Spring. As Sicatrizes escrita por LOOHOOLIGAN


Capítulo 5
Capitulo 5




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Rebeca

24Hs Depois  

− Por favor, fique de olhos abertos, não desmaie. Fica comigo. – Se tem algo que pode transformar meros segundos em horas angustiantemente intermináveis é o desespero. – A ajuda tá vindo, só fica comigo. Por favor! – Acolho sua cabeça com cautela fazendo de tudo para que mais nada aconteça olho para os lados e tudo que vejo é a escuridão da noite  beijando  o solo.

Minha respiração descompassa com facilidade à medida que meu coração disritmia mais e mais. Minha culpa, tudo minha culpa. Mas quando seus cílios inferiores e superiores se tocam é como se o chão abrisse embaixo de nós. –Não!

6hs mais tarde

− Entre. – Seu olhar serio como é sempre mas mais repreensivo. Eu já esperava por isso. Vim preparada para isso. – Feche a porta, por favor. – Obedeço seu comando e sinto meu peito doer com o que pretendo dizer e sei o que vou ouvir.

− Antes que diga algo Sr. Eu quero dizer uma coisa. – Ele aguarda minha resposta em silencio com os dedos cruzados sobe alguns papeis os quais certamente ele terá de assinar. – Eu sei que fui imprudente. E por isso eu abro mão do meu cargo na UAC.   

Hoje

− Adam. É sua vez. – Seu olhar brincalhão ergue as sobrancelhas para mim aguardando minha resposta enquanto deixa o copo de vidro pela metade sobre o balcão.

− Justo. – Esvazio meu copo já que já estava abaixo da metade. – É Rebeca. – Deixo o pagamento da minha bebida no balcão. Se eu ainda quisesse chegar em casa com meus próprios pés e um tiquinho que fosse de dignidade, é melhor parar por aqui.

− Você não costumar frequentar festas, não é. – Comenta quando já estamos do lado de fora, no estacionamento.  Dou de ombros.

− Ah, foi só para espairecer. Não é algo que eu sempre faça. – Comento. −o que faz na cidade? Você é daqui? −Pergunto descansando as mãos dentro dos bolsos. O ar puro a nossa volta é agradável mesmo estando um pouco frio.

− Na realidade não. Eu vim apenas passar o fim de semana, eu moro no Texas .Mas minha família é daqui.

− Compriendo. − sei que é apenas para o trabalho, mas não consigo evitar. Seu andar firme, cabeça sempre para cima, me faz ver que é confiante. Ele sorri com o que digo.

−pois é. É você? – quando ia replicar, fomos interrompidos pelo meu celular.

“ De Hotchner: Temos um caso”  Meus lábios inferior e superior tremem e o ar deixa meu corpo bruscamente quando constato. Falando no assunto...

− O que houve?

− Ossos do oficio. – Sorrio. Ainda bem que eu não bebi muito. – Eu realmente preciso ir, foi um prazer conhecer você, Adam. – A palma da sua mão cobre a minha assim que nos cumprimentamos.

−Igualmente, Rebeca. – Sutilmente sorrio. E mesmo a poucos passos posso ouvir seu telefone tocando.

Quando a gente pensa que vai ter um pouquinho de tranquilidade....

Dou uma passada rápida em casa para uma ducha e preparar a mala.

Jennifer

   Ao longo do meu crescimento eu sempre presei a importância da família. E quando minha irmã nos deixou... passei a valorizar mais ainda.

  Com o tipo de trabalho que eu tenho, desfrutar da companhia dos que eu amo mesmo que por poucos minutos, é uma graça. Selo a testa do meu pequeno com um beijo após faze-lo adormecer tendo meu marido como plateia.

− Você tá tão calada desde que chegou. – Will observa enquanto encosto a porta do quarto de Henry. Caminho pelo corredor e ao chegar na cozinha logo encho uma xicara de café.

− Eu estou bem, só estou com saudade do meu filho. – chacoalho os ombros com a xicara entre os dedos com os cotovelos sobre a mesa.

− Caso difícil? – Apenas confirmo. – Pode me contar? – A conversa que tive mais cedo com Back me fez questionar. A família é a base para mim, não sei nem o que faria se... que caminho árduo que ela percorreu até aqui. Conto a Will resumidamente sobre o caso e posso sentir uma leveza no meu coração mesmo que parcial. Dou um último beijo no meu filho e vou dormir.  E Will e eu finalmente tivemos um momento só nosso.

   Resmungo antes de abrir os olhos, e ver a mensagem de que o final de semana será fora de casa.

Spencer

De algum modo, mesmo que seja estranho, ter Rebeca nos meus braços parece ter despertado algo. isso atravessa os portões da insanidade. porém, seja o que for, ela estava desacordada. e ponto. 

Dorimir não é problema quando se tem um dia tão cansativo de trabalho. 

   De olhos fechados; é como se eu não quisesse abri-los.  Eu sento o doce perfume feminino que espalha-se sem demora pelo quarto, tenho a sensação de estar acompanhado além de que sons repetitivos dão a entender que não estou sozinho.

− Pode abrir agora. – Um sopro de voz chama minha atenção. Cuidadosamente, observo-a dos pés a cabeça.

    Um breve fio de luz amarelada que está por todo o ambiente atravessa entre os saltos finos dos seus sapatos altos, meias pretas, tais como os seus sapatos, impedem que a real tonalidade da sua pele aparecessem e todo o resto está coberto por um sobretudo que termina nos seus joelhos é selado pelos botões brilhantes assim como o cinto no meio da sua cintura e um V no seu colo me deixa um pouco inseguro me fazendo pigarrear um pouco mais alto do que eu esperava.

   Suas unhas vermelhas desatam o cinto enquanto seus passos até mim diminuem a distância entre nós. Antes mesmo que ela chegasse na cama, ela despede-se da parte externa que a cobre após deslizar o tecido por seus ombros e logo o mesmo já está inutilizável no chão; mas confesso que a luz enfraquecida, as ondulações no cabelo que tem em seu rosto e a máscara cheia de contornos brilhosos e predaria em volta do seu rosto e o chapéu preto, tornam-na inidentificável.

    As batidas desordenadas do meu coração me assustam assim que abro os olhos, pressiono os lábios e o colchão macio sustenta meu peso.

