Reunião escrita por Jafs


Capítulo 2
Reunião - Complemento




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“Claro...” Nagisa segurou suas mãos inquietas. “Eu estava com o meu namorado.”

“Namorado?” Kyouko deu um sorrisinho. “Tu tá precoce, hein? Mas se Mami aprova isso...”

“Deixa disso, Kyouko, é claro que ela está brincando.” Sayaka focou em Nagisa. “Você está brincando, né?”

O tom ameaçador, quase desesperador, fez Nagisa engolir seco, mas ela não recuou. “Não, eu realmente tenho um namorado.”

Sayaka se levantou de imediato, exclamando, “Você não pode ter um namorado! Imagina se ele descobrir que...”

“Ele já descobriu,” Homura disse.

Sayaka se virou para ela, boquiaberta.

“Ele estava aqui antes.” Madoka sorria. “Ele nos chama de feiticeiras, é um tanto fofo.”

“Ahhh!” Sayaka pôs as mãos à cabeça e a ergueu. “Só eu que continuo sana por aqui?”

“Para como esse drama.” Kyouko deu de ombros. “Só na tua cabeça que namorar uma garota mágica é um problema.”

“Nós somos mais que garotas mágicas,” Sayaka enfatizou, “muito mais.”

Nagisa se aproximou dela. “Eu sei disso, ele foi avisado, mas ele me ama. Nós fizemos um compromisso.”

“Ainda está errado!” Ela ralhou. “Pois não envolve somente ele, mas todas as pessoas próximas dele.”

Homura interviu. “Eu sei o que você quer dizer, mas dificilmente alguém vai acreditar em um menino.”

Sayaka ergueu o queixo e a respondeu em um tom rancoroso, “Eu não acredito que ouvi isso vindo de você.”

Homura pressionou os lábios.

“Eu estou morta neste mundo.” Sayaka bateu forte em seu peito. “E estou me esforçando todo esse tempo pra que continue assim! Porque eu tenho certeza que isso pode sair do controle.”

“A humanidade já teve ciência da magia em outras ocasiões.”

Todos voltaram sua atenção para a afirmação de Madoka. Ela parecia calma, mas sua voz carregava seriedade. “Nem todas as histórias em que pessoas comuns se envolveram com garotas mágicas e bruxas terminaram em tragédia. Contudo, a preocupação de Sayaka-chan tem fundamento. Quando o conhecimento disseminou, em todas às vezes, as garotas mágicas forma perseguidas pela sociedade.” Ela fechou os olhos. “Em todas às vezes, Incubator manipulou a situação para reverter o quadro. Através do esforço conjunto de inúmeras garotas mágicas, com um poderoso feitiço ou um esperançoso desejo, a humanidade nos esqueceu para que pudéssemos sobreviver nas sombras.” Ela balançou a cabeça e reabriu os olhos, contendo um breve cintilo dourado. “Eu não irei deixar isso acontecer.”

Sayaka exalou, relaxando o corpo. “Madoka... algumas vezes esqueço o que você é agora. Sinto-me aliviada que você sabe o que está em jogo.” Então ela sorriu. “Como uma velha amiga, eu confio que irá fazer a coisa certa.”

Nagisa viu a garota de cabelos azuis se virar para ela novamente, boa coisa é que não era.

“E ainda tenho algo te perguntar.” Sayaka cruzou os braços. “Você ama esse garoto? Ou você desejava ter um relacionamento com ele?”

Nagisa ficou confusa. “Eu o amo, por isso que eu quero estar com ele.”

“Você sabe o que ele pensa sobre isso?” Sayaka continuou a inquirir, “depois do namoro vem o noivado e, então, o casamento.”

“C-Casamento?” Nagisa abaixou o olhar.

Kyouko fez uma careta. “Sayaka...?”

“Constituir uma família.”

Nagisa rangeu os dentes, sussurrando, “Você está falando... de bebês?”

“Sim.”

Mami começou a ficar assustada também. “Hmmm, Sayaka-san, não acha que está pensando muito à frente?”

“Estamos falando sobre expectativas,” Sayaka argumentou, “enquanto Nagisa sabe que Madoka veio a esse mundo para cumprir uma missão e a gente foi convidada para acompanhá-la de bom grado. Quando isso acabar, nós voltaremos para a Lei dos Ciclos.”

“Mas...” Nagisa olhou para ela. “Isso ainda vai levar um tempo, né? Há muitas garotas mágicas para salvar...”

Madoka falou, “Agora mesmo, há garotas de minha confiança espalhando a esperança que originou de meu desejo, mas é natural que haja algum ceticismo e resistência. Está progredindo bem, mas eu não posso dar um prazo.”

“Tanto faz, a questão é que não pertencemos a esse lugar.” Sayaka balançou a cabeça lentamente, com uma expressão de alguém que implorava que a entendessem. “Algum dia, por algum motivo, nós teremos que ir pra outro lugar e você, Nagisa, terá que deixá-lo. Quanto mais tempo esse relacionamento durar, e quanto mais próximo vocês dois estiverem, mais doloroso será pra ele. Esse será o seu amor?”

“Nagisa,” Mami chamou a atenção, “Sayaka-san tem razão. Eu sei que você gosta dele, mas ao menos você precisa avisá-lo disso de alguma forma, sem dar muitos detalhes.”

Nagisa não sabia onde por a face, segurando com força a saia de seu vestido. “Eu... Eu vou pensar nisso.”

Sayaka coçou a parte de trás da cabeça e suspirou. “Ai, Ai... Agora é contigo, Mami-san.”

Kyouko se levantou. “Estou cansada com todo esse papo sério, isso aqui é uma festa ou o quê?” Ela bateu palmas, cobrando. “Ei! Ei! Vamos nos divertir!”

“Oh...” Mami ponderou, “Nós podemos jogar cartas.”

“Qual éééé...” A ruiva revirou os olhos, mas então eles se arregalaram em júbilo. “Já sei! Tu tem aquele karaokê, né?”

“Hã? Mami tem um karaokê?” Nagisa ficou boquiaberta.

A loira respondeu, “É do tempo que eu era criança. Está guardado em uma caixa, é tão velho... Eu não tenho certeza se funciona.”

“Claro que funfa!” Kyouko apontou para si e para Mami. “Eu e você passávamos a tarde cantando juntas, não se lembra?”

“Quuêêê?!” Agora Sayaka é que estava boquiaberta. “Vocês faziam duetos?”

“Certeza que fazíamos, heh.” Kyouko estufou o peito.

Mami enrubesceu, murmurando enquanto ajustava a franja, “Você não precisa contar tudo...”

Homura deixou o sofá. “Essa idéia parece boa para mim.”

Madoka também. “Mami-san, você precisa de ajuda?”

“Ora, ora!” Mami sorriu. “Vejo que está decidido.”

O Sol ameaçava ficar atrás dos grandes edifícios da paisagem urbana de Mitakihara, enquanto as garotas começaram a instalar o equipamento.

“Nossa, quanto pó. É sério que isso funciona?”

“Qual é, Sayaka, não vem rogar praga não!”

A sala ganhava os tons laranja do entardecer e o trabalho revelava ser mais oneroso do que o esperado.

“Ei Mami, tenta esse outro plug.”

“Não, eu tenho certeza que é esse, só está um pouco enferrujado...”

No fim, as caixas de som zumbiram e uma lista com títulos de canções apareceu na tela, anunciando que elas tinham conseguido.

“Ufa...” Mami segurou o microfone. “Como vai ser?”

Kyouko deu a idéia. “Vamos começar com um aquecimento, cada uma escolhe a música que vai cantar. Tu primeiro, afinal hoje é seu dia.”

“Ok.” Ela deu uma piscadela.

