Spring. As Sicatrizes escrita por LOOHOOLIGAN


Capítulo 6
Capitulo 6




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Ela sabe a verdade.

A noite em Boston. Massachusetts não está favorável para ela.

   “ Meu Deus, como chegou a esse ponto?” ela batalha interna para compreender, ao mesmo tempo que a redenção a toma. “não importa como eu vim para aqui, talvez eu... talvez eu se quer veja a luz do dia.”

Mas não importa.

 

Porque ala sabe a verdade.

 

     A única certeza que ela tem é que os graves além das paredes misturam-se aos agudos dos respingos de chuva que aumentam consideravelmente cada vez mais. Mas não que siará dessa com vida.

    Os vidros nos olhos dela acompanha cada movimento que ele faça, mesmo que os seus pulsos estejam acima da sua cabeça mantendo-a suspensa tirando seus pés no chão, impossibilitando-a de qualquer ação de defesa.

 

Ela sabe a verdade.

   E não importa o quanto seu coração dispare mais ainda parecendo ritmar a sua vida inteira, ou quanto seus lábios cortados pelo nervosismo de o assistir espalhar apetrechos sobre a mesa escolhendo qual usará nela.

 

Ela sabe a verdade.  

 

    A lâmina devidamente amolada é cuidadosamente manuseada por ele mediante passo a passo que ele dá, o medo nos olhos dela lhe dão mais e mais cede embora a melhor parte esteja por vir.

   O branco em seus dentes destacam-se quando os dedos dele trazem a alça da blusa dela para ter mais acesso a seu busto, ela não tinha percebido e apenas notou o pincel avermelhado na mão dele quando a ponta do mesmo fez um contorno na parte visível de seu seio esquerdo, que é coberto pelo sutiã, faz seu corpo estremecer.

 

Mas a pior parte ainda está por vir, pois assim que o pincel retornou para a mesa, uma pequena marreta veio em sua mão com o bisturi na outra.

   Ah elas sempre se debatem nessa parte, e é tão... excitante.

Os pés dela vão e vem, a voz soa estridente através dos seus lábios.

    A calmaria está junto ao rosto dele, ao contrário do dela. Porque entre as ondas dos seus cabelos claros, as linhas da testa formadas assim como as que contornam seus olhos brilhando, estão as sobrancelhas erguidas embora retas, nas suas pálpebras a maquiagem já está manchada além de erguidas, tornando suas pupilas evidentes com lábios abertos ela deixa visível o seu pânico.

 

Ela sabe que vai morrer.

 

    Os trovoes lá fora, se intensificam cada vez mais e pode-se dizer que os raios formavam um doce melodia para ele ao mesmo tempo em que a marreta faz com que a lamina do bisturi percorrer o caminho. Fazendo-a gritar, lutar pela vida mesmo que inutilmente.

Porque a partir do momento que ela se viu perdida, ela sabia que a morte viria. 

 

Mas não sabia que poderia ser doloroso. Tão doloroso.

 

Rebeca

 

5 dias depois.

Confesso que eu esperava mesmo que ele literalmente ficasse travado, mas por um instante esqueci completamente tudo e qualquer coisa. Tanto que, nem mesmo notamos a presença de mais alguém.

É como se fossemos apenas nós.

− O que está acontecendo aqui?

Agora.

 

     A câmera clica e imediatamente vejo como ficou a minha última fotográfica que complementa o álbum que me propus a fazer esses dias; os cristais refletem o dourado da luminosidade como um espelho infinito enquanto o ouro briga com a o azul quase cinza do céu. Fiz um grande sacrifício de acordar cedo antes de ir para o trabalho para acompanhar esse espetáculo na baia de Virginia Beach , mas valeu a pena.

 

    Através dos vidros escurecidos do meu carro posso admirar a paisagem de Quântico enquanto dirijo com calma.

O inverno está há pouco menos um mês de distância.

   As arvores já estão despedindo-se de suas folhas e cobrindo as ruas de Washington de amarelo, mesclado ao verde na grama e o chão e cobrindo os pinheiros de vermelho e laranja abobora. Inclusive a também, aboboras gigantes, caveiras e tudo mais espalhadas por toda a parte graças ao Halloween.

− Olha só quem voltou! – A mulher de madeixas claras e arma no coldre na calça preta assim como a blusa, se aproxima de mim com um sorriso entre as bochechas assim que me despeço das quatro paredes metalizadas −E ai? Como foi seu tempo sem a UAC?

    Ela me cerca em um abraço gostoso que eu retribuo. E logo recorro a cozinha do escritório, mais precisamente o café.

− Ah fiz tudo, e botei os hobbies em dia. Maratonei os espólios da minha serie que faltavam,  li os livros que eu listei e não podia, assisti todos os por do sol que eu queria, e bati todas as fotos que meu tempo em serviço não permitia.

− E ai, e os fantasmas? – Abaixo o olhar ao ouvir o seu sussurro para que o escritório em volta não ouvisse. Dou um gole generoso no meu café e fito.

