Resgate escrita por Tulipa


Capítulo 25
Vinte e Cinco


Notas iniciais do capítulo

Olha quem voltou um mês depois a última atualização, desculpa a demora, mas foi bem complicado escrever nos últimos dias =/

Bora pro penúltimo?



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⎊ Tony Stark ⎊



Supersoldado. 

Achei que fosse uma pegadinha,  mas fazer graça das coisas sempre foi mais o meu feitio do que o dele, porém brincar com a morte não é algo que me atreveria depois de tudo o que passei. Mas eu achava que ele era imortal, até agora, então tive certeza de que ninguém é,  nem Steve Rogers. Quando chegamos ao funeral um homem muito parecido com Steve estava no púlpito, e se ele não usasse o termo "Meu pai" o tempo todo, poderia jurar que era a sua versão de meia-idade. 

 

Percebo que Sam colocou o escudo sobre o caixão,  quando nos aproximamos Morgan foi a primeira a despedir-se, mas ela não conseguiu dizer muita coisa além de um "Obrigada por ser meu vovô Steve, vou te amar pra sempre". Natasha tentou dizer algo, mas foi  em vão, por mais treinada que ela tenha sido pra transparecer frieza, acabou de perder um amigo, quase um irmão, eles estiveram lado a lado em seu período mais vulnerável. Pepper se aproxima e Nat chora em seu ombro, ela a ampara e a leva pra um banco. Bem agora que fiquei diante do meu amigo sem vida, acho que devo dizer algo, embora minha voz embargada. 

—Ei, velhinho, você não poderia ser outra pessoa além do Capitão América, tão perfeito pro papel que nasceu num 4 de julho, o dia mais patriota dos EUA,  mas morreu em Londres. E tudo bem, porque foi uma inglesa que lhe apresentou o amor, acho que agora você irá encontrá-la, pra eternidade. Se vir meus pais diga que mandei um oi, mas não tenho nenhuma pressa de estar desse lado. Obrigado por  tudo. 

 

A morte do Capitão América runiu  Os Vingadores e causou grande comoção, nunca vi tanto marmanjo chorando. Thor ressurgiu com o seu novo bando de estranhos, de algum lugar da galáxia, assim como a Capitã Danvers.  Foi um funeral triste e bonito, cheio de homenagens, afinal Steve foi o Primeiro Vingador. Começo a me despedir dos meus ex-colegas de trabalho quando me dou conta de que pra Morgan esse momento e essas pessoas não despertam boas lembranças, por isso ela não largou mais da mãe. 

Depois do sepultamento, presto minhas condolências aos filhos de Steve. James e Sarah, me analisaram desde o momento  em que cheguei, é estranha a sensação de perceber que eles me conhecem, e que são pessoas das quais eu deveria me lembrar, afinal, em algum universo crescemos juntos, mas não faço ideia de quem sejam. Ainda mais Sarah, pele clara, cabelos castanhos, olhos verdes, posso não ser bom com nomes, mas sou ótimo  fisionomista e reconheceria uma mulher bonita como ela em qualquer época.

 

—Você não mudou nada.— ela comenta —Quer dizer, passaram alguns anos, mas você ainda tem o mesmo olhar.— eu deveria dizer algo parecido, mas estaria mentindo, nunca a vi na vida —Não precisa dizer nada, papai nos explicou tudo.— lembro-me de uma conversa com Steve quando ele contou sobre a filha ser mestre em física e lecionar em Cambridge, bem ela deve estar familiarizada com experiências,  não como a que vivemos, mas é uma mulher da ciência.  

 

—A sua filha é linda.— eu digo, ao reparar na inglesinha de cabelos castanhos, que, pelo que me lembro é alguns meses mais velha que os gêmeos —Os meus têm a mesma idade.

 

—Sim, eu sei, estão ali com a sua esposa, não é?— olho pra trás,  e vejo Pepper sentada com as crianças, no meio da confusão não conseguimos quem ficasse com eles, já que as nossas empregadas estão de férias, assim como nós estávamos —Eles são lindos também. Mas a Morgan era o xodó do papai. 

