After Dark escrita por saturn


Capítulo 3
Razão e Sensibilidade


Notas iniciais do capítulo

Eu poderia ter feito um desenvolvimento de relacionamento lento? Poderia. Mas essa fic vai ser bem pequena e eu tô muito ocupada com outras, então fiquem com esse grande passo.



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Sentado no parapeito da janela de seu quarto, três dias depois de seu piquenique com Wanda, Peter espera pacientemente – ou nem tanto assim – Michelle e Ned atenderem sua chamada no Skype. Ele se sentir consideravelmente melhor agora, e estava até mesmo usando meias novas, felpudas e limpas pela primeira vez em algumas semanas – ele sabe que é nojento que ele tenha ficado tanto tempo usando as mesmas.

— Hey perdedor. – a voz de sua amiga o cumprimenta pela tela do celular e ele sorri brilhantemente para o rosto de seus amigos.

— Hey gente, como vocês estão?

— Oi Peter! Você não vai acreditar no que meus pais me deram semana passada!

— O que é? – ele perguntou, genuinamente curioso enquanto Michelle resmungava sobre nerds excitáveis como se ela mesma não fosse uma.

— Um conjunto de LEGO de Hogwarts. São mais de seis mil peças!

— Que irado! Você já começou a montar? Foi muito caro? É tão legal de perto quanto parece ser pela internet?

— É ainda melhor cara, tudo é tão detalhadinho e as peças são surpreendentemente firmes. Eu pisei em uma hoje de manhã e pensei que ia precisar amputar meu pé.

— Por causa de um Lego? – MJ perguntou.

— É um lego de excelente qualidade. – o Leeds respondeu solenemente. Ela revirou os olhos e se deitou em sua cama, a parte da tela que correspondia a sua câmera embaçando por um segundo ou dois.

— Se você diz. –resmungou, parecendo mais brincalhona do que grosseira – Eu troquei meus livros de novo, deixei os velhos em uma pilha de doação. Consegui exemplares de segunda mão, todos em excelentes condições, a propósito, de quase todos os livros da minha lista por uma mixaria em um bazar na esquina do Delmar.

— Eu já comprei sapatos lá, os preços são realmente muito bons. – Peter concordou – Por falar nisso, saca só o que May me mandou. - ele apoiou seu notebook em sua escrivaninha e atravessou seu quarto para pegar a jaqueta de seu tio em seu guarda-roupa. Vestiu-a rapidamente e pousou para Ned e MJ – Gostaram? É a velha jaqueta de Bem, costumava ser do meu pai.

— Ficou... boa em você, perdedor. – Michelle respondeu suavemente. Ele se sentiu grato por não detectar pena nas feições ou palavras de seus amigos, não sabia lidar com aquilo.

— Ficou ótimo, Pete. Talvez você devesse usar no aniversário do Sr. Capitão América Rogers. – Ned comentou animadamente – Ah cara, você vai ser o segundo mais legal lá.

— O segundo? – o Parker e a Jones perguntaram ao mesmo tempo, ele em diversão e ela em descrença. Ao ver seu olhar questionador, ela justificou:

— Me desculpe cara, mas é difícil ser o segundo mais legal em uma festa onde Pepper Potts e Natasha Romanoff estão.

Ele deu de ombros – Justo. Não posso combater essa lógica.

Os três adolescentes riram e conversaram por mais um longo tempo, parando mesmo para assistir um episódio de Cake Boss que estava passando no Discover Home & Health, falar mal de J.K Rowling e entrar em um consenso de que Percy Jackson e Annabeth Chase eram bissexuais (essa era uma questão real entre eles, já que Michelle insistiu por muito tempo que Annabeth era hétero e Ned que Percy era hétero também. Besteira na opinião do Parker).

No fim da ligação já era noite e SEXTA-FEIRA o avisou que Wanda tinha terminado de fazer o jantar e pedira para chama-lo. Sentindo algo em seu estômago se mexer e a ponta de suas orelhas esquentarem com a ideia de ficar perto da outra Vingadora, ele desceu as escadas após checar – pelo menos umas cinco vezes – se estava apresentável e tentou não parecer muito ansioso quando chegou na cozinha.