     O que diabos acabou de acontecer?

    As gotículas de suor molham meus dedos ao mesmo tempo que passo as mãos pelo meu rosto sentindo-o contorcer-se de todas as maneiras possíveis enquanto estou de olhos fechados, com o queixo apoiado nas partes superiores das minhas mãos pisco algumas vezes mantendo os lábios entreabertos enquanto assisto as imagens do sonho passar diante de mim.

   O que diabos acabou de acontecer?

Minha pergunta mental foi interrompida pelo aviso de mensagem do meu telefone na pequena cômoda ao lado da cama. “De Hotchner: Temos um caso”  

− Adeus fim de semana. – Murmuro antes de levantar.

− Duas vezes no mesmo dia? – Morgan resmunga juntando-se a mim, Rossi e Penélope.  – Se continuar assim eu vou exigir um aumento. – Sinto minhas maçãs do rosto inflarem e estico os lábios em um sorriso.

− Me avisa se isso funcionar. – Rossi menciona erguendo os olhos. Olho para o elevador quando ele abre novamente. Me deparando com J.J e Rebeca. J.J está sorrindo de algo e Rebeca está com a face avermelhada e aparentando estar sem jeito ela coloca uma mecha atrás da orelha.

− É o karma do trabalho, mas vão conversar outra vez? – J.J questiona com um riso brincalhão no rosto.

− Não. Não trocamos telefones. E você? quantos telefones? – Arqueia as sobrancelhas para Morgan e ele desvia o olhar e sorri. – Ah vamos lá. Você foi engolido pelo chão nos primeiros dez minutos.

− Ah é? E você? De quem era o tal número de telefone? – É como um jogo de tênis. Ela sorri parecendo tímida.

− Vamos começar?! – vejo Hotch no andar de cima após girar o pescoço levemente, acompanhado por alguém que não conhecemos. Ou era o que eu imaginava.

Rebeca

− Adam? – Se eu dissesse que não fiquei surpresa estaria mentindo. Mesmo entriada. Acompanho a equipe até a sala.

Ainda estupefata sento ao lado de Rossi ao me juntar aos demais na mesa.

− Onde vamos? – Spencer pergunta.

− Ao Texas. Este é o detetive Adam Torres,  estava passando o fim de semana aqui mas a investigação cabe a todos de lá então ele vai conosco. Garcia... – Adam permanece ao lado de Hotch enquanto Penélope mostra imagens grotescas.

− Sim senhor. Bem, duas prostitutas  tiveram o corpo... bem vocês podem ver nos seus tablets – Alguns cortes nas costas das vítimas deixam claro o sadismo. −  e morreram com um tiro na cabeça e uma criança morreu carbonizada horas depois. Mas apenas um dos corpos foi encontrado pela minha, um a tarde, outro ao anoitecer.

− Como sabemos que é o mesmo elemento? – Questiono.

− Pelos cortes, veja, o menino de 3 anos também tinha alguns cortes nas costas. Aqui diz que foi desovado em um terreno baldio. – Morgan a minha frente responde. – o que impressiona é a mudança de método. Por que?

− É o que temos que descobrir. Temos três horas para chegar ao Texas. Partimos em 20.

− Então seu trabalho no Texas é de policial, parabéns! Sabe se disfarçar muito bem. – Comento descontraidamente acompanhando-o logo atrás dos demais que iam mais a frente na pista de voo. – É, eu estava mais pra lá do que pra cá.

− Em minha defesa. Eu não costumo beber em serviço. Eu realmente venho aqui no fim de semana acontece que a minha unidade está lidando com esses casos mas estava de folga então consegui vir mas pelo jeito...

− Vai voltar de novo. – Subo as escadas antes dele, somos os últimos a entrar e em seguida, revisamos os casos.

Seriam três longas horas daqui até o Texas, talvez eu tivesse um tempinho para um cochilo pelo menos já que eu não dormi a noite toda. E exatamente o que acontece quando deixo meu tablet de lado e sinto meu corpo relaxar na poltrona aconchegante vendo nuvens tão próximas minhas pálpebras logo começam a pesar e o cansaço me envolve completamente.

Já não havia mais ninguém na UAC. Aparentemente era fim de turno e eu estou exausta. Sorrio quando vejo seus olhos assim que adentramos o meu carro.

−Você está chateado? – Questiono. Ele reflete sobre algo.

− Esta ficando cada vez mais difícil de esconder para os demais.− Comenta apreensivo, ou mais aborrecido do que ansioso. – A verdade é que eu não quero mais fingir. – A seriedade no seu rosto jovial o deixa tão... fofo? O alivio toma o meu peito como se respirar fosse algo leve. Toco a posterioridade da sua mão e seu olhar é gentil e Soave para mim.

− Eu também não. – Deslizo meu polegar pela sua bochecha ternamente vendo seus olhos fecharem. O espelho do carro no para-brisa assiste é nossa entrega sutil a um beijo caloroso fazendo-me selar os olhos também. E de modo automático seus cabelos não tão bagunçados como aparentemente são, confortam meus dedos.

Por um momento. Não estávamos nem ai para o que acontece a nossa volta. Logo minhas pernas se ajeitam perfeitamente sobe seu colo sem desconectarmos do beijo.     

− Rebeca estamos no meio do estacionamento. – Tenta argumentar mas sua voz soa tão distante quanto a minha.

−Shii Eu sei. Mas prometo que seremos rapidos – Sorrio abertamente sendo possuída pela adrenalina em minhas veias.

− Acontece que... – Pressiona os lábios fazendo-os tremerem e suas bochechas corarem. – Acontece que... Não quero que seja rápido.− Ouço meu nome muito distante...

− Rebeca, Rebeca, REBECA! – Meu coração está a 2 mil por minuto, e eu sinto um calor estranho percorrendo o meu corpo e quando toco minha testa constato que estou suando,

O que foi isso? – Você está bem?

− Eu... – Pigarreio desconcertada. – Eu estou bem. Já chegamos?

− Já. – J.J parece não acreditar muito na minha resposta. O jatinho já está vazio, só tem nós duas ali.

Faço um coque mau feito no cabelo sentindo o calor se dissipar aos poucos. Que que aconteceu?

