Primeiras Vezes escrita por Stephany15


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Oi oi, gente! Cá está o segundo capítulo (que ninguém pediu, diga-se de passagem). Vale dizer que a fanfic tem alguns saltos temporais curtos que eu especifico em cada capítulo. Neste, por exemplo, passaram-se algumas semanas desde o primeiro capítulo. E nisso nós vamos vendo o crescimento do relacionamento dos dois.
É isto. Espero que gostem!
Aproveitem!



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A primeira vez que os dois conversaram sobre algo que não fosse estratégias de batalhas ou dicas de lutas corporais – em outras palavras, sem magia – foi algumas semanas depois da morte de Pietro, em uma madrugada aleatória.

Com a poeira já assentada e sua mente ocupada durante boa parte do dia com treinos e mais treinos com Steve e Natasha, Wanda sentia sua resistência física, e até seus poderes, que também eram constantemente treinados, melhorarem a cada dia, mas não podia dizer o mesmo de seu interior. O fato de ela estar se acostumando com a dor não significava que não a sentisse, apenas que a havia aceitado. Ainda era devastador acordar e lembrar que seu irmão não estava com ela, tudo para depois ter que empurrar o sentimento para baixo da superfície, porque todos ali já eram cheios de dedos demais com ela – ou por proteção, ou por receio –; e olhares de pena, em geral, sempre a irritaram um pouco.

No entanto, os problemas geralmente não se encontravam no decorrer do dia, e sim quando as luzes se apagavam e todos viajavam para o mundo dos sonhos. Infelizmente, Wanda não conseguia encontrar o caminho para esse mundo, e sempre caía no dos pesadelos. Mentes ociosas sempre eram um problema, e com a bruxa não seria diferente. Não importava como eles começassem, sempre terminavam com Pietro flácido, caindo nos braços da morte. As formas variavam, e os cenários também, mas o fim sempre era o mesmo, e ela acordava como era de se esperar: Chorando sozinha.

À medida que os dias foram passando, as lágrimas já não entravam mais na equação, o que, se parasse para comparar, era horrível, porque as coisas nunca eram colocadas para fora e ela nunca se sentia melhor. Como consequência, quando amanhecia, sentia-se simplesmente exausta, e prova disso era o leve arroxeado que ainda se encontrava na maçã de seu rosto derivado de um golpe que Natasha lhe dera alguns dias antes, no treino. Pensando agora, era engraçado lembrar da expressão culpada da espiã, alegando que esperava ter Wanda bloqueando o ataque. A relação delas estava melhorando, e provavelmente uma amizade interessante sairia dali, mas era questão de tempo, então ela não estava preocupada com isso.

De qualquer forma, não demorou muito para que a garota chegasse à conclusão de que passar uma noite sem dormir era menos cansativo – ou tanto quanto – do que ter de lidar com seus próprios demônios até quando fechava os olhos. Isso reduziria os pesadelos pela metade, e ela continuaria com o mesmo nível de energia, porque basicamente nada estava mudando, ali; ainda estaria cansada no final do dia e, sinceramente, acreditava que seria na mesma escala. Poderia ser uma alternativa tosca e até infantil, mas, enquanto funcionasse, ela o faria.

A experiência, em suma, teve êxito; porém, quando Wanda ousou dormir no dia seguinte, a trégua acabou e as cenas voltaram a habitar sua mente de novo, de forma brutal, quase como um castigo por ela ter tentado se esquivar. Seus pais entraram na conta, também, e a bruxa era obrigada a ver toda sua família desmoronando; ninguém tendo a piedade de levá-la junto. O pior, Wanda notou, era o fato de que, dessa vez, ela não acordava sozinha – talvez pelo cansaço acumulado em seu corpo – e agora estava sentada no grande sofá cinza com um acolchoado ridiculamente macio que havia na sala do complexo, com uma grande caneca de café em mãos e bastante disposta a passar mais uma noite acordada.

O conflito interno, resultante da escolha, era aborrecedor, para dizer o mínimo; como se seu corpo estivesse dividido em dois, com um lado concordando com suas atitudes e o outro, reclamando de sua covardia e burrice, por achar que aguentaria muito mais tempo sem dormir. O primeiro lado, no entanto, era o menos ignorado.

