Lunatic Lady escrita por Karina A de Souza


Capítulo 1
O Caos


Notas iniciais do capítulo

(A idiota aqui tá postando pela segunda vez por que teve que apagar a fanfic. Eu coloquei ela como TERMINADA, sendo que tem dois capítulos. *grito de raiva*)
Fiz umas pesquisas históricas pra essa fanfic (minha ex professora de história deve estar rindo no inferno).



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O Universo estava se transformando em puro caos. O Doutor podia lidar com isso. Ele vinha sendo o herói muitas regenerações atrás, salvando planetas, galáxias, todo o Universo, e até, inacreditavelmente, Gallifrey, aquela coisa avermelhada onde choveu fogo dos céus (não muito literalmente, mas os Daleks estavam lá, não estavam?).

O caos, todos sabiam, podia ser qualquer coisa... Bem, caótica. Normalmente era fácil ver algumas figuras sombrias o trazendo à tona num nível preocupante, como o Senhor do Tempo conhecido como Mestre, os Daleks, Cybermens, outras espécies que pareciam viver para guerrear e um humano ou outro.

“Como se inicia o caos?”, uns podem perguntar. Bem, há muitas respostas pra isso. Guerras, doenças, invasões, violência... Ou apenas determinação.

O Doutor levou um tempo para notar que estranhas alterações no tempo estavam acontecendo por todo o Universo, de maneira coordenada. Não era coincidência (isso sequer existe?), nem aleatório. De alguma forma, as alterações estavam sendo bem escolhidas e executadas. Nenhuma delas, de início, era grande. Mas, de pequenas alterações em pequenas alterações...

Quando o Doutor notou isso, largou rapidamente seu chá da tarde e partiu numa jornada para corrigir a situação.

Agora, você pode imaginar, se ele demorou tanto para notar as alterações, levou muito mais que alguns dias para achar o responsável. Ou melhor, a responsável.

Quando a encontrou pela primeira vez, o Doutor não fazia ideia de que era a mente por trás daquilo. Ele estava tentando convencer Napoleão III que era sim uma boa ideia dar um presente aos Estados Unidos (uma estátua gigante de uma mulher segurando uma tocha era um excelente presente) após uma batalha vitoriosa dos americanos contra a Inglaterra. Foi aí que ele a notou no canto do salão.

Enquanto todos pareciam indiferente ao homem de cabelos brancos e tagarela, uma garota estava sentada ali perto, observando. A mão esquerda apoiava o rosto, e ela fingia estar entediada, mas ele sabia que ela estava olhando-o, e prestando mais atenção do que deveria. Além disso, um detalhe chamou a atenção. O pulso direito, que repousava na mesa, perto de uma taça, estava coberto por um manipulador de vórtex.

—Onde arrumou isso?-Perguntou, se aproximando e apontando.

—Ora, onde você acha que se arruma um desses? Eu chutaria um mercado negro, oh eu adoro mercados negros. Você não?

—Está de passagem?

—É claro que estou. Já terminei aqui. Os Estados Unidos não vão ganhar sua preciosa e popular “Miss Liberty".

—Foi você. -Franziu a testa.

—Ah, finalmente. -Se inclinou para trás na cadeira. -Você é lento. Eu esperava que fosse mais... Eu não sei, mais alguma coisa. Algo bom. Acha que é a idade?

—O que você...

—Pense um pouco. Só um pouquinho. -Ele parou um momento, refletindo.

—Você. Você estava nos outros lugares. Nas alterações. Você estava lá.

—E...?

—Você fez as alterações.

—Ah, se existe mesmo algo divino ele me abençoou neste momento. Demorou tanto a perceber que pensei... “Ele não vai mesmo descobrir?”. Estava ficando decepcionada. -Se levantou.

—Não sei qual o seu plano, mas as alterações estão quase todas consertadas. Você não vai mudar a história.

—Mas eu mudei. Você vai ver que algumas não podem ser consertadas ou alteradas novamente, não sem o que já existe: caos. Além disso, há muito para acontecer. Eu ainda não acabei.

—Vai acabar mais cedo do imagina.

