Tatsumi e Wakasa cresceram juntos com o amor que tinham. Wakasa chegou até a revelar sua idade para Tatsumi – um, agora, com alguns séculos e o outro indo completar 26 anos. Tatsumi era um pouco mais alto e suas olheiras até haviam desaparecido um pouco, deixando-o muito mais expressivo.

Wakasa não sabia se havia mais felicidade que aquilo. Quanta alegria no dia em que Tatsumi finalmente superou seu desgosto pelo sebo de sua pele, as noites em que ele dormia no banheiro segurando sua mão, beijos intermináveis e mais intensos, banhos longos com ambos juntos e colados, algumas briguinhas e os momentos de divertimento com os amigos.

Ambos muito satisfeitos e Tatsumi estava pensando muito recentemente. Wakasa até suspeitava o motivo, mas não sabia o que fazer. De alguns tempos para cá, Tatsumi vinha se interessando pela vida nas águas. Como era o mar, a interação com as criaturas, o passar do tempo, o que tinha para fazer... Muitas coisas!

Tatsumi já era formado e até tinha um emprego – não um muito bom ou que o deixasse muito feliz – mas estava trabalhando e era o que importava. Mas vinha sentindo falta dos momentos com Wakasa. Queria muito e muito mais estar com ele e poder fazer outras coisas que não fossem restritas ao banheiro ou ao fato de um ser um sirene e o outro um humano.

Nunca que ele poderia realmente viver na água com ele, mas vinha querendo experimentar o plano. Ao confessa-lo para Wakasa, ele ficou muito surpreso e o viu pensar varias coisas antes de responde-lo. Ao final, Wakasa decidiu seriamente conversar aquilo com ele.

Ambos levaram semanas nesta discussão e refletindo a decisão que, no final, estava acertada. Pais, irmã e tio avisado, demissão do emprego confirmada, o dinheiro foi deixado para ajudar Kasumi a pagar uma faculdade depois. Hisatora e ela se dispuseram a ajudar sempre que preciso e avisou que passaria a viver na casa. Se mudaria de seu miniapartamento e desfrutaria o ambiente – este não era muito longe do rio da cidade ou de transportes que poderia usar para acessar fontes de água.

Feito! De um rochedo, na beirada de uma praia, Hisatora e Kasumi iriam se despedir dos dois. Tatsumi olhava para baixo e sentia que estava assustado, mas Wakasa lhe deu forças.

— Confie em mim, vai ficar tudo bem. – aquelas palavras com o toque dele eram suficientes – Feche os olhos, isso pode te ajudar. – Tatsumi assim fez e se aconchegou no sirene.

Nem um segundo depois, os dois pularam. A queda na água foi forte, mas o real problema era a pressão. Iam bem fundo e a falta de ar estava agonizante, até pararem. Tatsumi estava quase desmaiando e teve certeza de ser beijado por Wakasa – no curso, ele sentia que, forçadamente, estava engolindo algo e apagou.

Quando abriu seus olhos novamente, estava em uma caverna submarina sendo cuidado por Wakasa.

— Wakasa!? – ele se levantou espantado e com dificuldade de se locomover – Onde estamos?

— Calma, Tatsumi. – Wakasa deu uma leve risadinha – Não reparou que estamos na água e você está respirando normalmente? – ele terminou e Tatsumi reparou.

—Nossa, Wakasa! Isso é fantástico! – ele admirava tudo a sua volta e teve certeza de passar a mão em algo liso e firme: sua cauda!

Ele ficou paralisado e sem reação! Estava com uma cauda azul anil muito bonita, na sua opinião. O poder de Wakasa realmente havia funcionado! Apenas uma vez na vida, uma sereia pode desejar um feitiço com seu sangue. Se o sirene não for forte e o desejo verdadeiro, nunca funcionaria – por esse exato motivo, o caso de Tatsumi e Wakasa era inédito.

— Essa cor para sua cauda ficou muito bem! Combina com seus olhos. – Wakasa sorriu dando uma piscadinha para ele – Venha, vou te ensinar a nadar com ela. – Wakasa o convidou e os dois foram pela água.

