Resgate escrita por Tulipa


Capítulo 26
Vinte e Seis


Notas iniciais do capítulo

Oi...

Eu sei que demorei, procrastinei um monte e capítulo que eu queria pro final da história simplesmente fugiu da minha cabeça, então tive esperar ele voltar.
Junto também havia a negação de não aceitar o fim de mais uma história, quem me acompanha sabe o quanto eu amo esse casal e curto escrever sobre eles.
Por falar em negação, e no meu casal favorito, essa história só existe por eu não ter aceitado o que foi feito com eles.

Resgate precisava existir, e eu amei escrever mais essa, espero que vcs tenham curtido tanto quanto eu.

Vamos ao último capítulo.

❤️



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⎊ Pepper Potts ⎊

 

 

O cheiro de pinheiro recém-cortado é a lembrança que mais remete a minha infância,  meus pais sempre fizeram questão de comemorar o natal, e eu amava decorar a árvore com eles. Era  minha data favorita do ano, depois do meu aniversário. Após a morte dos meus pais, o meu conceito de família foi perdido,  e por muitos anos o natal foi triste até meu caminho cruzar com o do Tony, mas pra ele as lembranças não eram tão boas. Porém no decorrer dos nossos anos de amizade fiz questão de tornar a comemoração especial pra ele também, e desde que nos conhecemos nunca mais foi triste pra mim. 

 

No início era só uma troca de presentes, quer dizer, eu o presenteava e ele ficava tão sem graça que me dava dinheiro pra que eu comprasse algo pra mim, por muito tempo foi assim nos nossos aniversários também,  mas eu não o culpava, Tony não era bom em demonstrar afeto, embora tivesse muito amor pra dar, eu sempre soube e fui insistente. Meu chefe, meu amigo, meu namorado, quando fui morar com ele, o nosso primeiro natal realmente juntos foi uma catástrofe, eu o havia convencido,  depois de anos, a decorar a casa e um psicopata a explodiu, eu o perdi, ele voltou pra mim, Tony achou que tivesse me perdido, mas eu voltei pra ele, e naquela manhã de natal estávamos os dois num quarto de hotel após mais uma aventura de vida e morte do Homem de Ferro. 

 

Nenhum natal me marcou tanto como aquele em que o extremis corria pelas minhas veias, até que anos depois, após achar que eu tinha perdido Tony, novamente, e ele voltar, eu tivesse um marido e o maior amor do mundo nos braços, a minha Morgan nasceu na semana da minha data favorita. E 2018 só não foi mais intenso que 2023, onde eu tinha um novo motivo pra acreditar em recomeços, além  de outras duas razões dentro de mim. Minha mãe sempre dizia que o natal significa renascimento, esperança e, mais uma vez, tive plena certeza disso. 

 

—Mamãe, você acha mesmo certo cortar uma árvore pra colocá-la dentro de casa por alguns dias?— Morgan me perguntou quando Tony chegou com o pinheiro, ela repete a pergunta todos os anos. Certo não era, afinal,  há anos trabalhamos com energia renovável para o planeta e sabemos que as árvores são importantes, mas em minha defesa, ao cortar uma árvore replantamos três. E os pinheiros de natal são cultivados durante o ano todo especialmente para esta época,  é uma tradição.  

 

Começamos as decorações logo após o dia de Ação de Graças, Valentin ajudou o pai com as luzinhas na varanda, e Ali escolheu um pinheiro tão grande que mal passou na porta, e um aroma  maravilhoso de infância tomou conta do nosso lar. Levamos um dia inteiro para decorar a árvore e, à noite, quando acendemos as luzes foi impossível não me lembrar dos meus pais. Foi impossível não me lembrar de tudo o que passamos. 

 

 

(...)

 

 

Depois de alguns anos, esse será o nosso primeiro natal em apenas 5. O relacionamento de Peter com Mary Jane ficou bastante sério, e ele decidiu pedi-la em noivado, então Happy e May apoiarão o garoto na missão de falar com os pais da moça.  Rhodey também não vem, mas diz ter uma notícia, Tony acredita que talvez ele e Cassy, uma namorada que ele enrola há anos, estejam grávidos, por isso ficarão com a família dela, eu também acho, mas seja lá o que for espero que ele não abra mão da missão de cuidar do Gerald enquanto estivermos fora na próxima semana.

