Truth to Power escrita por Helena Lourenço


Capítulo 3
Adrenalina


Notas iniciais do capítulo

oi, gente, tudo bom? :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/778005/chapter/3

Adrenalina

 

 

  Eu estava sonhando.

O que significava que eu tinha dormido. E eu não podia dormir. Eu não queria dormir. Mas meu corpo implorava para continuar dormindo, apesar de não ter como eu não fazê-lo. Tudo estava escuro, mas eu tinha certeza de que estava em um quarto grande, com janelas douradas, repleto de espelhos e cortinas. Por quê? Eu não sabia. E nem sabia como eu sabia.

  Senti um incomodo na coluna, e eu a inclinei. Um grito engasgou-se em minha garganta. Meu corpo estava deitado em uma coluna de pedra, mogno eu arriscaria dizer. O incomodo agravou-se e senti minhas unhas arranharem o mogno. Um aroma de vento (eu sequer sabia que vento tinha aroma) chegou a meu nariz, e eu me senti tonta.

  O incomodo passara a ser mais violento. Sentia que minha coluna iria quebrar a qualquer instante. Mas sonhos eram assim? Eu deveria sentir essa dor? Tentei fazer minha mente perceber que era um sonho, que eu precisava acordar, mas era como se eu tivesse entrelaçado o sonho com a realidade. Impossível.

  De súbito, vozes invadiram minha mente. Umas conhecidas, outras não. A voz que se sobressaia era a do imortal, minha última lembrança real, antes do sonho começar. Ele balbuciava palavras aleatórias, que talvez em outras circunstâncias fizessem sentido. Mas não faziam no momento.

Morte. Veneno. Vida. Dor. Sobreviver. Será? Talvez.

“O que sabemos? Você pode não sobreviver!”

Eu me vi olhando para Carlisle, uns sete meses atrás.

O que você sabe? Podemos testar! Não é como se fôssemos perder alguma coisa com isso.”

“Perderíamos você” a voz de Carlisle era penetrante e firme. Eu me lembrava de ter me encolhido diante de seu tom de voz e seu olhar frio, algo que ele jamais tinha feio comigo, nem com ninguém. “Sua vida é importante para nós, Renesmee, não arriscaríamos sua vida por algo insignificante”

Insignificante.

Ela pode morrer! Tem noção do que fez?” Era uma voz estranhamente familiar, e parecia está dentro do quarto, no sonho. Era uma voz fria, séria e assustadoramente letal. Como se com um único sibilar de palavras pudessem arrancar o coração de qualquer um. Como se só o simples som de sua voz o mundo pudesse desabar. Isso não pareceu abalar o imortal, que falou logo em seguida. Sua voz ainda mais letal que a do outro homem.

Ela me implorou que o fizesse. Você viu. Se ela morrer, bem, queimamos o corpo. Se ela sobreviver, por outro lado...”

“Eu te amo Renesmee” Novamente, a cena diante de meus olhos – e ouvidos – mudara, estava há dois anos, quando Jacob tinha contado sobre o imprinting e me pedido em namoro.

Olhei para mim mesma, agarrada ao pescoço de Jacob. Eu estava tão feliz, tão... Viva. Algo que há tempos eu não estava. Mas uma pergunta surgiu em minha mente. Por quê? Porque estava tendo essas lembranças? Eu estava morrendo? Dizia-se que antes de morrer, enxergamos lembranças de nossa vida. Era isso, então? Eu estava morrendo? Não tinha funcionado e, no fim, Carlisle tinha razão? Droga.

  Outra dor. Dessa vez no estômago, mas minha voz não saiu, novamente. Parecia que meu sangue estava revoltado e saído das artérias para dar uma volta. E estava bêbado. E levando tudo consigo, como um tsunami. Parecia uma névoa espessa e escura. Algo tapava a minha visão. 

Não era um sonho!

“SOLTEM-ME!” Usei meu dom, deixando minha mente aberta para quem quer que fosse. Queria sair dali, queria gritar. Aparentemente, minhas “preces” tinham funcionado, mas não do modo que eu queria.