— E-ei! – ele cumprimentou a falsa-ruiva – Sex-sexta me disse que você me chamou para jantar.

— Chamei. – ela sorriu lindamente para ele e Peter se sentiu esquisito, como se tivesse levado um chute no estômago, mas de uma maneira legal – Fiz o suficiente para nós dois, já que parece que somos os únicos aqui. Sexta me disse que você come o mesmo tanto que Steve e Bucky, então eu fiz proporcionalmente. – ela disse, parecendo envergonhada por algum motivo.

— Poxa Wanda, obrigado. Você não precisava ter se incomodado. – ele disse, sentindo a sensação de chute no estômago aumentar. Ela era tão bonita que... Pare com esses pensamentos, Parker. Ela é sua amiga e só isso. Vocês mal se conhecem.

— Que nada. – ela deu uma risadinha – É bom ter alguém para jantar comigo, a maioria das pessoas tende a evitar minha culinária, diz que é apimentada demais. Mas você gosta, por algum motivo.

— Eu cresci comendo comida tailandesa do restaurante da esquina da minha rua. O molho de pimenta deles é tão forte que nem ácido de bateria consegue se igualar aos efeitos. Comparado à deles, a sua é bem suave.

— Bom saber. Talvez eu devesse ir comer nesse restaurante algum dia.- ela comentou.

— Você deveria. – ele concordou animadamente – A comida lá é ótima.

— Eu nunca comi comida tailandesa.

Ela, aparentemente se sentindo a vontade, mexeu com os dedos e fez com que toda a comida se assentasse na mesa e eles se sentaram um de frente ao outro.

— Não? – ele disse, parecendo escandalizado – Precisamos corrigir essa lacuna no seu conhecimento culinário, Wanda.

— Talvez você devesse me levar para conhecer seus restaurantes favoritos. – ela respondeu, sua voz soando insegura.

Sentindo suas bochechas esquentarem e seu coração dar um pulo do peito em animação, ele respondeu, entre gaguejos:

— Q-quer dizer, s-se você quiser. Eu adoraria. Ahn... sim. Sim. Eu adoraria.

—Ótimo. É um encontro.

— O que?! – ele exclamou, deixando os talheres caírem de suas mãos e espalhando molho por sua camisa.

— Era uma figura de linguagem, me desculpe se –

— NÃO! – ele levantou uma das mãos enquanto usava a outra para limpar a mancha de molho – Tá tudo bem, sério. Eu só fiquei surpreso. – ele deu uma risadinha sem graça – É que garotas bonitas como você não dizem isso nem de brincadeira comigo. – e então ele percebeu o que disse – Que-quero dizer, não assim! Não que eu esteja implicando que você queira sair comigo nem nada do tipo! Eu só assumi que, quer dizer eu não assumi nada, é só que você me pegou de surpresa e ai-

Ela lhe deu um sorriso reconfortante – Eu gostaria de sair com você, Peter. Como amigos. – ela acrescentou, parecendo incerta.

— Como amigos então. – ele sorriu de volta.

Por dentro, ele estava um pouco decepcionado. Ele teria adorado ir a um encontro com a Maximoff.



Happy estava o enlouquecendo. O homem estava o sondando há horas, perguntando constantemente se ele estava em, o que ele estava fazendo e se ele precisava de ajuda em algo. Não que Peter não apreciasse a preocupação, mas toda aquela atenção estava sufocando o menino, principalmente porque ele não estava acostumado a ter outras pessoas, principalmente adultos, olhando por cima de seus ombros o tempo todo.

Naquele exato momento o Parker estava escondido dentro dos tubos de ventilação, na parte mais limpa e arejada do mesmo, enquanto relia seu exemplar de O Mundo Assombrado Pelos Demônios em silencio. Dois andares abaixo dele, o Hogan fazia uma tentativa fracassada de não parecer frenético enquanto o procurava por ai. Ele se sentiu um pouco mal por deixar homem correndo atrás do próprio rabo, mas honestamente precisava de um pouco de ar e sabia que a única pessoa, além de Clint que estava morando com a família, que seria capaz de encontrá-lo ali era Bucky. Mas o ex-assassino estava em missão com o resto dos Vingadores no México, portanto ele estava tranquilo que não seria achado tão cedo.

