Jornada para o amor. escrita por ElaineBDQ


Capítulo 9
Uma noite especial




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Sábado e domingo sempre eram os melhores dias para Samuel. Podia ter algum momento ao lado do filho e descansar da rotina diária. Mas naquele dia, era a final do campeonato e o time a qual torcia estava jogando. Todos combinaram de se reunir para torcer.

Samuel preparava os aperitivos, José organizava as bebidas na geladeira. Os garotos brincavam na sala e se divertiam enquanto o jogo não começava.

— Finalmente um dia de descanso! — Exclamou José quando fechou a geladeira. Ele viu a bandeja que trouxe no dia anterior e perguntou:  — Estava bom?

Samuel notou que ele se referia ao bolo que havia trazido.

— Diga a sua esposa que eu e Emir agradecemos... Estava uma delícia.

— O que não te contei e que a irmã da Fátima também ajudou.

Samuel deixou o que estava fazendo e encarou o amigo. Não estava muito certo de onde ele queria chegar com aquilo, mas suspeitava de algo.

— Isso quer dizer?

— Oras Samuel! Já está em tempo de você conhecer uma pessoa.

Ele riu do comentário. Não que discordasse do amigo, mas aquele comentário o tinha pegado de surpresa.

— O Emir sente falta de uma mãe. — ele acabou confessando e ganhou do amigo um aperto no ombro como um sinal de solidariedade.

— Eu posso apresentá-lo a Claudia.

"Cláudia" ele repetiu o nome dela em pensamento. E então decidiu "porque não?" Não podia se dar aos devaneios e pensar em quem não poderia alcançar.

Ele conheceu a irmã de Fátima. Ela estava na cidade a passeio durante as férias dela. Claudia era uma mulher muito bonita. De belos olhos negros bem intensos. E com uma personalidade forte e determinada. Algo muito característico dos brasileiros. Nos poucos momentos que estiveram conversando , ele ficou completamente cativado.

— Você é um homem diferente Samuel! — ela comentou após ouvir sobre a vida dele. — Muitos homens fugiram dessa responsabilidade.

— Eu amo minha família.

— Uma raridade nos dias atuais... Depois da morte de sua esposa, você não conheceu ninguém?

Samuel riu e pegou o copo da bebida que ela lhe oferecia.

— Digamos que as mulheres não gostam de homens com filho.

— Apenas "meninas", pois mulheres de verdade sabem valorizar o que é bom!

Naquele momento José se aproximou junto com sua esposa e disse:

— Desculpa atrapalhar os "pombinhos"...

— José! — repreendeu Fátima ao marido e logo em seguida pediu desculpa a Samuel. — Meu marido é um indiscreto!

— Não se preocupe... Creio que já é hora de ir.

Ele olhou no relógio e concordou. No dia seguinte era início da semana e ele tinha que acordar cedo. Além de levar Emir ao colégio , precisava providenciar alguns documentos que lhe tomariam certo tempo.

— Vamos!

Eles saíram todos juntos. Samuel foi buscar o filho, que tinha ficado na casa de José. O garoto estava dormindo. Ele carregou o filho com cuidado para que ele não acordasse. Na porta se despediu de Cláudia.

— Boa noite Samuel. Adorei conhecê-lo. E seu filho também.

Já em casa, Samuel colocou o filho no quarto. Emir abriu os olhos e o encarou sonolento. 

— Estamos em casa , papai?

Samuel ajeitou o lençol e tocou de leve nos cachos do garoto num gesto de carinho.

— Durma amor, amanhã terá escola. — Ele beijou a testa do filho e se preparava para sair do quarto, mas Emir perguntou:

— Essa senhora será minha nova mãe?

Samuel sorriu e disse: 

— Não sei... Se você quiser...

Emir sentou na cama e tocou em sua face do pai. Esse gesto causou nele um sentimento muito bonito. Então ele abraçou ainda mais forte o filho. Sabia que ele sentia necessidade de ter uma figura materna. Existiam coisas que apenas uma mãe poderia entender.

— Eu gostei dela. — disse ele com seu jeito infantil. — Ela é bonita, mas ainda prefiro a outra senhora bonita.

— Quem? A Fernanda?

Ele gesticulou confirmando.

— Ela é muito legal!

Sim ela era! Ele concordou. Mas não poderia iludir seu filho com coisas impossíveis. Ainda que, por um segundo, ele tenha sentindo uma alegria ao imaginar que isso pudesse acontecer.

— Ela não pode... Ela nunca será possível!

Ele ajudou o filho a deitar e o cobriu com o lençol. Em seguida, saiu do quarto desligando a luz.

 

***

 

Fernanda estava olhando para o vestido de alta costura que estava posto sobre a cama. Faltava vontade de participar do evento naquela noite. Já sabia como eram essas premiações. Muitos empresários. Muitas falsidades e no final ela sempre acabava ficando de lado. Afinal, o único motivo de estar ali era porque Lorenzo precisava apresentar uma imagem de homem de família.

Ela suspirou e começou a se maquiar. Naquela noite precisava estar muito bonita. Com o tempo acabou aprendendo os truques dos melhores maquiadores.