As garotas sentaram nas almofadas no chão enquanto Mami escolhia a música. Na tela surgiu um clipe de belas paisagens e legendas da letra. Com a melodia se iniciando, ela deu batidinhas no microfone e respirou fundo. “Tomara que eu não esteja enferrujada demais.”

A canção era um tradicional j-pop e parecia ter sido feita para a voz de Mami.

“Meu amor, não perca a sua cabeeeçaaaaaa~!”

A platéia acompanhou o ritmo animado batendo palmas, até o final, onde as palmas se intensificarão.

Mami pressionou o microfone contra peito, satisfeita coma performance e ansiosa pela nota que apareceria na tela.

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“Como era de se esperar de Mami-san.” Sayaka continuou batendo palmas quando os outros já haviam parado. “Você podia muito bem ser um ídolo pop.”

“Seja modesta.” Mami abriu um grande sorriso. “Quem vai ser a próxima?”

“Deixa eu.” Madoka se levantou. “Eu vi uma música na lista que eu me lembro bem.”

Mami foi sentar e Madoka começou a cantar. A canção era lenta e alegre, mas letra era sobre saudades e despedidas, com a voz gentil da cantora, formava uma mistura única.

“Eu digo que nós nos iremos no encontrar novamente, mas é uma mentira e com o meu sorriso de sempre, eu digo ‘Vejo você amanhã’.”

Todos permaneceram quietos, mas quando a canção terminou, as palmas vieram antes da nota.

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Homura não escondeu o sorriso. “Você canta muito bem.”

“Minha esposinha arrasou!” Sayaka foi pegar o microfone. “Assim você me inspira.”

“Hihi, vai lá!”

Sayaka colocou uma música com uma batida mais intensa. A maioria da letra era composta de fonemas sem um significado além do som que produziam, mas a garota entoava as partes restantes como se fosse uma piada.

“TA PA PA RA PA PA RA TIM BUMMMM! Mochi mochi, quem ligou pra mim?”

Quando chegou ao fim, as garotas começaram a bater palmas, mas sem muita intensidade.

Sayaka aguardava pelo resultado. “Haha! Valeu pessoal, quase fiquei sem fôlego, mas eu tenho certeza que dei o meu...”

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“... melhor.” O sorriso dela congelou enquanto os seus olhos não acreditavam no que estavam vendo.

Madoka disse, “Essa ainda é uma boa nota.”

“Hein?” Sayaka não sabia o que fazer ou para onde ir. “Ah... Hahaha! Claro! Claro! É muito boa.” Então ela viu Nagisa se levantar.

Ela parecia bastante nervosa. “Vamos acabar logo com isso.”

“Boa sorte!” Sayaka entregou o microfone e foi sentar próximo da Madoka, sussurrando, “eu só achei que eu iria melhor. Eu tenho um bom ouvido para música.”

Homura acabou ouvindo aquilo e fez um comentário, “Boca não é ouvido.”

“Você tá dizendo que eu canto mal?” Sayaka abaixou as sobrancelhas.

Madoka gesticulou pedindo calma. “Não, não! Você canta bem. Hihi.”

Nagisa percorreu a lista de músicas, desapontada. “Não tem nenhuma que eu conheço.”

“Porque elas são antigas.” Mami foi ajudar. “Me deixa selecionar uma fácil para você.”

Ainda que pudesse ser fácil, Nagisa não tinha nenhuma intimidade com aquela canção de ritmo alegre. Ela simplesmente leu as legendas conforme elas apareciam.

“A linda rosa juvenil vivia alegre em seu lar... Um dia veio uma bruxa má, muito má, que adormeceu a rosa assim, bem assim...”

A música era curta e logo elas começaram a bater palmas, especialmente Mami.

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Nenhum sorriso conseguia cobrir a cara de enterro da Sayaka.

Nem Nagisa estava feliz, fazendo beiço. “Essa era muito infantil...”

“Ok, chega desse amadorismo.” Kyouko se levantou. “Hora de elevar esse nível, heh.”

As garotas ficaram aguardando o que parecia ser um ritual. Kyouko checou cada botão do dispositivo e deu longo assopro no microfone. Quando finalmente escolheu a canção, ela fez uma pose, olhando para a platéia.

Sayaka perguntou, “Você não vai olhar pras leg-”

Um longo e grave som sintético era o início da música e Kyouko começou dançar com energia.

Mami ficou completamente vermelha e escondeu a face. “Por que ela tinha que escolher justo essa?”

Sayaka nem piscava, mesmerizada com balançar dos quadris e do rabo de cavalo vermelho.

Kyouko segurava o microfone firmemente, próximo à boca, enquanto colocava força na voz.

“Rebola, rebola, VAI! Requebra, requebra, VAI! Eu tô na night, night, night, night!”

A intensidade foi o início ao fim, onde então Kyouko parou em outra pose poderosa.

Não houve palmas, mas não porque a performance havia sido ruim.

De olhos bem arregalados, Nagisa balbuciou, “E-E-Ela é incrível...”

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Kyouko olhou apenas de relance para a nota na tela, como se já soubesse, enquanto girava o microfone em sua mão. “É assim que se faz...” Ela levou alguns momentos para notar Homura em pé ao lado dela. “Ah é, tem tu ainda... Quer algumas dicas?”

“Não, obrigada.” Ela pegou o microfone e foi selecionar a música.

Antes que Kyouko pudesse terminar de sentar, a melodia já se iniciara, lenta com som de vento ao fundo. Homura ficou de pés juntos e segurando o microfone com as duas mãos na altura do peito, como se fosse um buquê de flores. Ela fitou uma pessoa.

Madoka fez uma tímida torcida.

Homura sorriu brevemente e fechou os olhos, respirou fundo antes de cantar as primeiras palavras e não parou mais. A letra era triste e cada sentença ela evoluía mais e mais ao desespero.

“Sob um céu cinza escuro, meu sacrifício não fora o bastante...”

Isso também podia ser visto nas expressões cada vez mais tensas da cantora.

“O mundo se levanta, mas eu continuo andando, dependendo apenas da minha vontade.”

Kyouko fez uma cara de cansada. “Chato...”

“Shh!” Mami pediu por silêncio, enquanto seu peito arfava com o peso daquela canção.

Um bater de palmas foi o último som da música antes do silêncio. Homura reabriu os olhos e jogou o cabelo para trás.

As garotas bateram palmas, mas mais por hábito. Elas não tinham idéia do que opinar, com sentimentos misturados entre a qualidade da performance e o depressivo ar que se instaurou.

A tela, inexoravelmente, revelou a nota.

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“CUMÉQUIÉ?!” Em um pulo, Kyouko avançou em direção a Homura. “Essa pontuação é impossível, você trapaceou!”

“Não, como eu faria isso?”

“Tu usou magia.”

Mantendo um semblante calmo, Homura balançou a cabeça. “Vocês teriam sentido isso.”

Já Kyouko continuava vociferando, “Tu deve ter parado o tempo ou algo assim.”

Homura quase sorriu. “Alguém teria notado.”

“Besteira!”

Mami decidiu intervir, dizendo, “Admita Kyouko, ela foi muito bem, a voz dela mexeu comigo. E eu não tenho certeza se 100 é a nota máxima ou talvez seja um defeito.”

“Tá certo...” Kyouko olhou para Nagisa. “Ei queijinho, escolhe uma música da lista, qualquer uma.”

“Por quê?”

“Homura e eu vamos cantar ela e ver quem se sai melhor.” Kyouko aproximou seu rosto ao da sua adversária, com um sorrisinho. “Vamo resolver essa parada.”

Sem dar muita consideração, Homura respondeu, “Se você quer...”

“Eu quero participar também.” Sayaka chegou até elas.

Kyouko nem sequer olhou. “Ninguém tá afim de ouvir a sua voz de gralha não.”

“Ah é?! Me dá isso aqui!” Sayaka arrancou o microfone das mãos de Homura.

“Ei!” Kyouko a agarrou e tentou pegar o microfone de volta.

