Resgate escrita por Tulipa


Capítulo 1
Um


Notas iniciais do capítulo

Olha quem voltei?

Eu chorrei horrores as duas vezes que fui no cinema, aquilo não se faz.

E como de costume, tô aqui pra consertar algumas, muitas coisas, agora que parei de sofrer consigo escrever.



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Quando mudamos pra essa casa a nossa intenção era desacelerar.  Logo ele, tão tecnológico escolher uma casa no lago, no meio do mato. Um refúgio, que pra fase que estávamos prestes a viver parecia bom. A fase durou cinco anos e eu não reclamava das viagens quando precisava ir até a empresa,  era cansativo, mas ao chegar em casa sempre tinha a paz de estar em paz com os meus amores.

Tony foi pai em tempo integral, ele era o herói, o ídolo dela. Cada vez que Morgan aprendia um número maior era o tamanho do amor que ela dizia sentir por ele.  10. 50. 100. 3000. O homem mais mulherengo que eu já conheci havia sossegado, pois tinha uma garotinha que o amava mil milhões e ele a amava mais do que tudo no mundo. Ele a amava mais que a mim, e eu não me importava.  

Eu estou  parada diante da lareira encarando a urna com as cinzas dele, não sei ao certo o que fazer com elas.  Jogar no lago, ir até nosso antigo endereço, em Malibu, e arremessá-las para que o vento as leve ou talvez deixar ali onde está. Mas nem eu sei se ainda quero permanecer aqui, tudo me lembra ele.

 

—Pepper,  nós estamos indo...— o peso da mão em meu ombro me tirou do transe,  olho pra trás e vejo o olhar amável do Dr. Banner, mesmo verde e enorme eu ainda vejo o amigo do meu marido no fundo dos olhos dele.

 

—Você vai ficar bem?— Rhodey pergunta preocupado. Olho pela janela e vejo Morgan sentada com Happy na varanda,  e então assinto —Pode me ligar a qualquer momento, quando quiser, pro que precisar…

 

—Eu sei.— eu digo —Sei que posso contar com você.

 

—Com todos nós.— Steve observa —Somos uma família.

 

Não consigo esboçar qualquer reação com a afirmação dele, mas apesar de ter usado um traje e ter lutado ao lado deles, Os Vingadores nunca serão a minha família.

 

—Por falar em família, já acionei uma empresa pra reerguer o complexo,  acredito que o Tony iria querer ver o nosso lar de pé.— Maria Hill me informou,  ela trabalhava na Stark comigo desde a ruptura da SHIELD, mas eu não a via há 05 anos.  Era estranho como pra eles, os que viraram pó, o tempo não havia passado.

 

Mais estranho ainda era o fato de terem matado o Thanos, e cinco anos depois ele estar aqui, na Terra, pra tentar nos aniquilar. Nada fazia sentido, e não ter o Tony aqui faz menos sentido ainda.

 

—Bem vocês são muitos agora, acho que vão precisar de um quartel general logo.— tentei mostrar compreensão.

 

—Nós somos muitos.— Fury  disse, talvez pra que me sentisse acolhida.  

 

—Não me inclua...— pedi —...Eu só estava naquela batalha porque vi a mensagem deixada pelo Tony,  essa mensagem que exibi no funeral, estava lá pra tentar mantê-lo vivo e não consegui. Agora a minha filha só tem a mim, por isso não vou vestir aquele traje outra vez. A não ser que a vida dela ou a minha dependa disso.— a minha voz embargou.  Eu estava prestes a começar a chorar quando minhas pernas foram envolvidas por alguém. Eu me curvei e peguei Morgan em meus braços.

 

—O Dindon vai me dar cheeseburger.— ela sussurra pra mim.

 

—Obrigada por salvar a mamãe.— sussurro em seu ouvido e a beijo —Se vocês não se importam eu gostaria de ficar com a minha filha.

 

—Ok.— Carol foi a primeira a sair da sala, ela é mesmo mais de agir do que de falar, e eu serei eternamente grata por ela ter encontrado o Tony perdido no espaço e ter me garantido esses últimos anos.  Nick Fury a seguiu, assim como Maria.

 

—O tio Rhodey estará sempre aqui aqui, viu?— Rhodes disse pra Mongan quando abraçou a mim e ela.

 

—Pepper, não sei se você sabe, mas nós vamos precisar do último projeto desenvolvido pelo Tony…— Steve diz.