 

—Eles se davam bem, realmente.— informo e ela demonstra saber —Precisamos voltar pra casa,  nós estávamos chegando de viagem e fomos surpreendidos com a notícia. 

 

—Obrigada por ter vindo.— ela agradece. Acho que um abraço ficaria estranho, então apenas aperto sua mão e volto pra minha família. 

 

—A gente já pode ir pra casa?— Ali pergunta.

 

—Agora.— eu respondo —Natasha vai conosco? 

 

—Ela disse que não.— Pepper responde —Ela e Bruce ajudarão os filhos do Steve com algumas coisas. 

 

—Já estão indo,  podemos pegar uma carona?— Peter pergunta, ele está com Happy, que veio me representar com medo de que eu não chegasse a tempo, e May. 

 

—Claro.— Morgan responde por mim, afinal ela deve estar com bastante saudade do irmão que mal tem aparecido em casa. Seguimos para o aeroporto e deixamos Londres algumas horas depois de chegarmos na cidade. 

 

Quando  chegamos em casa os pequenos estavam quase dormindo, Happy, May, e Peter ficaram em Nova York na escala que fizemos, estamos todos exaustos,  ainda bem que jantamos no avião. 

 

—Então, antes de irmos a Londres explicamos o que havia acontecido com o vovô Steve, alguém quer conversar sobre?— a minha esposa pergunta antes de subirmos.  

 

—Ele fez um viagem pra outro lugar, que se chama morte, e nunca mais vem ver a gente, né?— Ali contrapõe esfregando os olhos. 

 

—É isso mesmo.— Pepper diz —Vocês vão sentir saudade, talvez um dia essa saudade irá doer e vocês vão chorar um pouco, mas não há como ele voltar.

 

—Eu não vou chorar.— Valentin se pronuncia —Quer dizer, só se você e o papai viajarem pra morte também. 

 

—Todo mundo vai viajar pra lá um dia, mas a gente espera que a nossa viagem demore bastante. Tipo quando estivermos bem velhinhos como o Steve.— eu digo, e percebo Morgan suspirar. 

 

—Ele era velhinho mesmo, né?—Alice comenta

 

—Quantos anos ele tinha, papai?— Tim-tim demonstra curiosidade. 

 

—114.— respondo após fazer as contas rapidamente. 

 

—Uau!— os gêmeos exclamam surpresos. 

 

—Pois é.— eu digo —Papai está exausto, tem mais alguém querendo banho e cama? 

 

—Eu.— Morgan diz —Vou subir, boa noite, mamãe.

 

—Boa noite, meu amor.— Pepper a beija na testa, a abraça e diz algo enquanto a nossa filha apenas move a cabeça em afirmação. 

 

—Boa noite, papai.  

 

—Boa noite, Maguna.— eu a beijo na testa também —Você vai ficar bem? Se quiser conversar…

 

—Estou bem, porque tenho a certeza de que o vovô Steve viveu tudo o que tinha pra viver e nada ficou pendente.— ela observa. 

 

—Você é a garota mais especial do mundo, sabia?— eu a abraço —Durma bem,  minha princesa. 

 

—Ei?— Ali protesta. 

 

—Meu Deus, o ciúme dessa garota.—Morgan sai do meu abraço e agarra a irmã —Papai tem duas princesas, mas eu tenho só você, quer dormir comigo?   

 

—Oba!

 

—Vem também,  pequeno. Vamos dormir bem agarradinhos?— a nossa mais velha convida o irmão antes que role outra cena de ciúme, e ele não se faz de rogado. 

 

—Banho, antes de deitar, ok.— Pepper diz pr'os pequenos. 

 

—Ah, sim, com certeza ninguém fedido vai deitar comigo.— Morgan diz, subimos.



—Você dá conta deles, filha?

 

—Com certeza.— Maguna garante —Deem boa noite pro papai e pra mamãe.— ela manda ao parar em frente ao seu quarto, eles prontamente a obedecem e Pepper e eu ganhamos beijos duplos. 