Sandra entrou no quarto e aproximou-se de onde ela estava.

— Você está muito bonita! — exclamou ela enquanto observava Fernanda se maquiar.

— Obrigada Sandra.

— Aproveite esta noite para desfrutar de algum momento com o senhor Lorenzo.

Se fosse algum tempo atrás, talvez ela tivesse esperança. Mas agora, ela era realista demais para esperar por algo assim.

— Meu papel nesse evento é apenas ser bonita!

— E será a mais bela! — disse Lorenzo entrando no quarto. Ele olhou a esposa de cima a baixo e beijou-a no rosto. Em seguida fez com que ela virasse de costa e colocou em seu pescoço uma linda gargantilha de brilhantes.

— Agora está completo!

Fernanda tocou a joia. Teve um sentimento estranho. Era como se tivesse um peso sobre ela. No espelho seu olhar se encontrou com o do marido e ele sorriu para ela.

— Estarei pronto em poucos minutos.

Ele seguiu em direção ao closet e ela olhou para Sandra que ainda permanecia no quarto.

— Direi para o Samuel aguardá-los.

 

A noite ia ser longa! Disso Samuel já sabia. Tratou de ligar para o filho e dizer para ele ficar na casa de José, pois assim que chegasse iria buscá-lo.

Ele apoiou o corpo sobre o encosto da almofada e pensou nas palavras do filho. Apesar de inocentes, aquilo teve o poder de causar nele sensações que há muito não sentia. Se fosse um adolescente talvez ficasse sonhando com sentimentos impossíveis, mas não era esse seu caso. Era pai e também um imigrante num país estranho. Não tinha muito tempo para ficar perdendo com devaneios.

Ele viu o momento em que Fernanda e o marido que vinham em direção ao veículo. Que mulher linda! Foi a primeira coisa que passou em sua cabeça. Ela estava encantadora naquele vestido longo rosa claro. Apesar de ter certa sensualidade ao exibir as costas nuas, ela trazia algo feminino e inocente.

Samuel abriu a porta para que ela entrasse. No momento em que ele fechou a porta, seus olhares se encontraram e ela o cumprimentou com um sorriso suave. Em seguida Lorenzo sentou ao seu lado.

Durante o trajeto, eles se mantinham em silêncio. Quando eles chegaram ao local onde seria a festa, Lorenzo virou para a esposa e beijou-a nos lábios. O gesto causou surpresa em Fernanda que não teve reação. Ela apenas deixou que ele a beijasse. Ao se afastarem ela deparou-se com Samuel que os fitava. Sentiu-se tímida, apesar de não ter motivos para isso.

Fernanda foi a primeira a sair e logo depois Lorenzo a seguiu. Mas antes ele virou para Samuel e disse:

— Eu o avisarei quando estivermos indo.

Naquela noite seriam premiados  empresas e empresários em várias categorias. Lorenzo estava disputando  naquele ano. Como se tratava de um evento empresarial, a oportunidade também era para fazer novos negócios. Definitivamente ela se sentia fora de ambiente! Quando eles se juntavam para conversar, parecia que estavam em outro mundo.

Durante boa parte daquela noite ela esteve isolada do marido. Já estava acostumada com isso. Mas ainda assim, sentir-se fora de ambiente. Ela procurou o garçom que servia bebidas e pegou uma e procurou um dos assentos do local. Logo se juntou a ela alguns amigos conhecidos.

 Fernanda olhava para aquelas mulheres e via o quanto estavam belamente vestidas. E com joias caríssimas. Não era a toa que Lorenzo havia lhe presenteado com aquele colar de brilhantes. Ela tocou a joia que pesava em seu pescoço.

— Meu marido comprou uma casa em Miami. Iremos passar as férias esse ano lá. — Elas conversavam entre si. Mas Fernanda sentiu-se incomodada pela conversa fútil daquelas mulheres. Metade do que elas falavam era relativo à riqueza.

Uma das mulheres virou para Fernanda e comentou:

— Que colar lindo! Certamente foi um  presente do Lorenzo.

Fernanda confirmou  sentindo enjoada de estar ali em meio aquelas pessoas.

— O Lorenzo deve amá-la muito. — Ela comentou. 

A outra mulher riu em tom de zombaria e disse:

— Ou talvez ele tenha uma amante... Homens são assim quando querem esconder algo.

O modo cínico como ela falou não deixava dúvida de sua acusação.  Aquela atitude causou irritação em Fernanda. Mas ela não quis revidar. Educadamente ela pediu licença e saiu daquele lugar. Precisava fazer isso ou iria ter um colapso nervoso.

Lorenzo não notaria sua ausência. Ele estava muito ocupado conversando com os outros empresários. Fernanda seguiu para a área de fora do prédio. O hotel tinha uma área verde logo após a piscina, que estava toda enfeitada com luzes.

Estava muito chateada e também muito triste. Aquelas pessoas sabiam que Lorenzo tinha uma amante. Sim , certamente sabiam! E ela ali fazendo papel de boba.