 

—A gente precisa ir.— Natasha avisa,  ela vai pra Londres com Bruce, Sam e Buck, já que foram convidados pelos  filhos de Steve, mas fez questão de passar por aqui antes pra dar um beijo nas crianças.  

 

—Não esquece dos biscoitos, madrinha.— Alice alerta. 

 

—Claro que não vou esquecer, meu amor.— ela diz ao pegar a sacola com saquinhos repletos de biscoitos natalinos feitos por nós.

 

—Os feios são os do papai,  ok, tia Nat?— Valentin avisa. 

 

—Tenho certeza disso.— Nat caçoa,  ela nunca perde a chance de provocar o Tony.

 

—Eu garanto o sabor,  agora a decoração dos biscoitos ficaram a cargo dos ajudantes.— me defendo. 

 

—Os feios são do papai.— Ali repete nos fazendo rir —E do Tim.— ela provoca o irmão.

 

—Terrivelzinha da dinda,  eu vou sentir muita saudade de você até o ano que vem, sabia?— Nat diz agarrando a minha garotinha.

 

—Vocês podiam encontrar  a gente no Brasil pro reveillon, posso falar com a Loh,  tia Vi e tio Jamie não se importariam, tenho certeza.— Morgan diz entusiasmada —O que acham? 

 

—Eu não sei...— Bruce pondera quando Natasha olha pra ele —Se você quiser. 

 

—Nós vamos pensar, nos falamos durante a semana, tudo bem?— Nat deixa em aberto.

 

 

—Bem, que sejam apenas vocês.— Tony é enfático,  ele nunca conseguiria lidar com Buck, não é segredo pra ninguém.  Depois da saia justa desejamos boas festas uns aos outros e o casal, que nunca soubemos ao certo se são mesmo um casal, nos deixou. 

 

(...)

 

 

 

É véspera de natal, à  tarde a minha atenção foi voltada para decidir o cardápio da ceia e Tony me ajudou na cozinha enquanto as crianças dispersaram pelos cômodos da casa. De repente, ao olhar pela janela os vejo brincando na neve. 

 

—Precisamos de narizes pra bonecos de neve.— Alice pede ao entrar, sua roupa está coberta de flocos brancos, mas ela está bem agasalhada, por isso não me preocupo. 

 

—Você sabe onde encontrar cenouras.— Tony informa, mas não a ajuda, ela abre a geladeira pega o que quer, enfia nos bolsos do agasalho  e sai.

 

—Hoje eles estão na neve e semana que vem estaremos num calor de 40 graus.— comento  —Viola me alertou que nessa época do ano o Brasil é bem quente. 

 

—O garoto estará lá, né?— ele pergunta super protetor praticamente ignorando meu comentário.

 

—Bem,  é a família dele, Tony.— respondo. Tony está com um pé, ou melhor,  dois pés atrás com Kyle, meses atrás ele e Morgan tiveram uma aproximação maior, depois de muito tempo flertando,  mas não é nada tão sério, afinal o garoto é mais velho e está indo pra universidade em outro estado, enquanto ela ainda continuará no colégio. 

 

—Odeio saber que aquele garoto só quer brincar com ela.— ele diz. 

 

—Eu não usaria a palavra brincar, até porque ambos estão apenas aproveitando o tempo que têm, ela sabe que não pode apostar nesse "namoro".— eu digo,  conversei muito com a minha filha e estou segura, apesar de jovens eles encararam a situação com maturidade, e foi a nossa filha quem decidiu não apostar num relacionamento a distância.  

 

—Eles terminaram mesmo?— meu marido quer saber com a super preocupação de quem foi um adolescente que destruiu dezenas de corações, e acho que por isso o seu desespero é maior. 

