Um Caso de Copa escrita por psc07


Capítulo 8
Capítulo 8




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—Me conte sobre a sexta-feira. O que você fez?

James suspirou e bagunçou os cabelos. Ele estava sentado na mesa já com as vestes de treino. Lily Evans estava em sua frente, gravador e caderno prontos para ouvir o que ele tinha para falar. Entre eles, um café-da-manhã farto – Lily havia dito para os outros seguirem e deixassem que eles usufruíssem do serviço de quarto enquanto conversavam.

—Eu passei o dia em casa, de ressaca, junto com os outros três – James respondeu, preparando uma xícara de chá para si – Comemos, dormimos, comemos e fomos ajudar Aluado. Eu e Sirius voltamos para minha casa, onde encontramos com Moody.

Lily anotou alguma coisa e voltou a olhá-lo.

—Me conte então da sua quinta-feira – Lily pediu.

—Bem, foi o dia da convocação.

—Sim, me lembro disso.

—Er, então. Estava com meus pais e Sirius na hora que saiu o anúncio, almoçando na casa deles. Fiquei mais um pouco lá, e fui para O Caldeirão Furado com Sirius, onde dei uma entrevista para O Profeta Diário. Peter e Remus nos encontraram lá. Bebemos duas doses de Firewhisky e voltamos para minha casa, até a hora que fui chamado para cá, recebi minha credencial e voltei para casa de novo. Mostrei a credencial para os outros, e eu, Almofadinhas e Rabicho fomos para uma festa.

—Remus não foi? – Lily questionou, erguendo uma sobrancelha.

—Ele não estava se sentindo bem, com a proximidade da Lua Cheia. Ele ficou na minha casa, pois já estava lá.

—E você levou a credencial para a festa?

—Hum... levei. Todos os jogadores levaram.

—Quem foram as pessoas que manipularam a credencial? – Lily perguntou, puxando um papel de uma pasta. James franziu o cenho.

—Eu, óbvio. Suponho que Aluado, Rabicho e Almofadinhas também... Não me lembro de mais ninguém – Ele respondeu, dando de ombros.

—E quem lhe entregou?

—Ninguém, exatamente. Foi transfigurada na hora, então fui a primeira pessoa a pegar.

Lily acenou, anotou mais alguma coisa e olhou outros papeis. James bagunçou o cabelo e pegou mais fatias de bacon, comendo, até que Lily suspirou.

—Essa seria uma excelente hora para você me dizer o que realmente estava fazendo na sexta à noite, Potter. – Lily disse por fim. James engoliu em seco.

—Eu estava ajudando Aluado.

Lily suspirou de novo e coçou os olhos em claro sinal de cansaço. James limpou a garganta.

—Não adianta nada eu perguntar como, certo? – Lily assumiu.

—Desculpe.

—Potter, eu vou... lhe aconselhar mais uma vez... não é sensato manter um álibi duvidoso nessa investigação em que só tem você como suspeito.

Foi a vez de James de suspirar. Ele bagunçou os cabelos mais uma vez e comeu um pedaço de waffle.

—Eu entendo, Evans. Mas é... não é só... eu não sou o único envolvido.

Lily sacudiu a cabeça levemente e parou o gravador.

—Vá terminar de se arrumar enquanto eu guardo tudo aqui. Aparentemente tenho um treino de Quadribol para ver.

James pegou seu material no quarto e quando voltou, Lily já estava esperando por ele, apoiada no sofá. Ela estava com uma calça jeans e uma blusa verde. Ele tinha certeza que a bolsa guardava o gravador e o caderno. Ao vê-lo, Lily foi em direção à porta.

Eles fizeram o caminho até o saguão em silêncio. Os outros já estavam esperando por eles dois, e quando se reuniram, foram para o local do treino. James se despediu dos amigos e foi para o vestiário, enquanto os demais seguiram para a parte da arquibancada designada a eles.

Cerca de 30 minutos se passaram até que o time aparecesse em campo. Peter questionou a demora, mas ninguém soube explicar.

—Srta. Evans?

Todos olharam em direção à voz, e Lily abriu um leve sorriso.

—Sr. Miller, bom dia.

Miller estava com um garoto e uma garota, que aparentavam estar no final da adolescência. Ambos estavam meio apreensivos, olhando com certo receio para Lily.

