O Nascer da Primavera escrita por Saturn san


Capítulo 5
Capítulo 4 - Confronto de estações


Notas iniciais do capítulo

Eu demorei um pouco mais para postar esse capítulo, sei disso. Mas estava pensando, alguém conhece o filme "Balto"? Estou pensando seriamente em começar um fanfic desse filme.



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 Prim abriu seus olhos devagar, piscando algumas vezes. Mexeu seus braços até notar o enorme edredom vermelho sobre seu corpo. Estava deitada sobre uma cama grande e macia, com um grande travesseiro por debaixo de sua cabeça. Tentou mover seu braço, mas logo recuou quando sentiu uma dor ir de seu pulso até o ombro, junto com ela, o sofrimento parece ter despertado e todo seu corpo doía.

 Levantou a cabeça com dificuldade, estava mais pesada do que o normal e sua cabeça doía. O lugar onde estava era um quarto grande, paredes e teto de madeira. Uma gigante janela quadrada complementava uma das paredes, o vidro coberto por uma fina geada, dando uma visão de um inverno calmo e belo, feito para ser apreciado. Só não era frio no quarto devido uma lareira de pedra polida ali, labaredas vermelhas e amarelas em cores vibrantes e que enfeitiçavam os olhos de qualquer um.

 Após minutos tentando raciocinar o que acontecia ali, Primrose colocou seu pé sobre o chão gelado, logo acostumando-se. Seus olhos varreram o quarto até encontrarem seu cajado florido sobre um cômodo. Segurou o bastão mas logo se afastou, seu cajado estava completamente frio, congelado, sem vida. Ele sempre era quente quando o pegava, mas agora estava diferente.

 - Ela vai demorar para acordar?

 Escutou uma voz do andar de baixo. Ainda estava tonta e não entendia direito o que acontecia, mas sabia que estava muito, muito longe de casa.

 Seus pés andaram contra sua vontade até a porta lentamente,  recuperando os sentidos e lembrando-se como era locomover as pernas uma de cada vez. Sua mão direita tocou a maçaneta dourada e fria, a girando e empurrando a porta de madeira mais alta que ela. A sua frente havia um corredor gigante e aberto, em formato de círculos. Com muitos andares acima e abaixo que podiam ser vistos como andares em anéis de um prédio redondo. Notou pequenas criaturas vermelhas e com sinos dourados na ponta da cabeça andarem de um lado para o outro, derrubando caixas, esbarrando um nos outros e dizendo coisas incompreensíveis.

 Esfregou os olhos algumas vezes com os punhos, somente para acreditar que aquilo era verdade. Depois suspirou derrotada e andou timidamente pelo corredor, colada na parede e com medo que alguém ali a visse. Nunca havia estado naquele lugar antes, parecia um sonho, mas o frio em seus pés nus e a dor que latejava em sua cabeça a alertava a cada minuto que estava mais do que acordada.

 Jogou o corpo para o primeiro corredor que encontrou e continuou a andar lentamente, como alguém que anda em círculos e tenta desesperadamente encontrar uma saída. Abraçou seu corpo e olhou para o canto dos olhos as paredes de onde estava, ali não havia nenhuma outra daquelas criaturas com sino, não era tão frio e parecia levemente afastar sua dor. As vozes que escutou do quarto onde acordou ainda ecoavam pelo corredor, o mesmo corredor que ela andava cegamente pelo medo. As palavras chiavam e destorciam-se no ar, provocando ilusões e coisas que sua própria cabeça queria criar e imaginar, ela apenas tentava seguir as vozes e de algum jeito encontrar uma resposta para toda aquela loucura.

 Parou em uma esquina do corredor quando conseguiu escutar as vozes suficientemente altas para que escutasse com clareza, em enganações. Esgueirou-se sobre a curva e colou na parede, disfarçando-se e tentando escutar o que diziam.

 Sabia que era errado e a resposta mais clara para tudo aquilo era ela simplesmente pegar seu cajado e ir embora, mas tanto ela quanto seu cajado estavam sem energia o suficiente, era inútil.

 - Eu acho que deveríamos acordar ela e acabar com toda essa palhaçada.

Uma voz, grossa e rouca ecoou pelo corredor.

 - Não seja tolo, coelhão. Deixe a menina dormir um pouquinho.

 A voz de agora ainda era masculina, mas um pouco doce. Como a de um velhinho ou um doce vovô que mima os netos.

 - Norte, está falando sério? Ela caiu na nossa frente como uma mosca golpeada por uma raquete. Como acha que ela pode, de alguma forma, nos ajudar.

— Está sendo precipitado, nós nem a conhecemos direito para dizer algo.

— Exatamente! -  A voz aumentou seu tom. – Não a conhecíamos desde ela ser anunciada antes de ontem, como sabemos que podemos confiar nela?

