afinal, por tantos anos, tinham sido somente eles, os garotos. Mas depois, tudo foi se encaixando. Todos foram se adequando, e a presença de uma garota, que mais tarde se tornou uma mulher, se mostrou útil em muitos casos.

Ela, finalmente, se tornou um deles. Fazia parte da família.

Jenny, tinha muitas qualidades como caçadora. Era eximia atiradora, lutava tão bem quanto Dean, era inteligente como o Sam e adorava aprender tudo que John tinha para ensinar.

Dean soltou um sorriso lembrando-se desses acontecimentos, dos tempos fáceis, em que só caçavam fantasmas e coisas do tipo. Esse pensamento o levou de volta aquela noite, da briga no bar.

Jenny tentava arrasta-lo para fora da confusão, enquanto ele chutava e esmurrava, tudo e todos.

— Vamos Dean...Dean para com isso.

Já era possível ouvir o som das sirenes se aproximando.

— Dean, temos que ir embora. Agora!

E assim, depois de muito esforço, ela conseguiu tira-lo de lá e os dois saíram, caminhando pela rua de volta ao motel.

— Posso saber que ideia foi essa? - Dean estava muito irritado, e Jenny sabia disso porque, quando ficava assim, a voz dele era mais rouca que de costume.

— Eu só estava me “divertindo”...não era para acabar em pancadaria. – Jenny soltou uma gargalhada.

— Se divertindo? E desde quando, se oferecer para um bando de desconhecidos, num bar, é diversão?

— Mas, não é exatamente isso que as garotas, pelas quais você se interessa, fazem! – Ela estava sendo irônica e isso, o irritava ainda mais.

— Mas você, não é como essas garotas! – Ele a segurou pelo braço e pararam de caminhar.

— E que tipo de garota eu sou? – A ironia deu lugar a raiva. – Diga, Dean! Que tipo de garota eu sou?

Por um instante ele ficou confuso.

— Do tipo que fica bêbada...e....eu tenho que salvar. – Ele respondeu, soltando o braço dela.

Jenny notou a hesitação nas palavras dele e, se deu conta que tinha perdido o controle.

— Precisa mais do que algumas doses de tequila, para me derrubar. E depois, eu enfrento fantasmas, demônios, vampiros e lobisomens, acho que consigo cuidar de um bando de mauricinhos universitários! – Ela riu, divertindo-se com a situação e recobrando o controle.

Em pouco tempo, chegaram ao motel onde estavam hospedados. Os meninos ficavam sempre em um quarto e Jenny em outro, mas só para dormir. Na maioria do tempo, ficavam juntos, hora no quarto de um, ou do outro.

Desta vez, Sam não estava com eles. Ele aproveitou que estavam naquela cidade e foi visitar um antigo amigo da faculdade. Portanto, era noite de folga para Jenny e Dean.

Os dois entraram no quarto, onde os garotos estavam hospedados.

— É, - Dean levou a mão até a boca, onde havia uma pequena mancha de sangue. – Mas um desses “universitários”, me acertou em cheio.

Jenny deu uma olhada de perto.

— Deixa de ser chorão, que isso não é nada. Senta aí!

— Eu não sou chorão! – Dean respondeu, sentando-se na beirada de uma das camas.

Jenny foi até o banheiro e voltou com uma toalha úmida.

— Deixa eu ver! – Se aproximou, ajoelhando-se entre as pernas dele.

Ela limpou o sangue e, em seguida, passou o dedo suavemente, nos lábios dele.

— Viu, não foi nada! Só um cortezinho!

De repente, seus olhares se cruzaram. A distância entre eles era tão pequena, que Jenny sentia o calor da boca dele e, por um descuido, seu corpo estremeceu.

Foi nesta fração de segundo, que Dean percebeu algo que nunca tinha visto antes. Foi rápido, como o clarão de um raio na noite escura. Você vê a luz, mas quando tenta ver o raio, ele já não está mais lá.