—Foi uma ameaça? Não surgiu efeito. Talvez se você desse mais ênfase... Não, acho que foi a escolha de palavras... Ou o conjunto completo. Bem, você pode ir treinando, caso nos encontremos novamente. Adoraria ver o que é capaz de fazer. -Começou a se afastar, mas parou. -À propósito, você pode me chamar de Pandora.

—Esse é o seu nome?

—Talvez sim, talvez não. -Deu de ombros. -Pode tentar descobrir se quiser. Até a próxima. -E mexeu no manipulador de vórtex, sumindo em seguida.

***

Ele estava tentando achar a próxima alteração quando cruzou com Pandora novamente. Ela surgiu de repente, coberta de vermelho dos pés à cabeça.

—O que você fez?-Ele perguntou, recuando para longe dela. A garota sorriu.

—Ah, não me olhe desse jeito, não é sangue. É tinta. Eu pelo menos acho. -Murmurou. -Bem, eu estive ocupada, obrigada por perguntar. Você faz ideia de quantos pintores famosos eu encontrei hoje? Bem, eles não serão mais históricos no futuro, por que... -Se aproximou, abaixando o tom de voz como se fosse contar um segredo. -Parece que alguém matou todos eles. Impressionante, não é? Parece que foi planejado... Espera, e foi!-Riu, se afastando dele. -Oh, eu já ia me esquecendo. Preciso parabenizá-lo. A ideia de colocar um sósia daquele cantor morto no lugar dele foi excelente. Eu não teria pensado nisso. Ouvi dizer por aí que isso acontece mais do que se imagina.

—Esse é o seu plano para trazer o caos? Matar alguns pintores, convencer um rei a não dar um presente, queimar um vestido, sumir com um cantor de uma banda...

—Oh, não, não, você não entendeu nada! Eu vou trazer o caos. Essas coisas, essas pequenas coisas, são o começo. É mexendo em detalhes que se muda a história, você devia saber isso. Estou ficando desapontada de novo, você estava indo tão bem... Só um pouco lento, e não lá muito eficiente, mas sei que está dando seu melhor. -Tirou um fio solto do casaco dele. -Eu preciso ir agora, um banho é necessário. Olha a bagunça que eu fiz. -Olhou para si mesma. -Pense no que eu te disse. Talvez, quando nos vermos de novo, você vai ter entendido.

—Espere...

Mas ela sumiu antes de ouvi-lo.

***

—Vai parecer estranho, mas estou feliz em vê-lo. -Pandora disse, sorrindo.

O Doutor a encontrou numa salinha abafada em Roma. A janela estava aberta, mas o vento parecia relutante em entrar ali. A garota estava sentada no meio do quarto em frente à uma pequena mesa quadrada, onde um tabuleiro de xadrez repousava num jogo já iniciado. Havia uma cadeira do lado contrário, mas seu ocupante tinha caído no chão numa posição que alguém consciente não escolheria.

—Quer jogar essa partida?-Pandora perguntou. -Não conseguimos terminar.

—Você matou um Papa?-Olhou para o morto, então para ela.

—Ele ia morrer mesmo, e acabou de começar seu... Mandato? Espera, talvez não seja esse Papa em questão. Bem, todos morrem um dia. Quer jogar?

—Você desconhece limites.

—O que são limites? Oh, você tem razão, eu desconheço. -Olhou para o corpo no chão, então para ele de novo. -Você acredita em alguma coisa? Eu acredito no Universo. Acredito que ele é consciente, que nos pune ou presenteia quando quer. E que ele nos fez. Algumas pessoas ele faz para o bem, para a paz, para serem heróis. Como você. Outras, ele faz para o caos.

—Como você?

—Ah, não. -Riu, assumindo uma expressão sombria em seguida. -Eu sou o caos. Lembre-se disso se quiser continuar.

—Continuar o que?

—A correr atrás de mim tentando me impedir. Eu sabia que você viria em algum momento, e, sinceramente, não me importo. Mas se você achar que isso é uma brincadeira de criança, ou que estou te distraindo ou fugindo de algo ou de você, vai me deixar muito ofendida. E não é uma boa ideia fazer isso.