− Coisas assim não se superam do dia pra noite e embora eu tenha ficado fora durante algum tempo, não significa que eu simplesmente esqueci. – Chacoalho os ombros e beberico o conteúdo no meu copo e ela confirma.

−Eu entendo.

    Por cima de seu ombro vejo uma figura inigualável com o tablete em mãos de óculos, vestido em preto e cordões cintilantes e sem esquecer de mencionar a flor destacando-se em meio aos seus fios claros.

− Eu não estou acreditando, você voltou! Estou tão feliz isso tem cheirinho de felicidade! – J.J sorri e eu cerco os braços ao redor do seu corpo assim que ela me abraça.

− Eu também Pen, eu também.

− Eu bem que queria botar o papo em dia mas o caso será barra pesada.

− Logo de cara? – Murmuro.

− Pois é. Oh, e o carinha do Texas?

− Ele não é do Texas, ele é daqui. – Corrijo com nós três na passarela superior. Pen faz uma careta engraçada com o queixo caído e olhos escancarados, devo dizer que J.J também um erguer de sobrancelhas bem sugestivo.

− Hum, então conversaram? – Aconchega as mãos nos bolsos da sua calça preta, e bem, não nego.

− Digamos que estamos nos dando muito bem.

− Quem é vivo sempre aparece. Saudade Back.

− Eu também Morgan, de todos vocês. – As luzes em volta refletem na mesa no centro da sala.

− Me conta, ele é legal? – Garcia cochicha e eu estico os lábios deixando-os em uma linha finas. – Por que eu sempre pergunto isso?

− Deixa ela respirar Penélope. – Rossi dá um sorriso torto.

− Desculpe Sr. Mas é mais forte do que eu, vocês são minha família então quando acontece algo assim eu não consigo evitar.

− Acontecer o que? – Sua voz chama a nossa atenção.

    

 

Spencer

 

 

O café ainda está quente quando termino de subir a escadaria e ao desferir alguns passos já consigo ouvir as gargalhadas na sala de conferencia. É, não estou tão atrasado assim.

−  Acontecer o que? – Ainda tenho os olhos de todos em mim quando tento me inteirar sobre o assunto.

− Um romance, geninho. Um romance. – Garcia tem o controle do telão em mãos ao me responder.

− Quem está num romance? – Insisto na pergunta ao olhar para todos os lados.

− A Rebeca. – J.J soluciona minha dúvida, confirmo rapidamente ao pegar um livro dentro da minha bolsa.

− Qualquer noite dessas nós poderíamos nos reunir, você poderia traze-lo para conhecermos melhor. – J.J sussurra com ou sem intenção para que eu possa ouvir, mas ela falha.

− Sim, claro.

E ai eu pigarreio.

− Temos um caso? – Ainda por trás do livro entre os dedos eu aguardo uma resposta.

− Bem, meu combatentes do crime, a polícia de Massachusetts precisam de vocês em Boston, acontece que... ai meu Deus! – Garcia contorce as bochechas em uma careta quando fotos do caso vem a mostra. E entendo porquê.

 

    As fotos estampa uma mulher com perfuração de um corte no peito, mais precisamente no coração dentre outros cortes.

  Desconfortável, Rebeca se move na cadeira, Rossi mesmo com a experiência que tem não deixa de surpreender-se com casos.

− E eu achando que já tinha visto de tudo. – Rossi murmura.

− Pela brutalidade das mutilações nos corpos pode-se dizer que ele vem aperfeiçoando. Encontraram outros corpos semelhantes Garcia? – J.J chega a mesma conclusão que eu enquanto se inclina para mais próximo mesmo que ainda esteja na mesa.

−Há uma semana antes encontraram mais um corpo com cortes parecidos no peito.

− Parecem hesitantes. Este pode ser o primeiro corpo. Já tem identificação. Garcia? – Cruzo os dedos sobre a mesa.

− Ainda não sabem garoto prodígio, e eu mesma procurei mas até agora nada.

− Arrancar o coração deve simbolizar a rejeição que ele sofreu e vê nessas mulheres, a sua real vítima.

− Então é só uma questão de tempo até ele ir atrás da sua real vítima. – Hotch completa o pensamento de Morgan. – Será uma viagem longa então, decolamos em 20.

Rossi, Morgan, e eu fomos na frente já pegando nossas bagagens.

 

Rebeca.

−É bom tê-la de volta.

− Obrigada Sr. – Agradeço.

− Mas tenho ressalvas.

− Quais são? – Me preocupo.

− Na verdade é só uma, você não irá para campo. Pelo menos por enquanto, até você se estabilizar melhor.

− Entendo Sr.

Entendo completamente, minhas atitudes em campo não estão sendo as melhores. Então por enquanto eu prefiro me afastar disso por enquanto.  

  

   O bege toma conta da pasta dos arquivos do caso destaca-se em meu colo por causa da calça flare azul aveludada que eu uso com minhas pernas cruzadas, por outro lado, o vidro da janela destaca minha blusa pelo tom claro enquanto eu apoio meu cotovelo nela ao mesmo passo que minhas piscadas pensativas também refletem de volta e eu relaxo naquela poltrona confortável.

