Sunday escrita por Naokii


Capítulo 2
Yesterday




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Hoje faz um dia que eu falei com Juvia Lockser sobre minha ideia de projeto para a aula de desenvolvimento pessoal e tudo o que eu posso adiantar pra vocês é que não saiu exatamente como eu tinha planejado.

— Mamãe, uma abelha picou o rosto do Gray! – revirei os olhos ouvindo a praguinha do Lyon repetir a mesma piada de novo.

— Essa é literalmente a quinta vez que você faz essa piada, peste! – reclamei. 

— Para de chamar seu irmão de peste! – mamãe disse, roubando um bolinho que meu pai tinha feito pro jantar.

— Ele não tá me deixando em paz! – estirei língua pra ele. 

— Você apanhou de uma menina! – estirou língua de volta, puxando da minha mão o toddynho que eu estava tomando. 

— Agora você vai ver, seu pirralho! – corri atrás dele pela casa, mas como o sortudo que sou, bati de cara no armário da cozinha aberto e caí no chão. Lyon deu uma gargalhada e depois me ajudou a levantar. Ótimo irmão eu tenho. 

Como forma de desculpas, ele me deu um pedaço do chocolate que ele tinha guardado há duas semanas, mas eu não consegui fazer outra coisa além de agradecer e recusar, óbvio. Sei muito bem que meu irmãozinho guardava seus chocolates numa meia debaixo da cama. 

Enfim, voltando aqui aos meus pensamentos, eu queria falar como foi ontem com Juvia. Para resumir: UM DESASTRE. Outra palavra chave é: ENFERMARIA. Sim, meus amigos. Foi barraco, confusão e gritaria. Ou quase isso.

Tudo começou quando saí da sala do conselho, encontrei Lockser saindo do vestiário e disse que tinha uma proposta inegável pra ela. Mas adivinhem: ela negou. E mais: me deu um socão na cara. Calma, calma! Vou explicar melhor como tudo aconteceu.

Eu disse: "Juvia, como vai? Tenho uma proposta pra você." e abri um sorriso convencidíssimo pois eu estava certo de que ela aceitaria logo, mas só pra variar, não deu. Acho que até esse ponto da história vocês já devem ter concluído que se eu fosse um jogo de sete erros daria pra se achar uns 15.

— Me desculpe? – Juvia disse e eu me surpreendi que ela não simplesmente me ignorou como as outras 99 vezes que tentei me comunicar com ela. Por mais que parte de mim esperasse uma hiper reação como qualquer outra garota da escola teria, era a Juvia. Ela não era qualquer outra garota da escola. – Vai querer que eu fique esperando até completar 50 anos ou vai adiantar logo o que você quer? – ela me interrompeu dos meus pensamentos.

— Hã, não. Escuta, eu ouvi seu texto sobre o dia dos namorados e eu concordo com o que você falou.

— Nossa, quanta honra. – a azulada revirou os olhos. 

— Sério? – fui trouxa e perguntei.

— É claro que não. Não sabe o significado de sarcasmo? 

— Hã...

— Não precisa responder. Essa foi uma pergunta retórica. – bufou. – Já que você vai ficar aí parado sem dizer nada, eu vou embora. – se virou e eu segurei o pulso dela. A nadadora me olhou com tédio enquanto minha mente fritava de desespero.

— Você realmente não me reconhece?

— Claro que reconheço. Você é Gray Fullbuster, o presidente do conselho estudantil. Todo mundo sabe da sua existência. Era isso? Já esperava que fosse narcisista, mas não a esse ponto.

— Não! Não era isso. – falei, sentindo que meu tom de voz já aparentava nervosismo. – Eu quero saber se você não me reconhece da nossa infância.

— Nossa infância? – ela repetiu, com dúvida. – Do que está falando?

— Eu, você, Plue, o mar. Eu sou o Gray, não lembra? O que foi embora. Nós ficávamos na sua casa todo fim de semana e...

— Gray? – ela me olhou como se tentasse me reconhecer. – Como você soube sobre o Gray? 

— Porque eu sou ele. – falei. Não acreditava que ela não estava me reconhecendo. A próxima lembrança é a última lembrança que eu tive até acordar, e vou explicar por quê. 

