Haviam se passado duas semanas desde a briga e desde que Anna contara para o melhor amigo que estaria se mudando para Viena dentro de três semanas. Ela estava sentada no parapeito da janela, com os pés descalços no telhado, apenas olhando as pessoas que passavam na rua e pensando se fez a coisa certa ao falar para Bill logo agora. Afinal, ele estava meio abalado com o namoro dela com Andreas e ela vem com uma notícia bombástica dessas. Talvez fosse muito para o cérebro dele.
               Fechou os olhos e inalou o perfume da roseira do jardim, que parecia emanar pelo ar que adentrava suas narinas, trazendo de volta as lembranças de quando ela e Bill eram pequenos que brincavam perto da roseira. Ele as vezes espetava o dedo nos espinhos e ela corria para dentro de casa e enrolava a mão dele em gazes, parecendo mais sua mãe do que sua melhor amiga. E desde aquela época já era iminente que Bill se apaixonaria por sua melhor amiga, afinal, ela era toda carinhosa com ele e ele já chegou a espetar o dedo de propósito apenas para que ela lhe desse um beijo no dedo, dizendo que sarava.
              Voltou para dentro e deitou-se na cama de mogno com branco e cobriu-se com o edredom rosa-pink, esperando adormecer por pelo menos alguns dias, pelo menos até que ela já estivesse no trem em direção a Áustria. Assim não teria de se despedir de Bill e não teria que dizer a verdade, terminar com Andreas... Tudo ficaria mais facil porque ela estaria em outro país.Respirou fundo e deixou-se levar por João Pestana, para bem longe de lá.

              No dia seguinte, ali estava Anna em frente ao portão de ferro envelhecido do Colégio Municipal esperando seu namorado. Precisava falar com ele urgentemente, não podia continuar com aquele namoro que não a estava dando certo, na verdade ela fingia dar certo para seus pais, já que seus pais gostavam que Andreas fosse seu namorado e não que Bill.
              O garoto de cabelos loiro oxigenado foi até a garota e deu-lhe um delicado beijo nos lábios, com os Kaulitz vendo de longe. Na verdade, quem realmente prestava atenção na cena era o garoto de cabelos espetados já que seu irmão gêmeo estava extremamente abobado com a garota de cabelos negros e mechas azuis enquanto esta sorria e lhe passava alguma músicas pelo celular. Cassandra parou por um instante e encarou o rosto paralisado de Bill, perguntando a seu semelhante o que havia acontecido com ele.
 -- Tudo bem ai Bill? -- perguntou Tom e Cassandra para o garoto que parecia inerte
 -- Sim, eu estou bem -- o mais alto respondeu secamente
 -- Bom, -- a garota de cabelos negros segurou a mão de Tom e este corou, falando carinhosamente com seu irmão -- Eu e o Tom já vamos indo, você vem junto?
 -- Não, podem ir na frente, eu vou daqui a pouco.
 -- Tudo bem. -- Cassandra segurou mais firmemente a mão do garoto de dreads e começou a caminhar -- Vem Tom, acho que o Bill precisa de um tempo sozinho, e acho que ele vai esperar a Anna...
 -- Tudo bem
              O de dreads respondeu calmamente, indo para casa com a garota de cabelos negros segurando sua mão enquanto conversavam sobre qualquer futilidade que lhe viessem a mente. Tom sabia que ela era meio diferente das outras garotas nos gostos, mas não imaginava que fosse possível conversar com ela a respeito de video games, filmes de terror e marcas de boné. Ela era simplesmente a garota de seus sonhos por englobar tudo o que ele um dia quis em uma garota e mais ainda... Simplesmente perfeita para ele.
              Simultaneamente aos sonhos de Tom e ao anseio de Bill, Anna conversava seriamente com Andreas sobre o que realmente havia se tornado aquele namoro. Era errado ela se apaixonar por alguem e namorar com outra pessoa? Talvez, mas naquele momento do namoro, ela estava se sentindo um peixe asfixiado fora d'água. Pareceu dificil dizer tudo o que ela realmente deveria dizer a princípio, mas depois acabou não sendo tão dificil assim. Só era um pouco doloroso por ver que Andreas realmente a amava e que ela não retribuia... Ele brigou por ela, mas não, ela estava amando seu melhor amigo.
              Lágrimas irromperam por seus olhos e ela simplesmente o encarou enquanto ele dizia estar tudo bem. Beijou-lhe a bochecha e murmurou tristemente "Me desculpe" antes de partir. Chegou a porta do colégio e o garoto loiro ainda suplicava para que lhe disesse que era só uma brincadeirinha e que eles estavam bem. Mas infelizmente não estavam e esse namoro com certeza não ia nunca mais para frente. Anna notou que Bill não estava mais lá, com certeza já havia ido embora e ela baixou a cabeça, esperando que ele talvez ainda estivesse lá. Segurou o pingente de meio coração que carregava no pescoço, com a letra B escrita atrás, e puxou a corrente, estourando-a e deixando-a cair de sua mão. Aquilo era algo que ela não queria mais guardar, queria que esse colar que Bill lhe dera de aniversário dois anos antes, fosse apenas mais uma lembrança entre tantas outras depois que ela fosse embora...
              Mas comos desejos costumam se realizar nessas horas, Bill estava lá, estava escondido em uma árvore e sentiu todas suas costelas se estourando e se chocando contra coração e pulmão. Ele ainda tinha a outra metade, estava em uma pulseira de cordão preto. Depois que Anna se foi ele foi até a pedra onde o cordão havia caído e pegou-o, guardando em seu bolso enquanto uma lágrima fugia de seu olho, provando o quão machucado e frágil ele se sentia naquele instante...

              E novamente ali estava Anna, sentada no parapeito de sua janela com os pés no telhado. Olhava as pessoas que passavam na rua e olhava o por do sol, o céu em tons arroxeados enquanto a noite caía. Era simples, mas era lindo. Uma lágrima fugiu de seus olhos quando veio a cena de ela e Bill quando mais novos, deitados na grama olhando o sol sumir. Ah, como isso era clichê e doloroso...