Jornada para o amor. escrita por ElaineBDQ


Capítulo 10
Depois daquela noite.




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Fernanda retornou para a festa, mas sua mente estava longe daquele lugar. Depois de mais algumas horas Lorenzo sinalizou que deveriam ir embora. Ela ficou aliviada, pois não aguentava mais ficar ali.

Eles se aproximaram do estacionamento. Fernanda viu que Samuel os aguardava com a porta do carro aberta. O telefone de Lorenzo soou e ele se afastou um pouco para atender. Após alguns minutos ele se aproximou de Fernanda e disse:

— Eu vou ficar mais um pouco... Preciso resolver algumas coisas.

Pelo tom como ele falou ao telefone, era óbvio que se encontraria com alguma mulher. Mas ela realmente não estava com vontade de iniciar uma briga ali naquele momento.

— Resolver umas coisas?

Lorenzo não gostou do tom irônico dela. Isso era um sinal, que ela havia ido direto ao seu ponto fraco. Ele pressionou o braço dela com força com nítida irritação.

— Você está me machucando! — ela reclamou fazendo força para se livrar do toque indesejável. Mas ele foi persistente e antes que ela conseguisse se desvencilhar, ele disse:

— Esse não e o melhor lugar para termos essa “conversa”.

— Nem agora e nem nunca. Sempre é assim!

Lorenzo olhou a esposa de cima a baixo e sem responder retornou para seu compromisso. Fernanda sentiu raiva pela indiferença dele. Ela se aproximou do veículo e não encarou Samuel quando ele abriu a porta para que ela entrasse. Ele deu a volta e entrou no veiculo batendo a porta com força. Aquele gesto a assustou.

— Podemos ir? — perguntou ele após assumir o volante do veículo.

Ela o encarou pelo retrovisor e com altivez disse:

— Será que você não percebeu que meu marido retornou à festa?

Samuel ficou irritado com aquela resposta agressiva. Ele entendeu que Fernanda tentava manter a distância. A situação de minutos antes tinha causado um abalo entre ambos. Mas ela não deveria tratá-lo daquele jeito! Aquela atitude de frieza o incomodava. Durante o trajeto ela se manteve em silêncio. Pelo retrovisor, ele a mirava em silêncio. Ela estava distante e visivelmente irritada.

Fernanda pensava em todas as coisas que haviam acontecido naquele dia. Estava muito chateada. Primeiro com aquela festa ridícula! Odiava ter que estar ali, ainda mais, porque ouviu àquelas senhoras falarem de sua vida. Ela levantou o olhar e fitou Samuel. Ele estava atento à direção. Por alguns breves minutos recordou do momento em que estiveram juntos. A sensação delicada dos lábios dele ainda permanecia sobre ela.

Loucura! Aquilo era loucura! Ela se recriminou afastando aquelas lembranças.

Fernanda desceu do veículo assim que Samuel estacionou. Não queria falar sobre a situação de logo cedo, mas ele não tinha a mesma opinião.

— Fernanda... — era estranho dirigir-se assim a ela, mas naquele momento ele se manteve o mais firme possível.

Ela parou e o fitou.

Os olhas daquela mulher tinha o poder de hipnotizá-lo. Eram intensos e brilhantes. Ele estava sendo consumido pelo desejo de poder tocá-la novamente.

— O que aconteceu hoje...

— Você não precisa se preocupar com isso! O que aconteceu hoje foi algo que devemos esquecer. — Fernanda respondeu firme. Mas a verdade, é que ela não sabia se conseguiria esquecer a sensação maravilhosa daqueles breves minutos.

As palavras dela pareciam ser as mais corretas para àquele momento. Mas algo não estava certo! Samuel constatou.

Então ele disse:

— E se realmente eu quis fazer isso?

Aquela pergunta tomou-a de surpresa. Fernanda não soube como responder. Não sabia, pois realmente estava confusa com seus próprios sentimentos. Mas sabia que não deveriam prosseguir com algo que jamais os levaria a nada.

Ela virou para ele e disse:

— Para o seu bem, é melhor esquecer isso!