 

—Que projeto?

 

—O protótipo da máquina do tempo.— Bruce responde —Quando veio do passado Thanos destruiu a máquina do tempo construída por Tony no complexo, e durante a batalha destruiu o túnel quântico de Hank Pym, então precisarei reconstruir a máquina.— ele esclarece.  

 

—Preciso voltar pra deixar as joias do infinito no local de onde as tiramos, Tony sabia que eu teria essa missão.— Steve explica.  

 

—Não devolver as joias criaria realidades paralelas e abriria fendas no espaço-tempo.— assenti, mesmo não entendendo muito bem —No entanto,  não sei se o Tony iria apoiar essa minha decisão, mas depois que o Steve devolver as joias e voltar devemos destruir a máquina do tempo pra evitar futuras dores de cabeça.

 

—Destruir?

 

—Não vai destruir nada do meu pai!— Morgan se manifesta em meu colo.

 

—Pepper, é preciso, imagina a confusão na nossa realidade se  as pessoas começarem a viajar de volta ao passado, ou trazer gente do passado pro nosso presente?  Tony havia dito que a teoria de De volta para o futuro é uma mentira, mas a gente não pode arriscar.

 

—A minha cabeça não é tão genial quanto a do Tony,  não pra tecnologia, mas se está dizendo, acredito em você, no entanto quero estar presente quando você for destruí-la.— eu exijo.  

 

—Tudo bem, aviso você quando for acontecer.— Bruce garantiu antes de se despedir.  Ele e Steve foram os últimos a sair.

 

Sento no sofá mantendo Morgan em meu colo, eu simplesmente não sou capaz de soltá-la, ela agora é tudo o que eu tenho. Volto a encarar a urna sobre a lareira e começo a chorar.  Dizer a ele que ficaríamos bem foi a maior mentira que contei, mas eu sabia que não dizer prolongaria a sua dor e vê-lo agonizar me fez morrer um pouco também.

 

—Não chora, mamãe,  o Dindon foi comprar cheeseburger pra gente. Ele disse que o papai adora cheeseburger.— ela diz me acariciando o rosto.

 

—Ele adora mesmo.— concordo,  no presente, assim como ela. E então permanecemos aqui, e eu sentindo a nossa casa cada vez maior.

 

Depois de Morgan devorar o hambúrguer e as batatas fritas trazidos por Happy ela tomou banho e algumas horas mais tarde apagou no colo dele.

 

—Posso ficar essa noite se você quiser.— ele me diz ao voltar à sala após fazer o favor de colocá-la na cama pra mim.  

 

—Não precisa, realmente.— agradeço sabendo que o padrinho da minha filha e nosso amigo tão leal sempre estará aqui por nós duas.  

 

—Você precisa comer.— ele reforçou.

 

—Quando eu conseguir.— respondo esboçando um sorriso.  

 

—Meu celular está ligado 24h.— Happy informou, me abraçou, e foi embora.

 

Subi, me banhei e vesti uma das suas camisetas, deitei em nossa cama, mas não consegui dormir, faltava o Tony. Talvez nunca mais consiga dormir aqui.  Terminei o pior dia da minha vida dividindo uma cama de solteiro com uma garotinha de 4 anos. E nos dias seguintes cheguei a conclusão de que eu precisava mais dela do que ela de mim.

 

(...)

 

Bruce ainda não havia ligado,  mas como sempre Happy havia vindo nos visitar. Procurei Morgan pela casa toda, até me dar conta de que ela só podia estar em um lugar.

 

—Morgan?— eu chamei ao me aproximar de sua cabaninha no jardim —Meu amor, o almoço está  pronto, e seu Dindon está aqui...— nenhum sinal dela —Filha…

 

Oi, Srta Potts,...Pep.— ouço a voz familiar e então sem nenhuma cerimônia invado a cabana. Morgan está sentada mexendo num capacete do Tony,  mas a minha invasão a assustou e por alguma razão a mensagem foi interrompida.

 

Era um capacete destruído que eu não faço ideia de onde ela encontrou,  mas a imagem que ele emitia era completamente diferente da despedida deixada por ele. Tony estava magro, quase desnutrido e tinha a barba por fazer. Eram as mesmas feições que ele tinha quando foi resgatado do espaço. Eu nunca soube da existência dessa mensagem.  

