Bleeding Love escrita por Lux Noctis


Capítulo 1
My heart's crippled by the vein that I keep on clo


Notas iniciais do capítulo

+Texto em itálico corresponde à flashback.
História não betada, sorry.



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“But I don't care what they say, I'm in love with you
They try to pull me away, but they don't know the truth
My heart's crippled by the vein that I keep on closing
You cut me open and I…
Keep bleeding, keep, keep bleeding love”



Não deveria ser aquela uma noite tão gélida. O inverno ainda estava distante, mas o vento que lhe açoitava a pele trazia o frio que fazia doer as extremidades e arder a face.

“Não vá”, eles disseram. “Fica”, ela pediu.

Mas ali estava ele, caminhando sozinho em meio ao nada, tendo como companhia os barulhos oscilantes do vento contra as copas das árvores, fazendo zonear seus fios brancos, jogando-os à cara, turvando sua visão. Enxergava tão bem quanto no dia que ele partiu… embaçado e tão tomado por uma dor silenciosa que nada parecia fazer trazê-lo ao momento. Fora preciso um soco, não um qualquer, um dela. Agora ali estava só, precisava então piscar os olhos e engolir o seco, e continuar a caminhada silenciosa que cada vez mais o levava para aquele lugar.

Haviam pouquíssimas, se não nenhuma chance de encontrá-lo lá. Mas aquele era o maldito ditado, não? A esperança era a última a morrer. E havia partido naquela busca insana com aquilo em mente, não desistir. Manter a esperança viva, mesmo que surrada e sangrando.

Era o terceiro dia de caminhada, e ainda restaria mais um. A exaustão não parecia tomar o corpo ferido, mas parecia tomar a mente já cansada e desgastada, assim como parecia tomar o coração, apenas para massacrá-lo um pouco mais. Como se tudo o que tivesse acontecido já não fosse suficiente.

Isso é loucura, Jiraiya! O que garante que você estará em segurança junto à ele?”, a voz de Tsunade ecoava enquanto pé à pé, direcionava-se naquele caminho tortuoso que o levaria ao lugar deles. O esconderijo particular, onde outrora fugiam para se amar. Onde a esperança fazia a mente acreditar que lá o encontraria. Era a chance que tinha, a pista.

Estou em segurança longe dele?”, a pergunta era agoniada, porque a resposta que ela lhe daria era divergente à sua. Achavam-o um louco, Tsunade ainda tentava entender seu lado, afinal ela sabia a sensação de entregar o coração à alguém.  

E era assim que, agora ali em meio à sua caminhada, que ele notava que estava de fato ferido. Havia aquele músculo castigado em seu corpo, que parecia sangrar a cada batimento.

Ainda tinha tanto a percorrer, que buscou em mente os momentos felizes ao lado de Orochimaru, não valeria a pena reviver apenas as tristezas, não é? Afinal, não estava correndo em busca dele porque tudo o que compartilharam fora ruim. Ninguém faria isso, ninguém correria na direção de algo que apenas fere. Ele não era tolo assim. E então puxou na mente todos os bons momentos… desde aquele primeiro encontro:

 

Aqueles olhos tão distintos, a pele alva como o brilho da lua, os fios negros e cumpridos. Tudo naquele garoto o forçava a dar um passo à frente, e mais um, e outro, até que estivesse tão perto que podia sentir o cheiro que levantava quando o vento esvoaçava os fios. Perfeito. E tocou. Com nada além de uma devoção repentina, sentindo a maciez do cabelo, o quão sedoso era, e assim atraiu aquele olhar para si. Encarando-o de baixo, aqueles olhos tal como o de uma serpente a lhe perscrutar. O que era aquilo? Uma espécie de deus? Podia tocá-lo como fazia no momento?

—  Jiraiya. —  A voz de Hiruzen-sensei o chamou ao longe. Estava muito perto na verdade, mas tudo lhe parecia incrivelmente longe, quando perto daquele que cativara sua total atenção. —  Esse é Orochimaru.

Ele notou o jovem olhá-lo curioso, levando a destra à mexa de cabelo que era puxada tão sutilmente por Jiraiya, tirando-a das mãos dele, para então afastar-se dois passos, parando próximo à Hiruzen.

—  Serão membros da mesma equipe, assim como Tsunade.

“Blá blá blá”, foi tudo o que Jiraiya captou do falatório, ou seja, nada.  