   Já havia lido parte do arquivo deixando para ler o resto apenas quando a equipe o fizer ainda no ar.

− Oi? – Ela praticamente se joga a meu lado, com uma expressão exausta, praticamente malas embaixo dos olhos, e as linhas do seu rosto mais evidentes o que eu já tinha notado antes. Ela sopra o ar.

− O que foi? Estafa de trabalho extra em casa? – Sugira.

− Pois é, ele tem passado mal esses dias. Hoje que ele melhorou.

− Que bom.

− Então, como ficou Spenbeca? – Eu automaticamente sinto as curvas dos meus olhos aparecendo e embora tenha aberto a boca sou interrompida pelo Hotch.

− Vamos repassar o caso? – Engulo a pergunta mas anoto mentalmente de faze-la.

− Bom, o sadismo está claro aqui.– Com os arquivos por entre os dedos, nos aproximamos

− É, não tem situação razoável para tirar um coração de alguém. – O moreno ao lado de Rossi diz e eu concordo.

− Tendo uma quantidade tão exagerada de sangue sugere que o procedimento foi feito enquanto ela estava viva.

− Infelizmente só podermos formar um mapa geográfico se...

− Se ele matar mais alguém. – Hotch completa o pensamento de Reid. – O exame da toxicologia ainda não está pronto, então com certeza quando chegarmos estará, J.J e Rebeca vão ao legista e vejam o que descubram, Reid e Morgan vão para os locais de desova, Rossi e eu vamos para a delegacia, vamos torcer para que não aconteça novamente.

 

Autora

   De fato, não há outra vítima por hora. Mas arquitetar outra emboscada também não nada impossível.

  Contudo, enquanto este fato não se aproxima, não tem nada demais em assistir um filme ao computador após a manhã exaustiva que tivera mais cedo após lavar cada centímetro dos seus apetrechos, mas este está longe de ser um filme qualquer.

    “O pavor é tamanho, que elas se quer percebem” sorri no escuro constando seu pensamento enquanto retorna a cena pela, 12 vez talvez? O que importa?

   Reviver o momento é como degustar de uma nova refeição deliciosa para ele quanto o notebook rompe o breu do seu quarto. Impossível não sentir a saliva tomar conta de sua boca ao mesmo tempo que os gritos por sua vez saem do alto falante, mau pode esperar pela próxima.

   Mas a mera lembrança de sua primeira obra-prima causa uma cascata na boca ainda mais com algo tão exótico que havia ingerido naquele dia, quando mais jovem sempre cogitou como seria o sabor de algo diferente. E para ele o sabor foi inesquecível.

 

  

 

 

 

Spencer

Antes, costumava ficar confuso com a facilidade que Morgan tinha para com as garotas. E mesmo que ele tenha me explicado algumas vezes, eu continuo a não compreender.

− Ei? o que você tem?

— Do que está falando?

− Qual é? Esqueceu com quem está falando? Ficou incomodado com o fato das garotas terem falado sobre o namoro da Rebeca? – Sugere. Morgan é como o irmão mais velhos que eu nunca tive. Mas é como se fossemos, ele sempre sabe.

   Após nos separamos no aeroporto, cada dupla seguiu em carros separados para os seus destinos.  A indiferença até tentou soar o mais real possível, mas como esperava não funcionou. – Você gosta dela, não gosta? – Enquanto percebo que antes de chegarmos na área de desova, ainda no carro,

−  Eu não sei, eu estou confuso.

− Por que não fala com ela? – Eu arregalo bem os olhos quase que imediatamente.

− Você não ouviu o que as garotas disseram? Ela gosta de outra pessoa.

− Mas você não sabe, pode ser que sim ou que não, mas pior vai ser deixar isso corroer você e você parar no tempo, acredite em mim cara. – Deixamos o carro próximo ao isolamento.

− Você acha? – Extrapolo toda e qualquer possibilidade quando a parte superior da minha testa se evidencia. Será mesmo?

− Claro. Bom, com uma área tão movimentada, como ninguém vê nada?

− Ele sabe passar despercebido, chama atenção de suas vítimas o bastante para parecer invisível para os demais−  Constato.  Em torno tem o típico beco com escadas nas paredes de concreto aparente, latões grandes de lixo até mesmo.

− A ausência de sangue deixa o obvio bem claro, ele descarta as vítimas, porem as mata em outro lugar.

− Ele precisa de privacidade para isso, e talvez até seu lugar de tortura seja em uma área onde não exista uma vizinhança muito grande, sádicos sentem prazer na dor de suas vítimas e estou certo que anestesia está fora de cogitação, alguém teria ouvido algo.

− Tomara que J.J e Back tenham mais sorte.  

 

 

 

Rebeca.

− Tá legal. Que historia é essa de Spenbeca? – Continuo de onde paramos no avião.

−Ah, é coisa da Penélope.

− Ela sabe? – A loura ao meu lado me olha sugestiva enquanto dirige. – Claro que sabe.