Samuel não teve ação. Ele ficou parado ao lado do veículo enquanto Fernanda se afastava.

***

O restante daquela semana foi difícil! Fernanda fazia questão de manter a distância. O relacionamento deles foi o de “funcionário e patroa”. Nem de longe lembrava aqueles momentos em que eles tinham conversas despojadas sobre temas triviais. Ela mantinha frieza quando precisava solicitá-lo para sair. Claro que ele sentia incômodo por aquela situação, mas em nenhum momento disse nada. Apenas aceitou a condição. Sabia que não poderia ter ilusões com o que jamais iria acontecer!

Samuel ficou muito feliz com a validação do diploma de medicina. Instantaneamente, ele providenciou sua inscrição para um programa de médicos do governo brasileiro. Estava muito ansioso, pois as seleções iniciariam ainda aquele mês. Finalmente poderia exercer sua profissão. Estava muito feliz!

Sentado em frente aos livros de português ele revisou um pouco a gramática. Sabia que isso seria um enorme diferencial naquele momento.

Emir surgiu na sala carregando seu brinquedo. Ele estava inerte aos problemas. Esse era um dos encantos de ser criança!

— Papai, o que você está fazendo?

Samuel parou o que fazia e carregou o menino fazendo com que ele sentasse ao seu lado. Naqueles dias tinha pouco tempo para estar ao lado do filho e quando o fazia tinha o maior prazer.

— Estudando para falar melhor a língua desse país. Aliás, você já concluiu seus deveres de casa?

O garoto sempre aplicado confirmou com a cabeça. Ele não duvidava disso, pois sabia que ele tinha herdado aquilo da mãe.

Dias depois...

Fernanda lutava com as lembranças que vinham lhe atormentar. Não conseguia afastar da mente o momento em que se entregou ao devaneio de seus sentimentos. A lembrança dos lábios de Samuel ainda lhe perturbavam.

Ela não era o tipo de mulher emotiva, que se deixava levar por uma aventura passageira. Por isso, fez questão de se manter afastada dele durante aquela semana, mas a verdade é que não conseguia ficar quieta com aquela atitude. Apesar de tudo, gostava muito da amizade de Samuel e não gostaria de perdê-la.

Ela andou no quarto na tentativa de se acalmar. Mas não ajudou muito! Para distrair a mente, ela abriu o closet e começou a organizar algumas coisas que estavam bagunçadas.

Enquanto ela organizava as coisas do marido, recordou do início do casamento. Lembrou quando fazia questão de manter as coisas de Lorenzo em ordem. Coisas simples como aquela lhe davam prazer. Lembrar aquilo trouxe tristezas!

Enquanto separou algumas coisas, ela verificou os bolsos para ver se não havia algo. Foi nesse momento que encontrou um papel no bolso do blazer de Lorenzo. Ela removeu o conteúdo e percebeu que se tratava de um comprovante de pagamento do cartão. Era do cartão de Lorenzo e estava com a data da noite do evento! Justamente horas depois que ele havia lhe deixado e retornando a festa. Ele havia estado em um motel! Na roupa ainda havia uma marca de batom próximo à gola.

Um sorriso cínico se formou em seus lábios. Aquela era a prova que faltava! Não sentiu frustração, pois aquele casamento já tinha terminado há muito tempo!

Sandra entrou no quarto e viu o momento em que Fernanda furiosa atirou a roupa longe.

— O que houve?

— Antes era uma suspeita, mas agora é certeza...

Sandra não entendia a que ela se referia, então se aproximou e pegou a roupa que Fernanda havia jogado no chão. Ela viu a mancha de batom e então compreendeu o motivo da revolta.

Fernanda estendeu uma nota para ela e disse:

— Ele disse que estaria numa reunião... E eu tive que acreditar. — continuou relembrando o que Lorenzo havia lhe falado naquela noite. — Ele foi se encontrar com outra mulher!

— Você já falou com ele?

Fernanda gesticulou em negativa.