Sua relação com o Sargento Barnes começou de uma maneira estranha. No inicio ele tinha medo do homem mais velho, assustado de que toda a programação do Soldado Invernal pudesse voltar do nada e fazê-lo ficar violento. Parte de seu medo foi alimentado pelo senhor Stark, que não gostava nem um pouco do sargento (o que era em partes compreensível e em partes infantil, mas Peter não seria o primeiro a dizer isso para o homem que é basicamente seu chefe) e que não queria que seu pupilo estivesse nem no mesmo andar que o outro. Mas acontece que tudo o que eles precisavam para se tornarem amigos era ficarem presos dentro de uma caverna na Pensilvânia após um desmoronamento. Por uns três dias. Sem muita água ou alimento. Tendo apenas um ao outro para se esquentarem no clima frio.

Essa era um tipo de experiência que unia as pessoas. Ou ao menos ele gostava de pensar que sim.

Desde então, mesmo contra os melhores desejos de seu mentor, Peter e Bucky se tornaram bons amigos, o Barnes sendo a primeira – e única - pessoa para quem ele contou sobre seu tempo como cobaia na HYDRA, e quem o defendia das provocações dos outros membros da equipe por ele ser o mais novo. Logicamente, ele o provocava por esse mesmo motivo, mas não deixava mais ninguém fazer isso, o que o Parker achava um tanto quanto fofo dele (e ele jamais iria admitir isso, mas teve uma pequena queda pelo sargento durante um tempo, até superar esse crush ao perceber que nunca daria certo – o que era uma pena, já que Bucky era um gato). James era, para todos os efeitos, seu melhor-amigo no mundo dos super-heróis – Wade não contava, já que o mercenário não era um herói. Mas olhando por esse lado, nenhum dos dois era.

Pensando no diabo...

Seu telefone tocou, o som da marcha imperial o tirando de seus devaneios e quase fazendo seu coração parar de susto. Amaldiçoando quem quer que estivesse ligando para ele, Peter atendeu o telefone sem ao menos ver quem era.

— Olá, bebê aranha. – disse Bucky.

— Ah, é você. – ele fez careta mesmo sabendo que o outro não podia o ver – Como vai, Bucky-Buckaroo?

— Quem foi que- foi a Kobik, não foi? Eu vou vender todos os brinquedos daquela trairazinha. – o homem resmungou.

Peter riu e jurou a si mesmo que compraria uma boneca nova para a garotinha. Ela não era exatamente uma garotinha, mais uma personificação de uma pedra do infinito – aquele nome o lembrava do quase desastre envolvendo o titã louco Thanos, algo que nenhum dos envolvidos gostava de se lembrar -, mas agia e pensava como uma criança, então todos a tratavam como uma. Principalmente Bucky, que após todo o fiasco da quase Guerra Civil entre os Vingadores viu na menina uma chance de redenção e se tornou seu pai adotivo/irmão mais velho desde então. E como seu tio preferido, Peter se sentia na obrigação de mimar a garotinha, especialmente quando ela lhe dava tanta munição contra seu amigo.

— Ela poderia reescrever a realidade para que, ao invés disso, você desse mais brinquedos para ela. – ele apontou – Ou criar um exército fascista de brinquedos de pelúcia.

— Não dê ideias, já foi difícil a afastar da mentalidade de que a HYDRA era boa, imagina se ela descobrir que pode criar um exército fascista de brinquedos de pelúcia. – Bucky bufou – Mas eu não te liguei para isso. Você sabe que nós vamos voltar amanhã, certo? Então, é o seguinte: eu comprei uma casa de bonecas nova para a Kobik, – dessa vez foi o Parker quem bufou. Tanto para não torna-la mimada – mas eu não quero que ela veja até o aniversário dela.

— Ela tem um aniversário?