Sayaka esticou o braço e a impediu de alcançar o objeto. “Era um aquecimento, né? Agora vou mostrar que sei cantar.”

“Droga, isso aqui é entre mim e Homura!”

“Pessoal?” Madoka franziu a testa. “Desde quando isso passou a ser uma competição?”

Homura foi pegar outro microfone. “Por que não cantamos uma música jun-”

“Ah não, tu não vai fugir da raia agora.” Kyouko se esticou toda e conseguiu segurar a garota de cabelos negros pelo blazer.

“Parem!” Nagisa anunciou em desespero, “Mami está chorando!”

“Quê...” Kyouko e as outras olharam para ela.

Pega em flagrante, a loira rapidamente secava as lágrimas em seus pômulos.

Sayaka foi a primeira a falar, passando a mão no pescoço, “Desculpe... A gente tá arruinando o seu aniversário...”

“Não...” Mami mostrou um grande sorriso, enquanto havia ainda gotículas presas em seus cílios. “Eu não estou exatamente triste.”

Aquilo capturou a curiosidade até mesmo de Homura.

“Eu estava pensando... Se eu pudesse fazer um novo pedido, eu desejaria que nossas brigas sempre fossem assim.”

Com certa surpresa, com certa comoção, Kyouko sorriu. “Eu diria pra tu ir em frente com isso. Alguém aí se lembra se nos nossos passados houve alguma vez que a gente se deu bem?”

“Dentro da gema da alma da Homura conta?” Sayaka disse, olhando para a garota de cabelos negros.

“Foi um longo caminho...” Homura virou a face, olhando para a cidade através da janela, baixando a sua voz. “Vocês duas... Irão deixar Mitakihara novamente? Para onde vão?”

“Hein?” Kyouko não esperava tal pergunta vindo dela. “A gente tem algumas cidades aqui e ali pra visitar...”

“A verdade é que não sabemos pra onde vamos, nós já visitamos quase tudo, ainda há algumas vilas pequenas que estavam fora da rota... mas faz tempo que encontramos alguma bruxa ou uma garota mágica nova,” Sayaka respondeu, consultando Madoka, “e eu não acho que nós podemos ser úteis fora do Japão.”

Isso incomodou a ruiva. “Tch... Tu não consegue ficar quieta.”

Sayaka ignorou, continuando, “Eu até comentei com a Kyouko sobre voltarmos pra Lei dos Ciclos, mas ela não quer.”

Kyouko pôs as mãos atrás da cabeça e ergueu o queixo. “Eu que não quero viver em um lugar sem comida de verdade.”

“Se vocês precisam de um lugar para ficar...” Mami sorriu.

Kyouko foi rápida em dizer, “Não!”

“Nem pensar!” Sayaka também. “Nós já estamos abusando demais do seu dinheiro e tem a vizinhança também. Eles vão achar estranho e podem até me reconhecer.”

“Vocês podem ficar na minha casa.”

“Hein?!” Kyouko pôs a mão na testa da Homura. “Tu tá bem?”

Ela afastou a mão. “Vocês têm um problema e eu estou oferecendo uma solução. A parte antiga da cidade foi reconstruída, mas a maioria dos residentes se mudou, o lugar está deserto. Há muitos cômodos vazios em minha casa que eu não tenho uso.”

“É...” Sayaka assentiu. “Parece bom.”

“Quê? Tu tá aceitando a idéia?” Kyouko abriu os braços. “Esqueceu que a gente tem uma ÉGUA?”

Madoka perguntou, “Onde a deixaram?”

“No estacionamento do albergue onde estamos hospedadas,” Sayaka disse, sorrindo e dando de ombros, “Kyouko colocou um feitiço e se alguém ver, vai encontrar apenas uma motocicleta ali.”

Kyouko complementou, “Eu nem sei se precisa disso tudo, a gente faz por precaução.”

“Por que diz isso?” Homura inquiriu.

“Tem gente que já viu ela, mas eles não se importaram, eu diria até que ficaram encantadas, como mariposas às chamas...” Ela fez uma cara de indiferente, checando o laço negro em seu cabelo. “É, é um belo animal, mas eu não entendo, não importo muito com ela.”

“Ah sim,” com ironia, Sayaka concordou, “não se importa muito.”

“Não complica!” Kyouko balançou a cabeça. “Não dá! Não tem como manter um animal daquele tamanho dentro de uma casa.”

Homura ponderou, “Eu posso gerar uma barreira para expandir o interior da casa e assim ter um espaço apropriado.”

Kyouko ficou de boca aberta. “Sério que tu consegue fazer isso?”

“Não seria novidade para mim.”

Aquilo fez Kyouko se lembrar de outro problema, um muito pior. “E as suas crianças?”

Homura buscou manter-se impassiva, mas suas sobrancelhas lhe traíram. Ela avaliou por um momento antes de responder, “Não são uma ameaça para vocês. Eu estou mantendo elas na linha.” Então, de repente, Sayaka entrelaçou o braço com o dela, fazendo Homura estranhar.

“E Sayaka-chan com Homura-chan vão manter você na linha também, Kyouko!” Sayaka anunciou, “é hora de você assumir responsabilidades e encontrar um trabalho.”

“HEEEEIINNN?!” Kyouko apontou para a própria testa. “Você cantou tão mal que derreteu os teus miolos.”

Sayaka retrucou, “Nós não vamos ficar nesse mundo sem fazer nada! Nós temos um débito com Mami-san e vamos pagar.”

“Não seja ridícula! Olha a nossa idade, não temos educação.” Kyouko abriu um sorriso malicioso. “Só há um trabalho pra gente...”

“Doces!” Nagisa pulou, excitada. “Vocês vão fazer doces e bolos!”

Deixando Kyouko confusa. “O que tu tá falando?”

“Ela quer criar uma confeitaria,” Mami explicou.

Nagisa assentiu. “Eu aprendi muito com a Mami, mas ela não tem tempo para ajudar. Eu ia começar fazer e vender aqui na vizinhança, mas com vocês isso muda tudo.”

“Hehehe.” Sayaka ficou encabulada. “Eu sei cozinhar algumas gororobas, mas não sei fazer bolos. Se tiverem paciência para nos ensinar...”

Homura concluiu, “Parece que terei que expandir mais.”

Kyouko não estava acreditando. “Vocês tão de sacanagem, né? Trabalhar pra uma criança?”

“Trabalhar com comida real, Kyouko.” Sayaka ergueu uma sobrancelha e sorriu. “Ou podemos voltar pra Lei dos Ciclos.”

Ela virou a cara, mordiscando os lábios.

“Sua escolha.”

Kyouko abaixou a cabeça, com uma respiração tensa, e então proferiu, “Eu topo...”

“Olá?” Sayaka se inclinou, colocando a mão na orelha. “Eu não ouvi direito.”

“Eu topo se você deixar o seu cabelo crescer!”

“Fechado.”

Kyouko olhou para Sayaka com olhos bem grandes. “Quê?! Droga, eu achei que tu ia dizer não.”

“Haha! Você não pode desfazer um contrato com a Sayaka-chan!” Com uma pose de vitória, a garota de cabelos azuis deu a ordem. “Agora, Mami-san, prepara um avental pra ela.”

Surpresa, a loira inclinou a cabeça. “Sob medida?”

“E-Ei, não temos assuntos mais importantes pra tratar não?” A ruiva recuou. “Eu sei me virar muito bem sem avental.”

“Mas eu PRECISO ver.” Sayaka escancarou um sorriso.

Madoka comentou, “Kyouko-chan deve ficar meiga em um avental.”

“Ei! Pode parar com essas idéias.”

Homura, com uma voz monótona, disse, “Mami-san, prepare o avental.”

“O meu tem queijos estampados.” Nagisa deu uma piscadela. “Você gosta de maçãs, certo?”

