Café e Livros escrita por oicarool


Capítulo 2
Capítulo 2




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Elisabeta o observou atender os clientes. Ele sempre levava um sorriso no rosto, cumprimentava a maioria pelo nome, perguntava sobre suas vidas. De vez em quando recomendava algum livro para algum indeciso. Enquanto havia outro funcionário, Darcy passava a maior parte do tempo no caixa. E quando o movimento diminuiu, ele sentou-se em uma das mesas com visão direta para a porta. Darcy usava agora seus fones de ouvido e parecia entretido com o que quer que estivesse assistindo.

Ela nem sabia o porque de estar observando o dono do Café. A verdade era que seus estudos não estavam rendendo absolutamente nada naquele dia. Toda vez que tentava ler alguma matéria ou assistir às aulas, via sua mente divagando por diversos assuntos, e quando percebia seus olhos estavam em Darcy. Jane e Cecília pareciam idolatrar o homem, e Elisabeta sentia-se curiosa.

Darcy fazia um tipo nerd, e Elisabeta não ficaria surpresa de descobrir uma coleção de quadrinhos ou um guarda-roupas lotado de camisetas geek. Seus olhos eram claros e seu óculos era de um modelo discreto. A barba era por fazer, mas de uma forma que não o fazia parecer desleixado. E ele certamente era muito mais alto do que ela, já que era muito mais alto do que qualquer pessoa. E era aí que as coisas se tornavam interessantes.

Ele, além de alto, parecia em forma. Sua camisa era justa em todas as partes corretas e seus jeans eram de um modelo clássico, mas perfeitamente ajustadas. Talvez fosse esse o charme de Darcy. Parecia um nerd em um corpo de atleta. A mistura do homem sério, mas que nas horas vagas jogava videogame. Podia entender porque suas irmãs sentiam um certo fascínio. Darcy parecia o tipo de qualquer mulher.

O maxilar dele era marcado, mesmo com a barba que o recobria. Ele encarava a tela, mas de tempos em tempos erguia a cabeça para conferir se não havia perdido a entrada de nenhum cliente. Darcy fez aquilo de novo, mas após alguns segundos olhando para a porta, os olhos dele se viraram para ela. Elisabeta pensou em desviar o olhar, mas não estava fazendo nada demais. Darcy retirou um dos fones.

— Você precisa de alguma coisa? – ele sorriu.

— Não, eu acho que não. – Elisabeta deu de ombros. – Estou só entediada. Talvez seja hora de encerrar os meus estudos.

Darcy encarou o relógio. Ela geralmente ficava pelo menos mais duas horas no Café todos os dias. Ele apertou o pause da série que estava assistindo e levantou-se, caminhando até ela. Elisabeta naquele dia vestia uma calça social preta e uma blusa vermelha. Ela sempre estava de vermelho e Darcy achava que combinava com ela.

— Mais um café, talvez? – Darcy ofereceu. – Eu não vou oferecer a torta de novo.

— Ainda é quarta-feira. – Elisabeta sorriu. – Mas eu aceito o café. Pode ser que eu consiga render um pouco mais.

Nesse momento a porta da cafeteria foi aberta e outras duas Benedito surgiram sorridentes pela porta. Jane e Cecília caminharam até a mesa de Elisabeta.

— Oi Darcy! – disseram, em coro.

— Bem-vindas, meninas. – Darcy sorriu.

B2 e B3, ou Jane e Cecília, eram duas das clientes mais animadas. Jane era uma das pessoas mais doces que Darcy conhecia. Sempre perguntava sobre Theo e dizia todas as coisas certas, mesmo que não fossem amigos tão próximos. Cecília compartilhava com ele a paixão por livros, séries e filmes. Quando Darcy ocupava o horário da manhã costumava conversar por quase uma hora com Cecília. Com a troca de horários, quase não as via mais.

— Parece que vamos precisar frequentar o Café à noite para ver você, Darcy. – Jane deu de ombros, sentando-se ao lado de Elisabeta. – Oi, irmã!

— Vocês sempre podem vir à tarde. – Darcy sorriu.

— Não tem a mesma graça. Nós somos pássaros diurnos. – Cecília disse, sentando-se em frente às irmãs. – Elisa é que é a vampira.

Elisabeta ergueu a sobrancelha.

— Se vocês duas são pássaros, como é que eu seria uma vampira? – revirou os olhos.

— É muito óbvio, na realidade. – Cecília abriu um grande sorriso. – Vampiros são derivados dos morcegos.

— Morcegos não são pássaros. – Elisabeta ironizou.

