Chat Noir ficou parado, me encarando sem dizer nada. Eu imagino que deve ser porquê eu disse algo tão pessoal, como o nome do garoto pelo qual sou apaixonada, e ele não estava esperando.

— É, eu sou bem idiota, né? O que faria ele gostar logo de mim entre todas as garotas?

— Mas você é incrível... – ele disse baixo, ainda parecendo estar em choque e eu ri sem humor.

— Eu sei que ele me acha legal e já disse muitas coisas boas sobre mim. Tenho consciência disso. Mas amar é diferente, vai muito mais além de você querer ter a pessoa. Amar é querer estar perto dela e a desejar. – Chat Noir me encarava, atento à cada palavra. – Eu imagino que sinta isso pela Ladybug. – Senti minhas bochechas darem uma leve esquentada. Contudo o herói pensaria que era sobre o que eu disse de Adrien e não sobre o fato de que eu sei que ele me ama.

— É, eu sinto. – deu uma resposta curta, diferente do que normalmente fazia. Acho que deve ser porque fiz ele relembrar de sua paixão.

— Então, eu sinto isso por ele. E por mais que outra pessoa esteja ganhando espaço no meu coração, é difícil parar de pensar nele. – a cada coisa que confessava, sentia um peso saindo do meu coração. Era muito bom poder falar com alguém além de Alya, não que ela não fosse uma boa amiga, mas ela não entendia como era não ser correspondida, então falar sobre isso com Chat Noir era diferente.

— Outra pessoa? – dei um meio sorriso e fitei as minhas mãos que estavam juntas sobre o meu colo.

— É, eu descobri que o Luka, esse que eu falei antes, meio que gosta de mim.

— Como?

— Você lembra que ele foi akumatizado? – Chat Noir apenas fez que sim com a cabeça – Bom, aquele dia ele não roubou a minha voz porque disse que nunca me machucaria. E ele acabou se declarando para mim.

— Sério?

— Aham.

— Nossa! Você tem os garotos aos seus pés. – dei risada – Não, é sério. Lembra aquele akumatizado que estava apaixonado por você? – assenti – O seu amigo que gostava de você e agora esse Luka.

— É, não é como se fosse algo incrível. Você deve receber muito mais declarações. – disse, afinal ele era o herói da cidade. Popular e conhecido, então claramente deveria ter recebido.

— Declaração mesmo eu só recebi uma. – o encarei – A sua. – engoli em seco.

— A-Ah... – não sabia o que dizer, minha declaração não tinha nem sido verdadeira, tinha feito ela pois imaginei que ele estava prestes a descobrir que eu era a Ladybug e precisava tirar o foco dele disso.

— Um “eu te amo” aqui e ali. Mas isso é coisa de fã. – deu de ombros.

— Pois é, recebemos declarações mas não de quem amamos. – ironizei ao mesmo tempo que me senti mal, já que a pessoa que ele amava era eu.

— Sim, mas... Você já parou para pensar que talvez, só talvez, devesse desistir? – mentiria se dissesse que não, pensei nisso principalmente quando conheci Luka, ao mesmo tempo que Adrien tinha dito gostar da Kagami. Pensei mais ainda quando Luka se declarou para mim.

— Pensei sim. Mas eu estou tão acostumada em gostar do Adrien que eu não sei se conseguiria.

— Entendi. – ficamos olhando para o nada por alguns segundos.

Se em alguns meses atrás alguém me dissesse que eu estaria no meu quarto, na noite do meu aniversário, conversando com Chat Noir sobre nossas desilusões amorosas, eu diria que era loucura. E bem, cá estamos.

— Você pensa em desistir da Ladybug?

— É complicado. Porque eu amo ela como nunca amei outra garota. – escutava atenta. – Mas ela gosta de outra pessoa e eu não faço ideia de quanto tempo vai durar isso.

— Quanto tempo vai durar? – questionei não entendendo a maneira como ele se referiu à minha paixão como Ladybug e Chat Noir sorriu.

— Sim, quanto tempo vai durar a paixão dela pelo outro cara. Sei que no final vamos acabar juntos. – permaneci parada sem reação.

Chat Noir acreditava que mesmo que eu gostasse de outro, ainda acabaria com ele. Mostrando o quanto seu amor por mim era forte. O que me deixou emocionada de certa forma e me questionando se o meu amor por Adrien era forte o suficiente para esperar o tempo que fosse. Porque sempre achei que era, mas agora virou um questionamento.

Encarei o garoto ao meu lado, que acreditava que no final eu ficaria com ele, chegando ao impasse das minhas ideias. Eu não poderia ficar com ele se ficasse com Adrien.

Mas com quem eu ficaria então?