 

—Achei isso na garagem.— ela disse antes que eu perguntasse —O papai tá machucado, mas ele disse vai sonhar com você.

 

—Você já viu isso?— perguntei e ela assentiu —Quando foi que você encontrou?

 

—Amanhã.— ela respondeu, então soube que ela quis dizer ontem.  Às vezes ela faz confusão, o que era normal pra idade.

 

—Você devia ter contado pra mamãe.

 

—Você disse pra não ir na garagem.— ela justifica,  revelando o receio de que eu brigasse pela desobediência —Mas o papai precisa de você.

 

—Meu amor, nós já conversamos sobre o que aconteceu com o papai.— eu digo tentando conter as lágrimas que já vinham nos meus olhos —Essa mensagem,  ela é a antiga…— sem querer eu bati no capacete e então a mensagem voltou do início, decidi ouvir até o fim.



"Oi, srta. Potts… Pep.

Se encontrar essa gravação… Não poste nas redes sociais, vai ser bem dramático.

Não sei se vai ver isso algum dia. Não sei nem se você ainda… Deus.Eu espero que sim...

Hoje é o dia número 21…, não, 22.

Sabe, se não fosse pelo terror existencial de encarar literalmente o vazio do espaço, diria que estou me sentindo melhor hoje.

A infecção está seguindo seu caminho, graças a azulzinha aqui. Você a amaria. Muito prática. Apenas um pouquinho sádica.

Algumas células de combustível se quebraram na batalha, mas descobrimos como reverter a carga de íons para conseguirmos cerca de 48 horas de voo. Mas agora estamos parados. Milhares de anos-luz da loja de conveniência mais próxima. O oxigênio vai acabar amanhã de manhã. E vai ser isso.

E Pep, eu… Eu sei que disse que não teriam mais surpresas,  mas esperava conseguir

fazer uma última. Mas parece que...

Bem, você sabe o que parece. Não se sinta mal com isso. Quer dizer, se for chorar por algumas semanas… E depois, seguir em frente

com enorme culpa...

Acho que preciso me deitar. Descansar meus olhos. Por favor, saiba que… quando eu apagar, será como as últimas noites...

Estou bem, super bem. Vou sonhar com você.

Porque é sempre com você."

 

Ouvi-lo foi como reviver os primeiros dias depois de tê-lo de volta.  Tony falou muito sobre Nebulosa, ele era extremamente grato por tudo o que ela fez por ele enquanto estavam à deriva no espaço. Certa vez ele traçou um paralelo a comparando com Yinsen,  o senhor da caverna no Afeganistão. Por ser quase mecânica Nebulosa deixava que ele comesse a maior parte dos suprimentos que havia na nave, e foi assim que ele conseguiu aguentar por todo aquele tempo. Curioso como o fim da mensagem é exatamente como me sinto agora.  Choro, me recomponho, respiro e tento seguir em frente, mas me sinto culpada. Todas as noites sonho com ele e acordo desejando que sua morte fosse apenas um pesadelo ruim.

 

—Mamãe,  onde o papai está?— ela me pergunta e eu não sei como explicar,  eu não saberia explicar porque também não aceito que ele não irá mais voltar.

 

—Tá tudo bem aí?— Hogan chamou do lado de fora da barraca.  

 

—Meu Dindon.— Morgan diz ao me deixar com aquela lembrança inconveniente.

 

—O que vocês estavam fazendo aí?

 

Saí da barraca carregando o capacete,  e o meu amigo me olhou de um jeito estranho —Depois te explico.— enxugo as lágrimas do rosto  —Você pode tentar convencê-la a ficar longe da garagem?

 

—Eu não vou mais lá, se você prometer trazer o papai de volta.— ela me diz.

 

—Meu amor.— Happy agachou diante dela —O Dindon já disse que o papai não vai mais voltar.

 

—Não!— ela bate o pé no chão —Você disse que a mamãe ia viajar pra trazer o papai de volta.

 

—Filha, isso foi antes, a mamãe já voltou daquela viagem.— tentei explicar.

 

—Não!— ela começou a chorar —Eu quero o meu pai!— ela grita e corre em direção à garagem.  

Faz quase uma semana, é normal que a ficha dela esteja caindo agora, e não há uma maneira fácil de explicar pra uma garotinha que seu pai está morto.

 


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Notas finais do capítulo



Volto logo.

Starkisses, Tulipa.



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