Capitulo 8


   As nuvens mais que acinzentadas e o vento cada vez mais forte já cercam nosso avião quando desembarcamos indicando que o dia será carregado.

  Uma vez que os chuviscos tornam-se mais intensos, deixam o asfalto mais escuro tal como o céu que está completamente cercado; parece que essa chuva irá nos acompanhar no resto do dia.

− Você está bem? – Deixo de encarar a mim mesma no reflexo do vidro escuro do carro e franzo a sobrancelha sugestivamente para ele.

− Estou, por que? – Dá de ombros sem desgrudar os olhos da estrada.

−Nada. – Desconversa e eu já solto o cinto de segurança quando chegamos ao legista.

− Uma coisa que ainda me deixa cismado, é a vitimologia. Por que primeiro um menino de 3 anos para depois matar prostitutas? – Com uma mão na cintura e a outra no queixo, fecho os olhos ainda de frente para a mesa da legista tentando pensar nas possibilidades mais mirabolantes possíveis. E ao erguer o rosto, as três vitimas são tudo o que vejo.

— Se não fosse por ter uma criança como terceira vítima, eu diria que é por elas terem estilo de vida de risco mas uma criança de 3 anos? É inofensiva, indefesa. Já localizaram a mãe do menino?

−  Ainda não e é isso que também me deixa mais curioso ainda. – Ponho a mente para funcionar enquanto releio os resultados novamente.

− É, porque do jeito está... O tiro na cabeça pode ser por três motivos, ou por que foram pegas de surpresa ou porque não teria tanta força para uma abordagem mais direta ou para despistar. – Ergo o papel na altura dos olhos e restrinjo apenas ao que me chamou atenção no laudo da legista o qual ela acabara de nos dar. – O menino foi a única vítima que não levou o tiro na cabeça mas em compensação, foi literalmente assado no forno, já as outras vítimas, além de levarem os tiros foram carbonizadas com gasolina.

− Quanta consideração. – Rossi comenta sarcasticamente.

− Essa mãe fez a denúncia de desaparecimento depois de 24h. sabemos que as primeiras horas são essenciais para encontrar uma criança porquê...

− Porque a maioria das vítimas morrem nas primeiras 36 horas. – Confirmo o que ele diz e logo retornamos para a delegacia. 

Seria demais pra mim dois casos com mães psicopatas. Mas enquanto a pintura da cidade passa diante dos meus olhos através dos vidros da viatura. Essa possibilidade pinta na tela do meu pensamento. Será que... não.

− Oh Deus! Essas mulheres estavam ferradas, ferradas mil vezes. Nível de tudo que a de dramático.

− Por favor. – Nos juntamos aos demais que já estão ao telefone com Garcia.

− Qual mulheres Penélope? As prostitutas?  – Pergunto já que acabara de chegar.

− Sim Beck, na verdade, elas saíram de casa muito cedo, não chegaram nem a terminar os estudos.

− Eram irmãs? – Morgan questiona com os braços cruzados e uma careta.

− Sim. As filhas Mônica e Ana.  Chegaram a abrir um processo contra a mãe, Isis, mas ninguém acreditou.

− Do que ela foi acusada Garcia?

− Ah garoto prodígio, de tantas coisas, primeiro de tentar atirar na Monica a irmã mais velha, mas ninguém levou em frente e como era  menor de idade, ela voltou para casa sem resposta. Essa foi sua desgraça.  Então enquanto a mãe estava gravida de um menino, o marido a deixou porque ela tinha crises serias de esquizofrenia. – Discretamente, Spencer engelha as pálpebras e as linhas nas suas sobrancelhas ficam evidentes e aperta os lábios com força contorcendo as bochechas. E assim que seus cílios se distanciam, as cinco linhas na sua testa aparecem. E todos nós notamos isso na sala; o assunto esquizofrenia é um assunto complicado para Spencer. E eu entendo ele.

Mas por outro lado, eu também não estou muito bem. Minha mãe também não é nenhuma santa, e isso abre uma questão na minha mente: será que eu deveria ir visita-la? Já se passaram dois dias após a sua prisão e no entanto nunca mais a vi, nem a ela nem a James. Bem, dele eu não sinto a menor falta mas... – Então, assim que completou os seus 18 anos, Monica decidiu partir de vez o que foi uma escolha sabia por sua parte devo dizer. Amanda, a filha do meio, era o alvo para a mãe maluca dela, ela forçava a menina a comer e se por ventura ela passe mau ela fazia... nossa!

− Como o incêndio não destruiu tudo a legista encontrou restos de vomito na parede do sistema digestivo dela, provavelmente ela era obrigada a ingerir. – Rossi se pronuncia pela primeira vez, serio? Não tinha nada mais sutil? Pergunto mentalmente enquanto estou um pouco mais distante com os braços cruzados.

− Então sem saída ela também saiu de casa sabe-se deus como mas conseguiu sair de lá. Elas seguiram suas vidas normais. Mas o cartão de credito de Isis Mortego diz que ela tinha planos incendiários, comprou cinco litros de gasolina com o cartão de credito, mas quem levou a pior foi o pobre do menino. Meu Deus!

− A legista diz que ele foi assado no forno, como um frango. – Engulo a saliva com dificuldade quando os ossos da minha mandíbula começam a doer como se eu tivesse ingerido algo azedo como limão por exemplo.

Mas eu acho que eu não fui a única.  

− Qual o endereço dela Garcia? – Morgan pergunta já colocando o colete. Assim como o restante de nós.

− Já estou enviando o endereço da  mãe dela a qual ela herdou após a morte da mesma e também a casa dos horrores, por favor, voltem bem.

− Reid e Rews, vão a casa que ela herdou e nós vamos a casa em que virou cenário de tudo. Vamos! –Vamos nos prepararmos para cumprir suas ordens.

Passo as alças do meu colete por meus ombros em cima da camisa e tranco os engates de todos os lados de modo que ele fique de fato preso em mim e coloco o pente carregado na minha arma. Quando coloco a mesma no coldre na lateral da minha cintura, na verdade assim que ergo os ombros me levantando vejo que ele faz o mesmo que eu só que de modo mais cauteloso e até mesmo distante.

  A delegacia está a todo vapor por trás dessas paredes, o restante da equipe já havia ido.

