Em memória escrita por LittleR


Capítulo 1
Único


Notas iniciais do capítulo

Em memória de meu amor recente. Descanse em paz.



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Está tudo mais lento agora. Não vejo direito. Não ouço nada.

Ao meu redor, a escuridão se expande, mas me concentro nas coisas que o moleque tenta dizer. Ele fala demais. E rápido. Fala muitas coisas sem sentido de uma vez só, mas eu senti falta dele. Era, tipo, um espinho que não me deixava dormir à noite. É, algo assim. Agora, o espinho saiu. Esse maldito espinho. A escuridão, porém, se expande e eu não posso sentir meu lado direito. Não sinto nada.

Sinto-me leve. Concentro-me nas lágrimas do moleque. Queria dizer a ele pra ser homem, todo mundo morre, grande coisa. Você mesmo estava morto há trinta minutos, pra que tanto drama? Pare de chorar, você é um Vingador, lembra? E Vingadores não choram... eles... vingam. Bem, teoricamente.

Enfim, Vingadores também não fazem referências à cultura pop. Quer dizer, esse último pode. Mas não siga o exemplo de outros por aí, não vire um barrigudo beberrão sem esperança que vive às custas do pouquinho que restou do seu povo. Não que eu esteja citando nenhum Vingador, é claro, mas a verdade é que ninguém merece um barrigudo beberrão sem esperança. E ninguém também merece um gênio, bilionário, playboy, filantropo que se acomodou com uma vida feliz enquanto metade do universo virou pó. Não, não vire nenhum dos dois. Existe um pequeno espaço ali no meio, esse é seu lugar.

Eu tento dizer isso, mas estou leve agora. Leve demais. A escuridão engole tudo ao redor. E quando o moleque se afasta, eu posso ver a única pessoa que eu não poderia perder.

— Oi, Pepper.

Ela não chora. Meu Deus, que mulher! Ela não chora, mas, mesmo na escuridão, eu vejo que a alma dela se derrama em prantos. Eu vejo porque nos conhecemos mais que isso. Desculpe, machuquei você de novo. É, eu faço isso. Sempre. Mas você com certeza leu os termos de uso e, mesmo assim, clicou no botãozinho "estou ciente e desejo continuar". É, eu sou um desastre.

Pela primeira vez, enquanto a olho, a sublimidade de seus olhos e a sutileza de suas feições, eu sinto um medo esmagador. Sinto tanto, tanto medo. Porque vivi uma vida à beira da morte, com estilhaços espreitando meu coração, com bombas apontadas para mim, com minhas criações se rebelando, com maníacos alienígenas roxos com problemas de toc, com tudo. Eu vivi à beira da morte, mas nunca passei desse ponto. Eu olhei pro abismo e ri na cara dele, e agora ele está me puxando pelo pé. Parabéns, Tony Stark.

Não sei se me preparei direito para isso, gostaria de poder adiar em uma hora ou duas. Bom, não dá pra burlar esse tipo de coisa, e por isso eu sinto um medo esmagador do que virá, ou que talvez não virá. As coisas que nunca mais vou ter, ver, sentir, porque, sabe, a morte é meio... definitiva.

Enterrado no medo, eu a ouço dizer:

— Tony? Olhe para mim.

Olho e não a vejo. Não vejo nada, só uma escuridão terrível e densa. Mal ouço sua voz. Sinto medo, mas meu corpo se recusa a qualquer coisa. Então, eu sinto medo quieto e mudo.

— Fique tranquilo — ela diz. — Pode relaxar agora.

E, nesse momento, eu entendo. Por que eu deveria prolongar isso? Por que continuo agitado quando meu corpo já se entregou? Eu me acalmo. Está tudo mais tranquilo agora. Está tudo... Está...


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Notas finais do capítulo

Parte de mim se vai com Tony Stark toda vez. Em contrapartida, parte dele sempre fica comigo.
Obrigada por ler. Até!



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