Rivach Academy - Interativa escrita por JJAlbuquerque


Capítulo 2
Um




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Alford tinha completado 13 anos há apenas duas semanas. Seus pais haviam comprado um bolo na sua confeitaria favorita, compraram velas, balões, seus amigos da escola haviam sido convidados e tudo havia sido uma incrível surpresa. Jason, seu irmão mais velho, havia até mesmo preparado um pequeno discurso, falando sobre o quanto esperava que seu irmãozinho pudesse viver bem e feliz, esperando que ele crescesse saudável e cercado de todas as pessoas que gostam. Foi um discurso genérico, mas Jason havia feito de todo o coração, Al sabia disso. Seus pais estavam felizes, as coisas estavam tranquilas, Jason havia conseguido entrar para o time de baseball, e também havia conseguido um emprego de meio período e também tinha uma bonita namorada.

Naquela noite, eles ficaram acordado até mais tarde. Eram quase uma da manhã quando o pai de Al e Jason disse ter ouvido um grunhido vindo direto da cozinha, o que assustou a todos, visto que a mãe tinha certeza de ter trancado todas as portas, inclusive as da cozinha. Mal sabiam os quatro o sufoco que passariam nos minutos seguintes.



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A cor predominante de Jackie Allen-Buckley era preto. As das listras que cruzavam seu uniforme marcavam a cor preta, diferente dos outros, que tinham cores diversas, mas não havia sido ela quem escolheu aquela cor: a cor era quem a perseguida, desde sempre, graças aos anéis, e para ser mais preciso, graças às Pistolas Demoníacas.

Aquela noite estava incrivelmente tranquila. Haviam apenas alguns Estorvos, que eram as almas que haviam se recusado a deixar o mundo e não eram nada além de… Nada. Não eram anjos, ou demônios, e nem eram mais reconhecidas como almas, verdadeiramente. Serviam apenas para causar mortes ridículas, porque os Estorvos nunca conseguiam possuir alguém de fato, então sempre causavam acidentes incômodos.

— Tem um Estorvo vindo do fim da rua — disse Pedro, prestando total atenção em seu lápis de açúcar, um de seus doces favoritos.

Pedro se auto intitulava parceiro de Jackie, uma vez que ele sempre saia em missões com ela, simplesmente porque queria. Jackie era um dos temíveis Primários, caçadores que usavam um dos nove Anéis Ancestrais. Jackie havia sido encontrada por um Secundário quando tinha apenas quatro anos e desde então, vivia em Rivach. Pedro, por outro lado, viveu nas ruas, até que seu irmão mais velho morreu em uma briga de gangues rivais em uma cidade no leste da Espanha, quando tinha sete anos; depois disso, foi adotado por uma família mafiosa e treinado desde cedo. Aos doze anos, foi diagnosticado com Retinopatia diabética, causada pela sua Diabetes, que o acompanha desde muito cedo. A doença causou uma perda quase total de sua visão, o que o fez aguçar todos os seus outros sentidos, principalmente a audição, portanto, por mais que não fosse um Primário - na verdade, ele não tinha uma classificação, estava entre os Primários e os Secundários - sempre realizava missões ao lado de Jackie.

Ele era tão bom quanto ela.

Se possível, até mais.

— Você errou. Não apareceu nenhum Estorvo no fim da rua.

— Sua concepção de fim da rua é diferente da minha definição de fim da rua.

Ouvindo isso, Jackie olhou para o outro lado da rua e finalmente avistou um homem sem camisa andando desnorteado, tropeçando nos próprios pés e grunhindo coisas completamente desconexas.

— Atira nele.

— Atira você nele — responde Pedro, cruzando os braços. — Ou você está com medo de mirar errado?

Bastava isso para provocá-la. Jackie levantou-se e buscou equilíbrio em cima das telhas, levantou o braço direito na direção do Estorvo e então pequenos raios negros começaram a aparecer em volta da sua mão e do anel uma fumaça de mesma cor começou a sair, indo na direção de seus dedos, que já estavam posicionados e segundos depois, uma pistola apareceu no que antes era apenas o vazio em suas mãos. Um, dois, três tiros. Todos passaram direto pelo Estorvo.

O barulho do tiro poderia ser ouvido, mas as balas sumiram milésimos de segundos antes de tocar a parede, não deixando qualquer rastro.

— Você precisa realmente trabalhar sua mira — respondeu Pedro, alfinetando ainda mais o orgulho de Jackie.