  Com a cabeça mais para o lado do que para o outro, passo por passo, me aproximo timidamente.

− Ei, você está bem? – Ele trava assim que me vê, como se estivesse tão distante, mais tão distante, que sequer ouve meus passos. No entanto, ele persiste em terminar o que está fazendo após sussurrar um tímido “tó” o que eu não acredito nenhum pouco. Espalmando as mãos sob minha calça descanso momentaneamente ao sentar do seu lado.

− Eu sei que não. O que houve? É o perfil? – Deduzo e meu sim é um simples olhar rápido e um prender sutil dos seus lábios.

−O que decobrimos fez parecer que a esquizofrenia é o que leva aos assassinatos. – Engole com dificuldade e pressiona os lábios nervosamente.

− Mas sua mãe mesma é esquizofrênica, você sabe que não é verdade, e eu tenho certeza que essa foi a última coisa que pensamos naquela sala.

− É por isso mesmo, são vários tipos diferentes, catatônicos ou desorganizados. Só porque alguém sofre de dificuldades de organizar seus próprios pensamentos, lembrar de comer ou mesmo não saber tomar banho isso não significa que... –Junto os dentes e permito que o ar deixe meus lábios levemente formando um assovio fino.

− Claro que não é assim, tá legal? E de todos nós você é o que melhor sabe disso. Ela só foi longe demais, veja, dona Diana fez um trabalho excelente, olha só você aqui. – Inflo as bochechas ao espichar os lábios quando por instinto, repouso minha mão em seu ombro. – Cada caso é um caso, você não precisa se sentir mal por isso. Sofrer por antecipação não vai te ajudar em nada.

−  E você?

− Eu o que? – Questiono espremendo os ombros sem entender.

− Eu sei que seria evasivo ou mesmo irônico mas; − Molha os lábios um pouco sem jeito como se buscasse pelas palavras corretas. – não passou pela sua cabeça ir visita-la? – É como se notas suaves de um piano formassem uma linda melodia na minha mente quando ele me pergunta isso. O “sim” quase atravessa as profundezas da minha boca. Mas ao em vez de responde-lo, apenas o segurar em suas mãos apertando-as levemente torna-se a minha resposta.

− Vamos pegar aquela assassina. – Ele confirma e eu levanto sentindo o ar adentrar os meus pulmões quando respiro profundamente.

− Rebeca? – Levo praticamente um susto mas sorrio gentilmente. Adam me aborda assim que saio da sala, ou melhor nos aborda assim que deixamos a sala. 

− Adam, eu sinto muito, não podemos conversar direito o dia todo. – Fico meio sem jeito.

− Ah são ossos do oficio, eu entendo.

− Da de ombros e logo ouço um pigarro mais falso do que bijuteria ao meu lado.

− Eu lamento interromper o assunto de vocês mas acontece que temos um caso para encerrar e eu quero ir para casa. Você vem Rews?  − Que droga! Só pelo fato dele pronunciar o meu sobrenome eu sei que azedou.

− É claro, não é Reid, toma. – Entrego a Adam o meu cartão com o meu número com os olhos atentos de um Spencer impaciente. – Podemos marcar algo depois, eu realmente preciso ir.

− Compreendo. Até mais. – Me despeço dele rapidamente já que Spencer já está a quilômetros de distância. Sinto que o gelo voltou.

− Reid! Espera! – Meus cabelos embraçados vem para o meu rosto enquanto eu abro a porta com dificuldade.

− Vocês estão saindo? – Pergunta quebrando o silencio mortal, o tempo aqui dentro está tal qual além das portas desse carro.

− Nos conhecemos ontem à noite, não comece.

− Beck, Reid, onde vocês estão? – A voz de Hotch ressoa no alto falante do rádio.

− Estamos perto, o que houve? Ela não está na casa dela? – Presumo.

− Não, acreditamos que tenha ido para a casa secundaria.

− Já estamos indo. – Acho que pela primeira vez vejo Reid dirigindo que nem o Morgan quando está com uma baita pressa.

   Não consigo evitar não pensar na possibilidade de ver a minha... mãe enquanto uso a janela como apoio e assisto a chuva cessar embora outras nuvens parecem realmente zangadas enquanto percorremos as ruas do Texas até o endereço que Pen nos passou.

     Os sorrisos falsos da minha mãe, ou mesmo a presença asquerosa de James vem a minha mente, e movida pela raiva e nervosismo, praticamente nem espero o carro parar direito.

    Ouço meu nome mas ignoro completamente já com a minha arma em punho ouço a grama molhada receber meus sapatos a cada passo que dou.

    Não cogitamos o fato de ela se recusar a se render mesmo que essa não seja uma opção.

   Me abaixo assim que o primeiro tiro estilhaça a janela de dentro pra fora e não penso duas vezes antes de revidar e isso acaba virando uma bagunça generalizada.

  − Sabe de uma cosia  Isis? – Cautelosa, abro a porta mas não souto em momento algum a minha Glock. A escuridão me recebe e ela dispara novamente mas sem sucesso. E novamente eu revido, acontece que eu sinto o fogo ferver nas minhas veias conforme a adrenalina subir. – Eu tenho uma mãe como você. Uma louca que acha que é merecedora de tudo e todas as coisas, ou melhor... – Puxo o lábio inferior para o lado após estica-los de modo que meu sarcasmo soe além da minha voz.

 − Rebeca! Não! – Spencer grita comigo mas eu não dou a mínima.

− Acontece que você não sabe de nada.

− Elas eram impuras.

− E o seu filho de três anos? Qual a sua desculpa. – Os olhos vidrados e os lábios tremendo, fito a arma estremecendo em seu punho a qual ela logo ergue para mim.

− Eu ouvi... eu ouvi uma voz dizer que...

− Não Isis, não, você já tinha tendência a fazer isso, a sua esquizofrenia só tornou tudo difícil.

− Eu não tenho isso. – Enumeras vezes ela vira a cabeça de um lado a outro com as mãos nos ouvidos e o seu choro desesperado ela aponta a arma para cima e ao que parece involuntariamente e eu refuto com outro tiro e logo a correnteza de sangue toma forma ao redor dela, peço reforço e ambulância para o endereço mas ao girar os pés a cena que vejo quase me faz desfalecer.    