— Não sabemos. Mas vamos saber.

 Prim inclinou seu corpo um pouco para a curva do corredor, espiando uma figura vermelha alta e outra cinzenta em peluda. Na frente deles haviam um criatura verde e rosa que parecia inquieta e resolveu se pronunciar.

 - Gente, calma aí! – A figura verde e rosa disse. – Não acham mais fácil apenas esperarmos para ela acordar e dizer tudo?

— Oh claro. – O cinzento peludo riu, zombando. – E como fazemos isso? Simplesmente chegamos nela e falamos “Olá, sei que parece difícil de acreditar mas não conhecemos voz desde os últimos mil anos, mas agora você tem que nos ajudar a combater o irmão mais novo do Papai Noel que está bravo e quer matar todo mundo”. Esse tipo de abordagem?

— Chega coelhão! – A mulher verde e rosa, sim uma mulher, zangou-se – Ela agora é uma guardiã como nós, e temos que receber a ajuda dela para proteger as crianças, você aceitando ou não!

 Prim pulou para trás com as palavras “guardiã” serem soltadas da boca daquela mulher com tanta certeza. Sentiu um impacto até nela mesma. Escorregou para trás mas não caiu, antes disso algo fofo e felpudo impediu sua queda. Prim suspirou aliviada, até acariciar, ainda de costas, aquela coisa fofa. A textura era como um pelo de cachorro que havia acabado de tomar banho e ser secado, mas o cheiro era de biscoitos de gergelim com leite. A saliva desceu por sua garganta quando aquela coisa soltou uma respiração pesada e quente sobre a cabeça de Primrose, agitando seus fios de cabelo. Ela olhou para trás e ficou apavorada com uma figura peluda e de cara carrancuda a encarando, imediatamente soltou um grito fino e alto, jogando-se para o outro lado e colidindo com a parede da curva, desta vez o impacto em uma textura dura e gélida. Ela ofegou assustada e soltou murmúrio incompreensíveis de medo. Aquela criatura tinha o triplo de seu tamanho e parecia com uma cara de nada de bom humor, um aviso de um ataque que poderia partir de sua parte a qualquer momento.

 A criatura deu um passo para frente em sua direção. Prim agarrou com força seu rosto e virou em direção a parede, impedindo que sua última visão fosse de uma criatura que tentou a matar.

— Claus... – Uma voz doce, a mesma voz de vovô, disse. – Sei que estava tentando ser gentil, mas não assuste nossa visitante dessa maneira.

 Os olhos castanhos de Prim abriram, brilhando em esperança. Olhou devagar para frente, a sua frente um forte e alto senhor de idade totalmente tatuado estava parado, conversando amigavelmente com a mesma criatura de antes, sorrindo gentilmente.

— Hãm? – Prim não pode deixar de soltar sua incompreensão.

 O senhor a olhou e sorriu calorosamente, estendendo suas mãos e ajudando se levantar. Ele era extremamente alto, não tanto quanto a criatura peluda, mas ainda sim era o bastante para intimidar muitas pessoas. Prim olhou profundamente para aqueles olhos azuis, como olhos grande e brilhantes de um bebê que de forma encantada, olha o mundo pela primeira vez.

 - Eu te conheço... certo? – Prim murmurou.

 Aquilo foi o suficiente para o velho sorrir e soltar uma alta gargalhada contente. Ela deu um pulo e observou de olhos arregalados. Até rindo e contente, parecia que aquelas mãos enormes poderiam esmagar alguém a qualquer segundo.

 - Ah sim, acho que está certa. – O homem depositou uma das mãos sobre sua pança, ainda rindo. – Eu sou o Papai Noel, afinal de contas.

 A garota o olhou por curtos segundos, processando tudo aquilo. Seus olhos imediatamente arregalaram e sua boca abriu-se em surpresa, colocando os dedos sobre os lábios em sinal de espanto. Ela jamais, em toda sua vida, imaginou que um dia estaria cara a cara com ele, o chefão, o mais conhecido dos guardiões e o mais esperado pelas crianças durante todo o ano, o grande e bondoso Papai Noel.

— Senhor eu... – Suas bochechas ficaram vermelhas em vergonha e ela abaixou sua cabeça. – É u-uma honra te c-conhecer.

 Os dedos dos pés se cruzaram e se contorceram em nervosismo, suas mãos inquietas e sua mente e boca sem palavras, a surpresa não deixava que ela acreditasse em tudo aquilo Agora acreditava que poderia estar sonhando, ou melhor, que estivesse louca com tanto trabalho por tantos anos.

 - Minha cara, olhe para mim.

 Hesitante, sua cabeça subiu lentamente, os olhos com o do bom velhinho que ainda sorria. Ela deixou de ficar nervosa e suspirou fundo, mantendo a calma e convencendo-se de não ter mais nenhuma reação exagerada.

