Lonely Hands - Bônus: Bem-vinda à minha solidão escrita por Milla Maia


Capítulo 1
As nove vezes que Bella voltou à cidade - Bônus




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[..] Edward somos próximos. Muito próximos... Por total e individual insistência minha. O cara me odeia (compreensivelmente), no entanto, não há nada que eu possa fazer para evitar ou calar os meus instintos de me aproximar e sacudi-lo em meus braços.

Em cinco anos, voltei à cidade nove vezes:

1

A primeira vez que voltei foi alguns meses depois que me mudei (fugi) para LA, quando eu soube que era o aniversário de Edward e decidi vir ver como ele estava.

Ansiosa, fui à casa dele. Sabia que ele estaria sozinho, pois os pais e os irmãos passavam o dia todo na represa, trabalhando.

Quando ele abriu a porta e viu-me ali, senti a força de sua descrença e raiva. Ele estava mais magro e ensebado do que eu me lembrava. Fitando-me com olhos que me alertavam de que ele poderia ser perigoso para a minha integridade física, ele bateu a porta no momento que abri a boca para dizer:

— Edward, eu gostaria de ajudar...

Expulsa sem qualquer possibilidade de argumentação, dei meia volta e parti.

2

Voltei no Natal e persegui-o por uma semana inteira até conseguir que ele pelo menos escutasse o que eu tinha a dizer.

Encurralei-o na lateral da loja de doces.

— Edward, por favor, eu gostaria de falar com você. – Eu falei com minha melhor voz embolada.

Ele me encarou de frente pela primeira vez desde o acidente. Infelizmente, eu havia colocado pelo menos cinco balas de gelatina dentro da boca antes de conseguir alcançá-lo, então tive que mastigá-las desajeitadamente antes de conseguir conversar propriamente.

Enquanto mastigava, não consegui desviar os meus olhos do braço direito dele. Era mais forte do que eu.

— Vá embora de uma vez por todas, eu não quero conversar com você. Nunca.

Edward passou por mim e correu para longe.

3

No próximo aniversário de Edward, o meu pai – que já havia se alçado ao status de novo milionário - decidiu dar uma grande festa e eu a usei como desculpa para mais uma tentativa de aproximação.

Cheguei quando a festa já tinha começado e apenas deixei minha mochila em meu quarto antes de descer para me misturar à comemoração.

Edward parecia menos triste; tinha voltado a trabalhar com a família havia alguns meses e parecia descontraído. Ele olhou na minha direção apenas uma vez, quando tentei me aproximar. O olhar dele me dizia que eu deveria me manter afastada. Depois disso, ele me ignorou a noite inteira.

Quando eu finalmente desisti de ficar seguindo-o com os olhos por todos os cantos da casa (inclusive quando ele foi ao banheiro), saí da casa e fui para o jardim, onde sentei-me em um banco de pedra enquanto olhava para o céu estrelado.

Só senti a presença dele quando ele se assentou ao meu lado, na outra ponta do banco. Olhei para ele e tomei fôlego para finalmente começar a conversar, mas ele estava olhando tão atentamente para as estrelas que desisti em um átimo.

Ficamos ali pelo que me pareceram horas, em silêncio absoluto, até que ele se levantou e simplesmente saiu.

4

No Natal seguinte, eu esperava que as coisas estivessem melhores entre nós, afinal, eu havia sentido certo clima de camaradagem naquele silêncio amigável na festa de aniversário dele.

Quando bati à porta da casa, Dona Anita, a mãe dele, disse-me que o Edward estava tomando banho, mas eu poderia esperá-lo no quarto. Não fiz muitas perguntas e apenas entrei, sentindo uma mistura de relutância e empolgação.

O quarto dele estava relativamente organizado e limpo. Os lençóis tinham um cheiro curiosamente gostoso de suor e desodorante. O único adorno nas paredes era uma reprodução da xilogravura A Onda, do Hokusai.

Eu estava olhando para a turbulenta onda azul e branca quando ele saiu do banheiro e entrou no quarto usando apenas uma cueca azul e uma toalha branca sobre os ombros. Ele se assustou apenas por um segundo antes de se enraivecer.

— O que você pensa que está fazendo, invadindo o meu quarto? Quem você pensa que é? Fora! Fora já!