   O vento frio corta minha pele e arrepia cada centímetro de mim quando corro para o lado de fora indo ao seu encontro e a primeira coisa que noto é o sangue em torno de uma abertura no seu pescoço. A sua respiração cada vez mais esmaecida com a boca entreaberta de olhos minimamente abertos e o suor cobrindo seu rosto juntando-se a chuva que agora engrossa cada vez mais.

O que eu fiz?

− Por favor, fique de olhos abertos, não desmaie. Fica comigo. – Se tem algo que pode transformar meros segundos em horas angustiantemente intermináveis é o desespero. – A ajuda tá vindo, só fica comigo. Por favor! – Mesmo tremendo. Acolho sua cabeça com cautela fazendo de tudo para que mais nada aconteça olho para os lados e tudo que vejo é a escuridão da noite beijando o solo.

Minha respiração descompassa com facilidade à medida que meu coração disritmia mais e mais. Minha culpa, tudo minha culpa. Mas quando seus cílios inferiores e superiores se tocam é como se o chão abrisse embaixo de nós. –Não!

     3,5,10 minutos, eu não sei, na verdade contar seria a última coisa que eu consigo nesse momento, todo que consigo ouvir são as sirenes cada vez mais altas.

    A água faz meus olhos arderem quando molho o rosto  mas ainda assim consigo fitar a mesma esvaindo-se ralo abaixo na pia, o ar atravessa minha boca que forma um O deixando meu maxilar abaixado minhas bochechas esticam para baixo. O vermelho está evidente para mim quando ergo meu corpo e não consigo evitar me apoiar sentindo a superfície fria do mármore da pia, não existe maquiagem capaz de resolver essas olheiras que mais parecem bolsas de cangurus em baixo dos meus olhos.

   O reflexo de J.J aparece na porta do banheiro feminino.

− Você está bem? – O eco do local torna sua voz mais alta do que é. Puxo folhas de papel para enxugar meu rosto e me escoro na pia olhando para o chão.

− Eu não sei. Eu queria dizer que sim mas...

− Eu compreendo.

− Como eles estão?

− A Mónica está bem, você não fez grandes estragos.

− Desculpa ter saído da sala acontece que eu...− Solto os ombros. − Ah Jennifer, eu fiz tudo errado. Deveria ter deixado o Reid conduzir a abordagem porque ele já sabe como lidar com isso...  mas eu fiquei tão cega... e...

− Ei, calma.

− Eu não consigo me acalmar, é tudo minha culpa. – Nego.

− Escuta. Poderia ser qualquer um de nós, eu ou qualquer outro. – Ela tenta me convencer com as sobrancelhas franzidas. – Vamos voltar para a sala.  – Confirmo e logo saímos.  

   Não posso conter os pensamentos sobre uma coisa que está me incomodando muito enquanto passamos por corredores que não presto atenção até ver o resto da equipe reunida. Solto o ar com pesar e me aproximo de todos junto com J.J.

− Alguma notícia?  − J.J se antecipa antes de mim.

− Ele resistiu bem a cirurgia, está só desacordado por causa dos medicamentos. – Devo dizer que um certo alivio cobre meu corpo mas não tira o incomodo. Aproveito para dize-lo:

− Hotch, quando voltarmos, eu preciso falar com você.

− Algum problema? – Meu chefe ergue a sobrancelha pra mim e eu apenas aceno positivamente mas não digo qual.

− Quando retornamos eu digo. – Meu corpo pesa na cadeira na sala de espera.

Oh Deus! Por que uma noite tão longa? Por que essa noite parece ser tão longa? Me questiono com o meu café pela metade enquanto ando de um lado para outro.

Eu ainda estou exausta, sentindo o mundo apoiado em meus ombros, pesando mais do que consigo dizer; mas mais do que cansada, eu estou desapontada comigo mesma e enquanto voltávamos eu pensei em algo que eu preciso fazer e para isso... eu preciso comunicar o Hotch.

− Entre. – Seu olhar serio como é sempre mas mais repreensivo. Eu já esperava por isso. Vim preparada para isso. – Feche a porta, por favor. – Obedeço seu comando e sinto meu peito doer com o que pretendo dizer e sei o que vou ouvir.

− Eu trouxe os relatórios. – Deixo a pequena pasta em cima da sua mesa junto a outras criando coragem para dizer e ao mesmo tempo minha consciência berra para que eu diga imediatamente. − Antes que diga algo Sr. Eu quero dizer uma coisa. – Ele aguarda minha resposta em silencio com os dedos cruzados sobe alguns papeis os quais certamente ele terá de assinar. – Eu sei que fui imprudente. E por isso eu abro mão do meu cargo na UAC.

− Rebeca, eu concordo que seu ato foi de fato imprudente e irresponsável, eu acho que você possa precisar de um tempo para descansar.

− Sr. Eu coloquei a vida tanto do Reid como do Morgan em risco, eu não podia fazer isso, fui impulsiva talvez fosse melhor se eu...

− Pare, em momento algum você cogitou a possibilidade de desistir de fato, se não, não teria usado talvez como ponto de partida. Peço que considere uma folga, você tem estado muito abalada com este caso e não é para menos, e certamente nosso trabalho não é o do mais fácil, por isso eu entendo. Tem passado por tantas coisas, você precisa de um tempo para si. – No fundo, eu fico feliz de não ter a minha demissão aceita, e por outro lado, acho que eu realmente preciso de um tempo pra mim.

− Obrigada. Muito obrigada. – Agradeço antes de fechar a porta atrás de mim.

− Então é verdade? – Além das orelhas de gatinho ou vestidos coloridos e sapatos brilhantes, as bochechas dela estão vermelhas tal como os seus olhos e o nariz.

− Você esteve chorando?

− Só me responde, você vai embora? – Eu aperto os lábios e confirmo. – Por que? Eu não queria que você saísse, somos uma família você faz parte dessa família, se você sair a família fica incompleta. – Eu sorrio e seguro suas mãozinhas.

− Não pense você Srta. Penélope, que vai se livrar de mim tão facilmente porque não vai, eu volto. – Seu perfume agradável como ela entranha nas minhas narinas quando sou cercada por seus braços acolhedores.

