Jornada para o amor. escrita por ElaineBDQ


Capítulo 5
Redescobrindo a vida.




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 No dia seguinte no horário habitual, Samuel chegou até a casa dos Accioli. Ainda sentia-se estranho, mas tentava se concentrar no que deveria fazer.

Quando ele aproximou-se da área de serviço, ouviu vozes de mulheres conversando. Sandra notou sua presença e ao vê-lo sorriu.

— Bom dia, Samuel.

Ele a cumprimentou e olhou para a jovem que estava a frente de Sandra. Sorriu para ela. Pelo modo como ela o cumprimentou, pôde perceber que era um pouco tímida.

— Lúcia, esse é o Samuel, nosso motorista.

Lúcia era bonita, essa foi a primeira coisa que ele notou. A segunda é que ela o fitava com curiosidade. Sandra a orientou quanto a seu serviço, a jovem se retirou. Assim que ela saiu a senhora ela olhou para Samuel e perguntou:

— Seu filho está bem?

Ele ficou surpreso, pois não imaginava que Fernanda tivesse relatado este fato.

— Sim. Ele teimou e me disse que estava bom para ir ao colégio.

— Que bom então.

— Sabe dona Sandra, uma coisa me deixou surpreso. — ele fez uma pausa. — Na realidade, muito surpreso.

Sandra parou o que fazia e olhou para ele.

— O que?

Quando Samuel estava a ponto de falar, eles ouviram a voz de Fernanda que havia entrado na ala de serviço.

— Bom dia.

Ambos olharam para ela.

Fernanda estava muito bonita, apesar de não estar maquiada como geralmente ficava. Sua aparência era serena e possuía traços de que não havia dormido bem.

— Samuel.

— Bom dia senhora Fernanda.

— Por favor, prepare o carro. Iremos visitar um local!

Assim que ela saiu, Samuel disse:

— O olhar dela às vezes me parece tão distante e perdido.

— Não é apenas impressão!

Samuel ficava surpreso. Como poderia ser tão triste tendo uma vida tão luxuosa? Ela tinha tudo! Tudo o que uma pessoa simples poderia desejar. Era o que ele pensava! Quando olhava para Fernanda, sempre existia uma sombra de tristeza em seu olhar.

— Como Sandra? Olha a vida deles? Eles têm tudo!

— Nem sempre temos tudo Samuel.

— Não entendo.

Sandra então relatou sobre as coisas que aconteceram na vida Fernanda. A perda de sua filha e a saúde de sua mãe e outras coisas.

— Eu não sabia...

— Porque você acha que ela contratou um motorista?

Ele  pensou que fosse por causa de caprichos de ricos, que precisavam de empregados para tudo. Mas estava enganado e sentiu-se envergonhado.

— Desde o acidente ela não consegue mais dirigir! Ela tentou, mas simplesmente não pôde mais.

Samuel pensava no quão difícil deveria ser para ela. Sempre existir aquele fantasma que a assombrava.

Meia hora depois, eles partiram rumo ao município de São Joaquim. Desde que havia chegado ali, Samuel não conheceu outro lugar, a não ser a capital Florianópolis. Ele olhou pelo retrovisor e Fernanda estava apreciando a paisagem, então ela virou o rosto e o fitou. Não houve tempo para ele desviar o olhar, pois ela sorriu e perguntou:

— Você sabe andar por essas estradas Samuel? — ela temia que ele não conhecesse.

Samuel sentia-se um pouco perdido, mas podia contar com a tecnologia.

— Um pouco.

— Um pouco?

Não era a resposta correta. Ele sabia, mas não poderia mentir.

— Seu filho é uma criança adorável — ela comentou após uma longa pausa. Samuel surpreendeu-se ao ouvir o elogio, mas conhecia muito bem o encanto que Emir exercia a todos que se acercavam a ele.

— Obrigado.

— Ele me contou sobre a mãe dele. Sinto muito por sua família Samuel.

— O Emir é um garoto falador demais — ele disse em voz alta e depois olhou para Fernanda. — Ele ficou impressionado com a senhora.

Fernanda riu e voltou a sua atenção para a paisagem. Durante o restante da viagem ela não voltou a conversar. Estava preocupada com a situação a qual teria que resolver com seu irmão Carlos.