“Qual é pessoal...” Kyouko estava pronta para lutar por sua dignidade. “Isso já tá parecendo uma conspiração.”

“Huhu.” Mami balançou a cabeça, desaprovando a si mesma por estar tão entretida com aquilo.

A campainha tocou.

Mesmo se fosse falso, Mami sentiu seu coração apertar.

“Outra convidada?” Sayaka ficou desapontada. “Ahh... Vamos ter que deixar o avental pra depois.”

Kyouko respirou aliviada, mas estava curiosa. “Mas só agora? Tem outra kouhai que você não nos contou, Mami?”

“Eu... irei checar.” Ela foi até a porta, tentando manter um sorriso no caminho. Mami não queria que ninguém desconfiasse, pois sabia exatamente quem estava lá fora. Ela abriu um pouco a porta e, ao espiar, olhos verde oliva já estavam lhe esperando.

Oriko vestia algo similar as roupas de Mami, talvez similar demais, exceto que sua camisa era branca e a saia cinza escuro, com um cinto de tom índigo, a mesma cor do laço que prendia o seu longo rabo de cavalo e da grande bolsa de couro, que parecia ser muito cara, assim como par de saltos cinza.

Kirika estava com ela e vestia algo, por assim dizer, assíncrono. Sua camisa preta estava desabotoada na gola e a metade esquerda estava dentro da saia enquanto a outra metade estava fora. A saia era lilás e com um corte diagonal, sendo que o lado esquerdo era curto, deixando a coxa exposta, ficando longo no direito, até a canela. Para não deixar a perna esquerda tão a amostra, ela estava usando uma meia longa listrada nas cores preto e roxo. Ao menos, ela realmente estava usando um par de sapatos preto. A camisa era de manga comprida, mas ela puxou as mangas até o cotovelo e em seu antebraço havia uma variedade de pulseiras de plásticos, com diferentes cores e faces bonitinhas de animais.

Contudo, o que realmente chamou a atenção de Mami foi a garotinha que estava na frente das duas, com luvas e moletom verde com capuz. Ela estava de cabeça baixa e não era possível ver a face devido a uma máscara de tecido.

Com um educado sorriso, Oriko cumprimentou, “Olá, Tomoe-san.”

Com um semblante de preocupação, Mami abriu um pouco mais porta para poder sair do apartamento e a fechou, segurando a maçaneta.

Kirika fez um cara de desapontamento, assentindo como se já soubesse.  “Amorzão, nós não somos bem vindas.”

“Não, eu não voltei atrás no meu convite, mas...” Mami hesitou sobre como dizer.

Uma voz importuna veio através da porta. “Oi, Mami! Onde tu tá? Quem tá aí?”

Agora ela não tinha mais escolha. “Kyouko está aqui. Eu não estava esperando ela vir hoje, como te disse, mas ela fez uma surpresa. Então...”

“Kyouko-neechan.”

Mami prendeu a respiração, aquela voz suave, quase inaudível, era de Yuma, ela pode reconhecer apesar de tudo. Um júbilo preencheu o seu peito e ela olhou para baixo.

Yuma havia levantando a cabeça. Ainda havia muitas pedras de jade, mas eram discerníveis os trechos de pele pálida entre elas e flexível o bastante para demonstrar alguma expressão. Os olhos estavam normais, exceto as irises que tinham um aspecto vítreo, como um par de jóias esmeralda.

Mami sorriu para ela, houve um grande progresso, mas Yuma havia abaixado cabeça novamente.

Oriko falou, “Deixe-nos entrar, eu falo com ela.”

“Não, isso não vai funcionar.” Mami buscou conter certa urgência, alguém poderia vir até a qualquer momento. “Ela não vai te ouvir, você sabe disso.”

“Sim, nós duas sabemos com quem estamos lidando. Não me subestime.” Olhar de Oriko se tornou penetrante. “Eu não gostaria de desperdiçar o tempo usado para vir até aqui.” [Já que essa é a primeira que vez que eu consegui convencer Yuma a sair de casa.]

Mami estremeceu.

Kirika cruzou os braços. “É, nós até trouxemos o nosso amorzinho, você vai nos mandar embora?”

A anfitriã continuava relutante.

“Se há alguma animosidade entre mim e ela, eu prefiro lidar com isso agora,” Oriko insistiu, “eu não aprecio surpresas.”

Esse não era o plano de Mami, ainda mais sabendo que Yuma estava ficando melhor. Talvez fosse possível esperar até que ela ficasse normal e Kyouko não precisaria saber. Contudo, ela não tinha controle sobre Kyouko, ela já estava na cidade há dias sem que ela soubesse, nada impede que ela resolva visitar onde Oriko vive. Suspirando, Mami abriu a porta. “Eu falo com ela primeiro.”

“Eu fico muito agradecida.” Oriko e as outras foram entrando. “Ah, e você está linda nessa roupa. Feliz aniversário.”

Mami apenas assentiu. Enquanto elas deixavam os calçados, ela fechou a porta e se apressou para chegar até a sala de estar.

Todos estavam lá ainda, mas Kyouko já havia dado espiada para ver quem havia chegado. Como esperado, ela estava surpresa e nem um pouco feliz. “Por que essas duas tão aqui?”

Mami procurou ficar entre ela e as recém chegadas, dizendo firmemente, “Elas são minhas convidadas, por favor, trate-as bem.”

Kyouko franziu as sobrancelhas. “Depois de tudo o que elas fizeram?”

“Eu sei e elas aprenderam com isso. Todas nós aprendemos com os nossos erros.” Mami pôs a mão no peito. “Por isso que eu decidi dar uma chance de reaproximação para elas.”

“Esse teu coração mole...” A ira de Kyouko ficava mais evidente. “Não tem nada de bom nessas daí! Elas vão nos trair no momento que elas acharem que isso é a coisa certa a fazer. Sa... cou?”

Mami notou que a outra não estava mais olhando para ela. Ela olhou para trás, confirmando que atenção havia voltado para Yuma. “Eu... Eu preciso explic- kyaaah!”

Kyouko esbarrou em Mami enquanto foi direto até a criança.

Deixando Nagisa assustada. “Mami?!”

E Sayaka no mínimo preocupada. “O que tá fazendo?”

Madoka e Homura permaneciam em silêncio, observando atentamente.

Com o instinto protetor a flor da pele, Kirika tentou puxar Yuma para ficar atrás dela, mas Oriko segurou seu braço antes. Seu grande amor parecia estar bem calma.

Agora mais perto, Kyouko pôde constatar que havia algo de muito errado, a aparência doente de Yuma lhe trouxe um longo calafrio na espinha, uma sensação de repulsa e medo. Ela puxou o capuz.

Mami já havia se recuperado, mas ela ficou paralisada ao ver aquilo.

Tufos de cabelo verde despontavam das rachaduras do escalpo de jade. Kyouko passou a mão, sentindo a superfície áspera e dura.

Yuma abaixou a cabeça ainda mais.

Em um surto de raiva, Kyouko arrancou a máscara e recuou, levando a mão à boca.

Sayaka arregalou os olhos.

Triste com o que via, Nagisa desviou o olhar e a face.

Mami engoliu seco, certa de que tinha sido otimista demais.

Do nariz para baixo não havia um sinal de pele, apenas jade na face deformada de Yuma. Sua boca era mais uma rachadura que havia sido entalhada.

Sem palavras, com a respiração pesada, Kyouko olhou para a única pessoa que podia ser responsável por aquilo.

Oriko permanecia calma, com as pálpebras ligeiramente baixas, no que parecia ser uma expressão de desaprovação do comportamento da ruiva.

Aquilo foi um estopim para a tensão em seu corpo crescer e seus punhos cerrarem. Contudo, Kyouko foi puxada pelo ombro.

“Por favor, me escute,” Mami pediu.

