Evelyn Brown e a Marca Perdida escrita por BestBlondAndBrunette


Capítulo 6
Capítulo 6




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O meu corpo suava. Tudo à minha volta parecia consumido em chamas. Para onde quer que me virasse, não encontrava uma saída. Estava completamente em pânico. Os meus pés não saiam do sítio e o fumo tornava-se mais denso, dificultando cada vez mais a minha respiração. Um grito terrificante cortou o ar e uma figura desfocada surgiu através das labaredas.

— Acorda! - chamou uma voz ao longe, mas eu não conseguia desviar o olhar da criatura que se aproximava de mim. - É só um pesadelo! Abre os olhos!

O ser lançou-se na minha direção e senti o meu corpo ser projetado para trás.

...

Sento-me violentamente, buscando por ar. Lágrimas caiam dos meus olhos involuntariamente. Senti um par de mãos tocar-me no braço.

— Hey, hey, hey. Está tudo bem. Estás segura. - a mesma voz amparou-me.

Virei-me. Ao meu lado, Aaron usava uma t-shirt cor-de-laranja e umas calças de ganga escura. O cabelo loiro parecia mais curto e penteado. Tinha uma cicatriz na lateral da face, que percorria desde junto ao olho até ao lóbulo da orelha. 

Os seus olhos verdes encaravam-me preocupados. Afastei-me instintivamente e sequei rapidamente um pequeno rasto de lágrimas.

— Tu não és o Aaron. - constatei, cobrindo-me com o quente cobertor castanho.

Notei de imediato que as roupas que vestia não eram minhas. Uma camisola cinzenta de manga comprida acima do meu tamanho tapava-me o braço direito que parecia dormente e, em vez das minhas calças, senti o tecido fino de uns calções largos. Notei uma pressão na perna e, quando espreitei debaixo dos lençóis, notei que estava enfaixada.

O estranho abriu um sorriso divertido.

— Pronto! Mais uma rapariga bonita atrás do meu irmão! - riu. - Por este andar, vou morrer solteiro!

Ergui uma sobrancelha face ao seu comentário e esperei por mais informações. 

— Bem, já vi que alguém não aguenta um pouco de humor! 

Continuei calada e ele apontou com a cabeça para a cortina, movendo-se para perto da mesma, abrindo-a ligeiramente. Coberto com algumas faixas, um Aaron dormia pacificamente.

— Ele sempre teve uma queda para o heroísmo. - comentou, pegando num copo que estava sobre a cabeceira, estendendo-mo. - Vais te sentir melhor se beberes isto.

Agarrei o copo, analisando a mistura verde aguada. Torci o nariz, estranhando, no entanto levei-a aos lábios. Senti-me em casa. Era como se estivesse a me deliciar com um dos waffles da minha mãe. Trouxe-me uma sensação imediata de conforto.

— É néctar. - explicou o desconhecido. - É a bebida dos deuses. Em pequenas quantidades, acelera o processo de cura dos semideuses.

— Estou no acampamento? - questionei, pousando de lado o copo vazio.

— Sim. - confirmou, sentando-se na cama onde estava deitada, ao mesmo tempo que me encostava na sua cabeceira. - Bem-vinda, já agora. O meu nome é James. Sou o gémeo inteligente daquele ali.

Fiquei um tanto surpreendida pela revelação. Não sabia que Aaron tinha um irmão gémeo.

— Quanto tempo é que fiquei a dormir? - inquiri.

— Estás desacordada à cerca de meio dia. Quatro empusas não é brincadeira nenhuma. Conseguimos extinguir o veneno antes que alastrasse para além da perna, mas, ainda assim, tens de ter cuidado nos próximos dias. Tiveste sorte da Sarah estar de vigia e ter reparado no fogo. 

Não fazia ideia quem era Sarah, mas deixei o assunto de lado.

Olhei em volta procurando o sátiro, que não se encontrava em nenhum canto do cómodo.

— O Thíaso? - perguntei apreensiva.

— Ah! Não te preocupes, ele foi só almoçar. Passou a noite toda preocupado com vocês. Tive que o obrigar a ir comer com a ajuda da Valerie.

