Solta o som escrita por Cínthia Zagatto


Capítulo 4
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Olá, meus amores. Dia de capítulo novo finalmente chegou e eu tenho mais um convite para fazer a vocês:
No dia 22, próximo sábado, eu vou estar em São Paulo na Poc Con. Venham me ver para conhecer os outros livros e pegar marca-páginas da série do Caíque. Quem ainda não tem as informações do evento, me segue lá no Instagram cizagatto, que tem endereço, horário e tudo.
Por lá também postei a capa do meu novo livro, que vai ser lançado em breve pela Rico, com pré-venda ainda este mês. Então apareçam por lá também, para conhecer a história do Cadu.
Nos vemos por aí! Beijos, beijos.



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Um beijo na bochecha e Caíque finalmente olhou para trás enquanto sentia o rosto esquentar. Rômulo apareceu em seu campo de visão e esticou a mão para Philipe.

— Remo, oi.

O colega de quarto correspondeu o gesto com um sorriso, mas retornou a atenção ao celular após se apresentar.

— Te encontrei — o veterano continuou. — Como foi de viagem?

O modo como ele falava ao se virar novamente em sua direção fazia parecer que o havia procurado o dia todo.

— Foi tudo bem. Dei sorte com o colega de quarto, acho que é um bom sinal.

Rômulo espiou Philipe mais uma vez, mas a falta de reação dele o fez pousar os olhos em Caíque novamente. E não tinha como negar: gostava muito de ter a atenção dele só para si.

— Você não tá bebendo nada?

— Ah, eu acabei de chegar.

Era a conversa mais esquisita que já havia tido. Como se nenhum dos dois soubesse exatamente que caminho deveria tomar, então ela tentava fazer o seu próprio sem a menor habilidade.

— E deu tempo de conhecer alguma coisa?

— Não hoje, mas eu dei uma olhada quando vim pra audição da bolsa.

— Isso. Eu vi o seu namorado por aqui, em algum lugar. Ele veio pra música também, né?

— Quem?

— O garoto que dançou com você.

— Ah, ele não é meu namorado. — Caíque arregalou os olhos e, debaixo do sorriso torto de Rômulo, enxergou o que ele faria em seguida. Quase como se conseguisse prever o que aconteceria após se dizer livre de outro compromisso.

A mão dele voltou até as suas costas e a boca veio para mais perto de seu ouvido.

— Não é o que todo mundo tá dizendo.

— Ninguém me conhece, então acho que não sabem o que dizem.

Não era a intenção soar muito emburrado, mas a menção a fofocas daquele tipo, justo sobre Danilo, justo na faculdade de seus sonhos, não deixou que fosse diferente. Causou apenas uma gargalhada alta no outro, que ajustou a mão em sua cintura.

— Ele é bravo — Rômulo comentou quando o riso chamou a atenção de Philipe.

E então, para atrapalhar ainda mais a conversa, Caíque viu Danilo atravessar o gramado até eles. Estava procurando desesperadamente o botão de resetar todo aquele primeiro encontro com Rômulo, quando o colega de infância se aproximou e se inclinou na direção de Philipe.

— Posso arriscar a sua cor preferida?

— Azul — o garoto disse, sem muita abertura para o tom de cantada que vinha na voz dele.

Caíque estreitou os olhos e não pôde conter quando o canto dos lábios se afundou de leve. Talvez estivesse enganado, ou talvez Danilo tivesse mesmo vindo resgatar o garoto para lhe dar um pouco de espaço para conversar com Rômulo. E não era o único a ficar curioso sobre isso porque, por mais discreto que ele tentasse ser, Remo também estava observando a aproximação.

— Então acertei. — De trás de suas costas, apareceu um dos tubos de pó colorido. — Vem, me deixa pegar uma bebida pra você.

Caíque viu enquanto Philipe ficava mais e mais sério conforme Danilo falava. Não houve resposta, então o amigo chacoalhou novamente o tubo em frente ao rosto do outro.