− Não demora viu? − Confirmo e ela sorri pra mim.

Enquanto deixo as dependências do FBI as palavras de Spencer não saem da minha mente. “você já cogitou a possiblidade de visita-la?” falando nele, temos conversado durante esse meio tempo, ainda esta se recuperando.

O que significa um segundo? Ainda ontem essa era a maior certeza que eu tinha e agora cá estou eu me questionando se deveria ou não ter vindo. Por que o amor é um dos sentimentos mais enigmáticos? Era para ser o primeiro contato com o amor, com a afetividade, mas não foi assim e eu quase sucumbi a loucura por causa das dúvidas e a culpa que surgiram ao longo do tempo. Contudo, nunca fui tão bombardeada do que hoje.

Os diversos contornos das nuvens esbranquiçadas aparentam ser algodoins enquanto o florescer monumental das quase 4.000 cerejeiras transformam Washington, D.C. em um espetáculo cor-de-rosa e branco sublime em 23 graus confortáveis. Certamente um dos eventos naturais mais belos do mundo.   

Os orientais veem a primavera como o iniciar de um novo ciclo, um ditado chinês costuma dizer “sempre a primavera, nunca as mesmas flores” a ideia da perfeição da mutação e a renovação. Sem falta. A cada primavera geminam novas flores.

O renascer da esperança vem com a primavera


As paredes acinzentadas que mantem as celas organizadas da cadeia não torna aquele lugar menos asqueroso do que é para mim, os assobios e gracejos dos quais cumprem suas penas só causa-me os arrepios mais assombrosos que já senti percorrer o meu corpo da cabeça aos pés.

Jamais pensei que colocaria os pés em um lugar como este, nem mesmo para o que eu pretendia fazer. Mas não havia mais como voltar atrás. Ou será que havia?

Enquanto tenho a companhia do homem com botas, uniforme, arma e quepe, o suor escorre por entre meus dedos e minha testa, mil e uma duvidas causam uma verdadeira explosão na minha cabeça.

Eu deveria mesmo ter vindo? Isso foi mesmo uma boa escolha? Será que é tarde demais?

−Abra e 15!.− As rodinhas da grade soaram altas e claras, nos possibilitando passar para a outra ala de celas. − É aqui. − O tecido do meu terno vermelho é aconchegante quando minhas mãos preenchem os bolsos e eu solto a respiração devagar. “Sala De Visitas” São as palavras que estão na placa prateada brilhosa antes de a mesma ser aberta e as paredes escuras, e duas cadeiras junto a uma mesa não tão grande se revelassem para mim.

É impossível de decifrar os seus olhos enquanto seus cotovelos apoiados sobre a mesa permitem a sustentação da sua cabeça pelos seus dedos entrelaçados e suas mãos algemadas e isso quase me fez dar meia volta e desistir. Mas não o fiz, apenas sustento o seu olhar.

E lá está o meu maior dilema diante de mim; ali está a escolha mais difícil que eu já tive que fazer na minha vida.

Depois de tudo o que houve jamais imaginei que estaríamos cara a cara.

Por trás desses olhos claros, cabelos não mais tão bem cuidados como já foram nos seus dias de gloria, contudo, as linhas e a calmaria ainda tornam suas expressões indecifráveis, está é a pessoa que ruiu tudo em mim. 

A humanidade, assim como a natureza, tem os seus predadores e suas presas.

− Como vai Rebeca?

− Paloma.

− Não vai me chamar de... – Nego imediatamente.

− Nunca mais.

− Fiquei surpresa quando soube da sua visita. Já que estou aqui durante um bom tempo e você nunca veio me ver. – As palavras não conseguem transcender, apenas meus olhos conseguem observar. Tal como me encara– Imagino que apenas agora você tenha tido um espaço na sua agenda tão turbulentamente cheia. – Como sempre, seu sorriso é mascarado pelo sarcasmo na sua voz.

Os pés estridentes fazem-se ouvir quando puxo a mesma por entre os dedos a frente da mesa sem deixar de sustentar seus indecifráveis olhos antes de sentar, entrelaçar os dedos e encarar também.

− Não vim antes porque estive ocupada, mas sim, porque... – Com a mão direita em punho eu sustento meu queixo, fito a sombra que toma forma por causa da luz baixa da lâmpada no teto. – Porque eu precisava de uma razão para vir.

− Hum. – Murmura. – Pelo que vejo você encontrou uma razão. Do contrario não teria vindo. E então, qual é? – Me debruçando por cima do material bruto e frio da mesa, diminuo a distancia. E ficamos assim durante um bom tempo.

− Por que? Por que você fez tudo isso que acabaram te trazendo pra esse lugar? Meu Deus, eu me perguntei tanto, oh como eu perguntei. “Por que meu Deus?” – Para alguns a inexpressividade em sua face torna-se impressionante. E para qualquer um de fora o que eu fiz foi inadmissível, afinal, quem poderia dizer que por traz desses olhos existe... Meu Deus.

− Quer mesmo saber? Pensei que você soubesse. –Debocha ao encostar-se na cadeira e cruzar os braços, transparecendo uma falsa confiança. Da direita para a esquerda eu nego.

− Não estamos falando do perfil, isso fazemos em equipe, montamos a personalidade do descon, elemento desconhecido, em torno dos crimes e da vitimologia. Simples assim; foi exatamente isso que fizemos com você, a questão é, por que você fez isso? Eu preciso... – Fecho os punhos diante de meu rosto. – Me diga algo, algo que seja mais plausível do que isso. –Sua resposta me fez engasgar a saliva.

− Porque eu quis. Simples assim. – Já deveria cogitar essa possibilidade.

Eu precisava saber o porque, para  tal como a primavera, me

renovar e florescer. Será que eu consigo depois de obter a

resposta que eu tanto almejava?

Deixando o carro no estacionamento do parque, resolvo dar uma volta no Rock Creek Park para desfrutar a paisagem admirando a

imensidão florida, a suavidade do vento trás o agradável perfume

ao meu redor e algumas mechas dos meus cabelos e o silêncio

fez−me captar os pássaros em volta, enquanto minha sombra

replica meus passos lentos.

Porém, tanto o silêncio tranquilo é exatamente o oposto da minha

cabeça que está uma bagunça. Não compreendo. Já tendo a

resposta que eu queria e nem assim isso me deixa confortável.