Assenti com a cabeça face à sua explicação. Não sabia realmente o que dizer.

James ofereceu-me um sorriso confortante.

— Tens ali roupas lavadas. As tuas antigas, bem, não ficaram em grande estado. - informou-me, levantando-se. - Assim que te sentires bem, tenta sair um pouco. Tem só cuidado com a perna. Já peço a alguém para te ajudar a orientar, vou só ver como é que estão os outros pacientes.

Observei a sua figura desaparecer e finalmente prestei atenção a onde estava. Parecia um espécie de enfermaria, com as camas separadas por cortinas brancas. O cómodo no geral tinha um aspeto um pouco rudimentar. Fazia lembrar uma cabana, com paredes e teto de madeira. 

Levantei-me e tratei logo de fechar a cortina. O néctar que James me dera parecia estar a sortir efeito, pois a dormência do meu braço já era quase nula, assim como a dor da minha perna que já se tornava suportável. 

Vesti depressa uma t-shirt laranja igual à de James, com o símbolo de um pégaso, acompanhado pelas palavras Acampamento Meio-Sangue  em preto. Segurei no par de calções de ganga escura torci o nariz, era mesmo necessário esta roupa?

— James! - chamei.

— Está tudo bem? - ouvi a sua voz, antes de ver a sua face espreitar entre as cortinas.

— Ahm... - comecei um pouco desconfortável, tapando as minhas pernas. - Por acaso não me consegues arranjar umas calças?

— Está muito calor lá fora, mas, se quiseres, posso perguntar a uma das minhas irmãs a ver se se alguma coisa arranja.

— Obrigada. - agradeci sinceramente, ao vê-lo fechar a cortina.

Senti-me grata por James não fazer perguntas. Ele tinha desconsiderado por completo a enorme cicatriz na minha perna direita. A queimadura iniciava-se ainda no pé e subia pela perna acima até perto do joelho. Pertencia a um passado longínquo que eu não queria recordar.

Depois de alguns minutos a olhar para o ar, James chega com as bem-ditas calças. Na realidade, eram umas leggings simples de desporto pretas. Quando saiu novamente, tratei de vesti-las o mais depressa possível. Ao lado da minha cama estavam os meus ténis pretos. Enquanto os calçava, dois vultos apareceram no meu campo de visão. Notei um par de olhos castanhos a espreitar entre os véus.

— Evelyn! - exclamou Thíaso invadindo o espaço e apertando-me com os seus braços.

— Também é bom ver-te, Thíaso. - disse, abraçando-o de volta.

Uma tosse forçada captou a minha atenção.

À minha frente, uma rapariga encarava-me fixamente. Era portadora de longos cabelos encaracolados cor de chocolate, combinando com os seus olhos avelã. A sua pele mulata conferia-lhe um certo charme. Era alta e com curvas que se destacavam sob a t-shirt e calções que usava.

— Pregaste-nos um grande susto, Evelyn. - contou Thíaso. - Quanto te encontraram estavas em péssimo estado. A tua respiração estava bem fraca e tinhas perdido muito sangue, a tua perna estava horrível. Os restantes campistas afugentaram as empusas. Ainda somos muitos por aqui. Além disso, - uma expressão triste tomou-lhe a face. - uma parte da floresta ficou destruída. Nós, sátiros, e os filhos de Deméter e Perséfone já iniciamos um projeto para restaurar essa pequena parte. O estrago não foi assim tão grande e não houve muitos animais feridos.

— Ainda bem. - respondi. Ficou tudo bem pelo menos.

Thíaso olha para o grande relógio na parede e faz uma pequena careta.

— Eu tenho uma reunião agora com o conselho, Evelyn. Valerie, podes levá-la à cabana de Hermes? O Quíron não podia falar com ela agora, tinha um assunto a tratar.  - pediu o sátiro.

— Ahm, eu queria ficar aqui à espera que o Aaron acordasse. James disse que devia estar quase. - respondeu a rapariga, com um sorriso forçado. - Mas acho que vi o Liam Miller lá fora. Talvez ele possa ajudá-la.

