Modus Operandi: Dias Negros de Ocultgard escrita por Nemo, WSU


Capítulo 13
Fantasma Negativado




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Sempre desejei ser algo mais, poder fazer algo mais, e não ser fraco, não ser aquele que somente apanhava, era zoado, ou completamente ignorado... eu tenho o que sempre quis, mas acho que estou longe da felicidade, meu sonho foi em vão? Ou será que não estou vivendo do jeito certo?”— Draghard, Tales.

 

 

 

Naquele mesmo dia

 

— Hadyle, você tem que sair daqui, eles são problema… — sussurrou Gadamer, para ela. — Com sorte alguns dos nossos vai te achar…

— Um plano inútil. — disse Anazak com escárnio — Tenho homens cercando todo o local…

A alquimista não deixou ele perpetuar sua fala, pegou um embrulho em sua sacola e jogou no chão, culminando em uma explosão seguida por uma nuvem de fumaça negra.

Certamente, ela não é uma alquimista atoa. Pensou Anazak ligeiramente impressionado.

— Peguem-na! — ordenou Bravell para seus quatro seus homens, que até tentaram seguir em frente, mas foram barrados pela dupla de Caminhantes. Anazak bufou desmotivado e caminhando na direção aos dois, olhou no fundo de seus olhos:

— Vocês deveriam ter se rendido e poupado nosso trabalho.

— Raptar uma moça inocente, você diz. — falou Kay com asco na voz.

— Quase isso, mas se eu fosse você, me preocuparia mais consigo mesmo Kay!

O ambiente mudou, o céu azulado e o cenário rústico deixaram de existir, dando lugar a um conhecido lugar, a floresta onde sua irmã morreu para salvá-lo.

Isso é impossível! Repetiu ele para si mesmo.

É perfeitamente possível, esse é um lugar bem doloroso para você, não é? Sua irmã morreu por você, e para quê? Soou a voz de Anazak. Para que o vivesse uma vida inútil, com um objetivo que jamais será alcançado, morrendo em uma cova rasa, sem ter ninguém a quem amar.

Você não sabe nada! Ele gritou.

Eu realmente gostaria de não saber mesmo. Mas agora vamos ao que interessa, quanto tempo, você consegue durar?

O rapaz, olhou em volta de si, aquilo parecia real, mas era um sonho ainda sim. Não é real!

Isso te faz se sentir confortável certo? Questionou o intruso. Todos dizem isso, e todos fracassam, perante seus pesadelos, seus sonhos e desejos mais profundos… o seu é…

Ao se virar contemplou Valk, seu pesadelo, seu sonho, e ao mesmo tempo seu desejo, viva, bem diante dele.

Você cresceu! Ela disse sorrindo, ele é cair de joelhos perante a figura, choroso. Nunca tinha superado sua perda, e mesmo agora ciente da ilusão mental não podia negar o que sentia.

Na realidade, tanto mestre quanto aprendiz caíram no chão desmaiados, no mesmo segundo que Anazak, entrou em suas mentes.

— Fácil demais, o garoto é fraco de espírito, o velho até deu mais trabalho, mas não é um desafio. — disse Anazak decepcionado, para seu irmão. — Mentalmente, são todos fracos.

Os homens atravessaram pelos dois, indo atrás da alquimista, enquanto Bravell sacava sua espada e rumava a passos pesados para junto dos caminhantes inconscientes:

— Fracos não deveriam conhecer a vida.

— Então, só dessa vez… — O homem tremia ao se levantar — Serei forte.

Gadamer sacou sua espada e se dispôs contra o gigante de metal.

Resistiu a mim? Curioso… parece que o medo de perder seu preciso Kay, foi mais forte que a dor de perder a esposa e os filhos. Pensou Anazak com um semblante sério. Agora velho combatente está na hora de cair.

Este por sua vez, saiu de onde estava e se dispôs a rodear o inimigo, golpeando-o por diversas vezes, Bravell, não firmou nenhuma resistência apenas ficou parado, deixando que o velho descobrisse a verdade.

É inútil, a armadura dele é grossa demais, como ele consegue andar com essa coisa? Calculou ele desacreditado. O inimigo apenas olhou o caminhante de lado pela posição do elmo.

— Nós deixamos a humanidade para trás a muito tempo. — dizendo isto desferiu um soco leve no peito do homem, sendo isto o bastante para que o mesmo fosse arremessado em uma queda brusca, rolando pelo chão, indo parar ao lado de Kay, desacordado.

O homem gemeu, algumas de suas costelas deviam estar trincadas, seu corpo estava acabado com um mísero golpe, arfou e tentou se levantar, mas não podia, não suportava. Logo, ouviu os passos pesados e metálicos retomarem a marcha.

— Kay… por favor, acorde… — lamuriou ele.

As pessoas do vilarejo, somente observavam sem coragem para intervir e mesmo que o fizessem, como mudariam o resultado? Estavam diante de monstros eram apenas pessoas.

Contra todas as expectativas, uma pedra foi arremessada na cabeça de Bravell, fazendo-o parar, ele olhou a multidão que se aglomerava e viu uma criança:

— Como você ousa?! — disse chocado.

— Fique longe deles, seu amaldiçoado! — bradou um velho com uma foice, a coragem era pouca, mas alguém tinha que dar o primeiro passo.

— Vocês são muito corajosos — disse Anazak paciente, fazendo gestos de pacificação — São meu povo afinal, se ajoelhem e vamos poupá-los…

— Não perante homens como você. — falou o mesmo velho. Anazak odiou ouvir aquilo, sabia muito bem a quem aquele senhor o comparava: Typhon, o maior genocida de Ocultgard, o terror dos não-humanos.