—Srta. Evans, esses são Indira Choudry e Edric Vosper, os outros estagiários. Quer que eu os leve para a mesma sala?

—Não, Sr. Miller. Creio que tenha visto a reportagem do Profeta. Não quero levantar suspeitas do meu envolvimento, acho que compreende. – Lily recusou a oferta – Pode deixar que sigo daqui. Eles estarão livres antes do treino acabar.

Miller acenou e saiu. Indira e Edric desviaram o olhar de Lily, e ela percebeu o momento exato em que eles reconheceram Sirius – ele também era conhecido por causa de Potter.

—Indira, Edric, me chamo Lily Evans.

—Você é a B-, quero dizer, a auror Ruiva que saiu no Profeta, não é? – Edric perguntou corando levemente. Lily sorriu de leve enquanto Sirius segurava um riso.

—Sim, sou eu. Podemos conversar um pouco?

Os dois deram de ombros, ainda apreensivos.

—Vamos ficar por aqui mesmo. Vou lançar um feitiço para que eles não possam nos escutar – Lily disse, indicando os outros com a cabeça – Eles são amigos, mas essa investigação é sigilosa.

Indira e Edric pareceram relaxar um pouco com isso. Lily lançou um Abaffiato e tirou o gravador da bolsa, explicando o que era.

—Então você está aqui para investigar Jack? – Edric perguntou.

—Sim, mas a minha participação é segredo. Vocês não podem contar a ninguém o que conversamos e minha participação em tudo aqui, ok? – Os dois concordaram – Então... vocês já saíram de Hogwarts?

—Vamos para o sétimo ano em setembro – Edric respondeu.

—Qual casa? – Lily sabia que conversar sobre outros assuntos poderia fazer os dois se sentirem mais à vontade.

—Lufa-Lufa – Edric respondeu.

—Corvinal – Indira falou pela primeira vez. Lily acenou com a cabeça.

—Gostam de Quadribol, presumo?

—Jogamos nos times – Edric informou, e Lily conseguiu ouvir uma pontinha de orgulho em sua voz – Eu me lembro de você. – Ele comentou.

—Oh? Lembra?

—Você foi Monitora Chefe com James, não foi?

—Ah, sim, fui.

—Eu lembro, porque todo mundo achou que vocês não fossem ou se matar, ou ficar juntos – Lily ergueu as sobrancelhas – James nunca foi muito, er, secreto em suas intenções – Lily soltou uma leve risada. Edric estava coberto de razão.

—Edric! – Indira ralhou.

—Quê? Não é para falar a verdade?!

—Sim, mas não precisa ser sobre isso!

—Não, está tudo bem. Edric está certo – Lily concordou – Foi uma grande surpresa para mim quando ele foi indicado. E que bom que não nos matamos, eh?

—Acho que todo mundo estava torcendo mais para a segunda opção – Edric comentou, com um leve sorriso.

—Ah é? – Lily perguntou, rindo de leve – E por que isso?

—Bem, todo mundo adorava James, não é? Ainda adora, na verdade...

—Todo mundo menos eu, aparentemente – Lily disse, com um sorriso e uma piscada de olho – Acho que hoje em dia as pessoas não o conhecem como eu, ou não aguentariam...

—Nah, Srta. Evans, ele é um cara legal.

—Podem me chamar de Lily – Ela disse, sorrindo de leve – Legal como?

—Bem, ele sempre nos tratou muito bem – Indira disse – No dia da convocação, ele não se lembrava de nós dois, mas quando... quando Jack nos apresentou, ele fez várias perguntas sobre a escola, prometeu jogar com a gente depois da Copa... E até hoje ele é assim.

—Ele é o jogador que mais fala com a gente, desde o dia da convocação – Edric acrescentou – Se preocupa com a gente, sabe? A maioria dos jogadores não se importa muito com os estagiários, Lily.

—E Potter se importa? – Lily perguntou, erguendo as sobrancelhas. Ela se lembrava de Potter azarando crianças mais novas, não as acolhendo.

—Sim, demais. Ele faz a gente se sentir... importante. – Edric disse, dando de ombros.