— Tecnicamente? Não. Mas eu pedi para ela apontar uma data no calendário e acabou caindo na próxima segunda-feira. Mas isso não é relevante. Você precisa escondê-la em algum lugar que aquela pequena ameaça à minha sanidade não vai encontrar quando ela chegar ai com o Stephen, entendeu? Não. Se. Esqueça.

— Ou o que?

— Eu sei onde você dorme, bebê aranha.

— Tudo bem, Bucky Bear. Não precisa ficar todo Soldado Invernal para cima de mim, eu já entendi. Esconder a casa de bonecas, manter segredo, yada yada.

Era engraçado como ele se sentia confortável perto do outro. Quase como se ele não fosse o patético e gaguejante Peter Parker. Ah cara, se ao menos Flash pudesse vê-lo agora, ele duvidava que o valentão teria coragem de o intimidar caso soubesse que ele era amigo do Soldado Invernal de todas as pessoas.

— Que bom que entendeu. – James adotou um tom de voz mais suave – E como você está?

— Eu tô ótimo. – ele garantiu. Não era 100% verdade, mas também não era mentira.

— Garoto eu sou um superespião, você vai precisar fazer bem mais para me enganar.

— Tchau, Bucky-Buckaroo, te vejo amanhã. Boa viagem. – ele cortou o amigo, não querendo entrar naquele assunto.

— Tchau, aranhazinha. Cuide-se. E cuida da Wanda, ela anda meio tristinha.

— O que você quer dizer com isso? – não tinha como ele saber da recém amizade dos dois, tinha?

— Eu sei de tudo, Parker.

(Claro que sim. Ele era uma espécie de criatura onipresente. O aracnídeo culpava a longa exposição à Kobik)

E foi assim que Peter acabou escondido de trás de algumas caixas na imensa despensa do Complexo dos Vingadores, o pacote de Bucky em suas mãos, ouvindo uma conversa intima que ele sinceramente queria apagar de sua mente com água sanitária entre Happy e sua tia May. Mas essa era uma história para outra hora.



Antes de se mudar para a América, Wanda preferia assistir sitcons a ler livros. As coisas mudaram um pouco depois da morte de Pietro, quando ela passou a evitar tudo que associasse ao irmão gêmeo e, por extensão, a ela mesma. Foi ai que ela encontrou refúgio nos livros.

O Complexo dos Vingadores tinha um acervo gigantesco que consistia basicamente em livros científicos, de auto-ajuda ou clássicos, mas Tony Stark tinha aberto uma conta conjunta com milhares de dólares dentro para que aqueles do time que não tivesse empregos – como ela, Peter e Bucky – pudessem comprar suas próprias coisas, então teoricamente, caso não houvesse um livro que ela desejasse ler ali, ela poderia compra-lo (ou comprar qualquer outra coisa, afinal ali tinha dinheiro o suficiente para dar entrada em uma ilha particular). No entanto, Wanda não se sentia confortável gastando rios de dinheiro que não eram seu, especialmente considerando toda a história de fundo esquisita que ela e o Stark tinham, então ela sempre buscava comprar seus livros e roupas de segunda mão.

Foi assim que ela acabou com uma cópia barata e meio descosturada de Persuasão, porque aparentemente Jane Austin estava em falta no acervo do Complexo, jogada de qualquer jeito em uma toalha de piquenique sob a sombra de uma árvore, o livro flutuando acima de sua cabeça com sua magia vermelha. Ela estava, no momento, fazendo tentativas preguiçosas de consertar suas falhas e fazer as páginas pararem de descolar da lombada, mas não estava tendo muito progresso.

O discurso de Loki sobre magia lhe veio a mente.

"Não é sobre palavras mágicas, minha querida, mas sim sobre intenção. A magia do caos é um assunto delicado, mas não tão complicado depois que você entende os conceitos básicos e passa a lidar melhor com a canalização de energia. O caos, assim como os cosmos, é tudo aquilo que éramos, somos e seremos.

A magia existe dentro de você e a sua volta, tudo o que você precisa é compreendê-la, aceita-la e se permitir conectar com a mesma. Converse com o caos, se torne caos. E assim, tudo o que você vai precisar fazer para atingir seus objetivos é imaginar e desejar. Comunicação, mentalização e desejo. Agora, tente."