− Por que o incomodo? Ela acertou?− No espelho do SUV preto a nossa frente vejo e sinto uma vergonha me tomar. Pronto, foi o bastante.

− Ela acertou! – Tento acabar com qualquer esperança que J.J tenha tido, mesmo que não pareça ter êxito.

− Não seja boba, J.J, gosto dele como qualquer um da equipe. – Como que de repente, é como se conseguisse ver partes do meu sonho de outro dia refletido nos vidros fumê da janela.   

− Então não tem porque você se incomodar com isso. – Da de ombros deixamos o carro no estacionamento.

 

 

− Marcas de amarras nos pulsos mas não nos pés, deve ter deixado-a suspensa durante a tortura. – Digo.

− Não encontrei nada nem no organismo nem no estomago dela, não comeu durante o período de cárcere.  – A Dra. Do outro lado da mesa diz enquanto temos o corpo da última vítima entre nós.

− E os cortes? Foram menos hesitantes? – Com as mãos nos bolsos, J.J questiona.

− Foram feitos com um objeto bem afiado desta vez, e do contrário da moça anterior, esses cortes foram mais firmes e precisos; duas pessoas não são o bastante para aprender a cortar alguém.

− Não. não são. J.J eu estou pensando, e se essas duas mulheres não forem suas primeiras vitimas? Já conseguiu identifica-las?

− Ainda não recebi os resultadas mas mandarei para a analista técnica de vocês.

− Muito obrigada. Dra. –  Nos despedimos da mulher morena de estatura mediana e expressão cansada. – Ele não pode ser adolescente, adolescentes não são tão meticulosos e tão organizados.

− Tá legal, mas tanta organização precisa de tempo e de caos para aprofundar o aperfeiçoamento.

 

Na delegacia reunimos as informações para liberar o perfil.

− O descon é um homem branco de 30 a 45 anos...

− Como sabem isso? −  Um dos policiais questiona o que Hotch diz e olha que estamos só começando.

− Com uma organização tão minuciosa  seria impossível ser causada por um adolescente. – Me prontifico a responder. – E além do mais, seu sadismo é puramente prazer em causar dor e mesmo que não aja abusos sexuais propriamente dito, o corte pode representar excitação com o ato.

− O ato de tirar o coração das vitimas pode retratar que alguém lhe causou uma dor tal qual.

− Alguma ideia do que ele faz com eles?

− Não foram encontrados nas cenas do crimes então e varias possibilidades podem ser cogitadas, ele pode ele os guarda como troféus ou até mesmo come-los. – As reações foram as mais esperadas, de nojo, de asco, de olhos trancados e caretas de enjoo com o que Morgan acaba de dizer. Quem pode os culpar?  

− Ele também deve ter um utilitário ou uma van para transportar os corpos das vítimas.

− Procurem nesta área mesmo que parcialmente podemos cogitar a sua zona de conforto. – Reid indica a área demarcada no quadro com um pincel vermelho.

− Ele é elegante e sabe ser gentil a ponto de saber se portar perante a outras pessoas não deixando rastro.

− Pedimos a todos que tomem cuidado. Por hora é só. – Hotch e J.J encerram a coletiva de imprensa.

 

− Diga Penélope? Já sabe quem são as vitimas?

− Oh mamãe urso você sabe que sim, A que pensávamos ser a primeira vitima mas que agora não é mais, é Alex Mith, e a segunda é Carla Liz, então eu investiguei e descobri que a irmã de Liz, Isabela, prestou queixa a um mês atrás para o então marido por agressão e até havia uma medida de restrição contra ele.

− Qual o nome dele, Garcia? – O Hotch pede com  impaciência.

− O nome dele é Jessy Dunkan, ela entrou com o pedido de divorcio há duas semanas.

− Deve ter sido o gatilho. – Aponto.

− Ele foi acusado de depredação na juventude.

− Aposto que se formos avaliar esse completou a tríade homicida.

− Com certeza Rossi.

− Estou mandando os endereços da casa e da pequena fazenda que ele tem um pouco distante da cidade.

− Estamos indo.

 

Apenas Reid e eu ficamos na delegacia.

 

− Você sabia que shipam a gente? −  Com os olhos sugestivos e quase que um ponto de interrogação no rosto, Spencer me olha por cima dos ombros e do colete preto e a camisa clara ainda com o pincel em sua mão, demarcando a área no mapa.

− O que é Shipar? – Inflo as maçãs do meu rosto ao sorrir; Por meio segundo eu havia esquecido que linguagem de internet é a criptônita  dele. Porque afinal, ele não gosta.

− Shipar é quando as pessoas unem os nomes umas das outras. – Amenizo. Sabendo que é meia verdade.

− E por que fazem isso? – Retraio os ombros.

−  Coisa de jovens Reid.

 

Logo fechamos o caso, o perfil. Estava certo, encontraram outros corpos com datas aparentemente distintas em sua casa. E retornamos para Quântico.

 

 

É tão... estranho.

Mesmo não estando frio, acho melhor aconchegar as mãos dentro dos bolsos enquanto a paz em volta é apenas quebrada pelo cantar dos pássaros e o assovio do vento que espalha os meus cabelos.