Ele captou a leitura labial, o jovem tocando a barra da roupa de Hiruzen-sensei, dizendo “ele é sempre assim, estranho?”. E naquele momento Jiraiya não deveria ter sorrido, mas abriu o maior de todos.

 

Daquele momento Jiraiya sabia, havia vendido a alma ao diabo! O diabo mais belo que já vira na vida. E isso tornava-se claro a cada vez que o via, ainda mais quando aquele primeiro beijo aconteceu:

 

O corte no supercílio ardia e fazia sangrar, impedindo que o olho abrisse e fechasse, tal como fazia tranquilamente com o esquerdo. Segurava o kit em mãos, enquanto Orochimaru apoiava as mãos aos joelhos, inclinando-se a frente para aferir a extensão da ferida. A diferença de altura ficava exagerada, quando ele estava sentado e Orochimaru de pé.

—  E por que não foi até Tsunade? —  a sobrancelha erguida indicava que sim, que ele já suspeitava o porquê.

—  Pra quê? Chegar lá e sair pior do que quando entrei? Ah não!  — resmungava enquanto assistia toda a calmaria de Orochimaru em pegar a gaze, dobrá-la para então embebe-la em soro, para limpar o sangue seco.

A careta e reclamação foram inevitáveis, assim como o reflexo do corpo, chegando para trás, fugindo do toque alheio, para então sentir a mão firme dele em sua nuca, enquanto aqueles olhos de serpente passavam uma segurança que seria capaz de fazer com que até mesmo o Hokage acreditasse.  E claro, o rompante onde Jiraiya colocava tudo a perder sendo precipitado e tomando os lábios de Orochimaru, como se lhe fossem de direito. E embora estático no início, a forma como correspondeu logo depois, puxando-o ainda mais pela nuca enquanto soltava a gaze e deixava a destra percorrer pelo tórax, apoiando-se à ele, enquanto sentia-se ser puxado para cima do sofá, consequentemente para cima de Jiraiya.

E o tapa. Estalado na face, fazendo ecoar o som naquele cômodo quase vazio. Deixando marcado a palma e as falanges, avermelhando a face de Jiraiya, que ainda assim sorria.

 

Sorriu, levando a mão ao exato local onde há anos, Orochimaru havia acertado-o com um tapa para camuflar suas ações impensadas, que o obrigaram a ceder ao desejo. Aquilo não podia ser um amor unilateral. Não tinha como, não com todos os indícios de que era recíproco. Orochimaru precisaria mentir bem demais, não? Fingir demais, e estar disposto a doar o corpo e a alma em prol de tal mentira. E sentiu o pesar pelas noites de sexo, mas tão logo sendo bombardeado pelas recordações das noites de amor. Recordou-se também de outro beijo, aquele que fora o ponto de sua perdição:



Os olhos que o encaravam enquanto falava com ele, perdendo-se um pouco conforme ele se aproximava, ainda o encarando como se descobrisse seus maiores segredos, como se visse seus pontos de chakra, sua alma, seus desejos mais profundos.

—  Me beija.

Era o paraíso? Era o teste do inferno?

Se fosse um daqueles momentos que apenas se imagina algo? E se Orochimaru sequer houvesse pedido por um beijo? E se fosse apenas sua mente projetando algo que muito desejava?

—  Jiraiya? —  próximos demais, e Jiraiya não era o rei do autocontrole, como bem sabiam. Não quando ele tanto desejava aquele ser serpentinoso. Aquele que fazia sua mente nublar, como naquele momento, no qual passava as informações que Hiruzen havia pedido. Droga, com Tsunade havia sido muito mais fácil, ela só o bateu por ter brincado dizendo que defenderia ela.  — Está me ouvindo?

—  Na verdade acho que estou ouvindo outra coisa, e não você. O que disse?

—  Não vai me fazer repetir isso, não é?

A cena era atípica. Estavam naquela sala só os dois, uma mesa entre eles. Jiraiya estático enquanto Orochimaru apoiava-se com ambos os braços na mesa. Esticados para que a diferença de tamanho não se fizesse tão gritante entre os dois. Aqueles olhos de íris distintas, a pele alva e os fios negros que pareciam emoldurar o mais belo dos quadros. Orochimaru era uma verdadeira obra de arte aos olhos de Jiraiya. Era sua queda, sua perdição. E por isso jogava-se naquele abismo sem sequer saber o que o esperava ao fundo.