Assim ela o fez.

O livro flutuando acima de sua cabeça de repente começou a regredir para o que um dia foi. As páginas tornaram ao seu aspecto original, as folhas se uniram firmemente à lombada, a capa ficou bonita novamente e mesmo o cheiro era característicos de livros novinhos. Naturalmente, como ela não conhecia o conteúdo do mesmo, não foi capaz de muda-lo ou alterar a formatação e coloração das palavras, pois é bem sabido que para transfigurar algo, é preciso ser intimo do mesmo, por isso mudar a própria aparência era muito mais fácil do que mudar a aparência de outrem.

Ela se arrependeu daquela demonstração pública de magia poucos minutos depois, quando cerca de dez agentes da S.W.O.R.D fortemente armados a cercaram de longe, suas armas firmemente apontadas para seus pontos mortais. Wanda congelou.

Sua respiração ficou descompassada, suas mãos começaram a tremer e sua visão turvou.

Memórias e mais memórias dos piores momentos de sua vida vieram a tona e ela começou a hiperventilar. Um míssil em frente a uma cama, o corpo morto de Pietro no chão, os agentes da HYDRA a cercando e apontando armas para ela, todas as torturas, a dor que a pedra da mente a causou, aquelas horas presa na jangada com um colar de choque em seu pescoço, antes de Tony Stark os remover dali e conseguir perdão por seus crimes. Os gritos de ódio, de medo, de dor.

Ela não sabia o porquê de estar reagindo daquela maneira. Já haviam se passado anos, ela deveria estar melhor. Ela ria com Steve, tricotava com Natasha e assava biscoitos com Bucky. Ela encontrou um amigo em Peter, conversava com Sam sobre seus medos e perdoou Tony. Seus pesadelos já não eram mais tão frequentes, ela deveria estar melhor. Mas por que não estava? Por que seu mundo ainda desmoronava toda vez que algo a levava de volta aos seus piores dias? Ela não deveria estar melhor? (ela pensou que estava)

O livro em sua mão explodiu, fragmentos de papel a cercaram, flutuando, e os agentes chegaram mais perto. Mas, embora eles se esforçassem em passarem despercebidos, ela podia sentir cada um deles. Assim como ela podia sentir Peter vindo em sua direção.

O menino não disse nada, apenas a pegou em seus braços como se ela fosse um bebê, ou talvez uma noiva fosse a melhor comparação, e a levou para dentro do Complexo, ignorando todos os agentes que ela sabia que ele estava ciente. Estando apenas metade consciente do mundo ao seu redor, ela mal notou quando chegaram ao quarto dela e ele a deitou na cama, tirando seus sapatos e a cobrindo com um cobertor tricotado por Natasha. Mas ela notou quando ele tentou sair e agarrou sua mão, tentando o impedir.

Ela não sabia se estava preparada para estar sozinha.

E como se ouvisse seus pensamentos, ele se deitou ao seu lado, por cima dos cobertores, segurou sua mão e ficou.

Wanda não se lembrava da última vez que alguém ficou.



Eles continuam ali por horas, até que um deles tenha que ir ao banheiro, mas eles tornam a se deitarem na mesma posição. Peter sai para buscar comida para ambos e ajuda Wanda a comer, enxugando as ocasionais lágrimas que escorriam por suas bochechas. Ele penteia seu cabelo, segura sua mão e não diz nada, porque sabe que ela não quer ouvir nada. Eles ficam ali até o dia seguinte, até depois dos Vingadores voltarem para casa.

Bucky os encontrou e já era mais de meio dia. Ele se deitou por trás dela após ela e Peter se afastarem e manteve uma mão enroscada em seus cabelos. Natasha chegou não muito tempo depois e se deitou por trás de Peter. Eles não saíram dali até a janta. Nenhum deles falou nada, nem mesmo quando Sam e Steve deixaram comida para eles, nem mesmo quando os dois espiões tiveram que sair.

Peter não deixou seu lado.