“Julian Willians” está diante de meus olhos escrito em uma lapide grande.

   Embaixo do longo verde que tem de sumir de vista, estão entes queridos de tantas pessoas.

Isso é estranho.

     Estranho é o fato de que eu não ter vivido uma vida normal com ele, ouso dizer que éramos estranhos mas eu achei que ele merecia um enterro decente. Como qualquer um.  Liguei para Pen procurar informações sobre ele, o que fizera, de onde era. É como trazer as memorias vagas a tona ao mesmo tempo que retomo as novas. Conhecer um conhecido desconhecido. Meu pai foi uma vitima disso tudo assim como eu e muitos outros.

   As datas para os julgamentos também já estão marcadas. Soube pela intimação que recebi a poucos dias em casa. Estar cara a cara com James será algo que não tenho a menor ideia. Todavia será um prazer colocá-lo onde merece.

    Minha infância não foi uma perfeita maravilha é verdade, de pé para a lapide, faço-me a mesma pergunta que venho me fazendo desde o último que tivemos, nada sutil devo admitir, se eu ainda guardo algum tipo de sentimento por ela. Qualquer que fosse. Raiva no lugar do que realmente deveria estar dentro de mim?  irá? Ressentimento por não ter tido um família? Infelizmente tenho a mesma resposta que eu tive durante esses dias. Não sei. A verdade é que eu tirei a minha profissão disso, talvez a única coisa boa. Infelizmente custou tão caro; engulo em ceco me recordando dos planos que eu tinha para trazer minha irmã pra cá comigo, para enfim vivermos uma vida digna.

   Me “despeço” do meu pai quando percebo que falta pouco para as 18h; eu preciso mesmo ir.

 

   Sapatos vermelhos de salto alto, um vestido preto confortável com mangas fofas, e um rabo de cavalo elevado. É assim que me vejo refletida no espelho. Confiro meu look no espelho com a mão na cintura e logo a campainha soa.

− Boa noite.

− Boa noite, você esta linda.

− Obrigada. Eu ainda não estou pronta, pode aguardar um pouco mais?

− É claro, inclusive eu queria mesmo conversar com você. – Eu fecho a porta.

− Do que se trata? – Me vejo parada em meio a minha sala com Adam segurando em minhas mãos e olhando dentro dos meus olhos.

−Queria que fosse minha namorada.

Sinceramente, este fato me pegou desprevenida.

− Oh nossa, isso realmente me pegou de surpresa. Eu... posso pensar?

− Logico. – Ele sorri confiante e eu termino de me arrumar.

Bem, não seria necessário apresenta-lo a todos porquê de fato eles já o conhecem, e não demorou muito para que entrasse na brincadeira da equipe. Exceto um dela. Além do mais, eu não consegui evitar os devaneios. Seria mais um passo.

Por um breve tempo, tudo tão rápido. Precipitado.

 

 

 

  Por um breve momento me dirijo ao banheiro feminino. Sem dúvida é um grande passo, um grande passo mesmo.

   A água corrente desperta meus pensamentos mas logo seco-a com o papel toalha o qual logo me desfaço.

 

    No entanto, antes mesmo de chegar a área de onde a equipe está, vejo uma silhueta familiar em meio ao escuro porem as luzes em volta.

Como se estivesse me esperando.

Sou o mais concisa e direta possível

− O que você tem?

− Desculpa, o que disse?

− Perguntei: o que você tem?

− Por que perguntou isso?

− Você está tão quieto.

− Eu não deveria ter vindo. Com licença.

− Por favor. Espera.

— Esperar o que? Esperar que no meio tempo desse momento tão afetivo vocês assumam algo mais serio? Sem ofensas Rebeca, não obrigado.

− Você está com ciúmes?

− Quer mesmo saber?

 

Impulsiva eu sei, mas foi mais forte do que eu  puxa-lo  pela mão, como da primeira vez que fiz isso. Mas ao oposto do que fiz anteriormente, a distância foi inevitavelmente cessada. Não sei por que, ou como, ou quando, talvez uma força além das minhas capacidades de controlar qualquer ato que seja.

     Ele realmente é mais alto do que eu, mas os meus saltos ajudaram bastante e é como se fossemos formas um do outro. Meus olhos inesperadamente fecham-se com a adrenalina no nível máximo assim que um toque diferente toma a superfície dos meus lábios.

Confesso que eu esperava mesmo que ele literalmente ficasse travado, mas por um instante esqueci completamente tudo e qualquer coisa. Tanto que, nem mesmo notamos a presença de mais alguém.

É como se fossemos apenas nós.

− O que está acontecendo aqui?

 

 

 

−  O julgamento está chegando, como você está? – J.J quebra o silencia. Quanto a mim, eu ainda permaneço inerte nas profundezas dos meus pensamentos. – Rebeca.

− Desculpa. Eu não ouvi.

− Eu perguntei como você está com o julgamento chegando. – Os vidros escuros quase impedem a entrada das luzes entorno do carro adentrarem o mesmo.