Puxou-o pela nuca, não de forma brusca, mas necessitada. Selou os lábios aos dele, praguejando mentalmente por aquela maldita mesa estar entre os dois. Não sabia o que havia levado o outro a pedir por um beijo, mas não deixaria uma oportunidade como aquela lhe escapar por entre os dedos. Não quando há muito ele queria isso. Era a intensidade que parecia queimá-lo de dentro pra fora. Era o puxar necessitado daquele corpo para que ficasse mais próximo ao seu. Eram os atos afoitos que ele sequer esperava de Orochimaru, ao subir na mesa, encurtando a distância, para então sentar-se sobre ela, envolvendo pernas e braços em seu corpo. Se ele podia ser ousado o que impedia Jiraiya de ser também? E fora assim que tomou a coragem de levar uma as mãos à cintura alheia, apertando forte, querendo marcar a pele alva, querendo ter a certeza palpável de que aquilo era real. O sabor da boca alheia adjunta à sua, a maciez dos fios escuros que emaranhavam-se aos seus dedos… a forma como Orochimaru respirava pesado, passando a língua pelos próprios lábios, ainda de olhos fechados quando o beijo se findou. Apenas para repetirem a dose, ainda mais intensamente que outrora. Entregando-se aos desejos que ambos nutriam.



Sempre que Jiraiya parava pra pensar notava quanto Orochimaru o tinha nas mãos. Havia sido arrebatado no momento que o viu pela primeira vez. Era de se esperar que fosse um tolo apaixonado pelo outro. Que fosse o tipo que se jogaria de cabeça, mesmo que a queda fosse sua única certeza.

Sua caminhada não cessava, não quando sua pressa em chegar era maior que suas forças, até. A noite se aproximava, e com ela mais recordações que por sorte, ele sempre mantinha vívida. Quando as noites se faziam gélidas, e surpreendentemente o corpo de Orochimaru deixava tudo quente demais. Aquele vento quase sibilado o fez sorrir, eram tantas recordações de momentos de prazer em meio ao nada… mas aquela que agora invadia sua mente, era uma de suas recordações preferidas:



O som daquele riso parecia tão destoante à figura. Eram raros os momentos nos quais Orochimaru ria de verdade, e não aquela sua famosa risada de escárnio e deboche. E em momentos como aqueles, naquela cama, Jiraiya sentia-se completo. Quando via-o apoiar a mão sobre seu peito, e quando aqueles olhos de serpente o encarava como se fosse lhe devorar a alma, e todo o corpo. Jiraiya sentia-se sortudo naqueles momentos, quando o calor tomava-lhes os corpos, quando puxava Orochimaru para ainda mais perto e invertia as posições na cama, ficando por cima, sentindo o corpo nu tocar o seu, igualmente despido.

—  O que foi? —  Orochimaru questionou-o enquanto o envolvia com os braços, emaranhando os dedos aos fios brancos.

—  Apenas apreciando você.

Era a mais pura verdade, e o beijo era o selar necessário em tudo aquilo. Era apaixonado, fervoroso e luxurioso. Era um encontro de línguas e mordidas, e arfares que entregavam o quanto a excitação já lhes tomava, de novo.  Eram as mãos desejosas que tateavam os corpos alheios em busca de proporcionar e receber prazer. E como Jiraiya adorava quando Orochimaru lhe beijava o pescoço para então mordê-lo. Era um morde e assopra, e naquele caso, literalmente. E isso o enlouquecia, o instigava a ousar mais nos toques, a separar mais as pernas de orochimaru e encaixar-se entre elas, assim como mais cedo naquele dia. Eram os olhos dele que consequentemente o guiava ao abismo que sempre se jogava de cabeça.



Em meio a dor, ao sentir-se sozinho, pensou em quantas vezes mais havia quebrado a cara. Chegou a pensar que era apaixonado por Tsunade, talvez realmente o fosse, na época. Amar alguém que não está perto, não impossibilita de que outras sensações aflorem, nunca em igual escala, soube com o tempo. Nenhum corpo que pudesse ter na sua cama, chegaria perto do único que queria ter ao lado.

Quando olhou mais a frente, notou a familiaridade do local, as rochas, as árvores… até mesmo o tom da grama parecia diferente naquele esconderijo. O coração pareceu até mesmo bater mais forte no peito enquanto os pés pareciam seguir por estímulos maiores do que sua própria mente era capaz de comandar.