Lembram que no dia que eu fui embora Juvia me deu um beijo na bochecha? Na nossa relação, por sermos DUAS CRIANÇAS, nós nos beijávamos na bochecha, óbvio. Tínhamos o costume de beijarmos as bochechas um do outro como forma de despedida. Eu lembro de sentir meu coração pulsar fortemente a cada toque que ela deixava no meu rosto. A vermelhidão, o formigamento que dava no local... enfim, era um momento só nosso. Tendo em mente essas coisas, eu pensei "HUM, POR QUE NÃO MOSTRAR QUE SOU EU FAZENDO ALGO DOS VELHOS TEMPOS?" e resolvi dar um beijo na bochecha de Juvia pra fazê-la acreditar de verdade em mim, ver que eu não estava brincando.

Mas como eu disse milhares de vezes, eu nasci com a bunda virada pro azar. Parece que tenho inferno astral durante todos os dias da minha vida. 

Foi algo que durou poucos segundos, mas sabe quando você sente o mundo ficar em câmera lenta?

Começou quando eu me aproximei. Eu pude ver a expressão de Lockser se tornar dura. Ela me olhava com cara de "ele não vai fazer o que estou pensando, vai?", mas alguma coisa dentro de mim estava me fazendo mexer sozinho, e quando vi, já tinha fechado os olhos.

Quando eu estava quase selando a bochecha dela, a vida apareceu pra me ferrar novamente. Algum ser muito filho da mãe passou correndo e me empurrou. Resultado: eu beijei Juvia, mas não era onde eu esperava.

Sabe aquela cena de Ratatouille que o ratinho come o queijo e o morango ao mesmo tempo e ele enxerga fogos de artifício? Minha mente estourou assim. Na verdade, minha mente estourou duas vezes, porque assim que nos separamos (Juvia me lançou pra longe, na verdade), eu senti alguma coisa muito, muito pesada vindo de encontro com minha cara. Era o punho da minha ex.

Acordei na enfermaria algum tempo depois, e para minha surpresa, Juvia estava lá lendo um livro de biologia. 

— Você acordou! – disse Mirajane, a enfermeira. 

— Percebeu isso quando ele abriu os olhos? – Juvia revirou os olhos ao ouvir o que Mira tinha dito.

Eu estava tão zonzo que nem tinha percebido que a enfermeira já estava passando gelo no meu rosto. Meu corpo se arrepiou com o contato frio. 

— Então, Gray-kun, o que aconteceu com você? – ela me perguntou com sua voz angelical de sempre. 

Olhei pra Juvia, que mantinha o olhar fixo no livro. 

— Bom, eu...

— Ele caiu. – a azulada fechou o livro. – Ele tropeçou e caiu de cara. Eu vi a cena toda e o trouxe para cá.

— Minha nossa! E aconteceu mais alguma coisa? 

— Sim. – Lockser respondeu. – Eu ri um pouco antes de trazê-lo mas aí percebi que era era realmente sério. 

Eu estava calado em completo choque. Não acreditava que ela estava inventando essas mentiras e ainda debochando de mim. 

— De agora em diante, senhor Gray, você deve prestar mais atenção onde anda. Eu vou buscar os seus remédios e te dar alta. Ju, você pode ficar tomando conta dele mais um pouquinho? 

— Claro, Mira. – a azulada assentiu, vendo a albina sair do quarto.

— Por que inventou tudo isso? – perguntei.

— Por que não contou que eu estava mentindo? – ela rebateu. 

— Eu perguntei primeiro. – rebati também. 

— E quem disse que eu sou obrigada a te responder, senhor beijoqueiro? – disse, apontando pros próprios lábios, com raiva. – Eu cortei minha boca por causa de você e resolvi tomar um remédio mas você já estava aqui e resolvi fazer uma boa ação, por isso eu fiquei.

— Isso não faz o mínimo sentido. – eu ri. – Você consegue ser uma péssima mentirosa quando quer.