 

—Durmam bem, meu bebês.— Pepper diz por último e então eles entram no quarto da Morgan e nós no nosso —E você, como está?— minha esposa indaga assim que fechamos a porta. 

 

—Bem.— respondo —Afinal, Steve teve uma vida longa, e incrivelmente bonita.

 

—É,  não é?— Pepper senta na poltrona e se deixa chorar —Quando aconteceu o que aconteceu com você,  com a gente, eu só pensava "Porquê você? Porquê não ele? Ele não tem ninguém".

 

—Não precisa se martirizar, você estava tentando aceitar o seu luto.— amparo uma lágrima com o polegar.

 

—Só hoje, quando ouvi as palavras dos filhos dele, entendi que aquele Steve que acordou depois de anos congelado estava vivo, mas uma vida inteira havia sido tirada dele,  e ele tinha o direito de tomá-la de volta, não é?

 

—É.— afirmo —E foi o que ele fez.

 

—É o que estou fazendo também, porque morri um pouco quando você...— ela engasga —...Então promete que ainda vai viver bastante?

 

—Você me promete?— contraponho, ela aquiesce —Então vamos nos aguentar por muitos e muitos anos. 

 

—É tudo o que eu mais quero.— Pepper me diz. Passei  o dia preocupado com a Morgan e não me dei conta de que a minha esposa também viveu aquele trauma e, diferente da nossa filha, a minha perda sempre esteve bem presente na mente dela.

 

—Vem comigo.— eu digo  —A gente precisa de banho,  e da nossa cama, estamos longe dela há tempo demais.  

 

 

(...)

 

 

 

Logo depois do nascimento dos gêmeos pensamos muitas vezes em voltar pra Los Angeles, ou Nova York, mas decidimos permanecer em Connectcut. New Haven havia deixado de ser um refúgio e se transformou em nosso novo lar, literalmente,  foi então que decidi pela reforma e nossos filhos cresceram numa casa com menos cara de cabana e mais cara de casa. 

 

Estamos há menos de 2h de NY e bem perto da natureza,  talvez esteja enganado, mas acho que deve ser bem difícil encontrar uma fazenda em Manhattan ou em Malibu, mas em New Haven, foi super fácil, o problema é que a minha esposa não quer nos deixar adotar o bichinho que escolhemos. 

 

—Não!— Pepper foi mais enfática do que da outra vez —A gente veio adotar um cachorro.

 

—Mas isso é um cachorrinho peludinho.— Ali diz inocentemente, Morgan ri. 

 

—Não, filha, isso é uma lhama,  seu pai quer que a gente crie uma lhama.

 

—É uma alpaca.— corrijo, e sei que ela rolou os olhos, embora os óculos escuros  —Já tenho até um nome pra ela, baby, por favor.— eu peço. 

 

—Mamãe,  por favor?— Valentin suplica. 

 

—Filho, esse bicho cospe nas pessoas.— ela argumenta.

 

—Eca!— ouço Ali protestar. 

 

—A gente não veio adotar um cachorro?— a nossa mais velha pergunta. 

 

—Sim.— Pepper diz —Vamos atrás do nosso cachorro.  

 

—E o Gerald?  

 

—Você deu um nome pra ele?— ela parece perplexa.  

 

—Eu disse que havia dado.— encolho os ombros.

 

—Achei fofinho.— Ali diz tocando o topete da alpaca —Oi, oi. O pelo dele é tão macio, mamãe, encosta.— Pepper move a cabeça em negação, porque ela sabe que está perdendo a batalha 

 

—A gente tem um quintal bem grande pro Gerald, né?— Valentin argumenta. 

 

—Ele não vai ser filhote pra sempre, vocês sabem, né?— Morgan diz, ela está do lado da Pepper, traidora. 

 

—Sério, Moranga?— Ali pergunta confusa. 

 

—Ainda bem, né,  Moranga?— Valentin replica —Assim podemos montar nele.

 

—Eu quero montar nele!— Alice não consegue decidir de que lado está, é engraçado. 

 

—Tony?!