− Eu estou me preparando mas com certeza não será fácil. A cada momento que esse dia se aproxima, eu fico mais ansiosa. – Admito. –A equipe toda vai, não é?

−Claro. – Isso foi tudo o que dizemos no caminho.

     Repouso a cabeça na janela, sentindo a culpa começar vir e até mesmo confusa, confusa pelo beijo e culpada por, mesmo que eu não tenha dito que aceitava, mas tinha alguma coisa. Mas... impossível não tocar nos meus lábios.  Ainda sinto os seus nos meus.

− Obrigada por me acompanhar até em casa J.J – O som das chaves quebram o silencio do apartamento assim que as coloco sobe a mesinha perto da porta.  Com as mãos no casaco ela adentra o cômodo junto comigo.

− Não tem de que. – Suspiro alto o bastante para que ela ouvisse.

− Eu preciso de água, você também quer? – Sugiro e ela acena com um sorriso sutil. Ela me segue em meio aos moveis da sala.

− E agora? Pode dizer o que houve? – Apoiada no balcão, ela pergunta, debruçada ao balcão.

  Lhe cedo o copo e ela um pouco sem jeito.

− Adam me pediu para ser namorada dele.

− E isso é bom? Espera. Por isso você estava distante? – Sugere com o copo entre os dedos.

− Era. Por isso eu não sei se é bom ou não. – Retornamos para a sala. 

− Então você não está segura do que quer? – Envergonhada e com bochechas coradas, me recuso a encara-la e mantenho a cabeça abaixada o bastante para quase sentir o queixo em meu peito. Olho para o vidro da janela e me volto para ela que mantem-se de pé.

− Não, ainda mais... – Inconscientemente, toco meus lábios com as pontas dos dedos ao mesmo tempo que abraço a mim mesma. Baixinho, J.J sorri.

− Ainda mais depois de um beijo daqueles? – Seu sorriso sugestivo me deixando mais embaraçada ainda. – Hum. Você parecia muito bem.

− Ainda mais que trabalhamos em estados diferentes.

− Ah isso não é desculpa. Eu e Will sempre fizemos isso. – Ela nega com a cabeça. – É do Spence que você gosta, admite.

−Eu estou muito confusa, foi impulso eu sei.

− Mas aconteceu. – Diz.

− Ainda bem que quem viu foi você, seria bem pior Morgan ou pior. A Penélope. – Ela sorri comigo.

− Com certeza seria mas, − A encaro e ela para por um instante. – e quanto ao Reid?

− O que tem o Spencer? – As curvas contornam os meus olhos assim como minhas sobrancelhas.

− Olha só. Ele também sente algo por você. – Me espanto com isso.

− Como você sabe?

− Ser perfilladora tem as suas vantagens.

− J.J você deve estar Imaginando coisas.

− Será? – De sobrancelha erguida e com um sorriso de canto. Ela diz sugestivamente.

 

 

  A insônia me acompanha madrugada a dentro, mesmo que eu tentasse dormir, não consegui. E no meio da madrugada mesmo mando a mensagem embora ele não fosse responder. “Me desculpe a hora, mas preciso falar com você antes que você embarque para o Texas. É importante.” Com o aparelho ainda em mãos, a luz da lua adentrando as fendas das janelas e ainda sentada na cama. Eu reflito no que dizer.

 

− Entra, − Lhe dou passagem assim que abro a porta,  a mim ele me parece um pouco abatido, as olheiras presentes em seu rosto me faz pensar que eu não fui a única a dormir tarde. − desculpa pela hora que mandei a mensagem, mas eu não poderia deixar você ir e dizer pelo telefone.  – Frente a frente, com as mãos nos quadris e eu respiro fundo.

− Você está começando a me deixar apreensivo. Do que se trata?   

Em um simples erguer de braço, indico o sofá para que sentemos. É o que fazemos.

− Primeiro, eu queria pedir desculpas por ter saído daquele jeito. – Com o os braços sobe a calça, não compreendo porque minhas mãos soam e as esfrego.

− Mas você está bem? – Aceno antes de responder mesmo.

− Eu estou bem. – Mordo o canto do meu lábio antes de encara-lo novamente. − Será que não estamos indo rápido demais? −  Ele com os olhos semicerrados, parece não compreender onde eu quero chegar.

− Como assim?

− Rápido demais, nos conhecemos não tem tanto tempo assim e mesmo que mantemos contato a distancia, não é a mesma coisa.

− Mas isso é porque trabalhamos muito, não é? – Confirmo.

− Eu sei, mas como vamos manter isso? − Decepcionado, ele parece em fim entender o que eu quero dizer. Nos levantamos quase que ao mesmo tempo. − Ontem você me fez uma pergunta. – Seus olhos me dizem que ele já sabe a minha resposta. – Eu sinto muito, eu não posso.

− Se for pela estabilidade, isso é o que fazemos ao longo do tempo.

− Mas quanto tempo? Olha, eu tenho uma história muito complicada, e eu não quero que isso afete você. – Ele se aproxima de mim e eu permaneço onde estou.