— Qual é, só uma bebida — insistiu e permitiu que o pequeno pegasse a tinta quando ele esticou a mão. Ainda soava hesitante e indeciso, mas Danilo abriu um sorriso como se o fato de ele ter aceitado o presente fosse algo bom.

Então Philipe abriu o frasco e espiou o conteúdo interno. Danilo puxou o ar para dizer alguma coisa, e talvez tudo tivesse acontecido antecipadamente ali do outro lado, para eles dois que observavam. Porque Remo estava rindo e Caíque arregalando os olhos, muito antes de a nuvem azul subir na cara de Danilo. Não conseguiram ao menos se despedir de Philipe, porque em seguida ele estava correndo ao encontro do irmão, que voltava com as garrafas de cerveja, e o arrastando para outro lado.

De olhos fechados e cabeça baixa, Danilo não tentou espiar os arredores com o acúmulo de pó sobre as pálpebras. Ergueu as mãos para limpá-las, como podia, e caminhou às cegas para o alojamento.

Uma parte de Caíque queria ir atrás de Philipe e abraçá-lo, como se aquilo pudesse ser uma vingança pessoal para as coisas bobas que ele havia feito consigo, mas que pareceram muito importantes e ruins quando era criança. A outra parte foi a que falou mais alto. Com o riso enchendo seus olhos de lágrimas, olhou Rômulo uma última vez, em um pedido de desculpas, e foi segurar Danilo pelo braço e ajudá-lo a encontrar um banheiro.

Decidiu que não voltaria à festa depois disso. Danilo havia se lavado na pia e lacrimejado um pouco até decidir que não havia mais tinta nos olhos. Sem olhar muito em sua direção, até porque Caíque não tinha muito sucesso em sufocar as sequenciais ondas de crise de riso, ele foi buscar a toalha para entrar no banho, então achou melhor ir se preparar para dormir.

Era muito tarde quando Philipe voltou para o quarto. Mesmo com a música alta, a cantoria desenfreada e as conversas mais e mais escandalosas lá fora, havia conseguido colocar o sono em dia. Com a antecipação da mudança, os preparativos e a ansiedade, as noites em claro vinham sendo constantes ultimamente. Por isso, quando viu Philipe se arrastar até a cama, puxou melhor o lençol sobre os ombros e virou-se para o outro lado, de cara para o próprio armário.

— Ele só tava tentando ser legal.

Não soube bem o que o colega respondeu, se é que ele estava em estado para entender sobre o que dizia. Escutou o baque do corpo dele no colchão e voltou a dormir logo.

Quando se levantou para o café da manhã, os corredores já estavam movimentados. Foi se colocar em um banho após quase doze horas de sono e, diferentemente da maior parte dos garotos de ressaca, estava confiante o suficiente para ficar sem os óculos escuros.

Não saberia explicar o que aconteceu em seguida. Trombou com um primeiro aluno logo na saída do alojamento e, enquanto pedia desculpas, ele deu um giro completo para olhá-lo; ergueu os óculos e tudo. Caíque estreitou os olhos, sem ganhar resposta, e partiu para o gramado. Uma dupla de amigos se afastou para que ele passasse entre os dois quando, distraído pelo último encontro, quase os atravessou sem licença. Desculpou-se de novo e, enquanto os meninos olhavam por cima do ombro, ganhou um sorriso e um segundo levantar de óculos. E, como se três fosse o número da sorte, o próximo a lhe estender a cortesia foi Rômulo.

Parado ao lado da porta do refeitório, o modo como ele sorria de canto e mantinha os braços cruzados sugeria que estava olhando havia algum tempo. Os óculos saíram assim que Caíque se aproximou dele. Após olhar para trás algumas vezes, a fim de se assegurar de que o sorriso não era para outra pessoa, correspondeu da mesma maneira.

— Parece que você vai ter trabalho por aqui — foi a primeira coisa que ele disse, em vez de um cumprimento.

— Trabalho? — Caíque baixou os olhos quando o viu se aproximar. Ele beijou sua bochecha, e o modo como isso fez sua cabeça tombar levemente para o lado arrepiou seu pescoço. Assim, ao menor contato.

— É, trabalho — disse apenas, antes de indicar as mesas com a cabeça e entrar primeiro.

