Modus Operandi: Dias Negros de Ocultgard escrita por Nemo, WSU


Capítulo 3
A Garota, o Ladrão e o Encapuzado (Parte 2)


Notas iniciais do capítulo

E aqui estamos nós com a continuação, espero que aproveitem ^^



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Mais tarde, mas não muito longe dali

 

A família de Hadyle havia chegado a cidade mais tarde do que o esperado, as estradas estavam em péssimo estado. Fora que tiveram que fazer paradas para dar água aos animais e se aliviar.

O doutor Fyndr, havia ido com dois empregados ao boticário, já mãe e filhas se dedicaram a outra tarefa: Comprar roupas e sapatos. Sendo escoltadas por dois guardas, a segurança era reforçada nessa parte da cidade, mas sempre havia algum “espertinho” ou desesperado rondando.

Enquanto caminhavam pelas ruas. ora de pedras, ora de terra batida, Hadyle, se deparava com inúmeros vendedores, alguns ocupavam as ruas, outros ficavam em suas lojas, sendo estas de tecidos, vestes, acessórios, especiarias, joias e alimento. Haviam algumas sendo limpas, e outras ainda com excrementos de animais, afinal eram eles que transportavam boa parte das cargas. Acredite, quanto mais quente, pior era o cheiro.

Hadyle e Rosye, olhavam para os lados, procurando por algo interessante, e de fato encontraram. Virando a esquina havia um mago, ou mágico, escolha a terminologia que preferir, se por ventura imagina um ser com uma longa barba branca, chapéu pontudo ou mesmo uma capa majestosa… vou ter que te desapontar.

Ele parece mais um mendigo que um mago. Concluiu a mais velha, fitando o homem sentado no chão, todo sujo, maltrapilho e encapuzado, segurando uma placa, com desenhos (para aqueles que não sabem ler) e embaixo deles,escrito: Mago: Um truque por uma moeda.

Sua mãe tinha encontrado uma conhecida, e começaram a conversar, já os guardas ficavam de olhos nos possíveis ladrões e no próprio “mago”.

— Desejo ver um truque. — falou ela em tom formal.

— Pode me assegurar que vai me pagar? Digo, não é de graça… e estou faminto…

Ela mostrou a moeda dourada estendendo-a, ele fez menção de pegá-la, mas ela recolheu o punho.

— Aqui está sua garantia, mas agora... o truque.

— Você é uma garota bem esperta… — Ele sorriu de forma maliciosa por debaixo do capuz, sendo interrompido por um dos guardas:

— Por que não retira seu capuz?

— Se eu fizesse isso, afastaria os clientes, não tenho a melhor das aparências — levantou a parte lateral do capuz, haviam muitas cicatrizes ali — É melhor terem receio de que eu seja um ladrão. —  deu de ombros, logo depois abrindo a palma da mão, também norteada por cicatrizes, foi nesse momento que Hadyle e sua irmã, conheceram a magia.

Uma névoa esverdeada surgiu aos poucos em movimentos disformes, se dividiu, tomando diversas formas; a primeira de uma águia, a segunda de um cão e a terceira de um cavalo. Os detalhes foram se realçando à medida que se locomoviam, deixando de ser névoa para assumir uma forma mais luminosa e cristalina, além de emitir um leve calor.

A movimentação dos animais não deixava nada a desejar, a águia deslizava imperiosa por cima tanto do cão, quanto do cavalo, os dois corriam em um movimento circular em torno da mão do mago.

— Fim da apresentação. — disse ele, enquanto às três figuras desvaneciam, até deixarem de existir. Hadyle, arremessou três moedas a ele, que apanhou prontamente. Apesar de ser triplo do combinado, valia a pena, ela esperava um simples ilusionismo, não magia de verdade, muito menos em um nível elevado.

— Moço, como o senhor fez isso? — questionou a mais nova. Ele bufou detestava crianças, justamente por essas impertinências.

— Trabalho duro apenas. — respondeu com pouca intimidade. Eu definitivamente deveria voltar a furtar e trapacear nos jogos de azar, essa situação aqui é humilhante… Maldita a hora que aceitei os termos do Caminhante. — raciocinou mago, observando as meninas e os guardas se afastarem, indo em direção a sua mãe que ainda conversava alegremente com a conhecida.

Mas esse encontro não chegou a acontecer, uma garota surgiu de mansinho e surrupiou a bolsa da amiga de Cath, os guardas a seguiram tentando passar pelo emaranhado de pessoas e animais.

Com os guardas ocupados, Kay aproveitou e apanhou a bolsa da mãe das duas meninas, correndo para o lado oposto dos guardas. Era uma estratégia típica, roubo duplo, mesmo que Valk, tivesse que deixar o dinheiro para trás o lucro era assegurado por seu irmão.