Tatsumi estava se divertindo muito! Que maravilha! Tinha liberdade de movimento e explorava minuciosamente os recifes de coral próximos. Dali em diante não se separaria de Wakasa e seria feliz com ele no mar. E ambos foram felizes nos anos que se seguiram.

Ambos juntos, escolheram uma caverna para morar, exploraram recifes, praias, correntes marinhas, animais, embarcações naufragadas... Tudo! Viam a lua na água, fogos de artificio de festivais, encontravam vez ou outra com Kasumi e Hisatora e viam com frequência o grupo de amigos marinhos. Realmente não dava para pedir por mais!

Inclusive se meteram em aventuras perigosas! Passar por baleias, florestas de águas vivas, chegar muito perto de territórios com tubarões e fendas submarinas escuras e explorar locais muito frios ou com presença humana. Muitas coisas que Wakasa sempre evitou, mas agora que estava com Tatsumi, qual seria o problema de os dois se aventurarem com cuidado e aprenderem com isso? O que realmente aprenderam foi que o amor os estava deixando idiotas as vezes e como fazer curativos.

Mesmo felizes, nem todos os momentos foram bons para Tatsumi. Seus familiares não viveriam como ele e vieram a falecer eventualmente. Na água, as lágrimas se perdiam e, nos braços de Wakasa, sua tristeza era dissipada. Muito se perdeu de sua vida humana com esses anos, contudo Wakasa fazia questão de sempre o apoiar, anima-lo de todas as formas e deixa-lo sozinho quando necessário para se acalmar.

Não exatamente sozinho, pois o companheiro loiro nunca estava longe e, quando ele se acalmava, sempre sentia as mãos de Wakasa deslizarem por seus cabelos médios e o abraçarem por trás. Outro problema que enfrentou foi controlar seu poder adequadamente! Era muito difícil e lhe exigiu muitas décadas sob a supervisão de Wakasa.

Tudo isso era o de menos agora. Tatsumi iria virar seu primeiro século como sirene, ou seja: estação de acasalamento. Que bagunça ele e Wakasa fizeram naquela caverna! A primeira estação sempre era a mais difícil de se controlar, mesmo que ele e Wakasa já tivessem avançado muito em certos aspectos, aquele dia foi indescritível.

Tatsumi tentava de todas as formas se controlar, sem sucesso. Ele até pediu para Wakasa prende-lo como fizeram no banheiro dele da outra vez, mas ele decidiu que não. Por que não corresponder ao sentimento do companheiro? Boa ideia, no começo. Os instintos dele estavam muito alvoroçados e, no final, Wakasa precisou prende-lo para que não se machucasse (estava tão agitado, que começou a bater contra as pedras na parede da caverna).

Tatsumi custou a se acalmar, mas acabou conseguindo. Estava exausto do esforço para faze-lo e um pouco dolorido em um braço que bateu. Ele foi solto pelo companheiro e se apoiou em seu colo para descansar – na teoria. Wakasa se ajeitou e o beijou com um olhar travesso – agora que Tatsumi estava mais calmo, podiam dar sequencia ao que tentavam fazer e foi exatamente o que fizeram.

Na virada de mais um dos séculos de Wakasa, o processo se repetiu. Wakasa já tinha muito mais experiencia em se controlar e era muito puro, no entanto, o relacionamento com Tatsumi não deixava isso tão fácil. Wakasa estava mais controlado, no começo e, no final, os dois não tinham mais o menor controle sobre o que faziam.

Os séculos que viravam fizeram os dois decidirem começar uma família. Tatsumi ainda tinha o feitiço com o desejo de seu sangue e, como sereias podem nascer de conchas especiais (não necessariamente precisavam de um casal sereia e tritão), ele e Wakasa foram em busca de uma dessas raras conchas e fizeram o desejo unido seus sangues (obviamente precisavam dos dois para o resultado que queriam).

A concha, antes pequena e prateada com preto, cresceu, mudou bastante com o tempo, assumindo coloração avermelhada e laranja, e dela os dois tiveram o novo membro da família: um tritão, cauda vermelha, cabelos laranjas ondulados, olhos verdes vibrantes, nomeado de Kaito.

Foi um imenso prazer criar o pequeno e introduzi-lo aos amigos e suas famílias em expansão. No mar eles permaneceriam juntos como sempre, mais próximos do que antes e vivendo o agora ao máximo.