Kyouko tentou se desvencilhar, mas a outra segurou ambos os ombros com força.

A loira esboçou um sorriso desesperado. “Ela está melhorando, ok? Ela está melhor do que antes...”

Ela rangeu os dentes e puxou violentamente os braços que a seguravam.

“Ah!” Mami deu um passo para trás.

“Tu sabia disso?!”

Com aquela revelação, Sayaka compreendeu do porquê de Homura e Madoka estarem tão quietas. “Vocês também?”

A garota de longos cabelos negros assentiu com desgosto, se lembrando daquela noite gelada. “Eu estava lá quando ela se transformou.”

“Uma experiência dura para alguém com a idade dela,” Madoka lamentou, “e eu não pude ajudar mais do que gostaria. Uma alma tão intensa de um coração solitário.”

Kyouko estava tremendo. “Há quanto tempo? Tu escondeu isso de mim...”

“Porque eu tinha medo de como você ia reagir!” Mami exclamou em tom de choro.

“Tch...” Abaixando olhar, ela deixou aquelas palavras se enterrarem profundamente em seu ser, buscando não um melhor entendimento, mas uma mudança. Contudo, nada mudou ao olhar de relance para Oriko. “É... Tu tem razão...”

Através de uma luz vermelha decisiva, Kyouko adquiriu suas vestimentas de garota mágica.

“Ah, isso é mal.” Sayaka foi alcançá-la. “Kyoukooo!”

A garota mágica vermelha dava os seus primeiros passos para satisfazer a sua ira quando Mami tentou segurá-la novamente. “Não faça isso! Pense na Yu-KYYAAAHH!”

Kyouko a agarrou e jogou para trás com grande força.

“Agh!” Sayaka acabou sendo atingida pelo corpo de Mami e as duas caíram no chão.

“Eu tô pensando...” E Kyouko continuou andando.

Após ter sido envelopada por um flash lilás, Kirika com suas roupas mágicas e tapa-olho se colocou no caminho. “Onde você está indo, cabeça quenteeeEEEHH?!”

Oriko a empurrou para longe, a derrubando.

Kyouko pôs os braços à frente e invocou a sua lança na posição horizontal.

Oriko segurou o bastão da lança, mas não conseguiu resistir a fúria dominante e foi sendo empurrada atrás até atingir a parede. “Ghk!” O bastão pressionou contra o seu pescoço e queixo enquanto os seus pés deixavam o chão.

Kyouko rangeu os dentes enquanto a raiva criava marcas em sua face.

Apesar daquilo, e da nada confortável posição, Oriko fechou os olhos e esboçou um sorriso. [Sinto muito, eu não tenho mais uma gema da alma para te dar.]

“Sem problema, seu corpo serve.” Kyouko então ficou surpresa, pois as cores da parede mudaram para tons mortos. Nesse momento também ela sentiu uma mão em seu ombro.

Homura estava ao lado dela, segurando em sua outra mão uma ampulheta negra deitada.

Kyouko não ficou prestando muita atenção nela. “O que tu quer? Um pedaço dela?”

“Olhe envolta.”

A demanda fria já dava a Kyouko a idéia de onde Homura queria chegar, mas ela obedeceu mesmo assim.

Primeiro ela viu Yuma, do qual continuava na mesma posição, um semblante apático com tudo o que estava ocorrendo. Kirika estava se levantando com urgência, com o olho que podia-se ver bem arregalado. Sayaka já estava de pé enquanto Mami estava sendo acudida por Nagisa. A loira estava estendendo o braço em direção ela, certamente para invocar laços, era bom estar preparada. Madoka continuava sentada na almofada... e seus olhos se moveram?

“Eu pensei que fosse melhor que isso,” Homura falou.

Kyouko olhou para ela. “Vocês todas esconderam isso de mim.”

“E você acabou de justificar o que nós fizemos.” A aspereza na voz de Homura demonstrava em qual ponto estava a sua paciência. “Encare os fatos. Não há bruxas para caçar, o destino dela seria o mesmo que o nosso.”

“Tu olhou pra Yuma?! Acha aquilo a mesma coisa?!” Kyouko voltou a sua atenção para Oriko. “E essa aqui não fez nada!”

O bastão pressionou mais contra pescoço de Oriko, fazendo a garota deixar a língua para fora.

“Ela fez,” Homura afirmou, “por meses ela purificou a gema da criança com a sua própria semente da aflição, até que a maldição fosse demais para lidar e ela perdeu o controle.”

Porém Kyouko ignorou. “Yuma não podia ter se tornando uma garota mágica. Ela devia ter impedido.”

Oriko reabriu os olhos. [Assim como você fez?]

“Quê?!”

[Você se lembra, sim. Do tempo que você colocou ela sob suas asas.]

“É.” Kyouko semicerrou o olhar. “Me lembro que tu convenceu ela que eu estava em perigo pra forçar ela a fazer o contrato.”

[De fato, eu usei ela para os meus planos.] Oriko retribuiu a expressão. [Mas sejamos francas, cedo ou tarde ela faria um desejo para salvar você ou a si mesma. Como você pode ser tão inconseqüente a ponto de deixá-la acompanhar você nas caçadas.]

“Eu não tinha onde deixá-la! Ela não queria ficar escondida, esperando por mim, achando que eu não iria voltar...”

[Você entende ao menos, não é? Ela não é algo que você pode controlar.] O olhar de Oriko ficou mais intenso. [Se eu pudesse, você acha que eu a deixaria nesse estado?]

Kyouko rangeu os dentes, mas mais por frustração.

[Me surpreende que você tenha a adotado. Alguém que é capaz apenas de cuidar de si mesma... Por acaso ela serviu para preencher algum vazio seu?]

“Cala boca!”

Oriko sentiu o bastão pressionar mais, mas era um ato tímido comparado a antes. [Vamos! Destrua-me e, com isso, a última chance que Yuma tem de se recuperar.]

“Sakura-san,” Homura disse, “por mais que eu odeie dizer isso, eu concordo com ela.”

As mãos de Kyouko seguraram com mais força a lança enquanto ela arfava.

A face de Oriko não movia um músculo.

Kyouko acelerou a respiração e seu corpo estremeceu em um tremendo esforço, antes de puxar a lança para si.

Oriko chegou o tocar o chão antes de congelar no tempo.

Com uma respiração mais leve, mas ainda muito tensa, ela contemplou a imagem estática de seu ódio, com uma idéia em mente. “Então é Yuma quem decide, hein?”

Com breve sorriso, Homura respondeu, “Eu sabia que você era melhor que isso.”

“Qual é...” Kyouko olhou para ela, mas Homura não estava mais ali e as cores da sala haviam retornado. “Ah mer-” Laços tomaram o seu corpo e sua arma em um amarro firme. Movendo a cabeça com dificuldade, ela viu Oriko interceptar Kirika com um abraço.

“A-Amorzão?!” A surpresa da garota de tapa-olho logo se sucedeu pela raiva que ela tinha da agressora presa. “Ela machucou você?”

Oriko segurou a cabeça de sua companheira para que focasse apenas nela. Falou com uma voz suave, “Não, tudo está bem.”

Kyouko olhou de relance para as outras garotas da sala. Homura já estava com Madoka, as duas com uma fisionomia mais neutra e séria. Mami, Sayaka e Nagisa eram uma fusão de preocupação e vergonha.

E Yuma... petrificada.

Ela suspirou. “Ok, podem me soltar agora.”

Oriko olhou para trás. “Eu acho que você tem fazer algo para ganhar a confiança delas.”

Kyouko respirou fundo e sua lança, além de seu uniforme vermelho, evaporaram. “Isso ajuda?” Como resposta, os laços ficaram folgados. Ela se livrou deles rapidamente e andou.

Vendo ela se aproximando de Oriko e Kirika, Mami se arrependeu do que acabara de fazer. “Kyouko!”