Caíque preferiu não insistir na pergunta. Talvez descobrisse em meio a outro assunto, ou sozinho mesmo. Apenas torcia para que isso não fosse um sinal ruim.

Danilo, que deveria ter sido a outra única pessoa a dormir antes das três da manhã, estava saindo do refeitório e passou ao seu lado com um breve aceno de cabeça. Os óculos escuros dele provavelmente tinham a função de esconder a irritação causada pelo pó colorido.

Serviu-se com um pão de queijo duvidoso e um achocolatado em caixinha. Soube de imediato que teria muito trabalho mesmo: para conseguir comer naquele lugar. Mas foi ao se sentar à mesa junto com alguns garotos que descobriu que o assunto da manhã estava mais próximo do que imaginava.

— Uma nuvem de pó azul, bem na cara dele. Foi genial.

Caíque curvou os ombros sobre sua comida. Mordeu e mastigou em silêncio, talvez para disfarçar a vontade de rir. Não queria dar a eles, de mãos beijadas assim, todos os seus antigos problemas com Danilo. Não a ponto de dar risada de uma crueldade como aquela, sem ao menos defendê-lo. E, como não tinha muita vontade de defender também, preferiu ficar quieto.

— Foi no seu amigo, não foi?

Então estava tudo perdido. Ergueu o rosto para o garoto que falava compulsivamente e, em vez de assentir, apenas chacoalhou a cabeça.

— Desculpa, não escutei.

— O garoto que jogou pó na cara do Danilo — Rômulo veio ao seu socorro, mas preferiria que não tivesse vindo.

— Do Danilo? — um terceiro confirmou. — O garoto que tava com a gente ontem à tarde? — E, depois, como se percebesse a falta de educação, esticou uma mão para ele por cima da mesa. — É Cauê, aliás. Você é...

— Caíque.

— Hilário! — o mesmo garoto tagarela continuava, com a cabeça jogada para trás, agora, e um riso alto. Caíque não chegou a descobrir o nome dele. Teve a impressão de que ainda estava excessivamente bêbado. Só o que viu foi quando se levantou do lado de lá e veio até suas costas. Alguns tapinhas no ombro de Rômulo e um comentário muito infeliz. — Eu sabia. Todo Remo precisa de um Caiaque.

O silêncio dominou a mesa por um segundo, enquanto ele se afastava. E, quando o constrangimento da piada ruim começou a falar mais alto, atreveu-se a ser o primeiro a afundar o rosto na mão e permitir a saída de um riso constrangido. Cauê e Rômulo o seguiram, sendo que o primeiro deles não tirava os olhos de si, os alternando frequentemente na direção de Remo. Caíque teria ficado mais sem graça se não tivesse um assunto a retomar.

— Danilo foi o garoto que dançou comigo nas audições.

— Eu lembro disso — ele comentou em seguida. — Quer dizer, não ia lembrar se não falasse. Passei o dia inteiro com ele e não lembrei.

— Ali ele — Rômulo interrompeu ao apontar para o balcão.

O garoto pegava dois copos grandes de bebida quente e uma sacola, que também parecia ter comida para dois. Mesmo de longe, Caíque teve certeza de que não era Philipe. Apenas soube; até porque o havia deixado ainda ressonando no quarto.

Mas então viu acontecer. Cauê se virou na cadeira para olhar e lá estavam seus óculos escuros sendo erguidos. Enquanto Felipe passava ao lado da mesa, a caminho da porta, Caíque acenou por educação. Sem mãos para fazer o mesmo, ele o cumprimentou com a cabeça. Mas, quando olhou para trás para observá-lo ir embora, e Felipe se virou por cima do ombro e tomou todo o tempo que quis para espiar em sua direção, soube que aquele olhar não era para si.

Voltou para o pão de queijo enquanto via Cauê devolver os óculos no lugar e sorrir em silêncio. E preferiu não corrigir Rômulo, porque o fato daquele gêmeo não ter sido o garoto da nuvem de tinta azul, de repente, era o que tinha de menos importante naquele momento.


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