Jornada para o amor. escrita por ElaineBDQ


Capítulo 12
Surpresas da vida.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/777310/chapter/12

Durante aquela semana, Fernanda ficou com o irmão na fazenda. Enquanto esteve lá, aprendeu mais acerca do trabalho na empresa e sobre o andamento dos novos produtos que seriam lançados. Nas horas vagas, tentava ler algum dos muitos livros que havia na biblioteca da casa. Mas sua mente estava vagando. Estava um pouco entediada e cansada.

— Você vai fazer um buraco no chão! — Bia gracejou vendo que ela caminhava de um lado para o outro.

Fernanda riu e deixou o livro na estante e se aproximou da cunhada.

— Estou um pouco entediada. Pensei que fosse descansar, mas minha mente está a mil. O Lorenzo não para de ligar!

— Talvez esteja na hora de você enfrentá-lo.

— Você tem razão!

Naquela tarde de segunda feira, Fernanda retornou para casa. A primeira pessoa em lhe recepcionar foi Sandra, que a abraçou, logo depois a senhora de meia idade envergonhou-se e se afastou.

— Perdão. Estou uma velha emotiva.

— Você sempre será minha amiga querida. — Fernanda sentou na beira da espaçosa cama. Olhou em volta e tudo permanecia do mesmo jeito que havia deixado há uma semana.

— E o Lorenzo?

— Ficou inquieto por não vê-la aqui... Quase foi atrás de você na fazenda. — Sandra relatou, enquanto removia as roupas da mala.

Fernanda suspirou e se jogou na cama.

— O Samuel resolveu sair do trabalho.

O olhar de Sandra foi de surpresa.

— Por quê? O que houve?

Fernanda relatou o que tinha acontecido entre eles. Falou dos sentimentos de Samuel e que ela não se sentia livre para correspondê-lo.

— Não imaginava! — disse a senhora um pouco surpresa com a fala de Fernanda. — E você, sente algo por ele?

 Fernanda não respondeu. Ela tocou na mão de Sandra e em seguida entrou no banho.

Sandra não disse nada. Deixaria Fernanda sozinha para organizar sua mente. A idade não trazia apenas cabelos brancos. Trazia também sabedoria. Ela conseguia enxergar as coisas com antecedência. Ela precisava reconhecer que também sentia algo por Samuel.

À noite na hora do jantar, Fernanda encontrou o marido que retornava da empresa. Lorenzo se aproximou e fez um gesto para beijá-la, mas ela rapidamente se desviou.

— O que houve? — Lorenzo indagou sentindo-se contrariado.

— Você é muito cínico!

— Isso são modos de falar com seu marido? Você some durante uma semana e volta desse jeito!

Ela afastou o prato e levantou para se aproximar dele. Olhando-o fixamente no rosto disse:

— E você? Será que devemos indagar o modo como você está me tratando? Será que devo relevar sua traição?

Lorenzo não conseguiu esconder seu espanto. Mas ele continuou fingindo que não entendia sobre o que ela falava.

— Não seja idiota! Eu encontrei a prova da sua traição! Ao menos tenha a dignidade de assumir!

Vendo que não poderia negar, ele continuou e assumiu.

— Você está certa. Eu errei, mas não pretendo fazer isso novamente.

Fernanda riu.

— Não me peça para acreditar. Aliás, eu só retornei para avisar que pretendo dar início ao nosso divórcio!

— Você não se atreveria!

— Prepare-se para ver!

O modo como ela o enfrentava, era a prova que não estava mentindo. Lorenzo ficou sem reação. Fernanda sempre foi uma mulher tranquila. De onde havia surgido toda aquela resistência? Ele indagou-se.

O clima estava tenso. Fernanda começava a sentir temor do que pudesse acontecer.  Ela agradeceu pelo momento em Sandra entrou na sala.

Fernanda olhou para Sandra e notou que algo estava errado.

— O que houve? — Indagou Fernanda. Ela ficou preocupada ao notar o que Sandra estava nervosa.