—Eu vou parar você.

—É tão fofo o jeito como você acredita nisso. Nunca teve vontade de não ser o herói? De fazer algo errado quando ninguém estava vendo? Nunca pensou em como seria se fosse o vilão? Eu ouvi por aí que você tem uma regeneração maléfica, Doutor. Um Doutor do Mal. Eu gostei disso. Imagine se tivéssemos uma aliança? Ah, seria tão divertido... É uma pena justo a regeneração boazinha ter me achado. -Se levantou, empurrando o tabuleiro para o chão. -Acho que você não quer jogar.

—Você não precisa continuar com seus planos...

—Esse é seu jeito de convencer os vilões?-Suspirou. -Agora entendo por que eles nunca ouvem você. Bom, minha agenda está bem cheia. Até a próxima!-Desapareceu.

***

Ele não a reconheceu imediatamente quando a viu de novo. Palácios egípcios não costumavam ser excelentes em iluminação, e pelo que ele pode ver, a mulher que se aproximava passaria despercebida em qualquer lugar naquele lugar e naquele tempo. Uma perfeita egípcia. Uma peruca curta e negra com pequenos enfeites, um vestido longo e branco, um colar simples... Mas era ela. Pandora.

—O que você fez agora?-Ele perguntou. Ela parou de andar, o rosto sério como se algo tivesse acontecido.

—Que bom que você chegou. Alguém colocou veneno no vinho da Nefertiti. -Abriu um sorriso. -Acho que fui eu!

—Você...

—Eu estava bem indecisa sobre isso. São tantas possíveis vítimas. Pensei na Cleópatra. Sabemos que ela gosta de um veneno, mas seria preciso calcular bem a sua morte para um momento em que isso seria uma ruína e tanto. Achei melhor deixá-la com suas cobras. Ramsés II também estava na minha lista. E Nefertari. E... Bem, levaríamos um tempo para listar todos. Então eu ouvi sobre sua amizade com Nefertiti e ela foi a escolhida. Devo admitir que não sei muito sobre ela e não calculei bem os impactos do adiantamento de sua morte, mas aqui estamos nós, enquanto Nefertiti engasga em seus aposentos por causa do veneno e morre lentamente. Parece... Bem adequado pra mim. Você não acha?

Mas o Doutor não respondeu, passando por ela como um raio, correndo para longe, na esperança de impedir aquela morte. Seria a primeira desde que começou a caçada para impedir o caos. Ele tinha que fazer isso.

—Então isso é um até mais, Doutor!-Pandora gritou, vendo-o se afastar. -Nos vemos por aí!-Começou a mexer no manipulador de vórtex. -Se você me achar...

***

—O que acha, Doutor? O Reino Unido tem um presidente!

O Senhor do Tempo fechou a porta da TARDIS e se aproximou de Pandora, enquanto ela observava o Palácio de Buckingham ser demolido.

Dessa vez ela usava um blazer cinza combinando com uma calça e sapatos da mesma cor. Nas ruas de Londres, ou de qualquer outra cidade grande, ela poderia muito bem se passar por uma mulher de negócios.

Pandora, ele tinha que admitir, era um camaleão.

—Alguém matou Elizabeth II e seu marido não rei na lua de mel e houve uma grande mudança no Reino Unido. A monarquia foi para o inferno. Tempos modernos, eu diria.

—O mesmo vale para o Brasil?

—Oh, então você soube?-Olhou pra ele. -Eu acho que um rei e uma rainha caem bem para aquele país tropical. Então mexi em uma coisa aqui e outra ali... E nunca houve um presidente naquelas terras. De nada, Portugal! Eles ainda mandam lá. -Explicou. -Nunca foram... Chutados pra fora.

—Eu sei! Eu sei exatamente o que você fez lá!

—Então esse é o reconhecimento. Adorável.

—Não, não, não fique orgulhosa disso.

—Mas eu estou. Sozinha, só hoje, derrubei uma rainha e coloquei outra no Brasil. Não é fantástico?

—Eu vou mudar isso.

—Mas não sabe como. Ou não estaria aqui agora, todo irritadinho.