— Mas... – Gaguejei. – Mas sua mãe insistiu que eu esperasse por você aqui.

— Saia agora ou eu vou chamar a polícia para enxotar você daqui! Tudo o que eu queria era ser capaz de enxotar você da cidade, sua mimada irritante.

Foi a minha vez de me enraivecer com aquele disparate.

Saí e bati a porta atrás de mim, decidida a nunca mais procurá-lo outra vez.

5

Mas eu o procurei, é claro.

No próximo aniversário dele, eu estava lá novamente.

Dessa vez, a festa foi na casa reformada da família Cullen. Entrei sem que ele percebesse, esperando que ele viesse até mim.

E ele veio. Parecia calmo e quase receptivo quando se aproximou.

— Vá embora da minha festa, você não foi convidada.

Nunca senti tanta vontade de socar alguém quanto senti vontade de socá-lo naquele momento, mas aquela era a festa dele afinal.

6

No final do próximo ano foi quando eu aceitei que ele não me queria por perto, finalmente. Fui eu a responsável imediata por ele ter perdido o antebraço direito. Ainda que, racionalmente, eu soubesse que, na verdade, o acidente foi uma combinação trágica da irresponsabilidade pueril e bêbada dele e da minha desatenção ao dirigir.

Naquele feriado eu o observei de longe, enquanto toda a cidade ria e festejava num dos maiores salões de festas que o meu pai havia dado ao município.

Percebi que ele era cordial com todos (que não se chamassem Isabella Swan) e, ainda assim, sutilmente os afastava. Ele havia se adaptado o suficiente para que as pessoas o deixassem em paz. Nem mesmo os pais dele se atreviam a tocá-lo por mais do que alguns poucos segundos; toda interação entre eles parecia tácita demais.

Eu o vi sorrir e rir, naquela noite, mas eu também vi a tristeza que nublava os seus olhos quando ele não percebia que estava sendo observado.

Eu estava analisando Edward à distância, a certa altura da noite, quando Peter, o advogado do meu pai, apanhou-me de surpresa.

Senti o meu rosto corar, como se estivesse sendo flagrada fazendo algo errado.

— Isabella, meu bem, você tem que parar de se responsabilizar pelo acidente. – Ele disse, colocando a mão sobre o meu ombro e fazendo-me revirar os olhos. – Você e seu pai já fizeram tudo o que poderiam fazer. Além disso, o rapaz já está completamente recuperado, você não percebe? Agora já é hora que o Edward pare de lamber as próprias feridas e deixe de usar você como bode-expiatório. Ele foi tão culpado quanto você.

— Não é assim, Peter. – Sibilei, sentindo vontade de encerrar a conversa naquele momento.

— Alguém que se deita no meio da via tem, no mínimo, alguma tendência suicida. – O advogado murmurou, fazendo o meu sangue ferver. – Ele precisa parar de lamber as próprias feridas e seguir em frente. Já passou da hora. Além disso, um jovem saudável não devia viver como um ermitão, como ele está fazendo. Li um artigo sobre como o acúmulo de espermatozoides pode ser prejudicial à sanidade de um homem.

Ele emendou aquele discurso sádico e machista com uma estrondosa e incômoda gargalhada.

— Peter, na verdade, são essas concepções ultrapassadas de masculinidade que prejudicam a saúde mental de um homem. Aliás, vou pedir ao meu pai que ele despeça você.

7

No aniversário do ano seguinte, eu voltei a me aproximar (como eu conseguiria não fazê-lo?) e encarei, com bom-humor, as caretas que ele sempre fazia quando eu estava por perto. Ainda que ele não parecesse muito contente por minha presença constante, ele tampouco parecia desesperado por me afastar.  

Um dia antes da sua festa, fui ao restaurante da Clarice, a esposa de meu pai, e conheci Jessica, uma garota que estava se hospedando na cidade por apenas alguns dias, antes de ir para a casa de um tio, do outro lado da represa.

Alguns copos de vinho e uma vontade desconhecida de tagarelar me impeliram a mostrar a ela uma das fotos de Edward que eu armazenava em meu celular (não me pergunte o motivo de manter aquilo comigo, ok?).