Desviou dos galhos baixos das árvores, sorrindo de modo que não conseguia conter o nervosismo que o assolava. E se ele não fosse bem recebido? Suportaria mais uma vez se ver destruído pelo amor?

Sabia de cada armadilha, sim, sabia. Poderia há muito ter entregado aquele esconderijo ao Hokage, à Tsunade… mas se o fizesse colocaria a perder tudo aquilo que um dia achou que fosse encontrar com Orochimaru. Seria como voltar a sentir a ferida aberta em seu peito, com a traição naquele adeus.

A kunai veio com rapidez, desviou por pouco, logo sentindo o corte em sua bochecha, tocando-a com a mão fria. Era a ansiedade que o fazia mais lento, era a saudade que o fazia tremer.

—  Um modo estranho de dar as boas vindas.

—  Não foi uma. —  Não era bem vindo, então?



“But nothing's greater than the rush that comes with your embrace”



O abraço forte veio em meio à mais uma kunai, essa lhe acertando o ombro, fazendo rasgar o tecido de suas vestes e a pele, vertendo sangue morno em seu rosto, e no dele. Era o tal pacto de sangue, sempre se machucava quando próximo à Orochimaru, mas em meio à toda dor que suportou, aquela não era nada. Tinha feridas abertas por muito mais tempo, feridas que doíam a cada batida do coração cansado.



“My heart's crippled by the vein that I keep on closing

You cut me open and I

Keep bleeding, keep, keep bleeding love”



Quando os olhares se encontraram, não houve nada no mundo que os parasse. Não teve empecilhos quando os lábios selaram-se aos alheios, tornando quente o clima e os corações que há muito haviam se enrijecido com as dores do passar dos anos.

Jiraiya suportou todos ao seu redor, que conheciam seu verdadeiro amor, dizer-lhe que era louco. Se o vissem agora, confirmariam isso. Entregando-se de bandeja à alguém que mais fazia feri-lo, do que amá-lo.

Feria-o até mesmo no ato de beijar. Quando os dentes resvalavam por seu lábio inferior, mordendo-o com fervor enquanto puxava-o para mais perto naquele abraço necessitado e desengonçado. Sentia saudade da natureza selvagem do outro, da forma como o amor era bruto, como o olhar era intenso e serpentinoso. Como a voz rompia de forma sedutora ao chamar seu nome.

Talvez sangrasse por aquela ferida invisível pelo resto de sua vida. Não saberia dizer, mas não diria que se arrependeria.



“And it's draining all of me

Oh, they find it hard to believe

I'll be wearing these scars for everyone to see

But I don't care what they say, I'm in love with you”



Não se arrependeu quando entrou com Orochimaru naquele esconderijo. Não se arrependeu quando aos beijos tropeçaram até o quarto, quando as roupas perderam-se em meio ao caos que eram os atos despudorados.

Definitivamente não houve arrependimentos quando o suor do corpo alheio encontrava-se com o seu, quando os sons invadiam o cômodo cavernoso, quando os olhos de serpente encaravam os seus e quando o movimento do corpo alheio combinava tão bem com o seu.

—  Você vai ficar dessa vez? —  a pergunta veio em meio ao desejo, e dor. Desencadeou uma reação em Orochimaru que Jiraiya não esperava, não desgostava, mas era inesperada de fato. Uma mordida forte em seu ombro, enquanto aquele corpo unia-se ainda mais com o seu, as mãos em seu tórax, os cabelos negros de Orochimaru caindo sobre a face, tocando o corpo de Jiraiya pela posição na qual se encontravam.

—  O que acha? —  o gemido não veio, os lábios mordidos impediam o som. Mas o som dos quadris se chocando, ah, isso tinha em abundância.




“They don't know the truth…
my heart's crippled by the vein that I keep on closing



—  Espero que sim. —  a honestidade em meio ao ápice do prazer, quando relutante entregou-se àquele corpo, deixando seu corpo expelir o prazer que não mais cabia ali.

Os beijos trocados, e mais uma vez Orochimaru sobre si, nu e sem máscaras de falso desinteresse. Via em meio àquelas íris todo o amor que ele também sentia. Naquele momento os olhos eram como espelhos, mostrando um ao outro aquilo que se escondia em meio à tanta dor, à tanta mentira. Amavam-se, e provavelmente amariam-se por toda a vida que ainda lhes restava. Mas feriam-se, ainda mais quando ao despertar do torpor do sexo, Jiraiya notou-se sozinho… mais uma vez dilacerado, sangrando por amor.


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