No entanto, a ruiva passou pelas duas e foi direto até a garotinha. “Ei, tu consegue falar?”

Sem se virar para ela, Yuma apenas assentiu.

Kyouko pôs as mãos na cintura. “Eu tou vazando daqui, quer vir comigo? Eu posso colocar um feitiço, ninguém vai ver você assim.”

Sayaka e Mami ficaram boquiabertas com a proposta, até Homura franziu o cenho.

Kirika ficou ultrajada e foi tirar satisfação.

[Não.]

No entanto, sua amada a segurou pelo braço.

Kyouko não esperou por muito tempo. “Eu tinha falado uma vez que você não tinha desculpa pra não cuidar de si mesma, tu não depende dessas duas. Última chance.”

Ainda que em tom baixo, o que Yuma falou era uma afirmação, “Eu não vou a lugar algum.”

“Beleza...” Com isso, Kyouko saiu do apartamento, deixando a porta aberta.

Deixando Sayaka ainda mais desapontada. “Mami-san... eu lamento por...”

A loira balançou cabeça. “Não, foi minha decisão.”

Sayaka segurou as mãos dela. “Veja, ela está chocada com isso, dê um tempo pra ela pensar.”

“Uhum!” Mami assentiu e sorriu. “Eu sei. Eu sei...”

“Eu vou tentar manter ela na cidade e ver se consigo convencê-la a voltar aqui e pedir desculpas.”

“SAYAKA!” um grito veio do lado de fora, “tu vai ficar?”

“Preciso ir.” Ela foi andando de costas para saída, acenando. “A festa estava divertida, foi bom rever vocês todas. Mami-san, Nagisa-chan, Madoka... e você também, transferida.”

Homura respondeu, “Nós nos veremos novamente.”

“Tchau Sayaka-chan.” Madoka acenou de volta. “Eu sei que Kyouko-chan vai entender.”

“Obrigada pela sua presença.” Mami se curvou para ela, assim como Nagisa também.

Antes de fechar a porta, Sayaka olhou para a figura desanimada de Yuma.

[Madoka sabe que ela está em boas mãos.]

Ouvindo Oriko, a garota azul trocou olhares com ela. Aquilo devia ser verdade, Sayaka retribuiu um sorriso e partiu.

Yuma pôs a máscara e o capuz de volta, permanecendo no mesmo lugar.

Mami exalou toda a tensão que havia dentro de si, falando, “Eu sabia que isso terminaria mal.”

“Em minha opinião, tudo aconteceu da melhor forma que era possível,” Oriko disse.

Homura semicerrou o olhar. “Da forma que você previu, eu presumo.”

“Hã?!” Mami consultou Oriko, não gostando daquela idéia.

Ela cruzou os braços, sorrindo. “Eu não preciso de magia para saber que vocês juntas iriam prevenir Sakura-san de tomar uma atitude drástica.”

Em uma luz lilás, Kirika retornou para as suas roupas (não tão) comuns. “Por que você não me contou?”

Oriko olhou de relance para ela. “E fazer você perder uma chance de me proteger?”

“Aww, amorzão! Você é um gênio!”

Com Kirika grudada em um abraço, Oriko se aproximou de Yuma. “Eu só não tenho certeza se isso não pôs um fim para esse dia especial.”

“Não, eu as convidei, vocês são bem vindas...” Mami olhou para menina com capuz e abriu um sorriso, falando com ela como se nada de antes houvesse acontecido, “Você deve estar com fome. Há muitos bolos na cozinha.”

Oriko disse com um pingo de tristeza, “Desculpe, mas ela não sente o gosto da comida.”

“Ah...”

Testemunhando o sorriso de Mami esmorecer, ela continuou, “Momoe-san poderia fazer companhia a Yuma. Elas têm idades próximas.”

Nagisa não esperava ser requisitada. “Eu? Claro...”

Com isso, Mami teve uma idéia. “Você poderia mostrar o seu quarto para ela enquanto eu preparo mais chá para as visitas.”

“Farei isso.” Nagisa ficou na frente da menina verde. “Vamos lá, Yuma-chan!”

Yuma não reagiu, nem sequer trocou olhares com ela.

Deixando Nagisa preocupada. “Ehhhmmm...”

Mas, com um pequeno empurrão de Oriko, ela começou andar.

“Por aqui.” Com as esperanças restabelecidas, Nagisa tomou a frente até um corredor com portas.

Yuma caminhava lentamente.

A garota de cabelos brancos esperou com toda paciência antes de abrir a porta para ela entrar.

Dentro do quarto, Yuma voltou a ser uma estátua.

Não era o que Nagisa queria, ela fechou a porta com a missão de fazer Yuma falar. “O meu quarto é modesto, não é tão espaçoso quanto o seu, vocês vivem em uma mansão enorme. Deve ser legal explorar cada canto daquele lugar...”

Silêncio.

Ela então se apressou envolta da cama e pegou o que estava sobre o travesseiro, uma grande e colorida centopéia de pelúcia. “Olha! Esse aqui é o Mogu.” Ela o abraçou. “Ele me faz companhia durante noite e me protege dos sonhos ruins.”

Yuma não olhou, parecia estar mais focada no padrão de bolinhas do lençol da cama.

Ou talvez fosse algo mais. Nagisa perguntou, “Você quer sentar? O colchão é bem macio.”

Não houve uma resposta clara, mas Yuma foi até a cama, ao que tudo indicava, para sentar.

Nagisa respirou aliviada com o progresso.

Quando ela se sentou, ela afundou no colchão e a cama protestou com um longo rangido.

Nagisa arregalou os olhos, ela havia esquecido que Yuma naquele estado era muito mais pesada. Ela então sentiu algo atingir a sua perna. Era uma pequena bola de borracha que ficou quicando e quicando... Ela arregalou os olhos ainda mais e sentiu estar sendo observada.

Yuma estava olhando diretamente para ela, olhos fixos como pedras.

Um frio na espinha e um embrulho no estômago. Nagisa sabia que não era por acaso, pois sentiu uma estranha intimidade. Havia uma tensão mágica no ar enquanto três maldições se comunicavam entre si.

Yuma era mais bruxa do que humana, agora Nagisa estava certa da responsabilidade que tinha. Ela fechou os olhos, em uma tensa careta, e os reabriu acompanhados de um sorriso. “Eu acabei tomando um susto da minha bola que rolou do criado-mudo. Você acredita nisso? Hehe...”

A garota com capuz e máscara virou cara, voltando a olhar para o nada, cabisbaixa.

Nagisa colocou a bola no lugar e Mogu sobre a cama. “Eu gosto de ficar ouvindo música. Você gosta também?”

Novamente, ela não dava respostas.

Contudo, desistir não fazia parte de Nagisa. Ela foi até Yuma e se agachou para poder ver ela nos olhos. “Eu tenho mangás e também um caderno para desenho. Eu posso desenhar algo e você colore. Que tal?”

Sem resposta.

“O que você gosta de fazer quando está em seu quarto?”

Yuma estendeu um braço.

Nagisa caiu de bunda, surpreendida pelo súbito movimento.

A garotinha chacoalhou o braço até que algo caiu da manga do moletom.

Pedras de jade, de formatos irregulares e tamanhos variados, atingiram o assoalho de madeira, fazendo bastante barulho. Nagisa notou que Yuma estava mesmerizada observando os pedregulhos quicarem, rolarem e girarem até que todos os movimentos cessassem.

Nagisa pegou um deles. Ele tinha uma superfície com padrões afiados, mas havia parte polida, onde se via uma variedade de nuances de verde dispostas em listras paralelas. “São bonitas...”

“Pare.”

Nagisa é quem se calou dessa vez.