Apesar de isso já estar acontecendo há algum tempo, ninguém sabia. Wanda queria lidar com seus problemas da forma que achasse melhor, sem ter de ouvir palpites ou conselhos. As desconfianças também pareciam não existir. Talvez Steve estivesse um pouco incomodado com algo, uma vez que perguntou se ela vinha se alimentando bem, mas era apenas isso; ele não entrou mais no mérito e ela tentou não dar motivos para tal.

Porém, nem todos os segredos gostam de manter-se assim por muito tempo e, naquela noite, quando estava se preparando para passar mais uma madrugada em claro com café na mão, uma luminária ao seu lado e um livro no colo – embora seu cérebro não estivesse captando com excelência as palavras ali escritas – ela sentiu a presença de alguém antes que os passos se fizessem ouvir.

— Ainda acordada?

Barton. Seu primeiro impulso foi encolher os ombros com o contato inesperado, mas espantou isso – ou tentou – antes de virar um pouco a cabeça para trás, para vê-lo se aproximar do sofá onde ela estava.

— Sem sono – respondeu simplesmente. – Você?

— Insônia. – deu de ombros, sentando ao seu lado. Mesmo sem perceber, Clint tomou uma distância satisfatória dela, apontando para a caneca em suas mãos. – Acho que o café não vai te ajudar muito.

Mesmo que sem um motivo real, ela soltou um sorrisinho, tilintando as unhas rapidamente na louça clara, apreciando a bebida ainda quente através dela. Não era sua bebida favorita, caso alguém perguntasse, sendo uma total defensora do chá, mas todos diziam que a cafeína mantinha as pessoas acordadas, e não seria ruim tentar descobrir se isso era verdade por si mesma.

— Eu não estou tentando dormir.

Ele assentiu, com este sendo o único movimento mostrando que a bruxa havia sido ouvida e entendida. O silêncio se instalou, porque nenhum dos dois sabia para onde arrastar o diálogo, o que, por um lado, era bom. Wanda não gostava de falar muito, e Clint não era muito dado a palavras, também, sendo um bom apreciador do silêncio quando o mesmo se fazia necessário.

Ninguém ali tinha intimidade o suficiente para manter uma conversa com propriedade por muito tempo. Certo, eles passavam uma parte considerável do dia juntos, uma vez que, possivelmente por decisão de Steve, Clint era quase que seu supervisor no complexo. Era uma decisão sábia e, mesmo que nunca tivesse dito, Wanda estava grata por isso. Eles podiam não ser grandes amigos, ainda, mas o arqueiro era de longe o Vingador com quem ela se dava melhor. Claro, Natasha podia vir a ser uma boa amiga, Steve era bastante acolhedor e até Visão, mesmo enquanto robô, conseguia ser simpático de uma forma estranha, mas Barton estava ali desde o início ajudando-a em vários momentos.

— Pesadelos? – perguntou, recostando a cabeça no encosto do sofá, com os olhos fixos em um lugar qualquer à sua frente, mesmo que a atenção estivesse totalmente grudada nela.

Wanda demorou pouco para pegar a linha de raciocínio novamente, mas, quando o fez, não conseguiu evitar a onda de tensão que se apoderou de seus músculos. Seu tom de voz não demonstrava pena, mas ele não estava indiferente, como queria passar.

Clint se lembrava da primeira noite depois do enterro de Pietro. Havia sido assustadora a maneira como Wanda se portou assim que entrou no carro, para sair do cemitério: Praticamente anestesiada. Como se houvesse um botão invisível que fora acionado, ela parou de chorar e não soltou mais nem um único som, limitando-se apenas a olhar o banco de couro preto a sua frente, como se as respostas do mundo estivessem ali. O arqueiro tinha seus motivos para acreditar que isso era pior do que tê-la aos prantos.