—Ah, não. Você ainda não me irritou, não de verdade.

—Devo admitir que a ideia de ficar frente à frente com a famosa Tempestade Iminente me agrada muito.

—Pode se arrepender disso.

—Uh, é mesmo? Pois eu vou arriscar. -Mudou de posição, ficando frente à frente com ele.

—Não vai conseguir.

—Então deixe-me contar sobre coisas que você não sabe que fiz. Você já ouviu algo sobre O Dia do Milagre? Não se trata de um dia só, mas de algo que se estendeu por... Bem, eu não tenho uma memória tão boa assim. Um dia, as pessoas pararam de morrer. Simples assim. Dizem por aí que começou com um criminoso que estava prestes a ser morto por seus crimes. Ele era desprezível e todos queriam sua morte. Mas imagine a surpresa geral quando ele não morreu. As pessoas se tornaram imortais, mas os doentes e feridos pararam de se curar. Muitos ficaram presos entre a vida e a morte, agonizando sem nada que pudesse ajudá-los. Você entende que a Terra é limitada. Não é como aquela bolinha verde na esquina do Universo que se adequa ao número de habitantes. A Terra tem limites. Agora imagine se ninguém mais morre. Isso aconteceu bem aqui, no seu adorado planetinha azul.

—Você...

—Ninguém entendia o que estava acontecendo. Bênção? Maldição? Bem, acharam que era a primeira opção, pelo menos, é assim que foi chamado. Mas lembre-se... Recursos limitados. Alguém, que possuía muitas más intenções, sussurrou nos ouvidos certos e o governo tomou uma decisão: levar os doentes e feridos para... Lugares específicos feitos por eles e para essas pessoas. “Onde está a coisa ruim nisso?”, você pode perguntar. Bem, acontece que o governo não queria cuidar dessas pessoas... Eles estavam matando-as. Colocaram-nas em câmaras e as queimaram.

O Doutor recuou.

—Você fez isso.

—Fiz. -Afirmou. -Pode me dar os créditos, sou um gênio do mal. Mas devo admitir que a ideia no geral não era essa. Eu trouxe o ser que concedeu o milagre à Terra. Meu plano era lotar o planeta e ver o que acontecia. Mas então surgiu algo muito melhor. Morte em massa. Está se sentindo irritado agora? Onde você estava quando isso aconteceu? Hum? Se exibindo para os seus bichinhos humanos? Se eu estou certa, você estava na regeneração anterior. O cara esquisito que andava com um casal sem graça. Valeu à pena ignorar o planeta ruindo enquanto passeava aí com eles?

—Você. Não. Sabe. De. Nada.

—Eu não sei?-Ela riu, se afastando enquanto ele se aproximava. -E sobre seus queridos humanos dando crianças de graça para alienígenas hostis? Alguém contou à eles que os filhotes humanos eram as drogas que eles precisavam e eles vieram buscar. Na primeira vez não houve nenhuma hesitação. Entregaram um bando de órfãos e deram tchauzinho enquanto iam embora. Não deu certo da segunda vez, mas acho que os primeiros pirralhos foram bem aproveitados. Uh, você está muito bravo agora, não está? Nem te contei a melhor parte...

—Chega...

—Da primeira vez não encontraram ninguém que tivesse coragem para entregar as crianças no local combinado. Mas então eles procuraram bem e encontram a pessoa perfeita.

—Você.

—O que? Não. Mas você conhece muito bem essa pessoa. Ele foi seu companheiro por um tempo. -O Doutor parou. -Jack Harkness. Seu amigo imortal. Consegue imaginá-lo levando pobres órfãos para uma abdução? Olhe só o que você faz com seus amigos, Doutor. Um deles está perdendo a humanidade. Quão culpado você acha que é sobre isso?

—Você não sabe de nada sobre isso. -Voltou a andar na direção dela.

—Você está errado. Pense nos fins trágicos que seus amigos tiveram. Eu mereço crédito por alguns. Bem, talvez não o pela loirinha que sumiu para outra reali...