"Porque eu quis" difícil até de engolir.

Um perfume completamente diferente das flores faz−me selar os olhos e sorrir disfarçadamente ao ouvir os seus tímidos passos.

−como me encontrou? −paro no meio do caminho e o vejo não tão

distante de mim com as suas mãos junto ao seu terno escuro, colete vermelho, camisa social cinza e gravata também acinzentada porém mais escurecida e sapato social.

−você não é tão difícil de perfilar.− Assim como os meus, seus bagunçados porém alinhados cabelos movem com o tocar do vento.− Esse é o seu lugar favorito. E também depois do que aconteceu, meu palpite era de que você não fosse pra casa.− para assim que a distância é rompida.

− Acertou, como sempre.

− seria estúpido perguntar como você está. Mas eu não poderia deixar de vir... como está se sentindo?− Tem profissões que estão na nossa essência, o estreitar de suas sobrancelhas me fez ter certeza de que ele estava me perfilando, mas de que isso importa?

− Estou me sentindo como se alguém do meu próprio sangue fosse capaz de...− suspiro com decepção. – capaz de fazer o que fez e não sentir nada.

−Mas você sabe que é assim. – Ele se cala por um breve instante, mas seu silencio para mim define outra coisa ao em vez de apenas não ter mais o que dizer.

− O que foi? – Exponho minha dúvida com os braços junto ao corpo.

− Perguntei de você na UAC e disseram que você abriu mão do trabalho por causa do que aconteceu, por que? – Sinto quando a parte superior aos meus olhos se enrijecem. – Foi pelo o que houve?

− Esse caso mexeu muito comigo, Reid, não era para você levar aquele tiro, eu fui irresponsável e...

− Foi sim, muito na verdade. – O esticar dos meus lábios faz a superfície da minha pele moldar um sorriso. – mas somos uma equipe, e você faz parte dessa equipe. Somos responsáveis uns pelos outros. E esse é o preço por ter o trabalho que escolhemos ter, é normal. – Nego sem pensar.

Meus cabelos persistem em vir para o meu rosto e não posso evitar a culpa em mim toma conta do meu peito mas a algo mais que remorso aqui dentro.

− Spencer esse caso me fez ir visitar a minha... ver você daquele ajeito e ainda por minha causa me fez questionar.

− Questionar o que? 

   Antes que eu possa dizer somos interrompidos pelo meu telefone. Retiro o mesmo do bolso e veja uma mensagem inesperada. 

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Capitulo 9

“Estou na cidade, que tal um café?” Pisco algumas vezes ao mesmo tempo em que alinho as sobrancelhas, mas sorrio brevemente sendo bombardeada pelos fios insistentes do meu cabelo atacam a minha face por causa da brisa. É como se o ponto de interrogação estivesse estampado em seu rosto com os olhos fixos e os contornos bem evidentes em cima dos olhos.

− O que foi? – Sua curiosidade me chama atenção e eu nego.

− Oh nada, − Aperto os lábios e toco os cílios por um segundo. – Eu queria mesmo deixar a equipe, mas eu não tenho tido muita certeza de nada ultimamente, − O aroma suave misturado ao seu perfume preenche os meus pulmões quando inspiro profundamente. – Só vou ficar fora poucos dias, e qualquer coisa Penélope com certeza saberia me achar.

− É, ela com certeza sabe. – Levemente estico os lábios e ele mantem ambas as mãos nos bolsos.

−Eu preciso ir agora, até breve. Spencer.

− Até breve. 

    A luz do ambiente adentra pelos vidros embora houvessem paredes mínimas faz a madeira no piso reluzir, nas poltronas negras organizadas junto as mesas algumas pessoas conversam outras estudam enquanto desfrutam dos seus referentes pedidos e para quem entra, na parede para frente da porta existe um enorme quadro negro com os nomes do que se pedir.

     Após cruzar as pernas ao sentar, arrumo bolsa sobre a mesa branca enquanto aguardava o meu pedido, não tem muito tempo que eu cheguei e já estou fitando rapidamente o visor do meu celular. E enquanto aguardo meu chocolate meio amargo, o vejo mais uma vez. Já faz quase semanas que não o vejo desde o incidente no Texas. Franzo os olhos com a luminosidade desfocando minha visão enquanto tento responder sua mensagem.

− Sem álcool desta vez, não? – Comenta verificando que o que eu bebo desta vez não é nada alcoólico. – Posso sentar? – Aceno e indico a poltrona a minha frente.

− Hoje não. – Sutilmente estico os lábios e logo suas mãos unem-se sobre a mesa.  – Francamente fiquei surpresa com a sua mensagem. – As curvas formaram-se entorno dos meus olhos. – Já que quando conversamos você não disse se viria. – Da xicara ainda sai um pouco de fumaça. O sabor forte do chocolate contorna a superfície da minha boca.

− Como você disse, quis fazer uma surpresa.  Pelo que vejo já fez o seu pedido. – Aponta para a minha xicara esbranquiçada e eu dou de ombros.

− Ah foi só para esperar você.

−  E então? Trabalho no FBI há quanto tempo?

− Um pouco, é um trabalho difícil mas é gratificante.

− Imagino...

− E você? Nunca quis entrar para o FBI?− Esvazio completamente a minha xicara mas não deixo de prestar atenção; dá de ombros sobe a camiseta.

− Até quis, mas acabei me estabilizando no Texas e.... bem, assim como você eu gosto do que eu faço.  – Sorri orgulhoso.

Levantamos...

− E você e o agente? – Entorto os lábios procurando o dinheiro dentro da bolsa já no balcão. – Sem querer ser intrometido. – Dou de ombros, mas fico confusa.

− Ai depende, eu trabalho com quatro agentes rapazes e duas moças, de qual está falando? – Digo, dando graças por ter encontrado o que procuro na imensidão da minha bolsa e uno seu pagamento ao meu e logo deixamos a cafeteria.

 − O mais jovem, quase não tivemos contato só ouvi o nome de vocês uma vez e...

− O Reid. O que tem ele?

− É que pareceu que vocês tinham alguma coisa. –Sorrio gostosamente e seus olhos fixos me fitam.