— Vocês têm um lance? – Ela perguntou, olhando para a tela do celular. – Ele é realmente uma gracinha. Uma combinação perigosa de cara fofo e quente.

— Não. – Eu sacudi a cabeça. – É claro que nós não temos um lance. Mas, na verdade, amanhã é o aniversário dele e vai haver uma grande festa. A cidade inteira vai e você pode ir também, se quiser.

— É claro que eu quero ir. Mas só se você prometer me apresentar a ele.

Ela sorriu e eu sorri de volta. Ainda que eu não tivesse considerado as palavras maldosas do ex-advogado do meu pai por um segundo sequer, eu sabia que o Edward provavelmente se sentia solitário. A ideia de apresentar uma moça legal a ele não me pareceu de todo absurda. Veja bem: pelo que me constava, a vida sexual dele estava pior do que a minha... E a minha era praticamente inexistente!

Tentei ignorar o fato de que o meu estômago estava se contorcendo desagradavelmente quando imagens mentais de Jessica e Edward se beijando começaram a pulular em minha mente. Concentrei-me apenas no quão empolgada a garota parecia estar.

No dia da festa, aproximei-me dele contente com a perspectiva de que eu iria lhe promover algum divertimento: presenteei-o com um par de ingressos para o show do U2 que aconteceria em São Jasper dali a algumas semanas. Ele tentou recusar o presente, mas eu fui inflexível. Eu estava rindo de alguma imprecação engraçada que ele tinha dito quando a Jessica chegou ao salão de festas.

Eu havia me esquecido completamente que ela apareceria e senti-me esquisitamente tola quando olhei para o Edward, que olhava na direção dela com um olhar de admiração.

Jessica acenou na minha direção quando me viu e começou a caminhar em nossa direção.

— Minha amiga gostaria de conhecê-lo, Edward. – Eu disse baixinho, dando um passo para longe dele.

Ele me olhou com a testa franzida e eu desejei tirá-lo dali.

A garota se aproximou de nós dois com um sorriso caloroso e sensual nos lábios, sempre fitando o homem ao meu lado. Quando ela estava a uns poucos passos de nós, porém, ela parou abruptamente, com a boca entreaberta e o nariz levemente contorcido.

Foi como se ela tivesse acertado um soco no meu estômago.

Eu torci para que o Edward não tivesse percebido o mesmo que eu e, educadamente, a puxei para perto de nós e fiz as devidas apresentações.

O Edward revirou os olhos, enquanto ela parecia desconfortável, e ergueu o braço direito na direção dela. Ela encarou as cicatrizes no cotovelo dele antes de murmurar um “eu sinto muito” e sair correndo porta a fora.

Edward e eu nos entreolhamos por uns segundos, antes que ele me agradecesse pelos ingressos e dissesse que convidaria seu irmão mais velho para acompanhá-lo ao show.

8

No Natal, depois de um insight, eu decidi procurar Tanya, a última namorada do Edward de que eu tinha notícias. Eu queria entender o que poderia estar motivando aqueles anos de solidão autoimposta.

A mulher havia se casado com o escroto do James Fitzsimmons. Quando cheguei à casa dela, fui recebida por choro de bebê e cheiro de leite azedo. Ela colocou o filho no meu colo antes que eu pudesse me recusar a carregá-lo e eu precisei acalmá-lo antes de começar a fazer as perguntas que haviam me levado até ali.

— Você e o Edward estavam saindo juntos na época do acidente, não é?

Ela me olhou com uma expressão vazia, apenas concordando com a cabeça.

— Quando vocês terminaram?

— Você veio até aqui para me perguntar isso? – Ela riu. – É claro que eu não terminei com ele imediatamente. Que pessoa terrível eu seria, não é? Eu continuei o visitando por algumas semanas depois do acidente, mas ele ficou muito diferente. Amargo, nada divertido. Então, sim, eu terminei com ele um pouco depois disso. Mas não teve nada a ver com o fato de que ele se tornou um portador de necessidades especiais, ok? Eu disse isso a ele.

“Portador de necessidades especiais”.

A hipocrisia escorreu pelos lábios dela como o vômito do pequeno bebê escorreu pelos meus cabelos enquanto eu o sacudia de um lado para o outro.