—E mesmo que ele conhecesse mais Jack, ele tentava não deixar mostrar nenhum tipo de favoritismo – Indira completou, dando um leve riso – Claro que não conseguia, ele realmente adorava Jack, mas era... fofo, vê-lo tentando.

Com essa declaração, Indira corou levemente e Edric revirou os olhos. A reação dos dois fez Lily erguer as sobrancelhas.

—Indira tem uma quedinha por James – Edric confidenciou. Indira arfou e corou fortemente dessa vez.

—Edric! – Ela exclamou. Lily se segurou para não rir. Claro que a garota teria uma queda por Potter – Não tenho nada!

—Tem razão, tá mais pra uma quedona, não é? – Edric se corrigiu, com um sorriso malicioso – “Oh, James, você é incrível! Você voou tão bem hoje, James! Meu sonho é ser tão boa quanto você, James!”.

—Bem, ele realmente é um excelente jogador, não é? – Lily tentou contornar a situação – E... não digam a ele que eu disse a ele, mas ele é muito bonito, não é?

Indira concordou com a cabeça, enquanto Edric estreitava os olhos.

—Então como era Jack com Potter? – Lily perguntou.

—James adorava Jack – Edric respondeu – Jack chegou a ser reserva de James em Hogwarts, e James disse que Jack tinha futuro como jogador. Se afeiçoou, sabe?

—E Jack idolatrava James – Indira completou – O que James falava, virava lei para ele.

—E isso não incomodava James? – Lily perguntou – Ter alguém assim, em cima dele, o tempo todo? Deve ser irritante, não?

Ela nem tinha terminado de perguntar e os dois já negavam com a cabeça.

—James nunca se importou. Recebemos ordens de não importunar os jogadores, deixá-los em paz. Jack tentava fazer isso, mas James o chamava. E depois a gente.

—Vocês falam como se tivessem presenciado muito isso. Quanto tempo ficaram com Jack e James no mesmo lugar?

—Aquela tarde durou bastante – Edric disse – E depois fomos para a festa. James convidou.

Lily assentiu. Não ia conseguir nada deles que fosse ruim sobre Potter.

—Vocês deram a entender que Potter se dava muito bem com vocês e Jack. E os outros jogadores?

Indira e Edric se entreolharam e depois de volta para Lily.

—Eles são ok – Edric falou – Eles não maltratam a gente, nada assim. Mas eles também não estão interessados em fazer amizades com quem nem saiu de Hogwarts ainda.

—E nós entendemos, de verdade – Indira disse – mas é muito diferente. No dia da convocação eles estavam meio desconfiados em ver o capitão tão amiguinho da gente, mas depois ficaram ok.

—Alguém em especial ficou... chateado, ou algo assim, com o jeito que Potter tratava Jack?

Edric e Indira pararam para pensar, mas negaram.

—Como era trabalhar com Jack?

Interrogatório com adolescentes era algo delicado, na opinião de Lily. Ela tinha que tentar chegar em algum lugar sem ofendê-los e ganhando a confiança. Era difícil tentar saber o que ocorria para estabelecer a possibilidade de um desses ser o assassino.

—Era legal. Ele era muito legal – Edric disse, olhando para o campo onde o time estava treinando – Droga, Jack era legal até demais. No dia em que chegamos aqui teve uma “festa” de recepção, e ele queria conhecer todos os estagiários. Trocar cultura, era como ele chamava. – Indira riu do termo e Lily percebeu que a garota tinha lágrimas nos olhos.

—Jack tentava duas vezes mais que todo mundo. Ele queria mostrar que não dependia da mãe dele para ter suas conquistas. Ele tentou fazer amizade com os russos! Os russos estavam sentados numa mesa, ignorando todo mundo, bebendo alguma coisa, e Jack tentou fazer amizade com as pessoas menos receptivas da festa. – Indira contou.

—Não nos conhecíamos de verdade, mesmo sendo do mesmo ano. Mas eu já imaginava voltar para o castelo e contar com Jack para ser um amigo, sabe? – Edric contou, sem desviar o olhar do campo.

—Algum dos outros estagiários demonstrou hostilidade? – Lily perguntou com uma voz suave.