 

—Ninguém vai montar no Gerald.— sou enfático —Fiquem aqui que eu preciso conversar com a mamãe,  ok?— os deixo próximo ao cercado e me afasto um pouco com a Pepper. 

 

—Não há conversa, a gente veio por um cachorro.— ela diz irritada. 

 

—Mas é comum demais, baby, nós somos especiais, merecemos um bichinho diferente.— argumento. 

 

—Pergunta pr'aquele guaxinim falante do Thor se ele não quer morar com a gente, pelo menos acho que ele arruma a própria bagunça.— ela diz e eu rio, porque mesmo contrariada seu humor ainda está ali e eu amo isso. 

 

—Primeiro, ele não é do Thor. Segundo, ele ensinaria coisas pras crianças que você não iria gostar. E terceiro, se o problema é bagunça,  eu mesmo cuido de tudo.— advogo em minha causa —Baby?

 

—Você não vai me deixar em paz enquanto não levar a lhama pra casa, não é?— ela suspira. 

 

—É uma alpaca, e sim!

 

—Vai pegar a sua alpaca.— ela diz vencida.

 

—Ah, eu te amo demais.— eu a beijo.

 

—Espero não ser trocada por um alpaca.— ela ri. 

 

—Jamais.— garanto —Crianças,  o Gerald é nosso!— anuncio e eles comemoram. 

 

Pepper e Mogan sentaram num banco sob uma árvore enquanto e eu meu time vencedor fomos falar com o cara que mexia no feno dentro do cercadinho e testemunhou a nossa disputa familiar. Só que minutos depois descobri que o alpaca não estava exposto pra doação,  então eu teria que comprá-lo, só que ele não estava a venda também. Então fiz uma oferta irrecusável, e ainda consegui uns sacos de feno, e que ele fosse em casa me ajudar a ajeitar o cantinho pro bichinho.

 

—Papai,  você foi extorquido.— Morgan se manifesta ao ver a nota.

 

—Nada que sua mãe não recupere.— eu minimizo. Apesar dela estar furiosa por nós termos saído de casa pra adotar um cachorro e voltarmos pra casa com outro tipo de filhote com nota fiscal.  

 

 

(...)

 

 

As férias acabaram, literalmente,  e a minha esposa não perdeu a chance de me mandar pra primeira reunião  de trabalho que surgiu depois de muito tempo, foram dois dias fora e acho que ela se arrependeu.  Mas pra uma coisa a viagem serviu, ontem, durante uma vídeo-chamada decidimos que a matriz da Stark voltará a ser em Nova York, como era na época do meu pai, só precisamos de um novo local,  afinal onde antes ficava a empresa hoje fica o Complexo dos Vingadores, mas talvez eles possam coexistir no mesmo endereço. 

 

Quando pouso em New Haven  me dou conta de que está quase na hora de pegar as crianças na escola e decido fazer isso, ligo  pra Pepper avisando que a babá pode ser dispensada por hoje. 

 

—Na verdade ela já estava de folga, as crianças passaram a manhã com a Nat.— Pepper avisa.

 

—Ela apareceu?— Pepper confirma, mostro-me surpreso, afinal, não a víamos desde o funeral de Steve —Certo, vou pegar as crianças e já  estou em casa, te amo.

 

—Vem logo.—consigo sentir a saudade em sua voz —Amo você.

 

A primeira parada é no colégio da Morgan, estaciono o carro sob uma árvore  do outro lado da rua e aguardo alguns minutos até ouvir o sinal que indica a saída,  tão anos 80. Como na pré-escola, ela sai do colégio ao lado de sua amiga inseparável,  as duas conversam e riem, mas os anos passaram e há dois garotos, talvez mais velhos, um deles parece ser o tal Kyle, primo da Lorena. O outro garoto que não sei quem é, se despede beijando as garotas no rosto e faz um cumprimento  com Kyle. Lorena se despede de Morgan com um abraço, e Kyle lhe dá um beijo na bochecha, não sei se é o ângulo, mas não me pareceu inocente, após o gesto a minha menina ajeita o cabelo atrás da orelha e sorri, conheço esse gestual,  ela gosta dele, e isso me faz não gostar dele. Ao ficar sozinha, minha filha olha para os lados e depois para o celular em sua mão, com certeza estranhando a ausência de Phoebe. Decido assobiar e bater palmas pra que ela me note. 