— Mas tem asas e voam. Você preferia ser chamada de urubu? Eu achei um pouco ofensivo. – a irmã sorriu.

— Você nunca pensou em talvez, eu não sei... uma CORUJA? – Elisabeta aumentou o tom de voz.

— Ou isso. – Cecília olhou para Darcy. – O que é que temos de bom para comer?

— Eu iria justamente dizer à sua irmã que hoje temos uma torta integral de maçã. – Darcy disse, divertido.

— É exatamente o que eu preciso. – Jane anunciou.

— Eu também! – Cecília animou-se. – Jane, eu achei que você não gostava de maçãs...

Darcy encarou Elisabeta, a questionando com o olhar se também queria um pedaço. Cecília e Jane entraram em um debate sobre a diferença de maçãs assadas ou em doces, mas Darcy não prestou atenção. Elisabeta sorriu.

— Só o café. – disse. – Eu preciso manter a forma.

O olhar dele passeou rapidamente pelo que podia ser visto do corpo dela. Pelo que ele podia observar, Elisabeta poderia comer três pedaços de torta ao dia e ainda assim estaria em forma. Ela seguiu o olhar dele, mas não levou mais do que alguns segundos para que Darcy virasse as costas, e Elisabeta não teve tempo sequer de confirmar que não havia sido apenas uma impressão sua.

Tão logo Darcy se afastou as irmãs giraram as cabeças em direção à ele. Elisabeta o observou caminhar. Ele tinha costas largas e a calça moldava seus passos de uma forma que se tornava impossível não perceber que Darcy tinha um belo traseiro. Não que Elisabeta costumasse reparar nisso.

— Ele está ainda mais maravilhoso. – Jane suspirou.

— Eu fico surpresa toda vez que o vejo. – Cecília concordou.

— Vocês duas parecem adolescentes. – Elisabeta riu.

— Não é possível que você não consiga perceber. – Cecília resmungou. – Olhe bem para ele.

Elisabeta o observou atrás do balcão. Darcy tinha uma expressão concentrada enquanto servia os pedaços de torta. O cheiro do café recém passado já tomava conta do ambiente. Ele ergueu os olhos, observando as três olhando o que ele fazia. Darcy sentiu-se corar, e quando foi servir o café virou um pouco em sua mão, gerando uma dor aguda.

— Merda. – ele reclamou, balançando a mão.

Por que é que estavam olhando para ele? É claro que Darcy sabia que as mulheres costumavam reparar nele. Mas não mulheres como aquelas. E mesmo que Jane e Cecília fossem sempre simpáticas, Elisabeta também observava o que ele fazia. Darcy colocou tudo numa bandeja e caminhou até elas, sentindo-se constrangido pelas três continuarem olhando para ele.

— Duas tortas. – Darcy disse, colocando os pratos em frente às meninas. – E um café.

— Parece que você teve um certo problema com o café. – Elisabeta ergueu a sobrancelha.

Darcy sentiu o rosto corar novamente.

— Não foi nada demais. – ele olhou para a própria mão.

Elisabeta observou Darcy remexer o corpo, parecendo constrangido.

— Deu um pouco mais de trabalho deixar as tortas em tamanhos iguais. – Darcy disse, e xingou mentalmente sua falta de habilidade com as palavras.

— A minha fatia parece estar maior. – Cecília sorriu abertamente.

— Essa é especial para quem batiza cães com nome de super-heroi. – Darcy brincou, sentindo-se um pouco mais confortável com Cecília.

— Aquele cachorro traidor. – Cecília resmungou. – Você sabia que ele prefere dormir com Elisa?

Elisabeta abriu um sorriso convencido e Darcy sorriu.

— Thor valoriza quem passeia com ele pelas manhãs e fornece a primeira refeição do dia. – Elisabeta respondeu. – É um interesseiro.

— Eu passeio com ele à tarde e dou o jantar. E Jane dá o almoço. Ainda assim ele nunca dormiu no quarto de Jane.

— E nem vai! Eu adoro aquela bola de pelos, mas cabelos loiros espalhados pelo quarto já bastam os meus. – Jane riu. – E Theo, como vai?

Elisabeta encarou Darcy. Theo era o nome do filho dele, não?

— Está enorme e cada dia mais esperto. – Darcy sorriu abertamente. – Ema vai trazê-lo no final de semana e teremos alguns momentos juntos.

— Fico feliz por estarem conseguindo conciliar os horários, Darcy. – Jane respondeu.