 

—Parece que sim, mas não posso garantir que não vá rolar uns beijos quando eles se encontrarem.— eu observo e ele rola os olhos.

 

—Mas que droga, baby.— ele diz irritado. 

 

—Amor, são adolescentes, de férias, recaídas podem acontecer.— minimizo —Pode ser o Kyle, porque eles já se conhecem, mas ela também pode conhecer alguém na viagem… 

 

—Ah, tá, pode parar.— ele diz —A gente devia ficar em casa ou viajar pra outro lugar no ano novo. 

 

—Tony,  ela acabou de completar 15 anos, a fase de ficar com meninos começou,  não importa onde estejamos.— eu alerto —Aliás, ela está descobrindo a sexualidade então, talvez surjam algumas meninas também, são muitas possibilidades. 

 

—Você quer que eu surte ou tenha um ataque cardíaco, é isso?— ele indaga e eu rio, o beijo, por que estou apenas o provocando,  mas ele precisa ter ciência de que a nossa garotinha cresceu, e tudo o que estamos começando a viver com a Morgan será vivido com os pequenos daqui alguns anos. 

 

—Quero você vivo, bem lúcido e menos chato, pode ser?— eu pergunto e ele apenas faz uma cara de quem está e sentindo contrariado. 

 

O espatifar de uma bola de neve na janela chama nossa atenção, Valentin faz sinal para que saiamos. Visto meu casaco e Tony faz o mesmo. 

 

—É hora de vocês votarem.—Valentin avisa quando chegamos ao quintal,  está muito, muito frio —Qual boneco de neve é o mais bonito?

 

Eu e Tony nos entreolhamos após analisarmos os bonecos,  não sou capaz de opinar, acho que ele também não, não há muita diferença, mas um dos bonecos é mais original. Ainda assim declaramos um empate. 

 

—Vocês sempre fazem isso.— Tim-tim protesta —Escolham um!

 

—De quem é o boneco com nariz de pepino?— pergunto curiosa. 

 

—Meu, meu, meu!— Alice comemora, mesmo que ainda não a tenha decretado vencedora.

 

—Boneco de neve tem que ter nariz de cenoura.— Valentim argumenta. 

 

—Tem nada.— a vencedora moral contrapõe com as mãos na cintura —Eu que fiz, posso colocar o que quiser

 

—Eu gostei do boneco da Ali.— Morgan diz. 

 

—Obrigada, Moranga.

 

—De nada, passarinha.

 

—Não vale. Vocês são meninas e puxam-saco uma da outra.— o garotinho esbraveja —Papai? 

 

—Foi mesmo um empate.— Tony decreta —Vamos pra dentro?— ele parece impaciente, mas talvez esteja apenas com frio, afinal é o único de nós sem uma touca. 

 

—Espera...— Morgan chama a nossa atenção —Não estamos esquecendo de nada? 

 

—Anjos de neve!— o nosso menino diz ao deitar no chão e  começa a mover os braços e as pernas, claro que as irmãs fazem o mesmo,  de repente a discussão foi esquecida e o clima natalino retorna.

 

Uma lufada de vento derruba a neve que estava nos galhos das árvores sobre nós, foi a deixa para voltarmos pra casa, antes de entrarmos batemos o excesso de flocos de gelo das roupas, e já dentro de casa penduramos os casacos no mancebo ao lado da porta. 

 

—Que quentinho que tá aqui.— Alice comenta. 

 

—E que cheiro bom.— Valentin completa. 

 

—O que teremos pro jantar?— a nossa mais velha pergunta. 

 

—Lasanha.

 

—Sua ou do papai?— ela faz questão de saber. 

 

—Do seu pai.— respondo. 

 

—Eu amo os milagre de natal.— ela graceja, ao abraçar o pai, porque há muito tempo ele não faz esse prato que sempre foi o favorito dela —Está muito cedo pra jantar?

 

—Na verdade, a colocamos no forno antes de irmos ao quintal…— respondo ao olhar para o relógio —Podemos ver um filme juntos antes.

