Um Caso de Copa escrita por psc07


Capítulo 17
Epílogo




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—Marlene, se você foi minha amiga em algum momento da minha vida, você vai me ajudar.

A morena ergueu as sobrancelhas e olhou para cima.

Marlene estava na sua sala, lendo o que prometia ser o relatório mais chato do universo, quando sua amiga ruiva apareceu, sem nem bater na porta, um leve desespero nas feições.

—Lily, está tudo bem? – Marlene perguntou, satisfeita em colocar os pergaminhos (tão maçantes que chegavam a ser ofensivos) de lado.

—Sim. Não. Não sei. – A ruiva mordeu o lábio inferior e remexeu na roupa.

—Ok, por que você não se senta? – Marlene sugeriu, indicando uma cadeira. Lily assentiu e fez o que a morena disse – Pretende dizer qual o problema?

—Sim, eu só... eu não sei... eu...

Marlene estava surpresa. Lily quase nunca ficava tão confusa, sem conseguir se comunicar, demonstrando tantos sinais de ansiedade. Marlene nem conseguia se lembrar da última vez.

—Devo chamar James...? – Marlene perguntou. Desde que Lily começara a namorar o jogador de Quadribol há três anos e meio, ele descobrira jeitos de acalmar Lily em momentos críticos de seus casos.

—Não! – Lily interrompeu imediatamente, um pouco de pânico na sua voz, fazendo com que Marlene começasse a ficar realmente preocupada – Por favor, não fala com James. Eu... preciso de sua ajuda antes. Isso. Depois James.

Marlene ergueu as sobrancelhas novamente.

—Lily, você está me assustando. O que aconteceu?

—Você pode sair para almoçar agora? – Lily disse em resposta. Marlene não podia, mas ela daria um jeito.

—Se eu for demitida, eu vou morar com você – Marlene retrucou enquanto caminhava com Lily para o restaurante que geralmente iam, mas nem assim Lily esboçou um sorriso. Ela ainda estava meio pálida, como Marlene raramente via.

—Lene! Lily!

Marlene e Lily pararam imediatamente de andar e se viraram para o chamado; a morena com um sorriso e a ruiva com o corpo tenso.

—Indo almoçar? – Benjy perguntou, abraçando as duas. Marlene sorriu ao perceber o cabelo dele tingido de amarelo palha para algum caso.

—Sim, sua parceira está com algum tipo de problema aqui e quer me ver no olho da rua – Marlene respondeu.

—Então não está se sentindo melhor? – Benjy perguntou.

—Estou. Mais ou menos. Ai, Deus, vamos logo, vê se não atrapalha, Fenwick.

—O que ela estava sentindo? – Marlene perguntou – Oh, espera, deixa eu pegar meu gravador e descobrir que mistério é esse chamado Lily Evans.

Marlene e Benjy riram, mas Lily apenas continuou a caminhar.

—Nós estávamos ajudando os novos aurores com uns feitiços defensivos e aí ela começou a passar mal. Pediu pra sair um pouco para tomar um ar há um tempinho.

—Que nem no início da semana quando ela desmaiou quando tava fazendo uma poção? – Marlene perguntou – Evans, você está com algum tipo de gripe?

Lily retrucou algo inaudível e eles finalmente chegaram no restaurante.

—Remus também está vindo? – Benjy perguntou enquanto eles se sentavam.

—Não, hoje é quinta, só almoçamos com ele dia de segunda – Marlene explicou – Obrigada – Ela acrescentou quando o garçom lhe ofereceu o cardápio. Benjy pediu uma dose de Firewhiskey e Marlene pediu um drink, ambos dizendo que tinham uma longa tarde à sua frente, mas Lily pediu apenas água com gelo.

—Ok, Evans, desembucha. – Marlene disse quando o aperitivo chegou e Lily ainda não havia dito mais que 5 palavras. – O que você fez dessa fez?

Ao invés de responder, Lily tirou um envelope da bolsa e jogou na mesa.

O envelope estava lacrado ainda, então nem Benjy nem Marlene abriram.

—Eu... eu me descuidei. Uma vez, só uma vez – Lily finalmente começou a falar – Não só eu, a culpa não é só minha, claro. Mas... uma só vez, e...

Lily nem havia terminado de falar quando Benjy abriu a boca.

—Parceira, você... – Lily olhou para ele imediatamente, olhos revelando medo.

—Eu realmente achei que tivesse sido o calor e falta de sono e cansaço em geral na segunda, sabe? – Lily continuou, agora olhando para o prato vazio e se distraindo com um besouro verde que estava na janela ao seu lado – Não dormi bem nessa noite, fazendo uns relatórios, então achei que o enjoo de terça fosse só por causa disso, um mal estar comum, uma gripe. Na quarta também. Mas hoje? Eu não estava fazendo nada. Dormi bem, comi o que sempre como. Então porque eu enjoei? Então eu...