— Tudo bem. Eu planejava te deixar largado no chão, mas percebi que acabaria levando a culpa e decidi vir aqui pra abafar essa história. Não quero que esteja no meu registro escolar que eu soquei o presidente do conselho estudantil.

— Faz sentido. – eu disse.

— Além disso, eu te reconheci, Gary.

Abri um sorriso. Ela costumava me chamar assim quando éramos crianças. 

Foi numa tarde de sábado, estávamos fazendo maratona de Bob Esponja depois de passar a manhã inteira brincando no mar. Juvia era destemida enquanto eu era medroso como um gato, segundo ela. Como o Gary era o "gato" do Bob Espoja, a azulada fez esse trocadilho com meu nome.

— Espera, você não tinha me reconhecido em nenhum momento nesses dois anos? 

— Você voltou há dois anos? – ela parecia surpresa. – Eu só fui perceber que você existia hoje. 

— O quê? Mas eu tentei falar com você mil vezes desde que eu voltei e você me ignorou.

— Te achei chato e pronto final. – deu de ombros. Essa era a Lockser que eu conhecia. Não prestava atenção em nada que não envolvesse água, mar ou animais marinhos. 

Aproveitei o momento de recordações pra colocar meu plano em prática.

— Afinal de contas, o que você quer comigo? 

— Eu andei pensando em um projeto legal para a aula de DP e pensei em fazer um estudo profundo sobre com o ser humano reage ao amor. Existe uma fórmula correta para se apaixonar? Será que ir a encontros seguindo milhares de clichês é capaz de balançar o coração de alguém, mesmo que essa pessoa odeie o amor? Eu quero estudar cada fase que uma pessoa leva para se apaixonar. 

— E o que eu tenho a ver com tudo isso? 

— Você será minha cobaia. 

— Desde quando você dita as regras por aqui? – me olhou debochada.

— Desde que eu posso chegar na diretoria e contar a verdade de como meu olho ficou roxo desse jeito.

Juvia bateu com o punho na mesinha de cabeceira e eu fiz de tudo pra manter meu personagem e não mostrar que eu estava com cagaço.

— Você ficou abusado durante todo esse tempo, mas eu sei que você não tem coragem. – virou-se de costas.

— Vai lá, boa sorte com sua advertência. – eu disse, tentando disfarçar meu desespero.

— Obrigada. – me respondeu sarcástica.

— Se bem que... – continuei e ela parou. – Como eu sou o presidente do conselho estudantil, talvez a pena seja maior. Quem sabe uma suspensão não seria melhor nessa situação?

Juvia se virou com raiva e se sentou.

— O que eu tenho que fazer nessa droga de projeto?

Segurei um suspiro de alívio. 

— Quase nada, te juro. Tudo o que tem que fazer é seguir meus conselhos e ir a alguns encontros pra fazer coisas clichês. Em cada um deles, eu vou anotar o que você tá sentindo. Você não vai se afetar em nada.

— Porém vou perder meu tempo.

— Vai durar pouco tempo, juro. O prazo do trabalho é de um mês, então é só disso que precisamos. Juro juradinho. É isso ou a suspensão. 

— Eu aceito... – estendi minha mão pra firmar o negócio, mas Juvia não apertou ainda. –..se você me ensinar exatas. Geometria espacial não entra na minha cabeça. 

— Talvez seja porque você fica com a cabeça debaixo d'água por tempo demais. 

— Estamos aqui pra firmar um acordo ou pra você criticar minha forma de viver? – revirou os olhos. – Temos um acordo ou não?

— Estou com o braço erguido aqui há anos esperando você apertar. – falei e ela apertou minha mão. Ela continuava forte como sempre. 

Assim que saiu da enfermaria, Mirajane finalmente voltou e me explicou quais remédios eu deveria tomar, mas a única coisa que eu pensava era em como minha vingança estava começando a tomar forma. 

E aqui chegamos no momento atual, onde Lyon enchia meu saco mais uma vez. Pra falar a verdade, eu nem ligava quando ele me perturbava porque eu amava aquele pirralhinho até demais, só que dessa vez era diferente. Eu tinha que manter minha mente limpa pra poder arquitetar meu plano com calma. 