— Ah, sim, sim. - disse o ruivo. - Avisa se precisarem de alguma coisa.

Assim que saímos pela porta, não pude conter a curiosidade.

— Quem era aquela?

— Ahn? - perguntou Thíaso um pouco distraído, fazendo-me revirar os olhos. - Oh! A Valerie. Ela é uma grande amiga de Aaron, filha de Nice.

— Nice? - questionei. Os meus conhecimentos sobre mitologia não eram assim tão vastos quanto queria que fossem neste momento.

— AH, claro. É a deusa da vitória. 

— Certo... Mas, Onde é que estamos exatamente? - questionei. - Aquilo era a enfermaria, certo?

— Sim! - exclamou o sátiro dando um saltinho de animação. Só agora é que tinha notado que as suas pernas de bode estavam descobertas. - Agora estamos na Casa Grande. É aqui que o Sr. D e Quíron costumam estar e também onde temos reuniões entre outras atividades mais importantes.

Assim que Thíaso abriu a porta para a rua, tentei não abrir a boca em espanto.

Do topo da colina, era possível observar tudo.

As primeiras peças que saltavam à vista eram os edifícios gregos que despontavam ao longo da paisagem. Uma grande arena de combate, um pavilhão ao ar livre e um anfiteatro reluziam com a luz do sol a bater no mármore branco. Mais perto da casa, aparecia um campo de areia com uma rede de vólei, onde era possível assistir adolescentes e sátiros a disputar uma partida.

Virei-me para o outro lado onde um pequeno rio que desaguava no mar corria. Vários pontinhos laranjas deslizavam por ele com grandes canoas. Perto dele, alguns miúdos praticavam arco e flecha num pequeno campo e próximo a eles, outros cavalgavam em cavalos normais e com asas.

— Liam! - exclamou Thíaso, captando a minha atenção.

Ele acenava para um rapaz que parecia prestes a descer a colina. Estava vestido com a mesma t-shirt laranja que eu, o que presumi ser algum tipo de uniforme. Assim como vários outros, usava uns calções por causa do calor que se fazia. Quase que me arrependia de ter trocado para as calças.

— Hey, Thíaso! - exclamou o rapaz subindo para a nossa direção. Vendo-o de mais perto calculei que não fosse mais velho que eu. Diria que tinha uns 16 anos, talvez menos. Possuía cabelos castanhos bastante curtos, orelhas um pouco pontiagudas e face alongada. A sua pele morena aparentava estar um pouco suada, devia ser por causa do calor ou do treino. As suas sobrancelhas eram um pouco arqueadas, salientando os olhos amêndoa ligeiramente rasgados.

— Liam, esta é a Evelyn Brown! - apresentou-me e o rapaz estendeu-me a mão em cumprimento, que eu aceitei.

— Ah! Já sei! Tu és a novata! - exclamou abrindo um sorriso maroto. - Liam Miller, filho de Hermes.

— Prazer. - respondi sem saber muito bem o que responder aquilo.

— Ela ainda não foi reclamada? - indagou Liam, arqueando uma sobrancelha para o sátiro.

— Não, por isso é que ficará na cabana de Hermes por enquanto. - respondeu o ruivo.

— Porquê na cabana de Hermes? - perguntei.

— O meu pai, além de ser o Deus dos mensageiros, comércio, médicos, viajantes e ladrões, acolhe qualquer um que usa estradas, por isso os indeterminados costumam ficar lá até serem reclamados.

— Ou seja, somente até sabermos quem é o teu parente olimpiano. Aí mudarás da cabana. - completou Thíaso. - Bem, eu tenho mesmo que ir. Liam, por favor, mostra o acampamento à Evelyn e ajuda-a.

— Sem problemas, menino-bode. Anda, Evelyn. - Liam puxou-me pelo braço. - Vamos aproveitar que os meus irmãos estão fora.

— Qualquer coisa é só vires aqui! - gritou Thíaso enquanto descíamos a vertente.

Por onde passávamos, várias crianças e adolescentes viravam para nos encarar. Tentei não mostrar muita timidez, levantando o rosto, mas tantos olhares estavam a pôr-me desconfortável.