− Complicado como? – Sinto meus ombros encolherem e minha cabeça pesar. – Se você não confiar em mim o suficiente, nunca vamos poder ultrapassar isso.

— Ai que está, eu não sei se consigo fazer isso. Confiança deve ser conquistada. – Sinto a saliva descer com um pouco de dificuldade. − É algo realmente muito sério. Por enquanto, como estamos, você com a sua vida lá e eu aqui, está indo bem. Mas esse passo... embora não pareça, é um passo para algo a mais.

    Tombando a cabeça para o lado, com os olhos mais leves.

− Eu entendo. Você não está pronta pra isso. – Confirmo com a cabeça.

   Admito que de certa forma, isso trás um alivio para mim.

 

 

 

− É verdade que a senhora descobriu que a senhora Paloma e o Sr. James, tinham algo a ver com o crime após lembrar-se dos coquetéis que eles davam? – No banco das testemunhas.  Não posso deixar de notar os cantos dos lábios puxados levemente para baixo demonstrando nojo. Mesmo que disfarçadamente enquanto ambos me encaram.   O dia 15 de Dezembro não demorou muito a chegar  assim, como o julgamento. Resumidamente, não vi mais o Adam, como se nunca tivéssemos nos conhecido. Como se nunca tivesse havido nada. Em contra partida, aquele beijo ficou na minha cabeça durante algum tempo sim. Mas foi pouco tempo, e em meio a risos um pouco de nervosismo, Reid e eu nos entendemos e aquilo não passou de um mero fato. Nada mais. Embora. Muito embora, sinceramente, aquele beijo permanece comigo até então.

 

− Eu protesto meritíssima, o promotor quer induzir a testemunha a culpar a minha cliente.

− Está bem, irei reformular a pergunta. Agente Rews, dos coquetéis que os réus lhe davam?

− Sim, é verdade. – O apoio nos olhos da minha equipe me passa confiança.

− Então você e a sua equipe se basearam nisso? – Agradeço o fato do promotor ter questionado primeiro pois não deixo de perceber que com certeza o advogado de defesa questionaria isso.

− Não, trabalhamos neste caso como fazemos em qualquer outro e posteriormente, confirmamos esse fato.

− Pode nos dizer, agente, quando foi a primeira vez? 

Respiro fundo.

− Não fazia muito tempo... – Aperto a boca me concentrando em minhas lembranças. Começando a ouvir minha própria voz ecoar em pleno o ambiente.  −  E eu costumava chegar em casa perto das 5h. comíamos, assistíamos um pouco de TV, como uma família cotidiana quando não haviam turbulências. No entanto. Elogios inofensivos começaram, me deixando sem jeito mesmo que eu não soubesse direito do que se tratava. −Tombo a cabeça para o lado.   −No meu quarto, durante o anoitecer, eu comecei a sentir que; mesmo que de algum modo, estava sendo observada. Bem. Mesmo que confusa eu comecei a pensar que fosse coisa da minha cabeça. Apesar disso eu conseguia dormir embora um perfume diferente adentrasse o meu quarto. – Soo decisiva. J.J me trampaça confiança refletida em seus olhos, Hotch me pessa segurança e apoio assim como todos, mas ao contrário de todos, Spencer me transponha afeição e cuidado. Junto os dedos e engulo em seco e prossigo. −Contudo. Um dia tudo mudou.

 

− O que você faz aqui? – A luz estava baixa mas eu reconheci aquele perfume forte antes de ouvir a maçaneta da porta fazer a mesma fechar. Com  os dedos apertando o lençol eu encolhi as pernas na cama, sentindo algo ruim.

− Ei? Eu só vim ver você. – Um frio percorreu cada centímetro de mim enquanto seu toque percorria meu rosto. 

− O que você quer? – Minhas pequenas sobrancelhas se retraíram bem como o sorriso brotou por entre seus dentes que rompiam a escuridão do quarto que só era rompida pela janela que estava entre aberta.

   Tão frio, tão agonizante... tão... confuso.

 

  Os poucos centímetros que seus lábios estavam dos meus fizeram meus ombros se retraírem de modo que minha cabeça ficasse para baixo, mas o seu toque frio ergueu meu rosto.

− Foram muitos dias assim.

− E quanto a Sra. Paloma? Como ela era como mãe? Ela chegou a saber?

− Sim, mas não teve intuito algum de acabar com o que acontecia.  Inclusive, em um período ela costumava dar os coquetéis que achamos nos exames da minha irmã.

− Quando foi a ultima vez que você a viu com vida? – Com certeza, de todas as perguntas, essa fora a pior.

− Ela... – A ânsia pelo choro felizmente foi contida pela saliva que eu tive que engolir. – iria completar 10.

− Ninguém nunca desconfiou quando havia confraternização em sua casa? – Eu nego.

− Nunca. As pessoas são facilmente enganadas.

− Sem mais perguntas excelência. – Um sorriso de vitória, mesmo contido, brota no rosto do promotor antes que ele possa virar-se e juntar-se a parte acusadora.