—Acho que nenhum conseguiu entender o que ele estava falando. Ele só falava inglês e um francês muito ruim – Edric explicou. E hesitou antes de continuar: – Não era exatamente para acontecer, mas às vezes os estagiários fazem umas festas. Não há muita comunicação, mais porque a linguagem é uma barreira. Mas quase todos dançamos, bebemos e comemos. E Jack ajudava a unir. Desde do... do que aconteceu com ele, não teve mais festa.

—Todos se abalaram – Indira disse – Até os outros estagiários gostavam do jeito de Jack. Ou pareciam, pelo menos. Eles sempre riam depois de Jack fazer alguma mímica extravagante.

Lily deu um tempo para os dois se recomporem.

—Jack chegou a comentar com vocês sobre alguém incomodando ele? Ameaçando, talvez?

—Ele recebeu algumas cartas dizendo que ele só conseguiu o cargo por causa da mãe dele. Queimou todas. Algumas diziam que ele iria se arrepender de usar a mãe. Mas nenhuma ameaça direta. Não que tenha me dito – Edric disse, e Indira concordou.

—Eu acho que terminei por agora – Lily disse. Os dois olharam para ela – Eu agradeço muito tudo o que me contaram. Só consigo imaginar quão difícil foi. Prometo que estou fazendo tudo o que posso para pegar quem fez isso com Jack. Talvez eu tenha que falar com vocês de novo. Posso...?

Eles concordaram e Lily tirou o Abaffiato. Os dois ficaram mais um tempinho por ali, observando o treino enquanto Lily refletia sobre o que acabar de ouvir.

—O que James está fazendo? – Edric exclamou de repente.

—Eu não faço a menor ideia – Indira respondeu, franzindo o cenho.

—Muito menos a gente – Sirius completou. Lily olhou para trás e percebeu que todos estavam analisando atentamente o treino, com expressões confusas – com exceção de Marlene, que exibia um leve sorriso.

Lily olhou para o treino para entender o motivo de tanta dúvida. Potter estava com a goles, voando por cima e deixou a goles cair para Matthew, que pegou, fez uma finta e lançou para Brenda. Brenda rapidamente passou para Potter, que já estava na frente do goleiro. Ele tentou fazer o ponto, mas o goleiro defendeu.

Então ao invés dos três artilheiros voarem rapidamente para seu campo, eles foram atrás dos outros artilheiros, que tiveram que voar rapidamente para conseguir receber a goles.

—Que tipo de tática é essa? – Peter perguntou. Lily não conseguiu segurar a risada e depois abriu um sorriso provocando os demais quando todos olharam para ela.

—Isso, meus caros amigos bruxos, é uma marcação alta.

***

—Então quer dizer que eu sou “muito bonito”, eh, Evans?

Lily e Marlene olharam para trás e viram Potter. Ele estava com um largo sorriso, e os cabelos molhados indicavam que acabara de tomar banho. As garotas estavam jogando xadrez na mesma mesa em que Lily interrogara Potter mais cedo.

Marlene ergueu as sobrancelhas ao ouvir a pergunta de Potter, enquanto Lily revirava os olhos e voltava a olhar o tabuleiro.

—Edric é um fofoqueiro – Lily retrucou. James sorriu mais.

—Como você sabe que foi ele que contou?

—Duvido que a pobre da Indira falaria sobre isso. A coitada vive sob a ilusão que você é uma pessoa digna de ser alvo de sentimentos – Lily respondeu com um leve sorriso. James riu e colocou a mão sobre o peito, negando com a cabeça.

—Assim você me fere, Evans! – Potter falou – Pelo menos me acha bonito.

—Não se engane, Potter. Apenas usei uma técnica de interrogatório.

—O que for preciso pra lhe fazer dormir de noite, Evans – James falou, sentando na cadeira ao lado da ruiva e exibindo um sorriso condescendente.

—Eu percebi que você treinou uma nova tática hoje – Lily comentou, enquanto Marlene finalmente jogava.

—Sim, eu faço isso às vezes – James concordou, cruzando as mãos e olhando Lily pelos óculos que haviam caído para a ponta do nariz.

—Não pude deixar de notar que seus artilheiros se movimentaram de um jeito diferente – Lily continuou – Bispo em C4.

—Não está errada em sua observação, Auror Evans.

Lily olhou para James, que exibia um sorriso malicioso.

—Que bom que ouviu a voz da razão – Ela disse finalmente. James soltou um riso.