“Minha mãe...” Yuma parou de falar, parecia que havia se tornado uma estátua novamente, mas então olhou para ela. “Minha antiga mãe me odiava e ela deixava isso claro todos os dias. Eu a odeio, eu odeio meu antigo pai também, ele não se importava. Eu sabia que eles não me queriam e ter essa certeza deixava tudo mais simples.”

Nagisa notou que o jade envolta dos olhos da outra garota crescera um pouco, cobrindo a pele.

“Você é que nem Mama e Papa, finge para eu me sentir melhor. Você acha que sentimentos me farão a ser como era antes? Foram eles que me tornaram o que sou hoje.”

A voz de Yuma reverberou como em uma caverna e Nagisa ficou de pé. Ela olhou para o pedregulho em sua mão e o deixou cair.

Quicando, rolando e girando, Yuma o observou até ele ficar imóvel, frio, insensível. Sem ódio, sem alegria, sem culpa.

“Sim, eu disse aquilo para você se sentir melhor...” Séria, Nagisa cobriu a face com as mãos. “Então eu quero te mostrar algo.”

“Aquela face pálida? Eu consigo me lembrar...” Yuma falou, desprezando, “você quer comparar as aparências, você não entendeu nada...”

Nagisa mostrou sua face branca, de pômulos amarelos, mas não havia um sorriso desajeitado e seus olhos eram de uma cor só, um azul acinzentado. Ela disse em tom baixo e lento, “Essa a face da minha maldição.”

Yuma não demonstrou surpresa, mas ela manteve a atenção.

“Eu tive uma mãe que me amava muito todos os dias. Veio um dia que ela estava muito mal e eu tinha a oportunidade de salvar a vida dela de uma forma muito simples, mas eu não achei apropriado. Eu queria salvá-la como eu já havia salvado ela antes. Eu pensei mais no amor dela por mim do que o meu por ela.” Nagisa fechou os olhos. “Ela morreu e não sobrou nada para mim além de conviver com a minha decisão. Madoka veio para me salvar, mas eu não queria pensar, eu não queria me mover, eu não queria sentir nada, mas eu sentia fome e quando eu comia, eu me lembrava da minha mãe. Esse era o inferno onde sou deus.” Ela então assentiu. “Mas Madoka me visitava, ela me contava histórias mesmo se eu fingisse que não as ouvia. Ela me contou sobre Mami... Sabia que a história dela é parecida com a minha?”

“Mami-senpai?”

“Uhum. Ela fez o contrato com Kyuubey para salvar a própria vida, só para então se dar contar que poderia ter salvado seus pais também. Ela se sentia muito culpada por ter pensado apenas nela. ‘É nesses momentos fugazes que expomos nossas falhas,’ ela me disse uma vez.” Um leve sorriso se formou. “Madoka me convidou para conhecê-la. Eu aceitei, achando que eu iria encontrar alguém como eu, mas você e eu sabemos o quanto eu estava errada e eu estou feliz por isso.”

Yuma não falou, mas suas mãos seguraram o tecido verde de sua calça.

“Eu passei a entender que Madoka não nos salva, mas dá uma segunda chance.” Nagisa reabriu os olhos, coloridos e com as irises rodopiando. Ela pressionou as bochechas e mostrou a ponta da língua roxa. “BLEEEHWWR!”

Yuma estremeceu e seu olhar se estreitou um pouco. Ela rapidamente virou a cara.

No entanto, para Nagisa era evidente. “Você sorriu.”

“Não.” Ela olhou de relance para outra garota por um instante. “E como você saberia? Eu estou com uma máscara.”

“Você sorriu pelos olhos, você achou engraçado.”

“Não!” Yuma se jogou na cama, afundando o rosto no colchão.

Nagisa deixou escapar um suspiro entre os seus dentes afiados e deitou-se na cama ao lado dela. Ela puxou o capuz e viu que, se não fosse o cabelo e padrão irregular do jade, a cabeça lembrava um casco de tartaruga.

Sem olhar, Yuma tentou alcançar o capuz, mas Nagisa o estava puxando, então a garotinha tentou cobrir a cabeça com as mãos.

“Ah, Yuma-chan, você está sendo muito dura consigo mesma. Mama e Papa amam você e você sabe disso. Pensar que elas estão fingindo te faz sentir melhor?”

A voz chorosa de Yuma era abafada pelo o colchão. “Eu não quero sentir nada.”

“Eu não vou contar para elas.”

Ouvir isso fez com que Yuma erguer cabeça e olhar para ela. “Não?”

Nagisa cobriu a face com as mãos e mostrou seu aspecto humano logo depois. “Isso é um segredo que fica entre nós, ok? Eu só irei pedir um favor seu.”

Yuma hesitou em perguntar, “Qual?”

“Deixe-me cuidar do seu cabelo.”

Enquanto isso, na sala de estar, Oriko sorvia com um prazer comedido o recém preparado chá da Mami. No caso de Kirika, ela estava mais focada nos sólidos.

Tudo sendo observado por Madoka e Homura. A garota de cabelos negros tinha fez uma questão que já perdurava em sua mente, “Algum incidente novo que queira nos compartilhar, Mikuni-san?”

Oriko deixou a xícara no pires e sorriu. “Não, mas se você quiser nos dar a honra, talvez um em particular.”

Homura manteve um olhar fixo nela, sem soltar a respiração.

Vendo que aquela não era melhor forma de quebrar o silêncio, Madoka perguntou, “Você e Mami-san têm se cruzado muito em Shirome ultimamente?”

Mami foi a primeira a responder, balançado a cabeça. “Não, não.”

Seguida por Oriko. “A escola de Shirome, como posso dizer, é mais ‘fechada’ do que a sua, Kaname-san. Além disso, eu estou usando meu tempo livre para preparar a minha carreira política.”

“Sim!” Kirika disse, toda orgulhosa, “meu amorzão vai comandar esse país!”

Sorrindo, Oriko franziu a testa. “Oh, isso é um exagero.”

Homura semicerrou o olhar.

Porém foi Mami quem levantou uma dúvida. “Mas o seu pai...”

“Apesar do escândalo, a família Mikuni ainda preservou seu espaço entre as pessoas de poder. Eu pretendo cursar direito na universidade e seguir meu destino natural. Qual curso que você quer fazer, Tomoe-san?”

Um tanto surpresa, a loira respondeu, “Hmmm... Eu não sei ainda.”

“Claro que não.”

A afirmação de Oriko soou dura e Mami desviou o olhar.

Madoka disse, “Ela tem tempo ainda.”

“Sim, sim...” Mami mostrou um breve sorriso.

O smartphone de Madoka vibrou e ela viu que tinha uma mensagem. “Pai quer saber se eu ainda estou na festa.”

“Diga a ele que você está saindo, já é tarde.” Homura se levantou.

“Sim.” Madoka enviou uma mensagem e levantou também, assentindo. “Obrigada pela festa, Mami-san. Apesar de algumas coisas que aconteceram, ela foi divertida e memorável.”

“Eu que devo agradecer por terem vindo.” Mami fez menção que iria ficar de pé. “Eu irei acomp-”

“Não é necessário,” Homura disse, reforçando com um gesto com a mão, e olhando para Oriko, “Mami-san, hoje foi um bom dia, se cuide.

A garota com rabo de cavalo cor de palha falou, “Foi bom ver vocês, mesmo que tenha sido por um tempo tão curto.”

Kirika se esforçou para engolir um pedaço de bolo antes de acenar. “Tchau~, tchau~.”

Enquanto as duas iam até a saída, Madoka fez questão de mostrar o caderno danificado. “Eu estou levando isso. Dê as despedidas para Nagisa-chan e Yuma-chan por nós.”

“Eu direi a elas.” Mami assentiu. “E obrigada novamente.”

Com elas saindo e fechando a porta, Oriko fez uma observação, “Akemi-san chamando você pelo primeiro nome é notável.”

“Ela tem sido mais receptiva.” Mami matinha um sorriso.