   Nem mesmo faço ideia dos efeitos de declarar tal desagrado da minha vida, contudo, prometo a mim mesma que será a última vez que o farei. Porque revirar essas memorias apenas fazem com que a culpa me consuma.

− O advogado de defesa deseja fazer alguma pergunta a vítima? – O juiz indaga.

− Claro excelência. – Seu andar arrogante sobre sapatos cintilantes não me aflige, nem mesmo a confiança que ele transmite ter ao se aproximar de mim. – Como teve tanta certeza? Como soube como sua irmã estava se sequer estava próximo a ela? Abandonando-a?

− Após sair de casa, eu precisei compreender o que aconteceu, e durante algum momento, me questionei se de fato a culpa era minha. Foi ai que resolvi estudar o comportamento humano o que posteriormente me trouxe para a U.A.C.  – Cruzo os dedos. – Contudo, em um retorno de viagem de trabalho , eu recebi uma ligação.

− De quem?

− Dá policia local, avisando que ela havia morrido.

− Como eles encontraram você? – Insiste.

− Uma busca simples ajudou nisso. Mas a partir do momento que deixei a casa de Paloma, eu nunca mais a vi.

   Um pouco intrigado; sobrancelhas erguidas, mão no queixo e lábios entortados, ele anda de um lado a outro do recinto.

 

Esta pergunta de fato encrava em meu peito como se fosse a faca mais afiada do mundo. Mas não demonstro.

− Você diz que é seu perfil que definiu que meus clientes são os assassinos?

− Foi de grande importância sim.

− O fato é que Analise Comportamental não é nada mais, nada menos, que um chute, uma dedução.

− Acontece Dr., − com todo o respeito – Eu mantenho a firmeza tanto na voz, quanto em meus ombros devidamente alinhados;  e devo acrescentar que quase não pisco ao mesmo tempo seus olhos fulminantes,  desejam me queimar viva assim que traços os dedos uns nos outros sobre a madeira amarelada ao lado do juiz. – Analise Comportamental foi de grande ajuda sim, assim como em outros casos, − Pigarreio sem tirar os olhos da plateia significativa que está assistindo. Passei noites e mais noites ensaiando, escrevendo ou mesmo imaginando este momento. No entanto não é a mesma coisa.  – mas o que foi decisivo foi a convivência com os descons resolveu o caso.

 − Se você tinha tanto envolvimento com os suspeitos, por que permaneceu no caso?

 − com todo o respeito. Mas já passou pela sua cabeça como é ser assediada em qualquer parte onde quer que vá? De outras vítimas que sofrem diariamente diversos abusos e ainda assim não denunciam? Eu sei, infelizmente, ainda existem países inseguros para mulheres como a Índia e outros do oriente médio. Tanto a violência física, quanto a sexual.

− Protesto excelência, é redundante ao caso. – O advogado tenta contornar.

− Aceito, onde a testemunha está querendo chegar?

− Quero dizer excelência, que muito embora devo ser grata ao meu passado por ser decisivo para quem eu me tornei hoje, minha irmã entrou para está lista nada seleta. Nossa equipe descobriu que ela estava gravida dele, e é por ela. Por pessoas como eu que são violadas, são infligidas, que criam asco do próprio corpo e dificilmente conseguem se erguer, ao contrário de mim. Que eu peço justiça. – Fecho a garganta para que o choro não se consuma. − Não devolverá a vida nem de minha irmã quanto as vítimas, mas é o mínimo que elas merecem; isso é tudo. Obrigada.

    Festividades silenciosas dos meus colegas me acolhem assim que deixo o tribunal, e adentro um corredor.

   De fato não haver ninguém transitando por ali parece fazer com que eu possa ouvir meus próprios pensamentos desordenados enquanto abaixo a cabeça apoiando em meus joelhos enquanto respiro fundo, por um instante, ouço a porta a qual eu sai anteriormente, abrir-se; mas se quer levanto a cabeça. 

− Você tá bem? – Minha cabeça parece pesar uma tonelada. Mas mesmo assim eu o encaro e sei que por trás dos óculos ele também me observa.  Apoiando as mãos sobe a calça escura, rapidamente me recomponho colocando uma mexa de cabelo atrás da orelha.

− Tó. É que não foi bem como eu esperava.

− Compreendo. Vai ficar para ver a sentença? – Nego com a cabeça enquanto os bolsos da sua calça recebem suas mãos.

− Não Spencer, eu acho que sei qual será. E embora eu tenha feito de tudo pra que resolvêssemos o caso, eu não estou entusiasmada para ver isso. – Suspiro recebendo a luz que atravessa o vidro da janela grande na parede. – Embora eu já tenha uma noção do que vão decidir.

− Você foi muito bem.

− Obrigada. – Retribuo o seu sorriso ao inflar das suas bochechas.

− Não a de que. Quer ir para onde agora? Se é que posso perguntar. – Me encara sugestivamente.

− Não sei, só não quero ficar aqui. – Olho disfarçadamente para os lados franzindo os olhos.

− Então vamos. – Saímos quase que imediatamente após nos despedirmos do restante da equipe.

 


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