A Serra Catarinense era um local onde existiam várias fazendas. Uma dessas era a da família de Fernanda. Uma herança da família de seus pais. Quando o carro ia se aproximando da fazenda, ela reconheceu cada pedaço daquele lugar. Quando criança corria por ali junto com  Carlos. Ela suspirou feliz por estar ali no seu lugar querido.

Logo ao chegar, foi recebida por Beatriz, a esposa de seu irmão.

— Querida Fernanda — Beatriz abraçou a cunhada e sorriu amigavelmente para ela — Que felicidade em recebê-la!

Era bom estar com sua família! Pensou Fernanda sentindo aquele carinho. A família de seu esposo era tão fria às vezes. Sentia falta daquele calor e amabilidade.

— Feliz em estar aqui. Onde está o Carlos?

— Olhando as plantações! Você sabe como ele é cuidadoso com isso.

Sim Fernanda sabia do cuidado e zelo do irmão com a herança da família.

— Por favor, entre. Vou mandar chamar o Carlos para você.

Fernanda entrou na casa, mas antes virou para Samuel e disse:

— Você pode passear pelas redondezas ou apenas descansar, nos voltaremos apenas pela tarde.

Carlos ficou muito feliz em ver a irmã. A recepção calorosa foi à demonstração disso.

— Como está sua família?

Fernanda riu. Carlos suspirou já imaginando que a visita estivesse relacionada com aquilo. Ele era muito responsável e se preocupava com a irmã.

— Aquele homem anda maltratando você minha irmã?

— Carlos, você conhece o gênio do Lorenzo.

— Por isso eu fui contra o casamento de vocês. Sabia que isso nunca iria dar certo!

De fato, ele foi contra aquela união. Ainda que no começo ela e Lorenzo tenham se gostado, o irmão sempre ressaltava a diferença entre aquelas duas famílias.

— Eu sei.

Carlos tirou o chapéu e colocou na mesa de centro. Ele era muito parecido com o seu avô Francisco. Analisou Fernanda enquanto fitava a empregada trazer um suco para eles.

— Eu vim porque preciso saber sobre a empresa e sobre a casa. Como está a nossa dívida?

Carlos suspirou fundo. Era um sinal que as coisas não estavam tão bem assim, ela percebeu de imediato.

— Não creio que possamos pagar tudo. Até agora, o que conseguimos não foi nem a metade. Eu estou fazendo tudo o que posso pela empresa e pela fazenda.

— Eu sei Carlos. Eu nunca duvidei da sua capacidade.

Fernanda tinha a esperança que pudesse estar livre daquela dívida que vivia perturbando seus pensamentos.

— Vamos deixar esse tema por enquanto. Fale-me sobre a plantação!

O sorriso dele se iluminou. Aquela sempre tinha sido sua paixão. Tomar conta da empresa da  tinha sido uma consequência das situações.

Ela passou um dia agradável como a muito não o fazia. Antes de partirem em retorno para casa, Fernanda saiu para olhar a fazenda. Enquanto caminhava pelo local, recordou dos dias felizes da infância. E sorriu.

Samuel estava encantado com aquela paisagem. Nunca tinha visto coisas tão bonitas como aquelas. Ele parou e olhou a plantação que se estendia ao longo de todo o terreno. Onde se olhava existiam grandes cachos de uvas prontos para a colheita.

O olhar dele se deteve por alguns segundos em Fernanda que estava conversando com um dos trabalhadores.

Ela era muito bonita! Os cabelos castanhos brilhavam sob a luz do sol. Fernanda era diferente dos outros ricos. Muito diferente! Pensou ele enquanto a admirava. Ela tinha paciência em conversar com as pessoas e não parecia sentir-se superior a seus empregados.

Pela primeira vez conseguia ver um sorriso em seu rosto. Não existia mais aquela sombra de tristeza que a rodeava.

Fernanda caminhou até onde ele estava e lhe estendeu a mãos para que ele a ajudasse a subir na parte mais alta.

— Obrigada. — Ela sorriu e parou ao lado dele para olhar toda a plantação ao entorno. — Sinto falta de tudo isso!

Samuel virou para ela.

— Muito lindo!

— Sim Samuel, muito lindo!

Fernanda estava parada ao lado de Samuel. Ele viu que tinha uma pequena abelha grudada em seu cabelo e sem excitar ele removeu o inseto. O gesto causou surpresa a ela.