“Sim, ela tem sido...” Oriko alcançou a sua bolsa. “Agora, como está as suas finanças?”

Mami estava sem palavras com o salto para aquele assunto.

“É caro estudar em Shirome e você está cuidando de uma jovem garota. Eu também estou ciente que você está bancando as aventuras de Sakura-san.”

Mami não ficou muito surpresa com a última afirmação de Oriko, não mais do quanto ela ficou chateada. “Eu tenho dinheiro o bastante para terminar meus estudos em Shirome.”

“Porém não o suficiente para a faculdade, eu suponho.”

Mami ficou mais defensiva em face daquela ‘suposição’. “Eu posso procurar um emprego temporário e, talvez, Madoka-san tenha terminado a missão dela até lá e...”

Oriko retirou da bolsa um saco de papel marrom que embrulhava o que parecia ser blocos. Ela ficou de pé e foi até Mami.

A anfitriã se levantou rapidamente. “O que é isso?”

“Seu presente de aniversário.” Oriko ofereceu o saco.

Não era a resposta da sua questão, mas Mami temia que a sua dedução estivesse correta, considerando sobre o que elas estavam conversando. Ela abriu o saco e viu maços de dinheiro.

“Isso deve ajudar.”

“De onde veio isso?”

“De fontes lícitas,” Oriko respondeu com um sorriso educado.

Mami reagiu com suspeita. “Você usou magia para conseguir isso, não foi? Eu não posso aceitar.” Ela procedeu em devolver, mas o saco foi empurrado contra ela com violência.

O olhar de Oriko era perfurante enquanto apenas sua boca mexia. “Que desagradável, há uma aspirante a boa garota na minha presença.”

“BLUUUAAAHHHGGG!!!”

Intimidada, Mami olhou para Kirika.

A garota com olhos de citrino estava enfiando o dedo dentro da boca e fazendo caretas, fingindo estar vomitando. Depois ela parou e riu, “Kukukufufufu...”

Oriko continuou com o sarcasmo. “Eu devo lembrar a esta cidadã seguidora das leis que há uma garota dada como desaparecida vivendo sob o teto dela. Você tem muita sorte que ninguém está ativamente procurando por ela.”

Mami fechou os olhos em consternação.

Oriko soltou o saco. “É um presente, é seu, faça o que quiser com ele.”

Respirando fundo, Mami assentiu. “Certo, mas só irei usar se for necessário.”

Oriko sorriu educadamente e se curvou antes de voltar ao seu lugar à mesa.

Enquanto Mami foi deixar saco junto com os outros presentes. Ela sentiu que a sala estava muito escura e acendeu as luzes.

Kirika pôs a mão sobre a barriga. “Uuuu... Eu acho que ela realmente me fez passar mal.”

Oriko tinha outra opinião. “Eu suspeito que seja todos os bolos que você comeu.”

“Você não quer ir ao banheiro?” Mami já havia retornado. “Ele fica no corredor, é a port-”

“ALERTA VERMELHO! Ah! Ah!” Kirika pulou e passou correndo até o corredor. “Estou maaaaal!”

Mami ficou paralisada com o susto.

“Não se preocupe, ela sabe cuidar de si,” Oriko disse.

Sem dizer uma palavra, Mami sentou sobre uma almofada.

Oriko encheu a xícara com mais chá. “Sobre aquela conversação que nós tivemos, você ainda anseia voltar para a Lei dos Ciclos?”

Ela balançou a cabeça. “Eu estou me esforçando para me adaptar. Eu tento até evitar pensar em qualquer coisa relacionada a magia, hoje foi uma exceção, era inevitável.” Mami sorriu. “Quando estou distraída com os estudos e Nagisa, eu até esqueço por um momento.”

“Continue assim.” Oriko tomou um gole de chá. “Hmmm... E um dia você estará discutindo sobre crise dos trinta anos comigo.”

“Esse é o meu futuro?!” Mami arregalou olhos.

Considerando a ênfase do questionamento, Oriko suspirou. “Eu sou péssima com piadas, perdoe-me.”

“Oh, era uma piada...” No entanto, Mami não estava aliviada, levando a mão peito. “Mas você viu?”

“Vi o quê?”

“O nosso futuro.”

Oriko ergueu as sobrancelhas e então sorriu e pegou o bule para preencher a xícara da outra garota. “Prever o próprio futuro é um desejo constante das pessoas, mas poucas meditam sobre como seria se o obtivessem. Parte da vida é feita de descobertas, até as menores são preciosas.”

“Não é isso que estou pedind-” Mami reprimiu-se em continuar, sentindo que o que queria poderia dar a idéia errada, mas agora também era tarde demais. “Eu... estou com algumas preocupações com a missão de Madoka-san nesse mundo.”

“Confie em mim, eu aviso se algo de ruim irá acontecer.” Oriko colocou o bule de volta sobre a mesa. “Eu fico surpresa de ouvir isso de você, tem dúvida quanto aos objetivos dela?”

Era isso que Mami temia em ouvir. “Não, definitivamente não.”

“E não devia mesmo.”

Mami piscou duas vezes. “Então você sabe!”

Oriko observou seu reflexo sorridente na superfície negra do chá em sua xícara. “Nada com o que se preocupar, Tomoe-san. O que eu vi é maravilhoso.”

Kirika deixou o banheiro se sentindo mais leve, foi quando se deu conta que a porta do outro lado do corredor era justamente por onde seu amorzinho havia entrado. Ela andou cuidadosamente com as pontas dos pés e colocou o ouvido na porta, mas não ouviu nada. “Hmmm...” Coçando a cabeça, ela sentiu que não podia voltar para o seu amorzão com aquela preocupação, decidiu por girar a maçaneta bem lentamente.

Pela pequena abertura ela viu a de cabelo branco primeiro, sentada na cama, segurando um smartphone e com um fone de ouvido, e então, sentada ao lado dela, seu amorzinho. Ela estava sem capuz e cada tufo de cabelo que fosse grande o bastante tinha uma chuca, nenhuma igual à outra. Ela estava usando o outro fone de ouvido em sua orelha quase normal, com apenas alguns traços de jade.

Com os olhos lacrimejando e calor em seu peito, Kirika o fechou de volta.

/人 ‿‿ 人\

Não longe dali, sobre a laje de uma construção ainda banhada pela luz do entardecer cada vez mais fria, havia um sofisticado aparato de vigilância instalado, com uma câmera com lente teleobjetiva e uma antena com conexão via satélite.

No entanto, a pessoa que estava ali não parecia ser a mais adequada para operar aquilo. Uma jovem mulher com um cabelo castanho avermelhado, abaixo da linha do ombro em comprimento, com um grande par de orelhas postiças de coelho de pelagem branca. Usava um traje colante, onde era fácil discernir onde ficava o umbigo, de cor amarela com um par de listras laranja, uma em cada lateral do traje, trazendo atenção as curvas de seu corpo. O traje também tinha uma grande e fofa cauda branca de coelho. Ela usava jaqueta curta branca, que estava aberta, mas escondia parte do aspecto de seus seios medianos. Havia um par de coldres na jaqueta, com revólveres de pelo branco com orelhas de coelho no lugar do cão das armas, e no lado esquerdo do peito tinha uma gema transparente no formato de um pé de coelho. Suas pernas estavam completamente nuas e usava tênis grandes para o tamanho dela, alaranjados, com fechamento de velcro.

Seus olhos eram azuis e sua pele era clara, um pouco avermelhada. Sua face tinha sarda e pela fisionomia ninguém diria que ela era japonesa, nem mesmo asiática. Contudo, era difícil saber de onde ela veio, pois quando ela aproximou o microfone do headset para próximo de sua boca, ela falou com um inglês perfeito, exceto por uma palavra, “Tá vendo isso, Generalíssima?”


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Notas finais do capítulo

O tempo das conseqüências chegou



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