Paredes de ar escrita por Senhorita Amabel
Do topo da escada via-se a porta. Vidro, grades, tintura creme encardida. Do topo da escada ela olhava a porta. Perto, e ainda longe. Perto, mas que os passos não alcançavam. Porque entre a porta havia a escada, escada que descia, formava um abismo entre a porta e o chão. Do topo da escada sentia um chão invisível. Via-se caminhar, andar no chão invisível, alcançar a porta. Passava por ela. Do outro lado da porta havia uma sacada. Mas nada se via da sacada. Via-se, da porta, a escada formando um precipício. Do outro lado da porta ela olhava a escada. E no topo da escada ela via uma menina a olhando. Essa menina tremia, olhava a porta, olhava a escada. Tremia pois não havia chão, havia apenas a escada que descia. Do outro lado da porta ela viu a menina saltar, cair, rolar a escada e adormecer no chão. Do outro lado da porta ela ouviu gritarem o nome da menina que dormia. Do outro lado da porta ela chorou, porque entre a escada e a porta não havia chão nenhum. E do outro lado da porta ela desejou estar no topo da escada. Mas ela estava do outro lado da porta.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!