— Vocês precisam conhecerem a si mesmos! — Anazak olhou diretamente para cada figura, e um a um eles caíram ante a loucura e o desgosto. Ele extraia a vontade de viver de cada um deles, devagar os consumia arrancando sangue e lágrimas, forçando mutilações, se sentindo cada vez mais revigorado. Afinal ele era Negativo, o rompedor de vontades.

E foi então que algo o tirou de seu prazer, percebeu uma fraca presença espreitando o local. Você é bom, se não fosse um psíquico jamais te perceberia… Draghard.

 

 

Em outra parte

 

Droga, mil vezes droga. Nós íamos sair juntos dessa, não era para ser assim… quantas pessoas boas vão ter que pagar o preço por mim? Pensou Hadyle, correndo pela mata semifechada, ora se enroscando em arbustos e galhos, ou em outras caindo e logo se reerguendo. Não posso deixar que seja em vão… não devo.

Os passos acelerados de seus perseguidores ao longe a faziam correr ainda mais, havia uma possibilidade macabra em sua mente: E se eu tomar a fórmula?

 

 

Próximo a vila

 

A diretriz diz que devo prosseguir com a perseguição, é a prioridade.” Soou a mecânica voz.

E ela também diz, que você deve proteger os inocentes! Por que não os salva?” Questionou o rapaz.

Isso poderia ocasionar em falha”. Refutou a voz na penumbra.

Se você não salvá-los, isso também vai ser uma falha, e acho que o tio Guards, não vai ficar muito contente.” Contra-argumentou o rapaz acorrentado.

O que ele acha é irrelevante.” Foi o veredito da programação.

Se isso fosse verdade, não estaríamos conversando, bem no fundo você também tem sentimentos, você tem medo dele te desmontar e me pôr no seu lugar, por que nós sabemos que, eu seria competente. Também despreza os humanos… mas no fim é igual a eles, sua máquina de contradições.” Ele provocou furioso.

Algo se movimentou na escuridão, o espectro bruxuleante ficou contra a face do rapaz, podia sentir sua respiração gélida e seus olhos sedentos por sangue.

A verdade doí, né”? Desta vez, a autora da voz o provocava. Ele por sua vez se limitou a olhar fixamente em suas órbitas azuladas.

Você nunca será o que quer!” Ela sibilou para ele. “Nunca mais vai ver sua família, salvar seu amigo, ou dizer o que sente a sua preciosa R…”

Eu sei”. Tais palavras estavam imersas na tristeza, pois também era verdade. “Mas agora prove…

Ela ficou confusa.

“… que faria melhor do que eu… cumpra ambas as diretrizes, é isso que eu faria e ele se orgulharia”.

Honestamente, eu não esperava por isso… foi difícil de adentrar nessa mente. Negativo se fez presente. Uma dupla personalidade? Não… isso não é natural.

Um intruso!?” As órbitas azuis dela miraram no recém-chegado, imersa em um desejo por morte, saltou sobre Anazak com suas garras negras, mas sua vítima desapareceu surgindo em outro ponto. A programação indicou com uma das garras para ele e correntes negras surgiram de todos os lugares para aprisioná-lo, mas antes que tivessem qualquer contato, foram desfragmentadas.

Você é fraca, por que lhe faltam sentimentos.” Disse Anazak mentalmente: “São os sentimentos que nos impelem e nos dão força. O que te faz se sentir viva? Nada… é isso que você é.”

Rumou para ele agressiva, estava se deixando levar pelas palavras de Anazak, estava se corrompendo. Tales por sua vez se remexia em seus grilhões, erguido como numa cruz, sendo sustentado pelas correntes que o seguravam por fora, e por dentro já que algumas estavam entrelaçadas a sua carne, um pequeno movimento e a dor era imensa.

Começou a forçá-las, mas sabia o resultado de começo, em todos os treze anos nunca tinha saindo dos grilhões somente interferido em uma ou duas coisas, por breves momentos, ou quando ela estava confusa demais para comandar. Mas agora, a dor lhe dizia para desistir, não era forte o suficiente. Em meio ao tormento não percebeu o que tinha se formado a sua frente vultos de seu passado: um garoto, duas adolescentes, um rapaz, dois idosos e um robusto homem. Eles estenderam a mão para ele, como quem diz pegue.

Seus olhos castanhos verteram lágrimas, aquilo era demais para ele, eram as pessoas da vida dele, seus amigos, seus irmãos e aqueles que o criaram.

Vocês estão iguaizinhos a treze anos atrás”. Disse ele emocionado, moveu o braço e o corpo para apanhar a mão do garoto, mas não alcançava e o turbilhão de dor o incendiou no mesmo instante, fazendo-o recuar um pouco. O garoto detinha um semblante determinado:

Você me prometeu que sempre olharia por mim...” E deu um passo à frente.

Tales, tremeu por dentro e tentou mais uma vez, sua psique navegava pelos dias doces de brincadeiras com seus irmãos, podia se lembrar claramente do inseguro Hugo, seu meio-irmão.

Eu sei” Respondeu ele quase tocando sua mão, as figuras começaram a desaparecer, uma a uma, até seu irmão ir desvanecendo. “Mas desta vez… vou estender essa promessa a outros!

Os grilhões começaram a trincar a medida que as mãos se aproximavam, por fim se rompendo totalmente enquanto Tales, tocava a testa de seu irmão com os dedos indicativo e médio. A imagem nítida deste desaparecia sorrindo, deixando para trás um rapaz com um sorriso bobo no rosto e seu próprio jeito de resolver as coisas e era isso que faria.


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