Subi pro meu quarto e puxei meu celular do bolso, entrando no instagram. Não me perguntem por que, mas eu seguia Juvia no instagram. Qual é, eu achava as fotos do mar legais. Essa é a verdade. 

Enfim, eu entrei na sua DM e mandei uma mensagem pra ela. 

 

@callmegray: espero que você não acabe amarelando e desista, rs.


@thepowbluegirl: lá vem... quando essa porcaria vai começar?


@callmegray: em breve.


@powbluegirl: e quem vai sair comigo, hein? se for você eu

desisto porque ninguém merece.

 

Senti uma pontada no coração mas segui em frente. Deve ser só uma crise mesmo. 


@callmegray: eu tenho tudo sob controle e não se preocupe, não serei eu. se fosse, você se apaixonaria em poucos minutos se fosse assim

@thepowbluegirl: nem você acredita nisso. 

 

Bloqueei a tela e comecei a me debater sozinho porque finalmente percebi que NÃO HAVIA PENSADO EM NINGUÉM PRA SAIR COM JUVIA.

Eu não podia amarelar agora e nem me oferecia pra ser o quebrador de corações, porque Juvia me dava arrepios, então precisaria ser alguém de confiança que pudesse ser um bom cafajeste.

Coloquei minha mente pra funcionar. O Natsu do time de futebol tinha acabado de começar a namorar com a Lucy do 2ºC. O Freed tinha fama de cafajeste, mas ele era Gay... de última opção tinha... Jellal. É isso! 

Meu melhor amigo era um nerd descarado mas também era um baita fuckboy. Eu só precisava convencê-lo a embarcar nessa comigo e em troca eu só precisaria lhe dar chocolate suficiente pra um mês inteiro.

Na manhã seguinte, cheguei na escola exalando confiança. Tinha acordado mais cedo, tomado um café da manhã incrível e feito algumas flexões na varanda de casa. Tá bom, eu só consegui fazer umas duas flexões, porque dei um jeito na coluna e tive que levar meu irmão na escola parecendo o Quasimodo. 

Vida: 1.000 vs Gray: 0.

Encontrei meu best friend curiosamente na frente da sala do conselho e ele parecia estar tendo uma discussão séria ali. 

— Ei! – acenei, vendo ele mudar de expressão. 

— Oi. – ele disse, se aproximando.

— Tudo bem, cara? 

— Fala logo o que você quer. Tá com cara de quem vai aprontar. – disparou. 

Soltei uma risada. Ele me conhecia tão bem. Não enrolei e fui logo ao ponto. Contei-lhe tudo e até mesmo lhe prometi uma barra de chocolate por dia durante um mês. Era tentador DEMAIS. 

— Eu não posso fazer isso, Gray. Por que você simplesmente não tem uma conversa séria com ela e pronto? Se vingar é infantilidade.

— Ai, credo. Eu só quero que ela sofra um pouquinho de nada. Além do mais, ela me deu um soco ontem. – apontei pro machucado no meu rosto. – Eu só tô te pedindo pra sair com ela e pronto. Ela mesma sabe disso. 

— Sei não... 

— Por quê? Tá ficando sério com alguém? – só teria um motivo pra Jellal negar chocolate e sair com uma garota bonita desse jeito.

— Talvez. – ele disse. – Mas não é por isso. Eu só... – foi interrompido porque o demônio vermelho saiu da sala do conselho batendo no ombro de nós dois. Ela deixou um dos livros cair no chão e Jellal a ajudou a pegar. A capeta nem agradeceu e foi embora logo sem nem nos olhar no rosto. 

— Educação mandou lembranças! – gritei. 

— Quer saber? – a expressão do Fernandes se tornou outra. – Que se dane. Eu aceito isso que você está propondo. 

— Isso! Assim que se fala! – comemorei. 

— Amanhã vou querer chocolate ao leite. – colocou a mochila nas costas e saiu andando. 

Hum, o caminho que ele tinha tomado era o mesmo que Erza Scarlet havia ido. Fiquei um pouco confuso, mas ignorei meus pensamentos ao finalmente me dar conta de que meu plano estava tomando forma.

Me aguarde, Juvia Lockser! 


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