—E a voz da razão é a sua?

—Obviamente.

James sacudiu a cabeça ainda rindo e se levantou.

—Sempre me fazendo rir, Evans.

Lily sorriu mais uma vez enquanto James voltava para o quarto.

Quando Lily se voltou para o jogo de xadrez, percebeu que sua amiga lhe olhava de um jeito... estranho. Lily franziu o cenho para o olhar especulativo de Marlene.

—O que foi? – Lily perguntou – Tem alguma coisa no meu rosto?

—“Muito bonito”, Lily? – Marlene questionou, apoiando o rosto na mão e encarando Lily, ignorando o tabuleiro à sua frente. Lily revirou os olhos.

—Como eu disse, era uma técnica de–

—É, conta essa mentira para James, talvez ele acredite. Ou vai dizer que sua encarada quando ele tirou a camisa depois do jogo também foi uma técnica de investigação?

Lily revirou os olhos, mas não impediu o sangue que subiu ao seu rosto.

—Pensei que já tivéssemos conversado sobre isso. – Lily disse.

—Ah, de jeito nenhum. Nós comentamos sobre o fato, mas agora as coisas estão diferentes. Vocês acabaram de ter uma conversa normal, como se fossem amigos.

—Marlene... – Lily suspirou.

—Você está gostando de James, Lil? – A morena perguntou. Lily suspirou – É a vibe bad boy? Suspeito do crime e tudo?

—Nada está acontecendo entre nós dois, Lene. Ele tem tido seus momentos... toleráveis. Eu não odeio o garoto. Só prefiro quando ele fica bem longe de mim – Lily explicou, dando de ombros.

—Bem, exceto quando ele está sem camisa, huh? – Marlene disse, abrindo um sorriso provocador.

Lily riu e jogou uma peça de xadrez na amiga, sem, contudo, discordar completamente.

***

—Como estão as coisas com Moody? – Lily perguntou assim que se sentou ao lado de Benjy para jantar. Potter estava com Black a três mesas de distância, enquanto os demais preferiram pedir serviço de quarto.

—Ele está irritado, você sabe como o chefe é – Benjy relatou, comendo uma batata frita e olhando para o prato – Irritado com a falta de evidências, com Skeeter fuçando tudo o que pode e não pode...

Lily suspirou. Era exatamente como ela estava se sentindo.

—Eu estou fazendo tudo o que posso, Benjy, mas está difícil, ainda mais agora que a víbora está em cima.

—Eu sei, parceira, e Moody também – Benjy falou, apertando a mão de Lily enquanto a ruiva fazia uma careta – E sei também quão frustrada você está, mas você sabe que tem casos assim.

—Minha irritação está agravada pela minha posição de babá de Potter – Lily explicou, olhando para a mesa em que o capitão se encontrava – E pela exposição da víbora, claro. Você acredita que eu fui reconhecida e me pediram entrevista? Entrevista, Benjy!

O rapaz riu da indignação de Lily; não era algo que ele imaginasse ser tão difícil.

—É porque Skeeter lhe identificou, Lils – Benjy disse – Ela não sabe quem são os outros meros mortais que estão no caso – Ele completou, com um riso. Lily estreitou os olhos e jogou uma batata em Benjy.

—Quanto antes esse caso for resolvido, melhor. Vou falar com Moody para me enviar para umas missões no meio da floresta por uns meses. Cansei de pessoas.

Benjy riu de novo e aproveitou o garçom passando para fazer o pedido. Quando os dois estavam sozinhos de novo, Benjy colocou uma pasta em cima da mesa.

—São as digitais? – Lily perguntou.

—Sim. Nada animador. Tem as digitais de Potter, Lupin, Black, Pettigrew e do técnico, que achou a credencial. Tem umas parciais, que não conseguimos processar, então...

—Não serve de nada, na realidade.

Benjy concordou e entregou a pasta para Lily.

—E suas entrevistas?

—Ninguém que eu falo parece acreditar que Potter é o culpado. Todos dizem que Jack e Potter tinham um relacionamento muito bom, que Potter é atencioso e blá, blá, blá.

—O que você acredita, Lily?

—Eu... eu não sei, Benjy, de verdade. Potter sempre fez brincadeiras humilhantes na escola, mas ele nunca foi exatamente cruel ou mostrou querer machucar gravemente alguém. Mas as pessoas mudam, não é?