 

Embora os dias de inverno pareçam mais curtos,  ainda falta um pouco para anoitecer. Perdemos alguns minutos escolhendo o que assistir para terminarmos assistindo a um clássico filme natalino, e quando ele terminou nós nos sentamos à mesa pra jantar.

 

—A Loh me disse que no Brasil eles esperam até a meia-noite pra jantar, porque aí já é natal...— Morgan começou a contar, ela está muito empolgada com a viagem que faremos —As famílias se reúnem na véspera e no dia de natal e ano novo.  E é bem diferente daqui. 

 

—Mas tem presentes?— Valentin quer saber. 

 

—Claro.— ela responde  —E não precisa esperar até a manhã de natal para recebê-los e abri-los.

 

—Então eu acho que o natal lá é mais legal, né, Moranga?— ele comenta. 

 

—Talvez, passarinho. 

 

—Coitado do Papai Noel, entregar todos os presentes naquele calor.— Tony diz, as crianças se entreolham. 

 

—Não existe Papai Noel,  papai.— Ali comenta sem rodeios, silêncio, mas Morgan nos olha como quem quer dizer que não tem nada a ver com a mais recente descoberta da irmã —Afinal, como um velhinho só  pode entregar presentes em todos os lugares do mundo?  

 

—Você não ouviu a Morgan falar que as crianças no Brasil recebem os presentes à noite?— ela aquiesce  —É porque ele e seus ajudantes têm muitos presentes pra entregar e cada criança recebe num horário.— ele argumenta, enquanto os pequenos o encaram com seus olhinhos curiosos, e não dizem mais nada. 

 

Terminamos o jantar, as crianças nos ajudaram com as louças, subimos e depois do banho Ali fez questão de vestir o seu pijama de natal, que nada mais é do que um macacão vermelho cheio de bolinhas verdes. Valentin tem um no qual as cores se invertem, e ao ver a irmã fez questão de usar o seu também, eles ainda dormem no mesmo quarto,  lado a lado, mas pequenos sinais mostram que daqui a pouco teremos uma nova reforma em casa pra decorar outro quarto, afinal, nem sempre eles estão em sintonia. Me certifico de que a janela esteja bem fechada, os beijo desejando boa noite.

 

—Boa noite, mamãe, te amo.— meus pequenos, já não tão pequenos, dizem juntos e eu deixo o cômodo.  

 

Ao passar pelo quarto da mais velha vejo que as luzes estão acesas, bato na porta, ela responde, adentro o local e ela não está sozinha. Vou até Morgan e lhe dou um beijo de boa noite, impossível não reparar que no móvel ao lado de sua cama há um livro e uma caneca de chá. Às vezes eu penso que a tecnologia evoluiu tanto e facilitou muito,  mas há pequenos prazeres na vida que são difíceis de abrir mão, ela desenvolveu o hábito da leitura desde pequena, mas sempre lemos obras físicas. Uma xícara de chá, a minha menina e um livro, aliás o nome da nossa outra menina é Alice porque na semana do nascimentos dos gêmeos estávamos lendo Alice no país das maravilhas. 

 

—Até amanhã,  mamãe.— ela me beija em retorno —Boa noite, amo vocês.— Morgan diz ao acomodar-se em seu leito.— e foi  a deixa para que Tony viesse comigo.  

 

—Você não estava a enchendo por causa do Kyle, estava?— pergunto assim que estamos no nosso quarto. 

 

—Claro que não.— ele responde, então eu deduzo que sim, o pai super protetor estava a aconselhando sobre manter distância pra não se machucar. É normal que ele esteja preocupado,  é o primeiro amor dela, e o garoto faz parte de uma família com a qual temos bastante vínculo. 

 

—Amor, você já pensou que ela também possa apenas querer se divertir?— eu indago. 

 

—Se ela fosse mais velha, tivesse mais experiência eu não estaria tão preocupado...— mentira, ele estaria preocupado sim, isso nunca vai mudar —Mas, baby, ele é o primeiro garoto na vida dela…

 

—Tony, eu conheço bem a mulher que estou criando e sei da sua intuição aflorada, por isso confio nela, foi ela quem não quis que as coisas ficassem mais sérias.— revelo —Mas também sei que ela é apenas uma garota, recaídas podem acontecer, e tudo bem. Estarei aqui pro que ela precisar. 