Dois dias se passaram e Wanda se sentia perdida, mas consideravelmente menos desnorteada. Ela tentou falar sobre o que aconteceu, mas nada além de resmungos saíram de sua garganta. Então Sam e Bucky passaram horas assistindo Supernatural com ela, Natasha lhe fez chocolate quente e Peter trouxe chá de hipericão. Ela ouviu os mais velhos sussurrarem sobre o grande esporro que Steve deu nos agentes da S.W.O.R.D e em Tony, que foi quem criou o protocolo que os levou até ela.

(Wanda não culpava Stark, mas queria que as coisas tivessem acontecido de outra forma)

Os Vingadores se reúnem e nem ela ou Peter são chamados, então ele a convida para ir ao seu laboratório com ele e ela o segue após um ou dois segundos de hesitação. Lá, ele se senta em uma cadeira giratória e a mostra projetos de suas invenções enquanto ela se encolhe em um sofá de couro, sem realmente entender tudo o que estava acontecendo. Mas ela presta atenção e pede explicações uma vez ou outra, até que eles chegam no assunto de educação e ela comece a se sentir desconfortável.

— Eu não vou a escola há anos. Em Sokóvia eu e Pietro costumávamos frequentar um grupo de estudos para jovens de todas as idades, financiado pelo Barão Zemo. Depois, na HYDRA, eles fizeram pouco esforço para tentarem nos educar, então eu passei os últimos dois anos fazendo isso, tendo aulas online e alguns professores particulares, cortesia do senhor Stark e do governo, eu acho. – ela deu de ombros.

— Eu sempre frequentei escolas públicas – Peter começou, parecendo inseguro – Mas no segundo ano do Ensino Médio consegui uma bolsa integral em uma das melhores escolas particulares de STEM de Nova York. Eu vou começar meu último no fim de agosto, mas não sei o que vou fazer depois disso. Não é como se eu ou May tivéssemos dinheiro para pagar faculdade, então acho que eu vou tentar arranjar um emprego ou, se puder, me tornar Vingador de período integral.

— Acho que o senhor Stark ficaria feliz em pagar sua faculdade. – ela apontou.

— Sim, mas... – ele fez careta – Eu não me sentiria confortável com isso, sabe? Eu cresci aprendendo que deixar que pessoas ricas te façam favores só vai te foder no futuro. Não é que eu não confie no Doutor Stark nem nada, mas é que –

— Você não quer se sentir como se estivesse devendo algo à ele.

— Esse é o problema, eu já devo. Ele me fornece financiamento para meu traje e meu equipamento e até fez os meu primeiro terno do Homem-Aranha de alta tecnologia, antes de eu decidir fazer isso por mim mesmo. Eu já devo tanta coisa a ele, não quero dever ainda mais.

— Eu entendo.

Eles ficaram em silencio por algum tempo, até que Peter o quebrou.

— Você pensa em terminar a escola em uma escola de verdade?

— Eu não sei. – ela respondeu, incerta – Talvez. Não é como se a mídia reconhecesse meu rosto, afinal minha magia interfere em como as câmeras capturam minha imagem, então tecnicamente ninguém vai saber que eu sou Wanda Maximoff, certo? Mas ainda sim, caso descubram, eu duvido que alguém vai querer que eu fique perto de seus filhos.

— As pessoas também não gostariam de me ter por perto de seus filhos caso soubessem que eu sou o Homem-Aranha também. – ele riu pelo nariz – Eu sou considerado um vigilante, sabe? Alguém que opera fora da lei. Perigoso no melhor dos casos. Mas... acho que eu tento me agarrar a qualquer resquício de normalidade possível, e ir para a escola, por mais entediante que seja, é o mais perto que eu chego de ser um adolescente comum.

Ela considerou sua resposta.

— Você acha que... caso eu fosse, eu gostaria?

— Nós só vamos saber caso você tentar.

Eles sorriram um para o outro e, quebrando o momento, Bucky enfiou a cabeça pela porta.

— Hey pombinhos, hora de jantar. E não se esqueçam que amanhã a Kobik está de volta.

Wanda sentiu as orelhas arderem, mas resolveu ignorar aquilo e a implicação do Barnes.

— Peter?

— Sim?

— Obrigada. Por hoje. Pela última semana. Por tudo.

— Não há de quê.


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