— Ligaram do hospital... A sua mãe Fernanda!

Fernanda se preparava para isso há tempos, mas quando acontecia era diferente. Tentando manter a calma, ela pediu que Sandra chamasse um carro. Lorenzo que assistia toda a situação informou que a levaria até o hospital. Ela pensou em dizer que não, mas naquele momento isso não era importante.

Em menos de dez minutos, eles partiram em direção ao hospital. Durante o trajeto, Fernanda sentia a mão tremer. Sabia que talvez aquele fosse o último momento ao lado de sua mãe. Mas ela pedia, que dessa vez Constança estivesse bem.

Quando o carro parou em frente o hospital, ela saiu apressada. Ao vê-la, o médico veio em sua direção. A informação foi a que ela mais temia. Sua mãe infelizmente não tinha resistido!

Naquele momento tudo desabou! Nada fazia mais sentido! Constança tinha morrido. O corpo de Fernanda foi ficando fraco e tudo ao redor ficou escuro. Antes que ela caísse, Lorenzo a amparou. Com a ajuda de enfermeiros, ela foi levada para uma das poltronas no hospital.

Depois de algumas horas, Fernanda informou ao irmão sobre o que tinha acontecido. Carlos era mais forte emocionalmente e por isso, ficou responsável por todos os trâmites fúnebres. Ela realmente, não sabia o que fazer naquele momento!

Fernanda estava com o olhar perdido e vazio. Ela olhou para o motorista que dirigia o carro e pensava nas coisas que haviam acontecido. O motorista perguntou para onde ela queria ir. Tudo o que menos queria, era retornar para casa naquele momento. Ela se lembrou de Samuel. Queria que ele estivesse ali. Sentia vontade de estar junto dele naquele momento. Informou seu endereço e em poucos minutos o carro parou em frente à casa dele.

Fernanda pediu que o motorista a aguardasse e desceu do carro. Enquanto caminhava em direção à casa de Samuel, ela ficou apreensiva se realmente deveria estar ali. Por um breve segundo titubeou e resolveu voltar, mas de repente a porta foi aberta e ele saiu.

Samuel estava acompanhado de uma mulher. Eles se despediam no portão. A mulher o abraçou e o beijou nos lábios. Fernanda ficou sem reação e tentou recuar, mas não houve tempo, pois ele a viu. Sentindo-se uma boba ela retornou ao carro e pediu que ele partisse.

Samuel ficou olhando para o carro que partia. Ele ficou surpreso ao ver Fernanda. Quando ele fez menção de ir atrás dela, sentiu a mão de Cláudia lhe impedindo.

 — E ela?

Ele encarou Claudia. Ela parecia apreensiva e insegura.

Samuel contou para ela acerca de seus sentimentos. Jamais a enganaria! Ainda mais sendo uma pessoa que ele considerava como amiga.

— Sim, essa é a Fernanda.

— Porque ela veio aqui?

O modo como ela falou, deixou evidente, que estava com ciúme.

 — Deve ter acontecido alguma coisa. — Essa era a única resposta possível Samuel sabia que Fernanda não iria ali sem motivos.

— Talvez o motivo da vinda dela seja outro.

Samuel reconhecia o ciúme em uma mulher. Quando Claudia o beijou, sua primeira reação foi de surpresa e não pode recuar, mas logo em seguida se afastou. Ela era uma mulher muito atraente, mas não a iludiria com sentimentos que não existiam.

— Claudia...

— Por favor, pare! Eu já sei o que você vai dizer. — Claudia era uma mulher experiente. Tinha vivido outros amores em sua vida. Samuel era um homem atraente e tinha sido cativada por ele, mas ela sabia reconhecer quando não era recíproco os seus sentimentos.

Chegar àquela situação era tudo o que Samuel não queria!

— Eu vi quando você olhou para ela... Esse olhar é de paixão.

Ele não poderia negar. E não o fez! Claudia ouviu tudo em silêncio. Era evidente a sua insatisfação. Ela se despediu e foi embora.