—Chega!-Agarrou os pulsos dela. Pandora parou por um segundo, analisando o que fazer, mas cancelou seus planos quando o viu franzir a testa, confuso. -Você tem duas pulsações diferentes. Dois corações... -Se calou por um momento. -Você é uma Senhora do Tempo.

—Okay, você me pegou. -Se afastou, soltando-se dele. -Eu pensei que demoraria um pouco mais para descobrir. Surpresa!

—Quem é você?

—Eu me apresentei da outra vez, lembra? Pandora. O caos em carne, osso e beleza. Está com a memória ruim, Doutor?-Se afastou mais um pouco. -Nos vemos por aí.

***

—Eu... Eu não sei se é a melhor estratégia... -O homem aos pés da cama dizia. -As chances de vencermos são...

—Você disse que faria qualquer coisa que eu pedisse. -A mulher olhou pra ele. -Ou não é verdade?

—Era, era sim. Mas... Declarar guerra contra nossos cinco reinos vizinhos... Ao mesmo tempo...

—Você disse que possuía o mais poderoso exército de Canaã. Estou certa?

—Está.

—E por que está com tanto medo?-O homem ajeitou a postura.

—Eu não estou com medo. Reis não tem medo...

—Então você não é um rei. -O chutou para fora da cama e se aproximou da beirada. -Não merece usar essa coroa, nem ter uma rainha. Não se temer cada batalha que se aproxima. Mas você vai fazer o que eu disse, não vai?

—Tudo bem, eu não esperava isso. -Os dois olharam na direção da voz. O Doutor estava na porta, de braços cruzados. -Está tentando seduzir um rei para fazê-lo começar uma guerra?

—Pensei em fazer do modo divertido. -Pandora se ajeitou na cama. O vestido vermelho era bem leve, e havia adornos dourados em seus cabelos. Ela parecia uma serpente pronta para atacar, assim que se aproximasse o suficiente da próxima vítima.

—Não parece estar dando certo.

—E não precisa. -Se virou para o rei, encarando-o nos olhos. -Vá até seu general e diga a ele que estamos em guerra contra os cinco reinos vizinhos. Não vão parar até chegar ao fim. Estamos em guerra.

—Estamos em guerra. -Repetiu, hipnotizado.

—Agora vá.

O rei levantou, se afastando para fora do quarto, repetindo o que Pandora tinha lhe dito.

—Por essa você também não esperava, não é?-Perguntou, jogando os cabelos castanhos por cima do ombro. -Parece surpreso.

—Eles nunca vão ganhar. Não contra cinco reinos ao mesmo tempo.

—Não é problema meu.

—Você realmente parece acreditar nisso. Um dia, vai causar um caos tão grande que ele afetará você. Vai ter que lidar com as consequências disso.

—Ah, não. Eu não vou, não. -Ele se virou e saiu do quarto.

—Você não é a única com truques.

—Doutor, volte aqui!-Saltou da cama e correu atrás dele, segurando a saia do vestido para não tropeçar. -Doutor! Você não vai atrapalhar meus planos!

Mas ele tinha. O rei hipnotizado agora estava caído no fim do corredor, meio sentado contra a parede. O Doutor estava ao lado dele.

—Acho que seu rei não vai dar mais nenhuma ordem de guerra.

—Ah, seu trapaceiro. -Apontou pra ele. -Você acha que vai ficar por isso mesmo? Eu não preciso de um rei, não quando sou uma rainha. General!-Gritou. Um homem alto e fortemente armado surgiu no corredor e fez uma rápida reverência em frente à Pandora. -Convoque seu exército. Estamos em guerra contra nossos cinco vizinhos e não vamos parar até que tudo chegue ao fim.

—Não vamos parar até que tudo chegue ao fim.

—Exatamente. Vá e prepare seu exército, a guerra começa hoje!

O homem fez outra reverência e sumiu rapidamente pelo corredor. Pandora se virou para o Doutor, sorrindo.

—Prontinho. Sinta-se à vontade para tentar parar um exército inteiro se quiser.

—Eu já parei muito mais do que isso.

—É claro que sim. Mas como fará isso enquanto aguarda seu julgamento?

—O que disse?