Luka possivelmente não esperaria por mim, Chat Noir sim. Adrien ainda nem me notou e ainda sim Chat esperaria tudo isso. A escolha mais sensata seria ficar com Chat Noir. Só que não é assim que as coisas funcionam, você não diz para os seus sentimentos quem eles devem escolher.

Me senti ridícula não amando um garoto como o que estava ao meu lado agora, que faria tudo por mim, inclusive me esperar o tempo que fosse.

 - Não sabia que era tão apaixonado por ela assim. – sabia que ele era, mas no final garotos são garotos. Tudo quase sempre se resume a atração e desejo.

Chat Noir sorriu e voltou seu olhar para mim.

— Uma vez a minha mãe me disse que não vale a pena amar alguém por motivos rasos. Isso faz com que você tenha bons momentos no começo, mas depois disso, é preciso muito mais do que amor raso para ficarem juntos. – aquilo me fez refletir ainda mais.

— Sua mãe é uma mulher sábia. – ele desviou o olhar.

— É, é sim. – disse em um tom triste, então decidi não tocar no assunto. Família pode ser um tópico complicado para algumas pessoas.

— E por que exatamente você ama a Ladybug? É que você disse que não a conhece por trás da máscara. Não acha isso um pouco esquisito? – ok, na verdade ele conhecia, só não sabia disso.

— Correção: Eu não conheço o rosto dela por trás da máscara. Mas eu a conheço sim. Sei que ela é forte, determinada, gentil e incrível em todos os sentidos. – senti minha bochechas esquentarem violentamente, por sorte ele não notou, já que estava imerso me descrevendo. – Nós somos bons amigos, tivemos boas conversas. Mas não passou disso. E respondendo à sua pergunta de porquê eu a amo, todas essas qualidades compõem a minha admiração por ela, no entanto, eu a amo porque simplesmente desejo estar com ela todos os dias da minha vida. – não achei que fosse possível corar mais, mas acho que consegui – Parece certo, sabe?

— Aham. – foi só o que eu consegui dizer depois da incrível declaração feita por ele. – Mas você já pensou em um final aonde vocês não fiquem juntos? Não querendo dizer que não vão, mas sei lá... Só por curiosidade.

— Já sim. Mas parece um final bem ruim. – ele riu e eu fiz o mesmo.

— Eu penso essas coisas sobre mim e o Adrien. Só que diferente de você, eu não acho que ele me amaria. Afinal, o que faria o sentimento dele por mim mudar? Se não me amou até agora...

— Ei, você não pode pensar assim! – senti a sua mão sobre o meu ombro e minha respiração acelerou um pouco. – Quem sabe... Quem sabe ele goste de você. – ele falou na tentativa de fazer eu me sentir melhor, no entanto percebi a incerteza em sua voz.

— Valeu, mas duvido. Pessoas como o Adrien gostam de pessoas como a Kagami.

— Kagami?

— É, uma colega dele de esgrima. Uma vez ele disse pra mim que gostava dela, o que foi uma situação bem chata.

— Espera! Ele disse pra você que gostava dessa tal de Kagami e nessa época você já era apaixonada por ele?

— Sim. Fazia um bom tempo.

— Ah cara! – lamentou – Deve ter sido bem ruim, me desculpa.

— Tudo bem, não é como se tivesse sido sua culpa.

— É, claro. Claro. – ficamos em silêncio novamente. – Não quero que acabe o dia do seu aniversário assim. – disse ele, pois provavelmente não dava para enganar o meu estado devido à minha expressão triste – Venha comigo. – ele ficou de pé e estendeu a mão.

— Aonde vamos?

— Surpresa. – decidi confiar, Chat Noir não me faria mal.

Segurei sua mão e o herói a colocou em seu ombro, em seguida me segurou no seu colo.

— Feche os olhos. – fiz o que ele disse e segurei firme com as mãos ao redor do seu pescoço enquanto ele saía pela minha janela.

Senti a brisa noturna bater contra o meu rosto enquanto o gato saltava de telhado em telhado. Demorou alguns minutos até que ele parasse em algum lugar. Cuidadosamente ele me deixou parada e em seguida colocou a sua mão na frente dos meus olhos.

— Não olha, hein!

— Tá bem! – ri do seu jeito e então ele foi me conduzindo até um lugar desconhecido.

— Agora pode abrir. – Chat Noir tirou as mãos de cima dos meus olhos e eu me deparei com uma vista muito mais incrível da cidade do que o meu terraço me proporcionava.

Estávamos no topo da Torre Eiffel e eu já tinha vindo aqui, não era como se fosse novidade. No entanto o momento, a ocasião e a companhia eram o que me fazia estar extremamente maravilhada.

— A vista é incrível, não? – Chat Noir parou ao meu lado e eu sorri, o abraçando.

— Obrigada por isso. Foi o melhor aniversário que eu já tive. – ele retribuiu o abraço me puxando para si.

— De nada, Marinette.