Samuel estava inquieto sobre a vinda de Fernanda. Não ficaria tranquilo enquanto não soubesse o motivo dela ter ido até sua casa. Ele ligou para ela, mas quem atendeu ao telefone foi Sandra. A senhora o informou que a mãe de Fernanda tinha morrido.

Então esse era o motivo! Samuel ficou inquieto aquela noite. Precisava vê-la! Saber como ela estava. Fernanda amava muito sua mãe. Perdê-la, certamente seria insuportável.

O velório de Constança foi um evento bem discreto. Não houve presença de muitas pessoas. Apenas contou com a presença dos familiares e alguns poucos amigos deles. Lorenzo não fez questão de participar. Nem alguém da família dele esteve presente. Para Fernanda aquilo foi um alívio! Não suportaria a presença deles!

Enquanto era executada a cerimônia fúnebre, Fernanda recordou de toda sua infância. Recordou de como Constança lhe ensinou valores que tinham permanecido com ela. Durante aqueles meses no hospital, ela fez tudo o que pôde por sua mãe. Mas a vida tinha seus próprios caminhos.

Fernanda se negava em chorar!  Ela permaneceu firme até que tudo terminou. Carlos se aproximou da irmã. Ele tocou em seu ombro e em seguida a abraçou. Eram dois irmãos que tinham perdido sua maior referência nessa vida.

— Você está bem?

Ela assentiu dizendo que sim.

— Estou indo com a Bia, você não irá conosco?

Fernanda queria ficar um pouco sozinha. Precisava desse tempo para poder se despedir da mãe.

— Eu irei daqui a pouco.

Carlos tinha que ir, mas estava preocupado com a irmã. Ele sabia que Fernanda sempre foi muito apegada a Constança. Perdê-la sem dúvida, era algo que a afetava muito.

— Eu estou bem meu irmão... Não se preocupe comigo.

Assim que Fernanda ficou sozinha, ela permitiu que lágrimas finalmente rolassem em seu rosto. Durante todo aquelas horas tinha se mantido firme, mas agora era diferente.  Ela ficou perdida em lembranças e o tempo passou. Quando ela ao levantou o rosto se deparou com Samuel, que estava parado em sua frente.

Não sabia a quanto tempo ele estava ali, mas ao vê-lo, foi como se um bálsamo tivesse caído sobre ela. Fernanda caminhou até ele e o abraçou.

Eles permaneceram abraçados durante um breve período. Ela chorou e deixou-se esvaziar de toda aquela dor. Samuel se afastou um pouco e tocou a face delicada, que estava inchada de tanto ela chorar.

— Eu sinto muito.

— Obrigada. Eu sabia que isso iria acontecer. Os médicos foram unânimes no diagnóstico dela. O que me conforta, é saber que ela foi a pessoa mais feliz enquanto viveu conosco.

Fernanda pegou a bolsa que havia deixado sobre o assento e limpou o rosto.

— Perder alguém nunca é uma coisa fácil.

Ela assentiu concordando.

— Como você soube?

— A Sandra me avisou... Você foi até minha casa e saiu sem falar comigo... Fiquei inquieto.

Automaticamente ela recordou da bela mulher que estava ao lado dele.

— Eu não quis incomoda-lo. Você parecia muito ocupado com tua namorada...

Samuel seguiu Fernanda quando ela caminhou em direção ao estacionamento. Ele reconheceu o carro dela que estava estacionado. Por um segundo, pensou que ela havia dirigido sozinha. Sentiu-se feliz ao pensar nessa possibilidade, mas logo foi informado que o motorista tinha dirigido.

— Ele te deixou sozinha?

Ela gesticulou em negativa.

— Pedi apenas um pouco de privacidade.  Ele deve estar retornando. Mas realmente estou muito cansada. Quero apenas descansar e dormir.

Samuel não gostaria de pensar, que ela pudesse ficar sozinha. Ele se ofereceu para levá-la para casa. Fernanda concordou e enviou uma mensagem ao motorista informando-o que ele estava liberado.