—Guardas! Guardas!-Quatro soldados se aproximaram. -Esse homem atentou contra a vida do rei. Prendam-no e preparem a forca. Um traidor desse merece apenas a morte!-Se aproximou do Doutor, abaixando o tom de voz. -Eu daria uma rainha e tanto, você não acha?-Se afastou. -Levem-no! Eu tenho outros planos agora... -Começou a se afastar.

—Pandora!

—Até mais, Doutor... Ou não.

***

Sentada naquele trono e usando uma coroa, Pandora parecia terrivelmente familiar, mas o Doutor não conseguia saber quem ela o lembrava. Alguém perigoso e astuto, com certeza.

—Gostei tanto da experiência anterior que decidi me tornar Rainha da Escócia. -Ela contou, enquanto ele se aproximava.

—O que fez com a rainha?

—Eu sou a rainha. -Apontou para a coroa. -Não ficou claro?

—O que fez com sua antecessora, Mary Stuart?

—Bem, ela nunca chegou a se tornar rainha com seis dias de idade. Você se surpreenderia ao saber como é fácil se livrar de um bebê.

—O que você fez?

—Ah, não me olhe desse jeito. -Balançou sua taça. -Eu apenas a enfiei num cestinho e deixei numa porta aleatória. Imagine Mary Stuart crescendo como uma simples... Camponesa. Nada de uma vida na França, nada de se casar com Francis II e nem de ficar viúva pouco depois. Ela não vai morrer decapitada à mando da prima, Elizabeth I, mas sabe como é a estimativa de vida dos camponeses. Oh, Elizabeth I não é uma das suas esposas? É bom tomar cuidado com ela, ouvi que adora arrancar cabeças. Uma mulher e tanto. Muito inspiradora.

—O que vai ganhar sendo rainha?

—O que eu quiser. A Escócia é minha. Se eu tirar a prima Lizzy do caminho... A Inglaterra também é minha. Não me diga que não é um bom plano.

—Não é. Assim como o anterior. Seu rei perdeu a guerra. O reino foi destruído.

—Minha intenção nunca foi que eles ganhassem. Eu sou boa estrategista, poderia começar uma guerra e vencer. Essa não era para ser uma vitória. Era para ser um banho de sangue. -Se levantou do trono, deixando a taça de lado. -Se há algum placar rolando, eu certamente estou ganhando, muito mais à frente do que você imagina. Tem me encontrado apenas aqui na Terra, mas e quanto ao caos lá fora? Eu explodi um planeta mudando apenas a rotação dele e você nem estava lá pra ver. Há muito para tentar consertar e você não consegue. Está lento, velho e sozinho. -Parou na frente dele. -Tem sido uma experiência e tanto, mas vou perdoá-lo se quiser desistir.

—Eu não vou. -Parou um momento, observando-o atentamente.

—Deixe-me mostrar uma coisa...

—Se é mais um dos seus planos...

Veja. -Agarrou o rosto dele com as duas mãos, então imagens o invadiram a mente dele.

Pandora não era apenas o caos, e não tentava trazê-lo para o mundo... Ele estava na mente dela, uma mistura de coisas que ninguém devia ter em sua cabeça, algo que o deixou desnorteado, mesmo quando ela o soltou, quebrando a conexão.

—Você acha que pode competir com isso, Doutor?-Sussurrou. -Eu não acredito que pode.

Ele fechou os olhos, tentando limpar sua mente, e quando os reabriu de novo, Pandora havia sumido.

***

—Decidiu tirar férias?-O Doutor perguntou, se aproximando. -Posso sugerir alguns lugares.

—Posso considerar férias depois de completar todos os meus objetivos, mas não antes.

—Qual é o plano?-Cruzou os braços, olhando para Pandora, sentada naquela espreguiçadeira, vestindo um maiô vermelho e usando óculos escuros. A praia era, em parte, um holograma, não havia água nenhuma lá há muito tempo. -Você vai causar caos o suficiente para o Universo entrar em colapso e depois se auto destruir. É isso? E depois? O que você vai fazer? Vai se destruir com ele, com todos nós.

—Exatamente. -Ele parecia confuso agora.

—Você vai morrer como todos no Universo.

—Eu sei.