—E você não sabe se ele mudou para melhor ou pior.

—Isso e o fato de não termos nenhum outro suspeito. E de eu ter certeza que ele está mentindo sobre o que estava fazendo na hora do crime.

—Mas os amigos não disseram que estavam todos juntos?

Lily se calou e olhou novamente para a mesa em que Potter estava. Não parecia que ele tinha mudado tanto desde Hogwarts – ele e Sirius poderiam muito facilmente estar numa mesa em Hogsmead há cinco anos, discutindo maneiras de deixar Filch louco.

—Eu não sei, Benjy. Não tenho nada firmado ainda, nada concreto – Lily explicou, aparentemente cansada – E também não posso basear o caso no que eu acho de alguém, concorda?

—Claro.

—O que eu preciso é de mais evidências.

—Todos nós precisamos.

Lily guardou a pasta em sua bolsa magicamente ampliada e eles comeram em silêncio por um momento, pensando no caso.

—O que me intriga – Lily disse, mastigando lentamente e lançando mais um olhar na direção de Potter e Sirius – É a credencial.

—Como assim?

—Benjy, se o assassino deixou a credencial cair, significa que ele não precisou da credencial para sair.

—Isso é verdade – Benjy respondeu, olhando para a ruiva com o cenho franzido – Não tinha pensado nisso.

—Então como ele saiu?

—Aparatando? – Benjy arriscou, mas Lily negou com a cabeça.

—O lugar foi feito para impedir aparatação, não importa o sentido.

—Talvez ele tenha ficado...

—Mas uma hora ele tem que sair, então ele ainda teria que estar aqui até agora...

—Talvez ele tenha saído com um feitiço de Desilusão?

—Não é possível – Lily explicou, se lembrando das inúmeras pastas que Cattermole havia lhe fornecido sobre o local – Eles colocaram feitiços nos portões de acesso que desmascaram esses artifícios: capa de invisibilidade, feitiço de desilusão, transfiguração das feições...

—Pulou o muro? – Todo o local era cercado por um grande muro que ajuda a esconder o evento dos trouxas além de aumentar a segurança ao isolar a área completamente – Método trouxa mais antigo.

—Não pode também – Lily negou novamente – A pessoa pode até escalar o muro, mas se tenta ir para o outro lado, é paralisado e cai, além de alertar um segurança que estiver próximo. A aproximação voando também é proibida.

—Então temos esse mistério.

—Mais esse, você quer dizer. Benjy, se ele tem outra maneira de sair, isso quer dizer que ele tem outro jeito de entrar. Ele não precisava da credencial de Potter.

—Você acha que era alguém querendo incriminar James? – Benjy perguntou num sussurro, ambos lançando um olhar para James Potter, que, dessa vez, olhou de volta e sorriu com o canto da boca.

—Eu não sei, Benjy, mas agora é uma possibilidade.

Os dois ficaram calados, se olhando, até que o garçom se aproximou oferecendo sobremesa. Lily não conseguia resistir a doces, então ela pediu um Petit Gateau – sua sobremesa favorita.

—E quanto a Voldemort, parceira?

—Benjy, é difícil – Lily disse, brincando com os talheres – Se foi ele, não foi pessoalmente. Mas é claro que é uma possibilidade.

—Você acha que... acha possível... James ter sido o executor a mando de Voldemort? – Benjy perguntou em um sussurro.

—Eu não sei... acho difícil, sendo bem sincera. Apesar de tudo o que Potter fez, ele sempre odiou Artes das Trevas, e nunca hesitou em defender nascidos-trouxas.

—A família Potter sempre foi conhecida por não ter preconceito de sangue, é um dos motivos de não terem sido nomeadas como umas das 28 grandes famílias bruxas – Benjy comentou – Mas quem sabe ele não se rebelou? – Lily foi impedida de responder com a chegada da sobremesa.

—Eu preciso me unir ao inimigo, Benjy, – Lily disse, antes de comer o primeiro pedaço, – eu preciso que você reúna todos os jornais que façam uma conexão entre Potter e algum assunto de sangue, e quero também os que falem de Voldemort. Você pode fazer isso pra mim?