Marlene e Benjy agora estavam olhando para Lily com expressões de surpresa.

—Eu não sei. Eu tinha que descobrir. Mas eu não sei. E se eu.. se realmente for... eu não sei o que fazer.

Benjy segurou a mão de Lily, e Marlene fez o mesmo.

—O que é esse envelope, Lily?

—É um beta-hCG.

—E que droga é isso? – Marlene perguntou.

—É um teste que diz se eu estou ou não grávida.

—E por que ainda está fechado? – Benjy perguntou com delicadeza.

—Porque eu não tive coragem de abrir.

Marlene e Benjy se entreolharam, e Marlene suspirou.

—Do que você tem medo, Lil? Da reação de seus pais?

—Ugh, eu nem tinha pensado nisso! – Lily exclamou.

—Então qual o seu medo, Lily? – Benjy perguntou.

—Para começar, você tem noção de quantos casos Moody quer que eu pegue agora que Robert está de licença? – Lily perguntou – Como vou conseguir cobrir Robert com uma droga de barriga?

—Eu não acredito que você está surtando por causa de Moody— Benjy replicou – Você realmente acha que ele vai reclamar com você por causa disso? Se você realmente estiver grávida, isso é.

—Ele não precisa reclamar, Benjy, eu sei que...

—Parceira – Benjy interrompeu e Lily se calou, tendo que respirar profundamente para impedir que algumas lágrimas escorressem. – Por favor não se preocupa com isso. Nós vamos conseguir te cobrir quando você precisar. Se precisar. O máximo que vai acontecer é você fazer trabalho burocrático por alguns meses.

Lily não pareceu se tranquilizar.

—Agora me conta porque que você está falando isso com a gente e não com James. – Marlene perguntou, e agora as lágrimas da ruiva caíram de fato. – A não ser que você já tenha falado com ele e ele foi um canalha e...

—Não, não falei – Lily disse de imediato – Ele está viajando e só volta segunda. Tem jogo sábado. E eu não... ele não é um canalha.

—Se você sabe disso, qual o seu medo? – Benjy perguntou – Porque se ele ensaiar qualquer tipo de omissão, eu sei onde ele mora.

—Não tínhamos planejado nada disso – Lily se lamentou, enxugando os olhos – Não estamos namorando nem há 4 anos, droga! Que tipo de pessoa engravida assim?

—Qualquer tipo de pessoa, Lily – Marlene disse, se aproximando mais da amiga – Isso não é uma falha no caráter de ninguém, e 4 anos é um bom tempo. Não foi planejado, mas acontece. Além do mais, você nem sabe se está realmente grávida mesmo!

Com isso, os três olharam para o envelope novamente, ainda sem pegá-lo.

Eles ficaram em silêncio por mais algum momento, Lily tentando criar coragem para abrir o temido papel enquanto Benjy e Marlene pediam o almoço.

—Hey, vocês por aqui!

Lily arregalou os olhos imediatamente ao reconhecer a voz do melhor amigo de seu namorado.

—Sirius! – Ela exclamou, tentando guardar o envelope sem chamar a atenção dele ou de Remus para o que ela estava fazendo – O que vocês... almoçando por aqui?

—O que você está escondendo da gente? – Sirius respondeu, cruzando os braços – James mandou carta para você de novo sem mandar para mim? Ele disse que não ia mais fazer isso.

—Uh, sim. Definitivamente. É isso que esse envelope é.

—O que diz a carta? – Sirius insistiu, puxando uma cadeira e sentando ao lado de Lily. Ele olhou de verdade pra Lily e franziu a testa – Merda, Evans, você está chorando?

—Quê? Não, não, é só, hum, alergia. Estou meio doente, sabe como é – Ela respondeu, enxugando os olhos novamente. Sirius e Remus não precisariam da risada de Marlene para saber que Lily não estava falando a verdade.

—O que aquele idiota lhe disse? – Sirius perguntou, esticando a mão para Lily. Ela, no entanto, segurou o envelope com mais força – Eu preciso dar uma surra nele?

—Talvez – Benjy interrompeu – Eu lhe aviso se precisar de ajuda.

Sirius sorriu em resposta – ele e Benjy tinham se tornado bons amigos.

—Não foi nada, Sirius, juro. Podem ir almoçar.

—Ah, fica tranquila, estamos esperando Moody – Remus respondeu – Ele tem uma missão pra gente pela Ordem.

Lily arregalou os olhos e depois os fechou, permitindo a Sirius a janela de desatenção que ele precisava para tirar o envelope das mãos da ruiva, que protestou ao sentir o que ele fizera.

—Sirius, me devolve isso, é pessoal, por Deus, me dá isso aqui...!

—Ei, isso não é uma carta de James – Sirius exclamou, com o papel aberto – Que diabos é beta-hCG e porque tá positivo?

Marlene e Benjy olharam para Lily que estava com os olhos arregalados e uma expressão de choque.