Ele estava certo, afinal, e de madrugada, Natasha, Visão e ele foram acordados por um grito vindo diretamente do quarto dela, decorrente de um pesadelo que, aparentemente, estava sendo desastroso. Clint tentara ser sutil ao colocar a mão em seu ombro para acordá-la, temendo ser atacado por seus raios escarlates. Isso não aconteceu, nem enquanto Wanda despertava nem quando já tinha acordado, de fato, embora ele não soubesse explicar como não fora lançado imediatamente para o outro lado do quarto.

De alguma forma, eles conseguiram acalmá-la um pouco, e não demorou muito para que ela agradecesse, dissesse que estava bem, e que os três poderiam voltar para seus quartos. Clint não acreditou nem por um segundo, mas não forçaria sua presença à garota. Depois de um tempo, os gritos pararam, mas ele duvidava que os pesadelos houvessem tido o mesmo destino.

— Eu estou lidando com isso – ela inquiriu com cuidado.

O arqueiro arqueou as sobrancelhas rapidamente, inclinando um pouco a cabeça para o lado, mesmo que sem perceber. Ele não engoliu isso, é claro, e prova disso era a resposta que deu mentalmente: “Se isso fosse verdade, você não estaria aqui, agora”. Wanda ficou bastante grata por ele não ter dito isso em voz alta.

Clint não era a figura mais sensível do mundo, mas nunca tocaria de mau jeito numa ferida que ainda estava aberta, porque podia imaginar o que ela estava sentindo. Ele mesmo às vezes era assombrado por flashes daquele dia. A cena não fora vista pelo arqueiro, mas sua mente fez o desfavor de incrementar essa parte, com Pietro cobrindo-o enquanto os tiros ainda aconteciam. Em alguns momentos, dava para imaginar tudo em câmera lenta e em uma proximidade ridiculamente absurda, o que já lhe havia feito perder várias noites de sono, embora esse não fosse o motivo de sua insônia, dessa vez.

— Às vezes é bom conversar sobre o que nos incomoda – comentou, olhando-a pelo canto do olho para saber sua reação. Ela deu um gole em seu café, com os dedos pressionando o material da caneca com mais força que o necessário, pensando no que iria dizer.

— Você costuma fazer isso?

Clint não conseguiu evitar um sorrisinho para a pergunta certeira. Wanda precisaria de mais para deixá-lo sem palavras, no entanto.

— Não, mas eu sinto que seria melhor se eu fizesse – virou a cabeça para ela, cansado de meios olhares. Nada evoluiria ali se eles continuassem andando por aí como amigos e se tratando como estranhos.

A feiticeira estava um pouco mais relaxada, agora, com seu lado confortavelmente amassado contra o encosto do sofá embora ainda não estivesse totalmente à vontade. Por mais que já estivesse acostumada com o ambiente, o terreno ainda era, de certa forma, novo para ela, e não havia nenhum rosto totalmente conhecido. Claro, ela sabia o nome de cada um dos Vingadores e conseguia definir por alto suas personalidades, mas demoraria mais do que algumas semanas para que ela se tornasse de fato uma deles.

Tudo isso estava passando por sua cabeça enquanto analisava a proposta do homem ao seu lado. Havia muitas coisas acontecendo, mas, surpreendentemente, ela não tinha o que dizer, porque tudo já estava posto na mesa e falar sobre o que sentia era espinhoso demais para que quisesse retratar, agora. No entanto, seus pensamentos foram interrompidos por um sopro da mente de Clint, que passara para ela. Wanda o encarou, esperando que ele fizesse a pergunta que visivelmente o estava deixando desconfortável.

— Sim? – incentivou quando notou que nada sairia dali.

— Você me culpa? – perguntou antes de especificar. – Pela morte do seu irmão.

Devia ser uma pergunta que o incomodava há algum tempo, pela forma como foi dita; e Wanda travou um pouco, porque essa era uma questão que ela pensava sobre, mas nunca se aprofundava o suficiente. Talvez fosse o medo de chegar a uma conclusão ruim e não conseguir se livrar dela nunca. Clint era uma pessoa com a qual ela definitivamente não queria brigar. Ele a ajudou e a incentivou quando ela estava quase desistindo de lutar contra Ultron, e foi o mais sensível de todos com o seu luto, tentando ajudá-la de todas as formas possíveis.