 

—Pai!— ela exclama, parece contente em me ver, mas o que houve com "Papai"? —Que surpresa boa. 

 

—Gostou mesmo?— pergunto ao abraça-la. 

 

—Claro,  estava com saudade.— ganho um beijo no rosto antes dela me soltar. 

 

—Vamos buscar nossos bebês?

 

—Vamos, mas eles não são mais bebês.— ela observa,  pois é, nenhum deles é, pude constatar isso ao observá-la minutos atrás. 

 

Diferente da minha mais velha os pequenos me são entregues dentro do colégio,  e eu nunca vou me acostumar com a sensação do melhor abraço duplo do mundo, ainda mais intensificado pela saudade. 

 

—Não vai mais trabalhar,  ok?— Alice diz. 

 

—Papai e mamãe estão vendo uma maneira de trabalhar mais perto.— informo. 

 

—Tia Nat trouxe a gente, papai buscou a gente, amanhã não tem aula, sexta-feira é o melhor dia, né?— Valentin comenta e me faz rir. Entramos no carro  e depois de garantir que todos estão com os cintos afivelados, seguimos. 

 

Quando estaciono em casa encontro minha esposa sentada no degrau da varanda com uma caneca em suas mãos e Gerald a seus pés enquanto ela afaga a barriga dele. Depois que ele parou de comer as flores dela a convivência entre eles melhorou muito, e agora minha linda esposa trata o alpaca como um cachorrinho. Aliás,  ele meio que se comporta como um, já que ver as crianças o deixa alerta e saltitante, as mochilas foram abandonadas nos degraus e toda atenção é do filhote. 

 

—Saudade das pernas mais lindas desse mundo.— digo ao me apoiar nos  joelhos da minha mulher e curvar-me para beijar seus lábios com gosto de café. 

 

—Só das pernas?— ela pergunta. 

 

—De tudo.— respondo,  mas ela sabe que me referi as pernas porque a fenda do vestido de verão que ela está usando as deixa expostas —Vamos entrar?  

 

—Daqui a pouco quando o sol baixar de vez.— ela responde. Pepper sempre adorou sentar na varanda e ver o dia acabar. A deixo em seu momento, pego minha mala e a levo pra dentro. 

 

—Boa tarde, Sr Stark, a Sra  Stark pediu um jantar especial pra te receber de volta.— Eva informa ao me ver. 

 

—O cheiro está ótimo, mal posso esperar.— eu digo, subo até o meu quarto, deixo a mala e percebo que há um envelope sobre o móvel ao lado da cama e nele há o meu nome escrito. Me sento e começo a ler a carta endereçada a mim. 



"Tony, 

 

Por muito tempo remoí uma espécie de culpa,  de que eu poderia ter impedido a morte de seus pais, afinal voltei no tempo e sabia exatamente quando e onde tudo iria acontecer. Mas eu não sabia como evitar aquilo sem interferir no que vivemos hoje. Quer dizer, sempre soube que Peggy havia se casado com um oficial do exército e teve dois filhos, na nossa viagem no tempo eu pensei "Porquê não eu? Posso ser esse cara" então a minha atitude talvez tenha mudado apenas o marido dela, no caso, eu. Mas como disse em minha visita, eu te vi crescer, nós éramos como uma única família e seus pais queriam manter assim. E o Tony que conheci adolescente parecia gostar da ideia de ser meu genro, até a morte de seus pais, então você se afastou completamente. 

Consegue perceber o que teria acontecido? A morte de Howard e Maria era um fato importante demais pra ser evitado, porque alteraria toda a sua trajetória,  você se casaria com uma ótima moça, mas ela não seria a Pepper, seria a minha Sarah, e então não haveria a Morgan ou os gêmeos. 