—Esse é o seu plano? Caos e suicídio? Eu estava começando a achar que você era esperta.

—Ah, por favor. -Olhou pra ele. -Nem todos querem viver para sempre. Eu posso me contentar em ser a destruição do Universo. E se há uma vida depois dessa, acredite, vou fazer tudo de novo.

—Você ainda pode parar. Não precisa continuar.

—Mas eu quero. Ou não estaria fazendo isso. -Se levantou. -Eu quero acabar com o Universo, e eu vou. Você não sabe como me impedir, sabe? É por isso que tenta me convencer...

—Eu estou te dando uma chance. E depois, se não aceitar, realmente vou parar você.

—Então se prepare pra isso, por que eu não vou parar. -Vestiu um sobretudo e começou a se afastar.

—Eu sei quem é você.

—Eu te disse quem eu sou. Não é novidade.

—Acho que não entendeu. Eu sei quem é a sua mãe. -Ela parou de andar, mas não se virou. -Demorou um pouco, é verdade. Mas eu descobri. Essa fixação por destruir coisas, a mania de grandeza, sua determinação... A resposta estava aí desde o começo. Missy é a sua mãe.

Pandora levou um tempo até se virar, e quando o fez, tinha duas armas em mãos e o Doutor não fazia ideia de onde elas surgiram.

—Duas armas para os seus dois corações. -Disse, não havia nada além de irritação ali. Ela tinha sido descoberta e detestou isso.

—É verdade, não é? Eu pensei que conhecia todos os filhos dela, mas aí está você, uma surpresa.

—Essa surpresa vai matá-lo, Doutor.

—Você a conhece pessoalmente, sua mãe? Missy não criou todos os filhos, mas lembra de cada um deles. Eu sei onde ela está.

—Ela desapareceu.

—Para alguns, sim. Mas Missy está comigo. Presa, e bem. Você quer conhecê-la?-Pandora assentiu. -Eu posso levá-la até ela.

—Se isso for um truque... Eu vou matá-lo.

—Eu sei. -Estendeu a mão. -Suas armas não estão convidadas.

Pandora hesitou um momento, parecendo indecisa, mas largou as armas e aceitou a mão estendida.

***

Missy estava tocando piano quando a porta abriu, revelando seus visitantes. Ela continuou tocando, alheia ao que estava acontecendo. Foi o suficiente para Pandora observá-la. Ela tinha ouvido sobre cada regeneração conhecida do Mestre, e sobre essa encarnação feminina dele: Missy. Mas, como se por ironia do destino, ou não, ela nunca tinha encontrado nenhum deles.

A música parou de ser tocada e Missy ficou de pé, se virando. Pareceu surpresa por alguns segundos, mas ela sabia se recompor como ninguém.

—Você veio. -Disse.

—Então essa é você. -Pandora comentou. Ela não nunca soube como imaginar a mãe, e agora não precisava mais, ela estava bem ali na sua frente, em suas roupas roxas e incomuns. -Olá, mãe.

—Oh, você realmente cresceu. -Se aproximou. -Eu lembro que você era uma coisinha pequenininha com olhos espertos. É difícil associar à mulher na minha frente.

—É uma coisa ruim?

—Não, acho que não. Você cresceu e está tão linda. -Fez uma pausa. -Eu posso te abraçar?

—Não sou uma pessoa de abra... -Mas Missy já estava a abraçando, e logo em seguida se afastando, um pouco embaraçada.

—Estou feliz em vê-la.

—E vai ficar ainda mais. -Então tirou a chave de fenda sônica do bolso (uma coisa escura e de aparência hostil) e disparou na direção do Doutor, que caiu inconsciente.

—O que você fez?

—O que você acha?-Olhou para a mãe, abrindo um sorriso. -Eu vim te resgatar!

***

—Você fez tudo isso?-Missy perguntou, vendo os papéis que estavam na mesa, eram os planos de Pandora.