— Agora que a mudança já terminou e Theo está mais adaptado, a psicóloga e Ema acreditam que ele pode passar mais tempo comigo. – ele suspirou. – Eu espero que corra tudo bem.

— Tudo vai dar certo. – Cecília sorriu. – E se precisar de alguma coisa sabe onde nos encontrar.

— Muito obrigado, meninas. – ele agradeceu, genuinamente. – E se precisarem de mim, estou logo ali. – apontou para a mesa onde estava o notebook.

As três agradeceram e Darcy sentou-se novamente. Recolocou os fones, mas não apertou o play. Arriscou uma olhada em direção à Elisabeta. Era a mais bonita das três, em sua opinião. O tipo de mulher que chamaria sua atenção, e também o exato tipo de mulher que jamais olharia para ele duas vezes. Bonita demais, inteligente demais, rica demais.

E também não deveria sequer pensar nisso. Estava separado há poucos meses, ainda adaptando-se à vida solitária. Mal conseguia ver Theo, e ele era sua prioridade. É claro que sentia falta de estar com uma mulher no sentido mais pecaminoso, mas essa era a complicação que menos precisava naquele momento. Ainda assim, quando Elisabeta gargalhou de algo que uma das irmãs disse, seus olhos foram atraídos para ela novamente.

Elisabeta estava feliz pela distração das irmãs. Estava exausta de um dia estressante no trabalho e incapaz de prestar atenção em qualquer coisa que exigisse concentração. Cecília cochichou algo sobre Darcy, fazendo Elisabeta rir novamente. Olhou em direção à ele, esperando encontrá-lo focado na tela do computador. Não esperava que os olhos claros dele estivessem nela. E levou uma fração de segundo para que Darcy desviasse o olhar para a tela.

Não demorou mais do que meia hora para que as três se despedissem de Darcy e atravessassem a rua, em direção ao apartamento. No dia seguinte Elisabeta não foi ao Café, e na sexta-feira encontrou Ernesto no lugar de Darcy. Foi apenas na segunda-feira, um pouco mais tarde do que o costume, que Elisabeta cruzou as portas do Café e encontrou aqueles olhos claros.

— Boa noite. – Darcy sorriu, tirando os fones de ouvido.

— Boa noite, Darcy. – Elisabeta sorriu.

— Quase acreditei que você não viria. – ele disse, arrependendo-se em seguida.

— Não sei se devo me sentir uma cliente especial ou um estorvo. – ela ergueu a sobrancelha. – Mas eu não vou ficar muito tempo. Só preciso mesmo terminar uma pesquisa rápida.

— Eu estava a sua espera. – Darcy disse, e então balançou a cabeça. – Digo, você sempre vem por este horário.

Elisabeta riu. Ele parecia um pouco tímido as vezes, enrolado nas palavras.

— Aqui estou eu. – Elisabeta respondeu, e foi até sua mesa preferida.

— Café? – Darcy arriscou.

— Grande, sem açúcar. – ela confirmou.

Em poucos minutos Darcy estava de volta com a caneca fumegante.

— Você quer mais alguma coisa? – ele ergueu a sobrancelha. – Aquela torta, de repente?

— Darcy, você precisa parar de me oferecer torta. – Elisabeta riu. – Ou eu vou acreditar que você está tentando me engordar.

— Não, não é nada disso. – ele coçou a cabeça.

— Enriquecer às minhas custas? – ela perguntou.

— A quantidade de café que você bebe provavelmente já pagaria as contas do mês. – ele deu de ombros.

E então percebeu o que havia dito, amaldiçoando-se mentalmente. Elisabeta o observou por alguns segundos e então uma risada ecoou pelo Café vazio.

— O meu pai costuma dizer a mesma coisa. – ela confessou. – “Elisa, eu preciso comprar mais 300 hectares apenas para plantar café para você.”

— Me desculpe, eu falei sem pensar.

— Você não precisa se desculpar. – Elisabeta sorriu. – Não deve ser sequer mentira.

Era um exagero, é claro. Mas Ernesto insistia que o Café poderia fechar mais cedo. Não era comum ter movimento nas últimas horas, afinal. Porém, Elisabeta era uma cliente fiel, e enquanto houvesse um cliente querendo consumir seus produtos, Darcy manteria as portas abertas.

— Bem, eu vou deixar você fazer o que precisa fazer. – Darcy sorriu, constrangido.

— Mas quer saber? Talvez hoje eu realmente queira aquela torta. – Elisabeta piscou para ele.

E mais tarde, quando ela foi ao caixa para pagar seu consumo, Darcy informou categoricamente.

— A torta é por conta da casa.


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