— Uma abelha — ele mostrou o bicho e Fernanda arregalou os olhos e assustada tentou correr, mas a abelha voava ao entorno dela.

— E apenas uma abelha — comentou Samuel espantando o inseto para longe.

Ela ficou agradecida, pois tinha muito medo de abelhas , ou qualquer bicho voador.

— Você não faz ideia do quanto tenho pavor desses bichos.

— E apenas um inseto inofensivo.

— Inofensivo?

— Tudo bem, talvez seja um pouco perigoso.

Fernanda sorria como ele ainda não tinha visto. Estava encantado com a jovialidade que era exalada naqueles momentos em que ela não era a senhora Accioli.

— Queria poder permanecer aqui mais tempo — ela acabou confessando. Ela virou para Samuel e riu sentindo-se em paz.

— É uma cidade muito bonita! Talvez um dia eu traga o Emir para conhecê-la.

— Seu filho é muito encantador Samuel.

— Obrigado.

— Ele me disse algo ...

Samuel sentiu medo pelo que o filho tinha falado.

— O que aquele garoto aprontou?

— Eu sou a "moça bonita" que você falou?

Fernanda viu o ar de pavor no rosto de Samuel e não conteve riso. Era a resposta para sua pergunta. Toda mulher gosta de ser admirada. Ser chamada de bonita, era algo que lhe agradava.

— Então você me acha bonita, Samuel? — Fernanda geralmente era tímida, mas naquele breve segundo, sentiu-se descontraída para fazer aquela pergunta. Ela não tinha uma intenção dupla. Queria apenas saber o que ele pensava.

— Senhora Fernanda... — Samuel gesticulou nervoso coçando a cabeça em sinal de nervosismo. Nunca tinha imaginado que sua conversa inocente com Emir terminaria naquela situação constrangedora.

Naquela hora o celular dela soou e Samuel agradeceu por ter sido livre daquela situação constrangedora.

Ela se afastou um pouco e por alguns minutos conversou, depois retornou e disse:

— Hora de voltarmos!

Fernanda virou de costas e retornou para a casa. Samuel seguiu logo atrás. Poderia permanecer ali por mais tempo, mas a realidade os chamava.

Em poucos minutos eles partiram de volta para casa, mas ao contrario do habitual, Fernanda abriu a porta do carro e sentou no banco da frente. Samuel ficou surpreso, mas nada falou.

O trajeto levava em média três horas, mas naquele dia especialmente por conta da chuva forte, Samuel diminuiu a velocidade do veículo. Fernanda, que estava perdida olhando para aquelas paisagens recordou do dia em que aconteceu o acidente. Ela fechou os olhos na tentativa de apagar aquelas memórias. Aquela cena não passou despercebida a Samuel, que por vezes a olhava de relance.

— Você está bem?

Fernanda de olhos fechado suspirou profundo e em seguida virou para ele.

— Estou. Apenas lembranças ruins...

— Todos nós temos recordações que nos deixam tristes.

— Você está certo!

O olhar de Samuel pareceu distante e ela comentou:

— Você sente saudades de sua esposa?

Ele virou para Fernanda e o ar de surpresa em seu rosto era visível.

— O seu filho comentou sobre a morte dela.

Ele assentiu confirmando o que ela havia falado.

— Sim, a Kenya era uma pessoa incrível! Nunca conheci alguém como ela. — Ele comentou saudoso. — Quando eu a conheci, ela ajudava como médica numa ONG... Foi quando eu me apaixonei por ela.

— Você é médico, não é?

— Sim, eu trabalhei com ela nessa ONG, mas um dia houve um ataque de grupos radicais. Infelizmente naquele dia eu a perdi. Perdemos tudo. Nossa escola, nosso hospital. Foi depois disso que decidi vir para o Brasil. 

Fernanda pôde notar que a voz dele soava saudosa. Certamente aquele fato trazia muitas dores a ele.

— Sinto muito.

— Acho que com o tempo aprendemos a superar.

 A cena de sua esposa morta ainda o doía demais. Por sorte naquele dia, ele e Emir estavam em outro local. Nunca conseguiu esquecer aquilo! Mas por causa do filho , Samuel tinha decidido lutar e ir em frente. 

Fernanda esperava que um dia ela também pudesse esquecer seus traumas e voltasse à vida. Queria isso! Esperava por isso!


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