—E há muito mais para ser feito. Você é bem vinda se quiser me ajudar. -Se sentou atrás da mesa. -Está fazendo isso há mais tempo que eu. Na verdade, eu me inspirei em você. Ouvi que não muito tempo atrás você fez o Doutor correr por aí aprontando algumas coisas pelo caminho, mas não foi bem sucedida e ele não estava interessado. Nós somos boas oponentes pra ele, e juntas, somos muito mais do que isso. O que acha? Você pode acrescentar algumas coisas ao plano.

—Pandora... É inegável que você tem o dom obscuro da maldade. Seus planos são muito bem planejados e, até onde posso ver, muito bem executados.

—Obrigada.

—Mas talvez devesse reconsiderar.

—Reconsiderar?-Ergueu uma sobrancelha, enquanto a outra se movia para encará-la.

—Seus planos, se você continuar assim, vão causar a destruição do Universo.

—Eu sei, esse é o objetivo.

—Mas não deveria. Você é tão esperta... Há tanto que pode fazer...

—Está mesmo me dizendo isso? Você, a mesma pessoa que destruiu mundos inteiros e os viu queimar? Que dominou a Terra por um tempo e...

—Eu fiz essas coisas. No passado.

—Sério?-Se levantou. -Uns tempos num cofre, como um bichinho do Doutor, te transformaram nisso? Numa...

—Numa o que?

—Você não é quem eu achei que era. Pensei que ficaria orgulhosa...

—É por isso que fez todas essas coisas? Para me orgulhar?

—Não! Eu fiz isso por que queria fazer! E ter a aprovação da minha mãe era só um bônus. Mas olha pra você... Se tornando... Boa. Está arrependida das coisas que fez, das que destruiu?

—Pandora...

—Eu devia tê-la deixado naquele cofre. -Missy assentiu.

—Devia. Devia mesmo. -Saiu do escritório.

Pandora voltou a se sentar, cobrindo o rosto com as mãos. Isso não estava nos planos dela. Reencontrar a mãe devia ser útil nos seus planos. E conhecer Missy era algo que ela queria há muito tempo. Ela cresceu pensando nela como uma inspiração, e de repente a mãe não sentia orgulho dela e sim... O que? O que Missy sentia?

—Você não vai arruinar meus planos. -Murmurou, respirando fundo para espantar suas emoções repentinas. Ela não era uma garotinha e não ia chorar. Não ia.

Um aparelho no canto da mesa apitou insistentemente. Pandora estendeu o braço e ligou a tela, vendo imagens das câmeras que estavam vigiando seu esconderijo. Ela tinha sido encontrada, estavam vindo pegá-la. Levantou, pronta para arrumar as coisas e fugir, mas congelou.

Missy, saindo do esconderijo, deu de cara com os invasores. Pandora não conseguiu ver se a mãe disse alguma coisa, mas de repente estavam atirando nela.

—NÃO!

Saiu da sala, deixando os planos para trás, sendo que eles sempre foram suas prioridades. Lá na frente, no corredor, viu a Missy trancar a porta, cambalear e cair, ferida.

—Mãe!-Se abaixou ao lado dela. -Não, não, não... O que eles fizeram? Não...

—Eles vieram por você. -Sussurrou. -Estão prontos para matar uma Senhora do Tempo. Você tem que ir.

—Você está ferida.

—Não. Eu estou morrendo. Dessa vez parece sério. Sem mais regenerações.

—Mãe...

—Vá embora. E pense no que eu disse sobre reconsiderar. Você não precisa destruir o Universo para me deixar orgulhosa. Vá.

—Não, não... E-eu posso lidar com eles. Vou matá-los, cada um deles, vou destruí-los...

—Quer mesmo me deixar orgulhosa? Não os mate. Apenas vá.

A porta abriu com tudo, deixando Pandora ter uma boa visão dos homens e de suas armas grandes e pesadas. Ela olhou para Missy uma última vez... E ativou o manipulador de vórtex.


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Notas finais do capítulo

Tem uma história ilustrada chamada Dr. Twelve (se eu não me engano) narrada pela Michelle Gomez (Missy), que me deu uma pequena ideia para essa história, e foi referenciada aqui.
Há referências de Torchwood, quando Pandora fala das crianças entregues aos aliens e o Dia do Milagre (terceira e quarta temporada, respectivamente).



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