—Claro, claro – Benjy respondeu, e depois abriu um sorriso claramente provocando a ruiva – mas tem certeza que não prefere pedir para sua melhor amiga Rita Skeeter?

Benjy gargalhou da cara que Lily fez em resposta, e desviou do projétil que ela criou a partir de um guardanapo – e do projétil feito com a tampa da Cerveja Amanteigada. Ainda sorrindo, ele segurou a mão de Lily, mas foi interrompido pela chegada de Sirius e Potter.

—Não estamos interrompendo nada, estamos? – Sirius perguntou, erguendo as sobrancelhas e exibindo seu característico sorriso.

—Apenas o assassinato de Benjy Fenwick – Lily respondeu, mas tinha um pequeno sorriso.

—Nah, você me ama demais para me matar, parceira – Benjy disse, piscando para a garota, e em seguida se virando para Sirius – Já estamos terminando.

—Eu já acabei, deixa só trazerem a conta para eu pagar minha parte... – Lily disse, pegando a bolsa.

—Deixa que eu pago, Lils, estou lhe devendo do último caso.

—Hum, está mesmo – Lily respondeu e se levantou – Quando você pode me entregar o material que eu pedi?

—Dois, três dias. A senhorita exige demais de mim, srta. Evans.

Lily revirou os olhos e bagunçou o cabelo de Benjy ao sair com Potter e Sirius. Sirius estava assoviando uma música bruxa, mas Potter estava calado e, o que Lily mais estranhou, estava com as feições mais sérias.

—Tudo bem aí, Potter? – Lily perguntou.

—Quê? Ah, sim, claro, claro. Só... pensando...

Lily estranhou – Potter não era de ficar pensativo e calado, mas supôs que esse fosse o comportamento dele frente a todo o estresse que estava o cercando; uma investigação de assassinato, capitão do time da Inglaterra, estrela do time...

E ela não podia falar muito, já que era a rainha do estado “pensativo e calado” – esse era seu jeito favorito de raciocinar sobre seus casos, como estava no momento. Será que alguém realmente queria incriminar Potter? E por quê?

Mas por que o próprio Potter iria matar Jack? Por que qualquer pessoa iria matar Jack, dito por todos como um excelente rapaz?

—Então, Evans... – Sirius disse, interrompendo os pensamentos de Lily – o que rola com você e Fenwick?

—Quê? O que você está falando? – Lily perguntou, franzindo o cenho.

—Você e Fenwick? Tendo uma amizade colorida?

—Oh, Deus, não mesmo – Lily negou rapidamente – Não mesmo.

—Certeza? – Sirius perguntou, erguendo uma sobrancelha para a garota.

—Absoluta. Não é assim com Benjy e comigo, Sirius, acredite.

—Eh, eu realmente não sei, Evans – Sirius discordou e cutucou Potter, um sorriso malicioso no rosto – Não parecia que eles estavam bem, hum, íntimos, Pontas?

—Er, eu não vi, não prestei atenção – Potter respondeu, chutando uma pedra solta no chão.

—Esquece, Sirius, eu nunca me envolveria romanticamente com alguém do meu departamento. Não daria certo.

—Eu podia jurar que era ele sua recaída! – Sirius exclamou.

—Tanta coisa para você lembrar, e é justamente isso que preenche sua memória?

—Eu nunca esqueço de quem é importante para mim, senhorita.

—Sirius, até uma semana atrás a última vez que eu tinha lhe visto tinha uns 4 anos – Lily respondeu, revirando os olhos.

—E você acha que meu coração se intimida com coisas banais como tempo e distância, ruiva?

Tanto Potter quanto Lily soltaram um muxoxo com essa declaração.

—Mas me conta então quem foi sua recaída, Evans.

Todo o caminho até o quarto foi preenchido pela teimosa e insistente curiosidade de Sirius a respeito da vida amorosa de Lily. Potter parecia entediado ou irritado – o que combinava com o humor atual da própria garota, mas ela podia sentir o olhar dele por vezes.

—Sirius, desiste – Marlene disse quando eles chegaram – Lily não fala nada que ela não queira. Anos e anos de experiência.

—Um dia eu descubro, Evans, um dia...! – Sirius disse num tom especulativo. Lily revirou os olhos.

O tipo de coisa que o trabalho a obrigava a aturar.


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