 

—Baby, quando foi que eles começaram a perder a inocência?— ele me pergunta, tem a ver com a Morgan, mas agora acho que também tem a ver com os pequenos. 

 

—Quando eles questionaram a existência do papai noel?— rebato, ele suspira —Amor, eles estão crescendo,  é inevitável.— outro suspiro —Relaxe...— eu serpenteio meus braços em seu pescoço —Você não quer ficar com os cabelos brancos,  quer?— encosto minha testa na sua e afago sua nuca.

 

—Engraçadinha.— ele responde sem qualquer humor, mas com muita preocupação, porque os cabelos brancos estão tomando conta de sua cabeça, Tony sabe que eu acho um charme, afinal ele não os teria se eu não o tivesse buscado no passado. Eu o beijo, ele corresponde, porém logo separa.

 

—Não quero ser um chato.

 

—Você não é, eu estava te provocando mais cedo.— o tranquilizo —Você só está exercendo a função pra qual nasceu,  ser um super pai.— ele ri do meu comentário.

 

—O super precisa de um banho.— ele me avisa. 

 

—Espero que seja um convite.— eu digo, e volto a beijá-lo guiando-o para o banheiro junto a mim. 

(...) 

 

 

O cheiro dele ainda se faz presente, nos lençóis,  no travesseiro e em mim, mas Tony não está aqui. É manhã de natal e como todos os anos ele levantou muito cedo pra deixar os presentes dos pequenos onde o "Papai Noel" deixaria. Me levanto, vou ao banheiro e depois ao closet e visto o cardigan de natal que ele me deu no ano em que casamos  pela segunda vez. Naquele ano, de uma hora pra outra, comecei a reparar em meu marido grudado a uma fotografia, depois de questionar, soube que lhe fora dada por Steve. Era uma foto da família Stark com a família Rogers, numa celebração natalina e todos usavam suéter com o tema, os adolescentes usavam gorros, ele era um deles. Pra mim aquela imagem sempre foi estranha, e irreal, afinal meu Tony odiava natais, ele era quase como o Grinch quando o conheci. Aquela foto mostrava um passado que não era seu, uma realidade paralela, por isso ele não tem tal lembrança, o que não significava que a foto não mexia com o meu marido, celebrações não eram costume dos Stark, mas Tony acreditava que seu pai mudara o comportamento após o encontro que tiveram no passado, conforme Steve relatara, contei que antigamente aquele tipo de foto era uma tradição familiar e lhe mostrei vários cartões da família Potts, comigo e meus pais, foi então que ele me presenteou com um casaco de natal igual ao da minha mãe, e desde então,  há dez anos, nós adotamos a tradição da roupa natalina. Embora nunca tenhamos registrado. 

 

—Bom dia, meu amor.— eu o surpreendo ao surgir na sala, percebo que ele escondeu algo, Tony  está sentado no sofá encarando três bicicletas com laços enormes posicionadas em frente à lareira. Pela primeira vez nossos rebentos pediram a mesma coisa. Morgan aprendeu a andar de bicicleta há cerca de três meses, sim, nós falhamos nisso, foi Lorena quem a ensinou,  e quando ela nos pediu uma bicicleta, seus irmãos também acharam que estava na hora de aprender. Afinal, eles têm quase 10 anos estamos atrasados com os pequenos também. 

 

—Bom dia, amor.— ele me beija, quando me sento ao seu lado —Feliz natal.  

 

—Feliz natal.— respondo  —Amor?

 

—Hum?— ele murmura. 

 

—O que foi que você escondeu quando eu apareci?— pergunto curiosa, não pedi nenhum presente, mas isso nunca o impediu de me surpreender. E realmente sou surpreendida, não só ao reparar no seu novo suéter vermelho com uma rena estampada, mas quando ele me mostra a foto amarelada e deteriorada entregue por Steve Rogers —Há muito tempo eu não o via com essa foto.— comento. 