Fernanda não queria ir para casa. Ficava angustiada só ao pensar em reencontrar com Lorenzo. Não depois de tudo o que havia acontecido. Iria se preparar para sair daquela casa. Já não existia motivo para continuar naquele casamento sem sentidos.

— Não quero ir para casa!  — A voz dela soou fraca e cansada. De fato ela estava. Mas não sabia para onde poderia ir. Ao ouvi-la, Samuel a encarou surpreso. Depois de alguns segundos, ele deu a volta e tomou a rua que levava para sua casa. Não pensou em perguntar se Fernanda queria ir, mas foi o primeiro lugar que pensou.

Samuel parou o carro em frente a sua casa.  Ele olhou de relance para Fernanda que mantinha os olhos fechados.

— Chegamos! — Ele disse.

Fernanda abriu os olhos e o encarou. Quando Samuel fez menção de sair do carro, ela segurou sua mão impedindo-o de sair.

— Você tem certeza que posso ficar aqui? — Ela estava apreensiva com aquela possibilidade. Realmente, não queria causar nenhum problema à ele.

Samuel suspirou e então saiu do carro. Ele abriu a porta para que ela saísse, mas antes disse olhando-a fixamente:

— Sim, você pode. Pode ficar o quanto você quiser. — Samuel se afastou e abriu o portão da casa.

Fernanda o observou e pensou se realmente deveria estar ali. Mas estava tão cansada e queria apenas um momento de paz. Depois de titubear um pouco, ela levantou e o seguiu.

Ele parou no portão para que ela passasse, mas antes de entrarem ele disse num sussurro:

— Ela não é minha namorada.

Fernanda virou para encarar Samuel, que estava parado logo atrás. Ele sorriu e passou à frente e abriu a porta para que ela entrasse.  Ela o seguiu e entrou na casa.

Emir estava na sala e escrevia alguma coisa no caderno da escola. Quando que viu o pai levantou e caminhou ao encontro dele.

— Emir, a Fernanda ficará conosco.

O garoto chegou perto dela e a abraçou. O gesto sincero de Emir tocou-a profundamente. Muitas vezes ela era rodeada de pessoas. Mas sempre se sentia sozinha! Naquele momento era diferente. Ela se sentiu confortada com aqueles pequenos bracinhos ao entorno de seu corpo. Lembranças de Isabella golpearam sua mente. Automaticamente veio a vontade de chorar, mas ela conteve-se.

Samuel percebeu e disse ao garoto:

— Meu filho, a Fernanda precisa descansar um pouco.

O menino assentiu concordando com o pai. Samuel a levou para o seu quarto. Como não havia planejado nada, tinham algumas coisas bagunçadas, mas nada fora do normal.

— Perdão pela bagunça.  Você pode dormir aqui.

— Mas e você?

— Eu fico com o Emir. Não se preocupe!

Fernanda sentiu-se incomodando o ambiente e titubeou.

— Acho que vim não foi uma boa ideia.

— Você que decide. Mas saiba que na minha casa estará aqui para você.

Aquelas palavras sinceras tiveram um poder sobre ela. Fernanda sentiu-se emocional, mas logo foi amparada por Samuel.

— Por favor, não fique assim... — Ele tocou a face dela com as duas mãos e fez gestos carinhosos. Ela sentiu um profundo afago vindo dele e fechou os olhos e mergulhou naquele sentimento. Mas Samuel sabia que não poderiam continuar e se afastou antes que não conseguisse mais.

— Você não trouxe nada de roupa, não é?

Ela gesticulou em negativo.

Samuel abriu o armário. Ele pegou um moletom que tinha em casa e ofereceu a ela. Certamente ficaria muito grande, mas serviria por enquanto.

— Tome um banho e descanse!  Qualquer coisa pode me chamar.

— Obrigada Samuel.

Samuel caminhou em direção a porta, mas ele parou e ficou por um tempo encarando-a e logo depois saiu do quarto.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Jornada para o amor." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.