Enquanto às duas mulheres gritavam por ajuda, afinal não poderiam correr atrás do ladrãozinho por estarem de saia comprida. Além disso havia certo medo, muitas mulheres eram atraídas pelos ladrões até um certo ponto e então sequestradas. Dependendo da classe social eles pediriam um resgate, ou poderiam vendê-las como escravas. Hadyle, não sabia disso.

Ela perseguiu Kay, contrariando os gritos de sua mãe. Por que uma nobre perseguiria um ladino mirim? Será que ela poderia fazer frente ao físico atlético do garoto, habituado a cidade? De fato, conseguia, estava apenas um pouco atrapalhada por conta do ambiente, mas conseguia manter um ritmo, levemente superior ao de Kay.

— Quando eu te pegar seu fedelho, vai se arrepender de roubar minha mãe!

Droga, de onde veio essa garota? Questionou Kay, com o coração saindo pela boca. A verdade é que nem de etiqueta ou estudo vivia Hadyle, ela praticava atividades frequentemente, além de ter um ótimo professor em autodefesa, em outras palavras, foi certa da vitória.

Kay, em seu desespero começou a se embrenhar em uma área que não conhecia, justamente por não ter uma reputação lá muito boa. Por fim se defrontou com um beco, impossível de ser escalado.

— Devolva! — exigiu a garota atrás do rapaz. Ele meio receoso pegou uma adaga e empunhou de forma desajeitada. Esperava que ela fugisse ou algo assim. Hadyle, bufou fazendo suas mechas se elevarem um pouco, era claro que ele não era experiente.

— Se devolver, prometo não encostar em um fio do seu cabelo… — Ela deixou de lado a postura hostil, seu professor sempre dizia que a melhor luta, era aquela que não acontecia. Além disso, ao olhar o garoto, se apiedava dele, a necessidade de roupas, alimento, estavam estampadas nele, seu rosto era magro e sujo.

Minha irmã vai me matar se eu não conseguir, pior ela vai ficar chateada, todos eles vão. Pensou o garoto. Detestava passar fome, mas detestava mais ainda ver aquelas pessoas já tristes e desoladas pela doença, passarem essa necessidade.

Correu em direção a ela na esperança de abrir caminho, mas foi barrado, pela garota e se viu obrigado a esfaqueá-la. Ela segurou sua mão com a adaga e usando o corpo dele como apoio, desferiu uma joelhada em sua barriga, acabando com as esperanças de uma boa refeição para o rapaz.

Ela pegou a bolsa de sua mãe e examinou o conteúdo, tudo em ordem. Se virou para o garoto agoniando em dor, o peso na consciência bateu e decidiu dar a ele metade das moedas. No entanto, antes que pudesse fazer essa boa ação, com o canto do olho viu cinco figuras.

Homens, com uma aparência nem tão amistosa, armados e com uma tatuagem de dragão em seus braços desnudos, Kay, os reconheceu de imediato e estremeceu. Se colocou de pé com uma das mãos na barriga e a outra com a adaga na mão recuando, Hadyle, decidiu fazer o mesmo, aparentemente os dois jovens compreendiam que: o inimigo do meu inimigo é meu aliado.

— Eles são os Escravistas. — falou ele, arfante, estava numa péssima situação. — Os piores, eles raptam e vendem como escravos… ou sequestram para pedir resgate.

— Que ratinho mais experto. — respondeu o líder deles. — Você daria um bom brinquedo.

Erwem, não gostou nada dessa possibilidade obscura. O homem alvo e de cabelos negros deu sua ordem:

— Peguem eles.

Os quatro vieram devagar, talvez por cautela, ou talvez para desesperar ainda mais às duas crianças.

— Ninguém virá procurar vocês aqui. — disse o líder, enquanto as mãos pesadas dos homens se aproximavam dos dois. E foi então que o caminho dos três se encontrou.

— Fiquem atrás de mim. — ordenou a voz fria, de um homem que acabara de pousar a sua frente, se interpondo entre eles.

 

 

 

*******

 

Kay bloqueou o golpe com sua adaga, já a garota aproveitou o impasse para desferir um chute, do lado direito da barriga do atacante. Nisso o garoto aproveitou para esfaquear o braço do homem com a lâmina e tomá-la.

O desconhecido bloqueou as lâminas com sua cimitarra, empurrou-as para cima, com a outra arma, golpeou parte do braço de um bandido. Investindo contra eles, como se seus ferimentos não importassem realmente e encurralou os dois com golpes rápidos. Um terceiro tentou atingi-lo pelas costas, mas recebeu uma rasteira de Hadyle, enquanto Kay, segurava o primeiro agressor com golpes de intimidação.

O líder veio em auxílio de seus homens, ao perceber sua aproximação, o encapuzado calculou que pelo grau de periculosidade em que se encontrava, deveria subir uma de suas restrições. Se tivesse que passar disso,deveria matar ate quem protegia.