 

—Pois é.— ele dá um sorriso sem graça, pois sabe que eu passei a não gostar daquela imagem desde quando me dei conta de que ela o transporta pra um lugar onde eu e as crianças não existiríamos. 

 

—Mas em alguns momentos eu me pego pensando nessa...— ele hesita, no entanto sei que a  palavra a seguir seria Vida. A última vez foi ao receber a carta de Steve, o meu ciúme ao saber que Tony e a filha do Capitão tiveram uma relação hipotética foi, e ainda é, irracional,  mas ele havia prometido nunca mais pensar naquilo —Me desculpe…

 

—Está tudo bem.— eu digo —Vou passar um café...— me levanto do sofá, porém  ele segura a minha mão. 

 

—Baby, sei que aquela história, aquela vida não era minha, mas…

 

—Mas por causa dessa imagem ela sempre vai parecer melhor do que a realidade que você teve.— eu completo,  ele assente —Steve disse que seu pai foi outro homem depois do que você disse a ele no passado, mas essa vida nunca vai ser melhor do que hoje, a gente tem tanto, amor...— novamente me sento, nos viramos frente à frente. 

 

—Tenho consciência disso, mas me peguei pensando "Será que o Howard dessa imagem, ensinou um pequeno Tony a andar de bicicleta?"— ele me pergunta com os olhos cheios d’água —Porque acho que nunca me preocupei em ensinar as crianças, pois nunca aprendi.— ele revela me surpreendendo. 

 

—Você nunca?— pergunto, ele move a cabeça em negação, parece até envergonhado.  

 

—Por isso a paixão por carros, nunca andei de moto também.— ele diz. O homem que já viveu por várias vidas, meu marido genial, que pode voar, nunca se equilibrou em duas rodas, é difícil de acreditar. Eu achava que não havia nada no mundo que ele não tivesse feito, pra mim, Tony Stark sempre foi extraordinário e eu nunca pensei que teria a chance de lhe ensinar algo tão banal. 

 

—Amor, não sei o que dizer...— eu o abraço  —Mas nós vamos resolver isso.— garanto —Vamos comprar mais duas bicicletas, uma pra mim e outra pra você.

 

—Seria uma vergonha aprender agora, eu estou velho demais.— ele fala. 

 

—Ninguém é velho demais pra aprender algo.— passo as mãos em seu rosto, que possui marcas de expressão e da idade, assim como o meu, mas continua lindo, ele sempre será o cara por quem me apaixonei muitos anos atrás  —É a minha resolução de ano novo, um passeio de bike em família. Vou ensinar você e os nossos pequenos.— eu o beijo. 

 

—Ok.— ele concorda com um amplo sorriso  —Mas você não faz isso há anos também, não é?  

 

—Sim, mas uma vez que se aprende a andar de bicicleta não dá pra esquecer.— eu sorrio de volta —Você nunca ouviu o ditado?— ele aquiesce.  

 

—Eu te amo tanto.— ele me diz —E o que temos é muito melhor do que qualquer outra possibilidade de vida. 

 

—Disso eu tenho plena certeza. A não ser que estejamos juntos em outras vidas, porque eu te amo demais.— lhe digo, ele me beija, me beija e me beija —Agora me deixa levantar, pois preciso de um café.— me separo em busca de ar. 

 

Ele me solta e eu vou à cozinha, coloco a cafeteira pra processar, vou à geladeira pego o peru do almoço e o levo ao forno, preparo duas canecas de café, e quando estou voltando pra sala vejo uma criança descendo as escadas, seguida por outra e depois outra, uma escadinha, da menor até a maior em suas roupas natalinas. 

 

—Bicicletas!— eles comemoram em uníssono. E não há sensação melhor, porque acertamos o presente. Tinha que ser assim. 

 

—Pois é.— Tony diz. Eles abandonam as bicicletas e sobem no sofá junto ao pai, formando um montinho. Meu monte de amor. 