Ele se levantou, buscando equilíbrio entre as telhas. Do seu braço esquerdo, retirou uma pequena faixa em cinza, que ali estava amarrada, e então colocou sobre os olhos e amarrou atrás da cabeça. Antes não era possível ver, mas ao seu lado havia uma aljava preta, que continham apenas três flechas, e mais adiante, uma empunhadura, e apenas isso. Pedro a pegou nas mãos após amarrar a faixa nos olhos e depois pegou uma das flechas, a posicionando e, enquanto fazia isso, as lâminas surgiram em um piscar de olhos, feitas de metal, onde inscrições em hebraico diziam ADONAI ECHAD, que significam O Senhor é Um. Depois das chamadas lâminas, fios de energia em luz negra surgiram, como se fossem as cordas do arco. O processo se repetia toda vez que ele usava o arco.

Pedro não precisou mirar ou respirar fundo, posicionou a fecha e a soltou logo em seguida; a flecha voou, atravessando a rua inteira, chegando até o centro do tronco daquela pessoa, mas a flecha não tocou sua pele: atravessou seu corpo, e expulsou o Estorvo de dentro, e assim, segundos depois um grito agonizante e profundo pode ser ouvido. O Estorvo e a flecha havia desaparecido.

— Fácil como irritar você?

— Ah, você acha? Que tal se você ver como eu melhorei semana que vem?

— Seu humor é ácido como a laranja que me ofereceu no almoço hoje — ele passou o braço no ombro dela, a vendo realmente chateada por ter errado de uma distância daquelas. —  Não fique chateada, você só precisa treinar mais, okay? Vamos pra casa, nosso turno já está no fim.

Jackie se soltou do abraço de Pedro e pulou do prédio, Pedro a seguiu. A empunhadura estava presa no cinto que usava, a aljava em sua costa. Caminharam juntos na direção oposta ao Estorvo, o relógio marcava 2:56 exatamente, o turno acabava às três em ponto. Historicamente falando, Primários não faziam turnos, apenas os Secundários, que faziam turnos e, caso a situação fosse séria demais, então os Primários eram solicitados. Entretanto, os Primários começaram a aparecer cada vez mais novos, a cada geração que passava. Na geração anterior por exemplo, tinha um jovem Primário de apenas três anos, que precisava treinar antes começar a pensar em sair em missões. Pedro saia em missões de reconhecimento por não ser um Primário, mas saia em missões com Jackie por ela ainda estar em fase de treinamento. Na verdade, ambos treinavam juntos desde que Pedro chegou em Rivach.

— Quando você acha que vamos sair em missões de verdade? — Indagou Jackie, andando de forma desleixada e descontraída. — Missões de turno são um saco.  

— Bem, pelo menos um dia você poderá sair em missões suicidas. Secundários sempre estarão abaixo de você.

— Mas você não é um Secundário.

— Muito menos um Primário — respondeu, um tanto cabisbaixo.

    A dupla ficou em silêncio durante o resto da caminhada, até a Praça Central, que estava vazia. Iluminada apenas pelas luzes amareladas das luminárias, era uma visão completamente diferente durante o dia, em que estava sempre cheia e animada. Na escadaria da biblioteca, ambos avistaram uma figura conhecida.

   — Kato. O que será que ele faz aqui? — A dupla trocou olhares. — Ele veio ver como sua protegida está se saindo?

    — Não é como se ele ainda viesse isso. Pode ter acontecido algo.

    Kato Chou tinha 21 anos recém completados. Alto, atlético, com traços nipônicos, ele era um dos únicos dentro da academia que, assim como Pedro, não dotava de nenhum poder especial, apenas seus anos e anos de treino constante. Kato fora o primeiro a achar Jacki, quando ela tinha quatro anos. Era a primeira missão observada de Kato, quando ele tinha dez anos, é claro que ele não havia ido sozinho e, caso não tivesse ido, poderiam nunca ter encontrado a garota.

    Jackie havia sofrido um acidente de carro, provocado por um Estorvo, seus pais morreram na hora, enquanto ela vivia uma eternidade de agonia, tendo seu espírito estranhamente preso em algum lugar distante. Sofreu décadas, mas quando a trouxeram de volta, de onde quer que ela estivesse, havia se passado apenas alguns minutos: alguém havia a trago de volta a vida. Mas algo havia mudado: ela havia adquirido poderes. Poderes fortes demais para ela controlar aos quatro anos, então ela foi praticamente vendida a um grupo terrorista, onde a levaram a um laboratório na Alemanha, onde sofreu meses até ser salva por Kato. Desde então, eles nunca mais se separaram.

    — Aconteceu alguma coisa?

— Um chamado ao leste de Grayville. Dois garotos afirmaram ter sido atacados por criaturas estranhas, os pais estão mortos. E parece que os garotos sumiram após relatarem o que havia acontecido.


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