— Eles estão apenas curiosos. Não é normal ver uma novata com a tua idade.

— Não pareces muito mais... - comentei

— Novo? - interrompeu-me Liam, com um sorriso de lado. - Tenho 16 anos, o que já é bastante para um semideus, mas estou aqui desde os 10. Sabes... perseguição de ciclopes.

Encarei perplexa o rapaz esguio que me conduzia entre campos de morangos. Será que toda a a gente, antes de vir para cá era atacada? Eu sabia que Aaron também tinha uma história...

As plantações estavam extremamente bem cuidadas. Era possível observar-se um verde reluzente e, entre eles, umas pitadas de um vermelho intenso. Caminhávamos entre as vias que funcionavam como separadores das várias colunas de cultura.

— Porquê um campo de morangos? - tentei mudar de assunto, fazendo-o rir.

— São feitas exportações para Nova York. O Sr. D ajuda muito nisso, já que os morangos ficam loucos na sua presença, crescem aos montes. Ajuda a pagar as despesas. - explicou.

Paramos abruptamente e senti-me a ser puxada para baixo, encostando-nos a um dos lados dos arbustos. Para um rapaz magrinho, ele era bem rápido.

— O que é que foi? algum monstro? - perguntei alarmada. Achava que o acampamento era seguro!

— Shiu! - exclamou, apontando para um grupo de semideuses. 

Espreitei por entre a folhagem do arbusto, virando-me ligeiramente para trás. A passar por um caminho muito perto de nós, três raparigas e dois rapazes marchavam claramente irritados. Além de terem em comum a famosa t-shirt, os seus cabelos exibiam um tom rosa vibrante. 

Conti um riso, com a minha mão. As suas caras estavam hilárias e sem dúvida que aquela cor lhes ficava a matar.

À medida que avançavam, pude notar o quanto os seus olhos pareciam estar consumidos pelas chamas. Algumas pessoas até se levantavam à sua passagem, para escaparem aquela fúria. Se não estivessem tão cómicos, talvez tomasse cuidado com eles. Além da postura agressiva, exibiam corpos grandes e encorpados. Pareciam ser feitos apenas de músculos. Quase que podia apostar que faziam competições entre si de levantamentos de peso, tanto os rapazes quanto as raparigas. 

— Foste tu que fizeste aquilo? - ri-me, enquanto os via desaparecer. Caminhavam para o sentido oposto ao nosso.

— Os filhos de Ares, só porque são filhos do deus da guerra, acham que mandam em tudo. Andavam a irritar-me à semanas, então eu e a Gisele deixámo-lhes uma pequena surpresa. Pena que foram só cinco, já que os outros ainda estavam a treinar. - esclareceu, acompanhando-me com um riso baixo.

— Gisele?

— Uma das minhas irmãs. - respondeu, sacudindo as pequenas ervas da sua roupa depois de se levantar. - Vais conhece-la daqui a nada. Uma pirralha de 12 anos.

A visita até às cabanas não demorou mais de uns minutos. Se eu tinha ficado surpreendida ao observar parte do campo, do topo da colina, então agora eu estava deslumbrada.

Imponentes cabanas, decoradas nos seus variados estilos, erguiam-se de modo sublime.

Eram todas diferentes, com um número a identifica-las, mesmo por cima da porta. Pareciam mais de vinte, talvez uns trinta e poucos,

— Cada cabana é para um deus. - descreveu Liam, dirigindo-se à cabana número um. - Algumas são honorárias.

— São imensas cabanas. - comentei encarando a primeira. Era bastante intimidante. Assemelhava-se a uma grande caixa de mármore branco. As duas grandes portas de bronze polido pareciam ter raios atravessados. - o deus Zeus? - adivinhei.

— Sim. - confirmou-me Liam, com um pequeno aceno. - Rei dos deuses e senhor dos raios. 

— Alguém vive ali? Parece que ninguém entra aqui à anos. - apontei, olhando atentamente para a entrada. Parecia estar empoeirada.