 

—Cabe mais uma nesse abraço?— pergunto ao me aproximar, deixo o café sobre a mesa de centro e sou imediatamente acolhida —Feliz natal, meus bebês. 

 

—Feliz natal, mamãe!— três vozes, o coro mais lindo que já ouvi. 

 

—Eita. Acho que amacei alguma coisa aqui.—Valentin comenta ao separar-se do abraço —O que é esse papel?

 

—É uma foto.— Morgan observa ao puxar a imagem debaixo do joelho do irmão  —Ou era.— ela comenta, pois acaba de ser rasgada. 

 

—Ê, Tim-tim.— Ali o recrimina. 

 

—Não foi culpa minha.— ele se defende. 

 

—Está tudo bem, campeão.— Tony minimiza —Não era importante.— ele diz ao me olhar. 

 

—Então porque tava aqui?— Alice é pura curiosidade. 

 

—Pra me lembrar de que a gente precisa de uma foto de natal.— meu marido diz, pega o celular que está sobre a mesa, o posiciona apoiado nas canecas de café e dispara o temporizador. Nos ajeitamos no sofá e segundos depois o flash acende, a cada disparo tentamos mudar de pose até a luz se apagar —Vamos ver?

 

—Tanta tecnologia e a gente apoia o celular nas canecas, sabe?— Morgan comenta nos fazendo rir, enquanto analisa as imagens —E ainda ficamos lindos. 

 

—Amei todas,  não consigo escolher uma só.— digo quando, finalmente,  o celular chega nas minhas mãos. Nas fotos há sorrisos, caretas, abraços, mas o melhor de tudo, somos nós cinco. Eu, a minha meninas de cabelos e olhos castanhos como o pai dela, meu menino que é tão meu, que é  ruivo como eu, a maior surpresa das nossas vidas, uma garotinha com olhos iguais ao meus, tão doce que seus cabelos têm cor de mel, e meu lindo marido de cabelos grisalhos. 

 

Depois do café da manhã, Tony saiu com a nossa mais velha e quando voltaram eu recebi meu presente. Todas as nossas fotos foram reveladas e estão em porta-retratos sobre a lareira, não havia lugar melhor pra elas, ali onde por alguns dias as cinzas dele estiveram. Depois de saber que suas cinzas foram transformadas em diamantes que adornam a aliança do meu segundo pedido de casamento, essa é a maior prova de que vencemos a morte, fotos felizes da nossa família, hoje somos cinco porque eu o resgatei.

 

—Essas são bem reais pra mim.— ele diz ao me abraçar. 

 

—Sim, porque é a nossa vida.— eu o beijo. 

 

Se perder um amor,  não se perca. E de fato,  eu não podia me perder, pois ainda havia a Morgan,  eu tinha que ser forte e centrada por ela. Precisei deixá-lo ir, mas ainda me sentia ligada a ele de uma forma desconcertante e bastante ilógica, hoje depois de tudo o que vivemos, percebo que faz todo sentido. Eu. Ele. Nós dois. Nós três. Nós duas. Nós três. Nós cinco. Mil vidas, mil chances. Catorze milhões de finais possíveis, e uma tragédia foi destinada a nós? Eu não podia aceitar. Então coube a mim buscar o nosso final feliz. Se encontrar um amor, segure-o. Se ele for o amor da sua vida,  resgate-o. 




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Notas finais do capítulo

Bem…
No final da minha última história, faltava apenas alguns dias pra estreia de Endgame e eu disse que voltaria caso algo não saísse do jeito que eu queria. E nada foi do jeito que a gente queria, não é mesmo?
Promessa é dívida, e a dívida foi paga.
Não faço ideia de como vai ser o Universo Marvel nos cinemas daqui pra frente, mas uma coisa eu sei, Pepperony acabou.
Sendo assim, não sei quando eu volto a escrever, mas com certeza isso não é um adeus. É um até uma próxima sem prazo determinado.

As minhas histórias sempre estarão aqui pra vcs que amam esse casal tanto qto eu, então comentem, compartilhem (mas sem plágio, tá?).

❤️

Até mais.
Starkisses,
Tulipa ♡



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