 A névoa se dissipou e o quarto iluminou-se, mas a dor era surreal. Meus ossos pareciam ser esmagados todos de uma vez. Meu sangue tinha se transformado em vidros quebrados dentro de minhas veias finas. Meu cérebro parecia estar sendo perfurado por centenas de agulhas. A agonia era maior e eu queria voltar ao escuro.

— Sei que dói — ouvi uma voz melodiosa e singela, mas ao mesmo tempo letal falar ao meu ouvido. Pelo menos eu acho. Era ele. O imortal. O mesmo que eu tinha implorado que me mordesse... — concentre-se na minha voz, esqueça a dor. Desligue sua mente dela. A dor é uma ilusão da mente, esqueça.

  Fácil falar, difícil fazer. Eu quis dizer, mas uma nova onda de dor me tomou e eu fui obrigada a gritar novamente. O imortal continuava a falar ao meu ouvido, e eu tentava me concentrar nela. Mas era quase impossível. A dor estava se tornando parte de mim, eu não conseguia simplesmente esquecê-la. 

Então tudo parou. Como se algo tivesse sido arrancado do meu corpo. O veneno tinha sido arrancado, eu não o sentia mais circulando em meu corpo. Era isso? Eu tinha me transformado em vampira? Meus olhos se abriram, e encontrei uma luz forte cegando meus olhos. Pisquei algumas vezes, acostumando-me a claridade.

Como eu suspeitava, era um quarto cheio de espelhos e cortinas, com grandes janelas de ouro em alguns lugares. As cortinas eram roxas, outras pretas. Meu vestuário era o mesmo que eu tinha vestido para a caçada, então supus que não tinha se passado muito tempo desde o meu encontro com o imortal.

 Rolei os olhos pelo cômodo, vendo-o parado perto da coluna de mogno que eu estivera deitada, desconfortavelmente, pelas ultimas o quê? Horas? Dias? Quem sabe? Ele estava sério, seus lábios formavam uma linha fina. Seus olhos frios como gelo e vermelhos como o sangue que eu tinha em minhas veias. Suspirei. Ele não se moveu, mas seu olhar saiu de mim para os espelhos a minha volta e depois retornaram.

 Virei-me lentamente, focando um único espelho. Eu ainda parecia à mesma Renesmee que eu me lembrava. Minhas roupas estavam intactas, meu cabelo tinha sido solto, talvez para ser mais confortável ao me deitarem na coluna de mogno. Meus lábios ainda estavam rosados e meus olhos, castanhos. Apenas tinha algo diferente. Eu não sentia meu coração bater, não sentia o sangue que geralmente circulava em meu corpo. Eu tinha mudado. Mas não completamente.

— Funcionou. Incrível. — o imortal pairou atrás de mim. Um sorriso leve brincava em seus lábios rosados. Tinha funcionado? Mas eu ainda me sentia... Eu. Bella dizia que quando sua transformação acabou ela não se sentia ela. Ainda que parecesse ela. Mas algo tinha mudado. — Aparentemente, não como esperava, mas funcionou.

— Ainda sou eu mesma. Sinto-me normal. Meus olhos continuam humanos, eu ainda coro. Mas meu coração não bate. Isso é...

— Assustador. Sim, é assustador. Para mim também. Nunca vi algo assim em meus muitos anos de existência. — ele me virou de frente para ele. — Mas acho que isso se deve ao fato de você já ser imortal, antes mesmo da transformação. É algo único.

  Único. Sim, eu sabia que era única. Mas não assim. Não desse modo. Mas, o que eu podia fazer? Já estava feito. Tudo o que eu queria tinha se realizado, meu coração já não batia, mas porque eu ainda me sentia humana? Eu não sabia. E, aparentemente, o imortal estava disposto a me ajudar. E eu aceitaria sua ajuda.

Quem quer que fosse ele.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Truth to Power" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.