— Thalia Grace. É a única filha conhecida de Zeus, mas faz parte das caçadoras de Artémis. - Explicou Liam, passando à cabana dois - Nunca a vi. Está sempre com o grupo a viajar pelo mundo a caçar monstros.

À semelhança da primeira, esta cabana era feita de mármore branco maciço. Para decoração, vários pavões foram pintados à sua volta. Enroladas nas colunas, encontravam-se algumas flores e romãs.

— Como disse, algumas dessas cabanas são honorárias. A deusa Hera jurou fidelidade eterna ao seu marido, por isso não tem filhos. Porém, creio que ficaria bastante ofendida caso não tivesse uma aqui. É a deusa dos casamentos, da maternidade das mulheres. 

A cabana três era mais acolhedora, na minha opinião. Presumi ser de Poseidon, Deus do mar. A pedra cinzenta rústica era salpicada por pedaços de conchas e coral. Além de ser mais baixa, parecia ser um pouco mais pequena que as primeiras.

—  Aí também não entra ninguém à imenso tempo. Apenas um semideus viveu aqui, não sei se já ouviste o nome dele. Percy Jackson. - comentou o rapaz ao meu lado. Percebi uma espécie de brilho nos olhos ao dizer o nome de Percy.

— Conheceste-o? - inquiri. Não era a primeira vez ouvia aquele nome. Devia ser um semideus importante.

— Quem me dera. - respondeu. - Eles fez muito pelos semideuses. É graças a ele que ganhámos a guerra à cinquenta anos. Ele foi o escolhido pela profecia. No final da guerra, ele fez os deuses jurarem nunca mais abandonar os filhos, reconhece-los sempre, além de construir mais cabanas para os filhos dos deuses menores e  para os filhos de Hades.

— Uau. Ele parece uma lenda. - ergui as sobrancelhas um pouco espantada. Fazer os deuses fazer alguma coisa... Sei que tenho conhecimento deste mundo à pouco tempo, mas isso parecia-me algo muito sério.

— Ele é. - sorriu Liam, avançando para a cabana quatro. - Ninguém sabe onde é que ele está agora. A maioria da geração dele já morreu, talvez ele tenha morrido também. - Liam encolheu os ombros e prosseguiu a sua explicação.

Não foi muito difícil entender de quem eram as seguintes cabanas, uma vez que a sua decoração dizia tudo.

A cabana número quatro era de mármore escuro e castanhos, com grande tomateiros na paredes e rodeados por relva bem verde. Possuía algumas árvores bem perto, fazendo com que alguns galhos entrassem pelas janelas - deusa Deméter, deusa da agricultura e da natureza.

Passamos bem rápido pela cabana vermelha mal pintada. O telhado era forrado com arame farpado e, acima da porta central, estava pendurada uma grande cabeça de javali empalhada. Espadas e facões decoravam as paredes. Cheguei à conclusão que, além de agressivos, os filhos do deus da guerra também eram capazes de ser surdos, devido à musica barulhenta que se ouvia de dentro da cabana, apesar de estar tudo fechado.

A cabana de Atena, deusa da sabedoria, era bastante simples. O mármore era pálido e branco, ornado com grossas colunas torcidas em tranças e vários galhos da enorme oliveira.

Vi, com alguma surpresa, um trio de dois rapazes e uma rapariga, a tocar guitarra perto da cabana sete. Eram todos loiros de pele bronzeada, exatamente como Aaron, combinando com as paredes que pareciam de ouro sólido. A cabana brilhava tão fortemente que por momentos até pensei estar cega.

— Habituas-te passado um tempo. - riu-se Liam, enquanto eu piscava os olhos freneticamente, de modo a deixar de ver pontos negros. - Apolo sempre foi um deus bastante extravagante. Além de ser o deus do sol, da cura, da peste e do tiro ao arco, também é o deus da música. Todos os filhos dele que conheço tocam algum instrumento. Alguns deles costumam trabalhar na enfermaria, és capaz de ter passado por James.

Aquilo sim foi uma revelação. Quer dizer, pelas características que Liam me deu, Aaron até se encaixava como filho de Apolo. Ele comentou sobre tocar guitarra com o tio na praia, além de que a arma dele era um arco de flecha.