Sandra sabia que não seria preciso indaga-lo acerca daquilo. Há tempos que Fernanda desconfiava da traição do marido. Finalmente ela tinha uma prova!

— O que você vai fazer?

— Por enquanto nada. Agora eu quero apenas sair daqui... Não quero ver o Lorenzo!

Fernanda não queria encontrá-lo naquele momento, pois certamente iriam brigar feio. Precisava de um momento de espaço. Ela foi até o closet e colocou algumas peças de roupa dentro da pequena mala de mão.

Sandra assistia tudo em silêncio. Decidiu não se intrometer, pois sabia que ela já tinha tomado uma decisão.

— Você vai precisar do Samuel?

Ela parou o que fazia e olhou para Sandra, após pensar durante um tempo, respondeu que sim. Não poderia se portar como uma criança e ficar evitando ele para sempre.

— Diga para ele se preparar que iremos para a fazenda...

Samuel aguardava dentro do carro. O dia estava frio e sentia o corpo febril. Ele tocou de leve sobre a testa e teve certeza que estava ruim, mas não podia dar-se ao luxo de não trabalhar.

Uma hora depois, Fernanda encontrou com Samuel. Assim que ele a viu abriu a porta do carro para que ela entrasse. Ela o fitou por alguns segundos enquanto ele dava a volta e entrava no veículo.

— Pronto?

Samuel olhou para Fernanda. Notou a pequena mala em suas mãos. Não ousou perguntar o que havia acontecido. Mas a vontade de indaga-la era grande. Não seria uma boa ideia! Recriminou-se.

O cheiro suave do perfume dela tomou conta do pequeno espaço. Samuel sentia-se curioso e olhou pelo espelho. Ela não percebia seu olhar, pois se mantinha fria e distante. A realidade é que há dias ela estava assim.

Talvez fosse melhor desse jeito! Samuel concluiu e voltou a sua atenção para a direção.

Fernanda mantinha o olhar atento na estrada, mas por vezes olhava para Samuel sem que ele percebesse. Notou quando ele a fitava pelo espelho. Por um breve momento perdeu-se no tempo e o analisou em silêncio.

Ele tinha ombros largos e era forte. Lembrou-se dos momentos em que esteve em seus braços. Naquele momento ela apenas se entregou e esqueceu-se de tudo que os rodeava. Eram apenas eles dois!

Samuel tinha um cheiro gostoso de perfume amadeirado. Jamais esqueceria aquele cheiro! Foi tão bom sentir aqueles braços fortes lhe confortando de toda a tristeza. E ela se entregou deixando que ele a abraçasse. Ela sentiu-se ser invadida por sensações tão boas. Uma paz tão grande.

Seu olhar pousou sobre os lábios carnudos e grossos. Fernanda lembrou-se do beijo. Jamais tinha sentido aquela sensação em toda a sua vida. Jamais tinha sentido o coração bater acelerado daquele jeito.

Samuel novamente fitou-a pelo espelho, mas não houve tempo dela desviar o olhar. Por alguns segundos eles se olharam. Novamente Fernanda sentia-se invadida pelo desejo de tocá-lo. Tentando fugir dessa sensação ela desviou o olhar.

— Você conseguiu alguém para ficar com seu filho? — Fernanda perguntou após alguns minutos de silêncio.

Samuel sem tirar o olhar da direção respondeu:

— Não se preocupe senhora...

Ouvi-lo falar “senhora” era algo que lhe incomodava, principalmente porque aquilo causava um distanciamento entre eles. Fernanda sentia angustiada com aquela situação. Mas afinal, aquela não era a intenção? Aquela pergunta ecoava na mente dela. Tomada pelo cansaço ela fechou os olhos e esqueceu-se de tudo o que se passava.

Quando ela voltou a abrir os olhos tudo ao entorno estava escuro. Ela percebeu que chovia e que o carro estava parado. Ficou assustada ao perceber que Samuel não estava dentro do carro.

“Céus, quanto tempo havia passado?” indagou-se temerosa e assustada.