— Não há motivo para ficar assim. – Ele disse. – Afinal, agora você é igual a mim.

 Toda sua convicção de antes foi espancada e afastada por aquelas palavras. A surpresa tímida passou para uma surpresa real, suas sobrancelhas se franziram e sua boca se distorceu em diversas linhas e formas. Então ela o olhou achando graça, mesmo ainda não entendo o que queria dizer.

— Ah entendi. – Suspirou, batendo em sua própria testa com a palma da mão. – Eu ainda devo estar sonhando, não é?

— Senhorita, creio que não entendeu o que eu quis dize-

— Não não. Não precisa me explicar, deixa que eu mesma mostro.

 Ela virou-se de costas para o homem a figura peluda ainda ali, colocou suas mãos apoiadas na parede fria e respirou fundo. Fechou os olhos e mentalmente pensou em palavras incompreensíveis e atropeladas que nem mesmo ela entendeu.

— O que ela está fazendo? – Norte virou-se para a figura peluda, um yeti. O yeti negou com a cabeça e fez uma expressão confusa indicando que também não entendia, ambos voltando os olhares para a garota.

— Vejam só. Eu estou apenas sonhando. – Ela concluiu. – Eu apenas vou bater minha cabeça e acordar, então tudo vai voltar ao normal.

— Não, espere! Não faça-

 Era tarde. Com toda sua força, Prim jogou sua testa contra a parede gelada. Mas antes que sua pele macia tocasse aquilo e a levasse para um forte destino doloroso-literalmente- uma poeira dourada amorteceu seu rosto, e rodeou sua cabeça, como névoa. Seus fios de cabelos se misturaram com o dourado que sobrevoava delicadamente, sem peso, flutuando em torno da garota.                                                                                                   

Os olhos castanhos se abriram e encararam sem compreensão, ela tinha quase certeza de que deveria ter sentido a dor. Mas ela mal tocou a parede, com um travesseiro de poeira dourada à frente em seu rosto. O travesseiro rapidamente se desfez e assumiu uma forma não definida, contornando um caminho ao redor de sua cabeça e girando em torno do pescoço, como um fino colar. A poeira então se desfez e voltou para o caminho que veio, sendo acompanhado pelo olhar de Primrose.

 Ali, parados em frente a porta, estava um homem baixo e dourado que tinha a mesma poeira ao seu redor, sorrindo docemente ao perceber ser observado pela jovem. Uma mulher alta que parecia ser coberta por penas verdes e rosas, com olhos brilhantes, junto a pequenas miniaturas ao redor dela voando ao seu redor. Um grande coelho cinza e musculoso, segurando um bumerangue e olhando para ela com uma cara nada amigável. E ao lado deles, um pouco mais escondido no canto, um garoto que parecia ter a mesma idade que ela, cabelos brancos e olhos azuis, pele pálida como o gelo. Ele tinha um moletom azul escuro e um cajado (sem flores, diferente do de Prim.)

 Os lábios dela se moveram, mas nenhuma palavra saiu. Ela não compreendia, nem mesmo sabia se aquilo era real. Ela conhecia eles –exceto o garoto de cabelos brancos– mas sua mente pareceu ficar em branco por segundos, processando e tentando aceitar o que acontecia. Uma mão quente e grande repousou sobre o ombro dela, o calor se espalhando por seu corpo. Prim girou sua cabeça na direção ao grande homem grisalho, que permanecia a olhando com gentiliza e compreensão, assim como o calor, ele espalhava tranquilidade.

— Venha conosco, há muitas coisas que você precisa saber. E é agora.

 Sem dizer nada, ela engoliu em seco e assentiu a cabeça hesitante. Seus pés nus se moveram pelo chão gelado até em direção a porta, no fim do corredor. Os outros parados ali abriram caminhos para ela. A sua direita estava o garoto de cabelos brancos e olhos azuis. Os olhares dele cruzaram.

 Naquele momento, Jack sentiu um calor tomar conta de si. Enquanto Prim sentiu um frio congelante a cerca. Um choque de temperatura que deu um choque em seus corações, uma sensação não ruim, nem boa. Nem do mal, nem do bem.

 Apenas diferente.

 Algo que apenas eles conseguiram sentir, algo que inibiu de um para o outro. O confronto de temperaturas e auras, duas vidas opostas que se uniam, se conheciam pela primeira vez. Cara a cara.


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Notas finais do capítulo

Ahhh finalmente o encontro de Jack e Prim, o inverno e a primavera!
Nomes para os shipps? Jack x Prim?
Jaim
Priack
Japri
Prija

Ksksksksk brincadeira, mas se quiserem escolher ou inventar um.



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