— Melhor eu buscar um gelo, para colocar aí. – Jenny fez um movimento para levantar, mas ele segurou seu braço.

— Espera!

Traída pelos próprios sentimentos, Jenny fechou os olhos por um instante. Quando abriu novamente, aqueles olhos verdes e brilhantes a encaravam, e aquela fração, virou segundos inteiros. Intensos e silenciosos.

Jenny, o amava! Amava há muito tempo. Provavelmente, o amou desde a primeira vez que o viu no orfanato. Um sentimento que ela aprendeu a disfarçar e sufocar, mas ali, tão perto e vulnerável, foi impossível controlar.

Apesar de confuso, ele podia sentir. O aperto no peito, um frio no estomago.

E, eles se beijaram.

Foi um impulso, conduzido puramente pelo desejo e, por isso, incontrolável!

Jenny, por muitas vezes, imaginou-se naqueles braços, sentindo aqueles lábios. Sonhou! Desejou!

Talvez fosse por conta da tequila ou, quem sabe, a adrenalina liberada pela briga, mas pela primeira vez, ele sentiu algo que nunca tinha sentido antes, pelo menos não com ela. Seu corpo deu sinais que ele conhecia bem.

Dean interrompeu o beijo e a encarou, confuso, como se esperasse um consentimento para continuar, e ela, que até aquele momento nunca se permitiu perder-se naqueles olhos verdes, apenas sorriu. E para ele, foi o suficiente!

Ele a beijou novamente.

Adormeceram, cansados, depois de fazerem amor. Vez ou outra, um farol iluminava o quarto completamente escuro e, era possível ver a silhueta da Jenny, deitada sobre o peito dele.

Foi também a luz de um farol, através da janela, que clareou o quarto escuro, e arrancou repentinamente, Dean de suas recordações. Ele piscou, tentando se concentrar. Olhou em volta e Sam ainda dormia profundamente. Ele estava ofegante. Como era possível que, depois de tanto tempo, ainda se lembrasse com detalhes daquela noite, a ponto disso lhe provocar fisicamente? E, mais ainda, ele podia sentir o perfume dos cabelos dela, da maciez, entre seus dedos. A sensação das suas mãos percorrendo o corpo dela, a pele arrepiada. O gosto da sua boca. Isso o enlouquecia.

Se levantou. Foi até o banheiro e na volta olhou o relógio, 4:40 da manhã. Deitou-se novamente, mas continuava sem sono. As lembranças da Jenny o atormentavam, e nos últimos tempos elas passaram a ser mais frequentes. Talvez pela saudade ou, pela culpa. Não sabia exatamente.

Olhando pela primeira vez, para os acontecimentos daquela noite, a única noite que passaram juntos, ele percebia como tinha sido um idiota depois. As coisas que fez e disse, embrulharam seu estomago. Ele sabia agora, que ela o amava, mas ele já sabia disto bem antes, antes até daquela noite. Sabia, lá no fundo, que sentia algo também. Algo diferente do que sentiu por qualquer outra pessoa, mas tinha sido burro e covarde demais, para admitir. Fez algumas escolhas que a magoaram e, por um instante, seu coração gelou.

Seria por isso? Ela se sentiu rejeitada e não correspondida e por isso fez o que fez no Arizona? Não...não... ele sabia que não!

O que ela fez no Arizona, também foi por amor e isso lhe doía ainda mais! Mas agora era tarde! Só lhe restava a culpa e o arrependimento, e mesmo que ele conseguisse trazê-la de volta não poderia jamais reparar o mal causado. Enquanto pensava, as lágrimas escorriam pelo seu rosto.

Dean não imaginava as surpresas que o aguardavam em Havre. Não sabia que a vida, talvez, lhe ofereceria uma segunda chance!

Entre as lembranças e as lágrimas, ele finalmente fechou os olhos e adormeceu.

Os primeiros raios de sol, anunciavam uma ensolarada manhã de domingo e longe dali, Castiel, também assistia ao nascer deste novo dia!


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