Com efeito, bloqueava e atacava com força, seus golpes demostravam isso, seus olhos continuavam sem vida, sem expressão mesmo com os ferimentos e os esforços de golpear, uma, duas e então desviar de um golpe lateral, era como um simples fantoche.

Embainhou uma das cimitarras, na primeira oportunidade, desviou do golpe perfurante do quinto e correu em direção a parede da direita, naquele momento os corações de Hadyle e Kay, congelaram.

O encapuzado fez exatamente o que nenhum deles esperava, correu pelo muro, quando viu que a gravidade o chamava de volta. Saltou para trás pousando por trás do quinto e desferindo um golpe lateral, que até tentou ser defendido, mas que não foi efetivo, um talho se abriu nas costas do líder.

Bloqueou o golpe do quarto, o empurrando para trás, desestabilizando e gerando a possibilidade de decepar a mão do inimigo com a espada. Em paralelo, Hadyle e Kay enfrentavam o primeiro e o segundo, Kay ficou com este, pois, estava armado, já ela com o primeiro agressor, desarmado.

Dentre os dois ela levava mais vantagem, já que o homem era desajeitado e confiava demais em sua força, ela acertava e buscava as partes moles do corpo. Já Kay, jogava sujo, evitava os golpes desviando e assim cansando o oponente, na devida oportunidade, se agachou, pegou um pouco de terra e jogou nos olhos do oponente que golpeou no ar cegado, sendo facilmente desarmado e esfaqueado três vezes nos braços.

Seu estranho aliado se encontrava lutando com o terceiro, mas seus movimentos se tornavam mais vagarosos. Ele conseguia sentir o efeito da perda de sangue. Impediu mais um golpe, com a mão livre, passou pelas partes ensanguentadas jogando as espessas gotículas nos olhos do escravista, mesmo isso não o cegando foi o suficiente para este fechar os olhos, sendo atingido pela cimitarra na região da virilha.

Agarrou os cabelos daquele que lutava com Hadyle, e os puxou para trás, abrindo a oportunidade para que esta golpeasse a barriga com um chute frontal. Os escravistas tinham sido derrotados, e a extensa maioria precisaria de cuidados médicos, no fim o encapuzado compreendia que tinha exagerado, mas este erro era irrelevante. Após analisar os inimigos caídos, disse de costas para os dois jovens:

— Voltem para suas famílias.

Os dois pensaram em agradecer e talvez, perguntar quem ele era, mas aquela presença não trazia nenhum conforto, seria uma má ideia atrapalhá-lo, acataram suas ordens em meio aos gemidos dos homens, clamando por ajuda. Pouco antes de virarem, Hadyle, teve a impressão de não vê-lo mais, depois voltou um pouco para ter certeza, de fato tinha desaparecido, tão silenciosamente quanto um fantasma na noite.

Ela retomou a corrida ao lado de Kay e lhe estendeu a mão com um punhado de moedas:

— Fique com isso, sei que precisa mais do que eu.

Ele agradeceu com a cabeça, pegando com cuidado as moedas das mãos da garota. Após isso os caminhos dos dois se separaram, tendo como observador uma figura no alto de uma casa.

Cansado e desgastado, se sentou e olhou apático para tudo, contudo nada ali lhe era importante. Por fim decidiu remover seu manto e as vestes da parte de cima que vestia. Os golpes tinham sido profundos, nenhum órgão vital ferido, mas a hemorragia era uma possibilidade preocupante.

Sozinho e sem poder estancar melhor o sangramento, decidiu que usaria aquilo, nada incomum, mas com certeza algo que poucos sabiam dentro de um grupo seleto de pessoas. Abriu a mão tal qual o mago também tinha feito e a energia vermelha foi emergindo da palma de sua mão, suave e silenciosa, se intensificando até gerar uma chama, flutuante um pouco acima de sua mão.

Com cuidado cauterizou cada ferimento de seu peito, então cessou sua aura, e a chama desapareceu. Se recostou no telhado para se recuperar melhor,  sem querer seus olhos sem vida fitaram o céu luminoso e estrelado da cidade, tentou desviar o olhar, mas algo o deteve, algo nas profundezas de sua mente.

Estrelas.

Naquele lugar escuro, o rapaz sorriu, mas a escuridão voltou, e ele continuou em silêncio, mas não sozinho.

O encapuzado do prédio desviou o olhar, faziam anos que o humano não o afetava, suas malditas emoções o deixavam confuso e desorientado, mas logo voltou a se firmar, se vestiu e rumou para seu mestre.


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Notas finais do capítulo

Quem será o homem misterioso? O que vai acontecer com Hadyle e Kay? Descubram no próximo sábado!



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