— Assim como a cabana dois, a cabana oito, de Artémis, deusa da lua, caça das florestas, também é honorária. Apenas as suas caçadoras são permitidas entrar, já que a deusa jurou ser donzela para sempre.

Pude observar um fumo negro e intenso a sair das chaminés da cabana nove. Só podia ser de Hefesto, deus do fogo e da metalurgia. As paredes pareciam ser uma mistura de ferro e pedra escuros. 

A de Afrodite, a deusa do amor, parecia-se uma casa de barbies. Possuía um tom rosa pastel, com cristais pendurados nas janelas. Haviam vários canteiros de rosas - sem espinhos - das mais variadas cores por perto, e estas aninhavam-se nas paredes. Um perfume suave e adocicado estava por toda a parte.

— Esta é a cabana de Hermes, cabana onze. - Afirmou com um sorriso trocista. - Tens sorte que uma miúda foi reclamada à uma semana, se não tinhas que ficar a dormir no chão.

Analisei a cabana com cuidado antes de entrar. Parecia bastante normal, um pouco velha até diria, com a pintura das paredes e da porta já desgastada. 

Por dentro era muito diferente. Em si, o local parecia relativamente limpo, porém bastante desarrumado. Era quase um amontoado de beliches. Uns mais arrumados, outros até com roupa interior por cima das cobertas. Com a exceção de duas, nenhuma cama estava bem feita, limitando-se apenas em puxar os lençóis.

À medida que avançava, tento ter cuidado com os objetos que estavam no chão, por concluir que arrumação não fazia parte do vocabulário dos filhos de Hermes.

— O dia da inspeção foi ontem, então ninguém se importou com arrumações hoje. - expressou-se Liam. Ele também não parecia incomodado com a desarrumação.

No canto da cabana, encontrava-se um beliche com a parte de baixo desocupada.

— É aqui que vais ficar.- disse com o sorriso matreiro. - Ahm, o que sobrou das tuas coisas ficou na sede, podes traze-las quando tiveres que ir ter com o Quíron e com o Sr.D.

— Quem é o Quíron? - inquiri, precisava realmente de estudar - Não estamos a falar do homem-cavalo, certo?

— É esse mesmo. - riu-se. - Ele é o diretor das atividades aqui.

Fomos interrompidos pela porta a fechar-se de rompante.

— Liam? Estava à tua procura! - uma figura aproximou-se de nós. -  Como assim não vamos fazer aliança com os filhos de Hefesto?

O rapaz que entrou parecia um pouco mais baixo que eu. Possuía cabelos cor de areia bem rebeldes e uns olhos castanhos escuros um pouco rasgados. O seu semblante irritado fazia as suas bochechas ficarem um pouco vermelhas.

Ele parou à nossa frente, passando rapidamente os olhos por mim.

— O Kane Walker falou com eles primeiro, Zac. - Explicou Liam, apesar parecer um pouco descontente. - Sabes como é que eles são. Não interessa de qualquer maneira, os filhos de Atena ficam connosco, nunca se aliariam aos filhos de Ares.

— Pelo menos isso, não podemos perder desta vez. - murmurou o outro.

— De qualquer maneira. - Liam sacudiu um pouco a cabeça. - Esta é a Evelyn, indeterminada, chegou ontem.

— Prazer, Zachariah Gallagher, mas todos aqui me tratam por Zac, o filho de Hermes mais bonito e inteligente. 

Sorri apertando-lhe a mão.

— E saíste do treino só para dizer isto? Já basta escapares ao arco e flecha. - Aponto o moreno erguendo uma sobrancelha.

— Em minha defesa, arco e flechas é inútil em comparação à espada. - respondeu Zac comprimindo os lábios em descontentamento. - Mas não foi só para falar da caça à bandeira que vim aqui. O sátiro, Thíason, acho eu, pediu-me para vir cá. O Quíron acabou a reunião mais cedo.


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Notas finais do capítulo

Qualquer dúvida em que não tenhamos sido explícitas mandem mensagem! Kissesss

BestBlondAndBrunette



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