— Ele não é portador de coisa alguma, Lana. – Eu falei enquanto lhe devolvia a criança. – Ele é uma pessoa com deficiência. Uma pessoa. Como eu e você. Nem melhor, nem pior.

Saindo dali, eu estava decidida a conversar seriamente com o Edward sobre a necessidade premente de que ele recuperasse a autoestima. Talvez o término tenha sido mais impactante para ele do que ele mesmo poderia supor. Talvez eu pudesse ajudar de alguma forma.

Eu o encontrei assentado ao lado da pequena Alice (uma das pudicas irmãs Brandon) nos degraus de entrada da casa dele. Eles estavam tão próximos que sequer perceberam a minha aproximação e, assim, eu fui embora sem me fazer anunciar.

9

Entre o Natal do ano passado e o último aniversário de Edward, eu fui convidada para o casamento de Alice e Jasper Hale.

Eu não fazia ideia de que ela estava namorando o filho da farmacêutica.

Obviamente, eu não compareci.

Fiquei um pouco enraivecida com a atitude da Alice. Ela deu um pé-na-bunda do Edward para ficar com o Jasper? Inadmissível.

Ingenuamente, na próxima vez que fui à cidade, levei uma companhia: Grace, uma colega da universidade. Falei sobre Edward a ela e ela ficou realmente entusiasmada ante a perspectiva de ter um encontro com ele, mesmo que eu não houvesse sugerido nada.

Relutantemente, organizei tudo e apresentei-os. Assisti de longe, enquanto eles jantavam no restaurante da esposa de meu pai, e tudo ia bem... Os dois riam e pareciam entrosados. Até que, quando o prato principal foi servido, Grace puxou os talheres e o prato do Edward para si e começou a cortar a carne para ele. Eu assisti abismada enquanto ele se levantava de supetão e dava o fora dali... E quem poderia culpá-lo? A Grace foi bem sem-noção.

No dia seguinte, eu estava deitada, olhando para o teto do meu quarto, quando ele invadiu o recinto sem sequer bater na porta. Depois eu soube que ele tinha o consentimento do meu pai para estar ali.

— Isabella, depois da tragédia de ontem à noite, o mínimo que você pode fazer é não colocar os pés na cidade e o dedo em minha vida nunca mais. Eu estou de saco cheio!

Eu estava um pouco atônita, apoiada nos meus cotovelos enquanto olhava para ele. Quando finalmente consegui me recompor o suficiente para formular uma frase coerente, a Grace apareceu na porta do meu quarto, ao lado de Edward.

— Oi! Quando sairemos juntos outra vez?

Tudo o que pude fazer foi me jogar para trás e tapar os olhos com as mãos, escutando os passos dele enquanto ele se afastava.

— Estamos indo embora, Grace. – Eu disse, sem me mover.

 

 

 

E agora, aqui estou eu, contrariando as “ordens” de Edward mais uma vez e atrasada para a ceia de Natal...

24 de dezembro e nenhuma perspectiva de ser ajudada por algum residente desgarrado da cidade (todos, com certeza, já estão no maior salão de festas da cidade, comemorando em grande estilo e comendo caviar e carne de avestruz).

Aí, você me questiona: você, filha de um multimilionário, não tem um celular? Como isso é possível?

Bem, eu não tenho um celular desde que coloquei o meu na máquina de lavar, na semana passada... Tenho esperanças de que ganharei um novo iPhone de meu pai como presente de Natal, aliás.

— Eu já disse que não quero que você volte aqui, Isabella. – Alguém resmunga atrás de mim e eu começo a ter uma parada cardiorrespiratória.

Que... Merda.

Engasgo tentando respirar e viro-me para encarar Edward D`Ávila em toda a sua glória... Molhada.

Os meus olhos vagam por seus cabelos encharcados, pelo seu peitoral desnudo, pelos seus ombros largos... E chegam ao seu braço direito.


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Notas finais do capítulo

#NÃO É O FIM#
Caso vocês queiram o livro completo, basta pesquisar entre os ebooks da amazon, a partir de hoje (20/04/2019). Bem-vinda à minha solidão, por Milla Maia!
Lembrando que Lonely Hands continua no ar, aqui no Nyah!

Obrigada por tudo, pessoal!



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