Sentia raiva! Mas sentia tristeza, pois recordava do início do casamento quando as coisas ainda fluíam bem. Depois da morte da filha, Lorenzo mudou completamente! Passou a sair quase todas as noites e chegava tarde. Tinha suspeita que ele teria uma amante. Nunca chegou a testemunhar, mas a frieza no casamento era uma prova disso.

Uma lágrima rolou em seu rosto, mas rapidamente ela a afastou. Mas logo vieram outras e ela não pôde se segurar. Estava muito chateada com aquelas mulheres. Com raiva pelo que tinha acontecido. Sentia-se humilhada demais.

Fernanda ouviu som de passos e virou assustada. Pensou que estivesse sozinha ali naquela parte, mas logo percebeu que era ilusão.

— Quem está aí?

— Desculpe se a assustei.

Ela reconheceu que era Samuel e suspirou aliviada.

— Eu pensei que esse fosse o meu lugar secreto. — disse ele em tom de brincadeira, pois o local ficava afastado da festa.

— Queria ficar um pouco sozinha.

— Desculpe se te atrapalho.

Samuel fez menção de se afastar, mas ela se adiantou:

— Fique!

Ele assentiu e se aproximou e parou ao lado dela. Por alguns minutos eles ficaram em silêncio apenas apreciando a paz que aquele momento proporcionava. Fernanda permanecia com o olhar perdido no horizonte. Isso o inquietava e então ele comentou:

— A noite está bela... Isso me faz recordar da minha cidade.

A voz dele soou nostálgica e de fato o era. Pela primeira vez parou para recordar de sua casa. O lugar de onde foi obrigado a sair.

— Todos nós sentimos falta de algo em nossa vida.

Samuel notou que a voz de Fernanda estava embargada.

— Você está bem?

Fernanda virou para ele e apenas gesticulou em negativo. Logo em seguida, ela foi tomada por fortes emoções e não conseguiu conter as lágrimas que corriam em seu rosto.

— Eu odeio esse lugar! — ela sussurrou em meio a tudo aquilo. — Odeio essas pessoas! Odeio tudo isso!

Samuel se aproximou de Fernanda e a abraçou. No primeiro momento ficou temeroso por sua reação, mas ela enterrou o rosto em seu colo permitindo que ele a abraçasse.

Aquele gesto demonstrava sua fragilidade. Ela tremia e chorava muito. Lentamente ele a afastou e seus olhares se encontraram. Fernanda demonstrou surpresa com o gesto de carinho, mas era bom demais estar naqueles braços fortes que lhe transmitiam segurança.

Samuel lentamente acariciou a face dela com extremo carinho. Ele limpou todo rastro de lágrimas e em seguida disse:

— Olhos tão belos como os seus não foram feitos para lágrimas.

Naquele momento tudo ao redor pareceu parar. Eram apenas eles dois. Seus olhares emitiam uma mensagem silenciosa. Ambos desejavam poder saciar aquela vontade que os atormentava. Lentamente seus corpos foram atraídos um na direção do outro e sem que ambos dessem conta do que estava acontecendo eles se abraçaram.

Samuel acariciou os fios macios de cabelo que deslizavam em seus dedos. Imaginava que eles seriam daquele jeito. E o cheiro delicioso de coco. Por alguns minutos ele mergulhou naquele prazer silencioso.

Ele se afastou um pouco e fitou-a nos olhos. Fernanda sorriu sentindo-se tímida e sussurrou:

— Você é muito amável Samuel...

Com as duas mãos ele segurou em ambas as faces e lentamente tocou os lábios dela com os seus.

Fernanda no primeiro momento sentiu-se apreensiva, mas logo se entregou ao prazer daquele momento. Ela sentiu-se invadida por uma paz . Era algo nunca experimentado. Ambos viajavam no prazer que aquela sensação lhes causava. Eles beijaram-se até se esquecerem de onde estavam.

Samuel sentiu-se tomado por uma alegria. Finalmente pôde tocar aqueles lábios que a tanto desejava. Os lábios dela eram macios e se entregavam com prazer para ele. Seus corpos eram atraídos com volúpia à medida que o beijo tornava-se mais exigente.

Fernanda sentia-se tomada por sensações tão boas. Mas de repente ela foi golpeada pela realidade e uma confusão de sentimentos se sobrepôs. Não deveria estar ali beijando Samuel! Ela se afastou e o encarou levando as mãos aos lábios. Estava assustada com seus próprios sentimentos

Samuel sabia que ela estava assustada e confusa. Ele também se sentia do mesmo jeito. Sabia que não deveriam ter sobreposto o campo da amizade, mas naquele momento os sentimentos tinham predominado à razão.

— Samuel... Isso... — ela queria coordenar as palavras, mas não sabia o que dizer.

— Eu sei. Desculpe-me. — na realidade, aquelas não eram as palavras que ele queria dizer, mas eram as que precisava falar naquele momento.

Fernanda se afastou dele e ainda confusa com o misto de sentimentos, disse:

— Eu vou retornar ao salão.


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Notas finais do capítulo

Pessoal, eu tenho acompanhado as visualizações e estou sentindo falta de comentários de vocês.
O que estão achando da historia? Por favor , comente aqui.



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