— Samuel? — ela ficou apreensiva começou a gritar chamando por ele. Segundos depois ele abriu a porta do veículo. Fernanda sentiu-se aliviada ao vê-lo novamente. Ela então percebeu que algo tinha acontecido. O semblante dele era de preocupação.

— O que houve?

—Nosso carro precisa de ajuda.

— Como assim?

Ele entrou no veículo e fechou a porta, pois chovia muito. Rapidamente ele informou que tinham problemas com o motor do carro.

— É possível arrumar?

Pelo modo como ele a encarava, certamente não existia.

— Infelizmente não, teremos que solicitar ajuda. Mas com essa chuva fica um pouco complicado alguém parar.

Fernanda pegou o celular e verificou o seguro do veículo, mas foi informada que somente poderiam atendê-la no dia seguinte.

— Não é possível!

— Você pode pedir ao seu irmão para nos ajudar. Informe que estamos perto da fazenda.

Fernanda assentiu concordando e ligou para a casa do irmão e pediu ajuda. Minutos depois ela disse com um sorriso nos lábios:

— Ele virá nos ajudar!

Ela notou que Samuel estava molhado e tremia de frio.

— Samuel, você está encharcado!

Ele se fez de desentendido e ignorou, mas Fernanda pegou uma manta na parte de trás do veículo e estendeu na direção dele.

— Por favor, se enrole nessa manta! Você está ensopado. Não quero que você fique doente por minha causa.

O modo como ela falava era um sinal nítido de quem não aceitaria ser contrariada. Samuel pegou a manta e retirou a camisa molhada da chuva.

Fernanda mantinha o olhar em Samuel enquanto ele retirava a camisa molhada. Por um breve momento se perdeu em admirar o belo físico dele. Sabia que ele era um homem másculo, mas nunca o tinha imaginado daquele jeito.

Samuel notou o olhar de Fernanda sobre ele. Quando ela percebeu que ele a encarava, sentiu-se tímida. Ele sorriu e se enrolou a manta e logo agradeceu, pois realmente estava frio. Ele espirrou. Não era apenas por causa do tempo, mas porque seu corpo estava febril.

— Você está bem?

Samuel sentia o corpo tremer. Não era exatamente o que poderia ser definido como bem, mas ele preferiu omitir esse detalhe.

— Sim.

Fernanda olhou para o relógio e abriu um pouco a janela do carro para olhar o tempo. A chuva estava mais fina e a lua já aparecia no céu.

— Você acha que seu irmão vai demorar a chegar? — Samuel indagou enquanto se ajeitava na melhor posição dentro do veículo.

— Não. A esposa dele falou que não iria demorar. Acho que em menos de meia hora ele estará aqui.

Samuel olhou para Fernanda e perguntou se ela estava com fome.

— Não comi nada. — Ela confessou. Realmente estava faminta e ficou surpresa quando viu Samuel estender uma fruta em sua direção.

— Não é muito coisa, mas ajuda a matar a fome.

Fernanda aceitou e sorriu agradecida.

Naquele momento ela sentiu-se a vontade ao lado de Samuel. Gostava quando eles estavam assim! Era como se fossem amigos há tempos. Mas ela sabia que sempre existiria aquela noite e aquele beijo entre eles.

— Sobre aquela noite...

Samuel levantou o olhar e encarou Fernanda que o olhava pelo espelho retrovisor.

— Eu sei, foi um erro! —Não eram exatamente aquelas palavras que ele queria dizer. Mas era exatamente o que ele precisava dizer naquele momento. Em nenhum momento, ele conseguiu esquecer a sensação maravilhosa causada por aquele beijo.

— Eu quero que você continue a ser meu amigo...

Amigos? Ele perguntou-se. Seria possível aquilo entre eles? Samuel tinha certeza que não! Mas se ela queria assim. Que assim fosse então! Ele virou para ela e sorriu.

— Sejamos amigos então!

Fernanda ficava encantada cada vez que ele fazia aquilo. No rosto de Samuel se formava duas marcas, que as deixava ainda mais belo. O sorriso dele tinha o poder de lhe transmitir paz. Aquilo bastou para que ela ficasse tranquila.


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