−Não. O caso foi difícil para nós dois, e acabou nos afetando. – Difícil não mostrar as curvas dos meus olhos ao lembrar daquele dia.

Sorrio internamente lembrando das insinuações no escritório. O fato de Reid e eu termos uma sintonia assim como o resto da equipe virava motivo de piada. Mesmo quando nos desentendíamos.

− Bom saber.

Alguns pássaros cantam em torno de nós, o ar leve torna tudo mais calmo.

O toque sutil de seus dedos dão choques ao entrar em contato com a minha face enquanto que meus lábios deixam-se levar pelos seus.

− Desculpa, eu fui precipitado. Não deveria ter feito isso. – Eu sorrio dissipando qualquer pensamento.

− Não, eu só não esperava por isso. – Sorrio nervosamente, Por incrível que pareça eu fiquei um pouco, intimidada. Mas de um jeito bom.  – Eu preciso ir.

− Não é por causa... – Assovio baixinho enquanto toco a pele do seu rosto.

− Não, de verdade.

− Então, tá.

Confirmo e; antes de girar os pés eu sinto a macieis da sua bochecha quando lhe dou um beijo no rosto.  

   Mesmo caminhando de costas para ele, posso sentir os seus olhos em mim. E quando viro a cabeça, tenho certeza.

   A única certeza que eu tenho nesse instante é o caminho de volta para casa o qual eu tento me concentrar se não, não conseguiria nem chegar via principal. “O que aconteceu?” parece até uma pergunta idiota, é claro que foi um beijo mas... eu não contava com isso.

    E estaria mentindo se dissesse que aquela imagem não tivesse me acompanhando agora enquanto mantenho as mãos no volante.

   Admito que a deturpação não me abandonou do caminho da cafeteria para casa. E agora, minha mente está uma bagunça.

   No meio do caminho passo em um restaurante indiano para levar o jantar para casa.

   Jogo a bolsa em cima de uma mesinha próxima da porta, sentindo o cansaço tomar meus ombros quando estico os braços na cabeceira do sofá. No momento que uno os cílios me vem a mente algo inesperado. 

“Era um coquetel de sabores deliciosos espalhados por toda parte da minha boca e quando percebi, um gemido quase passou despercebido quando provei o belo prato que havia pedido com a sua sugestão. Tantos temperos diferentes... Tendo a supervisão de uma carinha engraçada ansiosamente aguardando pela minha resposta e consecutivamente também degustando seu prato com todas as cores.

− Isso é bom mesmo. – A pimenta ainda estava bem presente na minha boca, mas não menos delicioso por isso.

−Eu disse; você quase não acreditou. – Ele sorriu e eu ergui as mãos, rendendo-me de qualquer acusação futura.

− Tá legal, eu admito, você tem toda razão. Qual o nome desse prato mesmo? – Tentei, em vão, ler o tal nome do prato, mas tudo que consegui fora formar uma careta com os lábios torcidos e as linhas das sobrancelhas em evidencia. – Meu Deus que nome horrível para algo tão delicioso.

− Se chama Tikka Masala  e Leite de Coco, a comida indiana é a terceira mais saborosa do mundo, perde apenas para a Mexicana e a Italiana.
− Hum, Rossi ficaria orgulhoso em ouvir isso. – Me deliciei mais um pouco com o frango por um mero momento. – Por que será que eu não me surpreendo por você saber esse top 10? – Como em um estalar de dedos mental, recordei subitamente de minutos atrás e esconder minha reação fora inútil já que, em primeiro lugar estava diante de um perfilador que claramente saberia se eu resolvesse mentir e em segundo lugar; minhas bochechas inflaram, meus lábios esticaram e minhas pálpebras fizeram meus olhos encolherem e as linhas laterais deles aparecerem tornando qualquer resposta falsa que eu diga difícil de ser confirmada.
− O que foi? – A curiosidade tomou conta da sua face e pela primeira vez eu aliviei o forte gosto da pimenta ao provar um pouco do suco que havia solicitado.
− Não é nada, é só que... – Não consegui evitar o movimento dos meus ombros enquanto eu sorria. – eu fico lembrando daquele filme.
−Ah sim, você quase esmagou os meus dedos. – Comentou também recordando-se enquanto suas bochechas moviam-se com calma. – Você não gosta de filmes de terror?
− Não, sou extremamente medrosa, vivia com a cabeça no espaço quando não tinha nada pra fazer ou se visse filmes assim a noite teria pesadelos. – Repliquei sem tirar os olhos da minha iguaria que por sinal já estava quase acabando.
− Serio? – A linha sobre sua sobrancelha se firmaram no seu rosto e eu sorri mesmo tentando a todo custo manter a seriedade para passar a credibilidade.
− Não. – Sorriu sem jeito.
− Então do que você gosta? Se é que eu posso perguntar.
− Gosto sim de filmes de terror, mas na verdade, os meus preferidos são os de suspense e romance e quando tenho um tempo livre gosto de dar uma volta no Rock Creek Park, mas principalmente na primavera, para pensar e claro, admirar as flores.
 − Que interessante.
− É, deixo as armas só para o trabalho mesmo. – Sorrimos. “Hum,  finalmente um encontro é?”
− No que está pensando? – Questiona e eu deixo um riso fino escapar antes de abocanhar aquela comida deliciosa.
− É que eu estava lembrando do que Morgan disse quando saímos do cinema.  Ele logo pigarreia todo sem jeito também se lembrando do que ouvimos.
 
 

 

Spencer.

   Uma vez que inopinadamente o jantar no restaurante Indiano vem diante dos meus olhos. Faço uma careta; curvo os lábios e com certeza meu queixo deve ter ficado engelhado, Contraditório, o silencio do meu apartamento me faz ouvir minha própria respiração enquanto vejo a tranquilidade além da janela quando cruzo os braços pensando:  por que eu agi daquela maneira?  Isso não faz sentido algum. Eu só queria... entemder; 

   Sempre tenho respostas textualizadas e complexas para assuntos de qualquer espécie, mas não entender nada sobre algo me deixa perdido. Não entendo porque me incomodou o fato dela ter conversado com aquele cara e com quase 100% de certeza que era ele que estava mandando mensagens para ela, não entendo porque fui tão rude com ela.

Eu simplesmente não entendo.


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