Certa vez Thor disse que, "Ao contrário de você, não há nada que não posso ser explicado", mas me atrevo a tentar. Seu destino era ser um herói, sim,  mas heróis também se perdem, tropeçam e precisam ser salvos, resgatados, e foi isso o que a Pepper fez. Hoje me dei conta de que seus pais precisavam morrer, você precisava morrer pra ter o que tem agora, porque heróis também precisam de heróis,  ou uma heroína no caso. Acabo de saber que Howard é uma garotinha, e tenho certeza que era assim que deveria ser. Você tem uma família abençoada, Tony, viva intensamente a sua nova chance como vivi a minha. 

Ass. Steve Rogers

Londes, 04.04.2024."



Termino a carta com lágrimas nos olhos, onde será que isso esteve por 9 anos? Quando soube das circunstâncias da morte dos meus pais a dor que senti foi maior porque naquela época eu estava só,  estava separado da Pepper e achava que poderia ser pra sempre. Mas depois que formamos a nossa família, embora pudesse voltar, nunca pensei em evitar a morte deles, talvez porque o que eu tenho me bastasse. Agora entendo os olhares de Sarah, pra ela, fomos mais que amigos de infância, poderia ter dado certo, mas ela nunca foi a mulher da minha vida,  porque aquela não era a minha história, era do Steve. Quando construí a máquina do tempo queria trazer quem havíamos perdido, mas precisava manter a qualquer custo quem estava aqui, quem nasceu depois do caos, eu tinha uma joia mais valiosa de que qualquer gema do infinito, hoje tenho três. 

 

—Guardem as mochilas, e eu não preciso dizer de novo o que vocês devem fazer antes do jantar,  não é?— ouço a voz da minha esposa vir do corredor.  

 

—A gente toma banho demais, eu acho.— Valentin retruca. Portas batem, acho que cada um entrou em seu quarto, Pepper adentra o nosso.  

 

—Achei que fosse voltar pra ver o pôr-do-sol com a gente. Mas ao contrário disso você preferiu sentar na nossa cama com roupa de rua.— ela diz ao sentar em meu colo.

 

—Era a intensão descer,  mas achei isso.— mostro o envelope —Foi a Natasha quem trouxe?— Pepper aquiesce. 

 

—O que diz aí?— ela é  curiosa. 

 

—Algo que inconscientemente já sabia.— respondo, ela me beija, e somos interrompidos com sons de portas batendo. 

 

—O que eu fiz pra merecer um irmão porquinho?— ouvimos Morgan perguntar.

 

—Me deixa ver o que está acontecendo.— ela levanta, abre a porta e quase é atropelada por uma criança que entra correndo no nosso quarto e se joga na cama. Valentin. 

 

 —Já pro chuveiro, passarinho fedido.— Pepper ordena. 

 

—Passarinho porquinho.— Alice o provoca ao juntar-se ao irmão, a mais velha vem logo atrás. 

 

—Olha mamãe, tem duas crianças sujas rolando nos seus lençóis de sei lá quantos fios egípcios.— Morgan diz fazendo cócegas nos irmãos.

 

 Pepper não gosta que a gente sente na cama com as roupas que usamos na rua, acho que algumas manias dela foram adquiridas por minha causa, eu não pegava nada das mãos de ninguém, a não ser ela. Mas as manias, principalmente com limpeza, foram sumindo com a chegada das crianças, afinal, já os pegamos por diversas vezes comendo terra no quintal.

 

Em vez de repreende-los ela se junta a eles. Cócegas, beijos e risos, ela não se importa de que ninguém se banhou,  o quarto agora tem a melhor atmosfera e ressoa o melhor som. Uma vez construí um reator pra me manter vivo, hoje a minha fonte de energia são as quatro pessoas. Ninguém é imortal, mas eles me manterão vivo por muito tempo. 


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Notas finais do capítulo

Kelly Adorno, obrigada pela recomendação.

Vou fazer o possível pra voltar antes do fim do ano, mas não garanto nada.
não me abandonem.

Até o último.

Starkisses, Tulipa



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