Podia ser apenas a consciência pesada, mas não mudava o fato de ele ter feito aquilo por ela. E, Deus, como ela podia culpá-lo? Não havia sido ele quem atirou em seu irmão ou que se colocou atrás dele. Pietro que decidiu que aquilo era o correto a se fazer. Clint estava alheio à situação quando a mesma aconteceu, e era impossível sentir alguma raiva dele.

Desistindo da bebida, que já estava ficando fria, Wanda depositou a caneca na mesa de centro – que Tony jamais descobrisse que aquilo estava sendo colocado em seu vidro – e virou-se um pouco mais para o arqueiro, colocando uma das pernas por baixo do corpo. Talvez não fosse a melhor posição para quem estava tentando não dormir, mas ela não se moveu, mesmo assim.

— Não, Clint – murmurou. – É claro que não.

O arqueiro relaxou um pouco, voltando a deixar a cabeça cair nas costas do sofá. Sua mente estava a todo vapor, com muitas reviravoltas, perguntas não-feitas, coisas que ele gostaria de dizer e que não conseguia transformar em palavras. No entanto, seus pensamentos não eram altos, então Wanda não captava as coisas tão facilmente. Ela poderia rastejar até aquela zona e Clint jamais saberia, se assim a feiticeira desejasse, mas não faria isso.

Não faria porque em mais de uma ocasião ele demonstrara confiar nela, mesmo quando ninguém o fez; porque ele nunca a julgou incapaz, e confiou em Wanda quando ela se colocou ao lado deles, na batalha contra Ultron. E, principalmente, ela não o faria porque fora Clint quem lhe estendera a mão depois que tudo terminou e a garota se viu sozinha no mundo com mais inimizades que tinha antes.

— Algum dia eu serei uma de vocês? – Vocês confiarão em mim o suficiente?, era a pergunta que estava implícita.

Wanda demorou a perceber que estava ansiosa pela resposta, mesmo que continuasse na mesma posição de antes, com os olhos pesados (sempre desconfiara do efeito real da cafeína). Ela precisava saber, porque não eram poucas as vezes que se sentia jogada ao acaso, para logo depois ser resgatada por pessoas que ela não sabia como chamar. Uma relação que estava se construindo bem, mas, que ainda sim, ela tinha medo de dar um ponto errado e jogar tudo abaixo. Wanda precisava ouvir aquela resposta – independentemente de ser positiva ou negativa – da boca de alguém, porque um pouco de certeza em sua vida seria algo interessante e inédito, que gostaria de experimentar.

Clint a encarou diretamente, agora sem aquela pitada de sarcasmo que parecia estar com ele muitas das vezes. Seus olhos estavam sérios, mas gentis, e hesitação não foi transmitida por eles em nenhum momento.

— Você já é, Wanda – assegurou, provocando um sorriso pequeno, mas sincero, no rosto da garota. Ele ficou surpreso ao perceber que estava sorrindo um pouco, também. – Por que você não vai dormir? – suas piscadas já estavam mais lentas e o sono estava claramente se apoderando de seu corpo, mas a bruxa negou com a cabeça. Dormir era exaustivo demais. – Então vamos apenas ficar aqui.

Maximoff assentiu, deixando os olhos se fecharem não muitos minutos de silêncio depois, com a desculpa de que era apenas mais uma piscada lenta, embora nem ela estivesse acreditando em sua pequena mentira. Sua cabeça estava mais lenta, quase não processando os sons externos.

Antes de se render totalmente ao cansaço, Wanda deixou propositadamente a mão cair no estofado cinza-escuro, com seus dedos encostando muito vagamente nos dele. Era sua forma de saber que não passaria a noite sozinha. Clint apenas observou o ato, mas não moveu sequer um músculo da mão, ajeitando-se no sofá e fechando os olhos, também. Era sua forma de dizer que ela não estaria sozinha.

Fora a melhor noite de sono que tiveram em semanas.


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Notas finais do capítulo

Então, espero que tenham gostado do capítulo. Se você leu até aqui, muito obrigada! Eu realmente quero saber a opinião de vocês, então, por favor, comentem e me deixem saber o que pensam. Um comentário faz toda a diferença!
Até a próxima!
Beijinhos!



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