Marlene se levantou e abraçou a amiga imediatamente, sendo seguida por Benjy, ambos rindo e dizendo palavras de felicidade.

Então, finalmente, lentamente, mas verdadeiramente, o primeiro sorriso desde que Lily pedira para sair naquela manhã se desenhou em seu rosto, aumentando gradualmente, concomitante às mãos que ela levava para o ventre, e as lágrimas outrora de desespero, transbordavam de seus olhos em demonstração da mais pura alegria que ela nem mesmo sabia que sentiria.

—Ai meu Deus – Ela sussurrou – O que eu vou fazer agora? – Ela sussurrou.

Marlene e Benjy voltaram para seus lugares, ambos com imensos sorrisos, ignorando os olhares devido à comoção causada.

—Eu não entendi nada – Sirius disse, se virando para Remus – Você entendeu alguma coisa?

—Eu acho que sim... Lily? – Remus perguntou. Ela olhou para o amigo, enxugando os olhos e sorrindo.

—Eu... sim! – Ela disse apenas, e Remus se juntou aos outros no sorriso e nos desejos de felicidade.

—Alguém pode me dizer o que está acontecendo? – Sirius pediu.

Antes que Lily pudesse dizer que estava grávida (grávida! Ela!), o grupo mais uma vez foi interrompido.

—Evans, Fenwick – Moody disse – Black e Lupin, que bom que já estão por aqui. Ah, McKinnon. Que reunião... interessante.

—Eu, er, desculpe, senhor – Lily disse, corando e enxugando as lágrimas – Precisei da ajuda de Benjy por um assunto, hum, especial, e...

—É, é, eu sei. – Moody resmungou em resposta – Estava esperando ver quando você iria descobrir.

—Eu... quê?

—Você nunca desmaiou fazendo uma poção, Evans. E vomitando por tantos dias seguidos, logo você que faz cada poção para enjoo que deixaria Fleamont invejoso? Ele tem um segredo para esse tipo de enjoo, inclusive. Aparentemente sua sogra também teve esse problema. Acho que você não terá dificuldade de conseguir o contato dele para isso – Moody disse, terminando com uma risada, enquanto Lily ia corando.

—Eu... me desculpe, senhor, eu-

—Conversamos depois, Lily. – Ele disse – Você precisa de uma tarde de folga. Eu treino os novatos hoje. Fenwick, fique com ela, sim? E não precisa pedir desculpa, Evans. Black, Lupin, vamos?

—Espera, o que tem com Lily? – Sirius perguntou, ainda confuso.

—Por Merlin, seu animal, ela tá grávida! – Remus vociferou, e Lily teve que rir, levando novamente as mãos para a barriga.

Sirius arfou, mas não pôde falar mais nada porque Moody começou a arrastá-lo pela camisa.

—Nenhuma palavra para James, ok? – Lily pediu para Sirius e Remus, que concordaram ainda sorrindo, ainda arrastados para uma mesa mais escondida.

Quando Lily se virou para os dois amigos que ainda estavam na mesa, não conseguiu não rir com eles.

—Agora eu preciso descobrir como contar para James – Lily disse – Estou apreensiva com a reação dele ainda, mas... não esperava a minha reação com a confirmação, então...

—Eu aposto que ele vai ficar ainda mais feliz que você – Marlene disse, e nesse momento os pratos dos três chegaram – Ele é um abestalhado completo.

—Eu acho que ele vai chorar – Benjy disse. Lily riu.

—Ele não vai chorar.

—Eu acho que vai – Benjy insistiu – Aceite, parceira, seu namorado é um chorão.

—Me diga uma vez que ele tenha chorado.

—Hum, quando você parou no St Mungus ano passado, quando você saiu do St. Mungus...

—Situações 100% normais de se chorar, Benjy.

—Vamos, eu vou lhe ajudar a achar um jeito de contar para ele – Benjy disse – Estamos livres hoje à tarde, vamos aproveitar, huh?

—Ah, injusto, só porque eu não posso! – Marlene exclamou.

—Você ainda tem o resto do almoço para dar sugestões, Lene – Lily disse.

E foi justamente por sugestão de Marlene que Lily decidiu ir com o clássico sapatinho numa caixa de presente – ela lhe diria que era um presente de boas vindas e seria o sapato.

—Espero que eu seja a madrinha – Marlene disse, quando ela estava voltando para o Ministério e Lily e Benjy iriam procurar o bendito sapato.

***

James estava feliz. Feliz não, estático. Por que não estaria?

Ele gostava de usar esses momentos – o caminho para coletivas de imprensa – para refletir nas coisas boas que o cercavam. Era como James conseguia manter o bom humor e relevar algumas perguntas mais irritantes.

Sendo a estrela que era no mundo do Quadribol, James sempre soube que teria que lidar com a imprensa, e nunca teve nenhum problema com isso; ele sempre fora muito bem quisto pela maioria dos repórteres – Rita Skeeter nunca fazia reportagens positivas, muito menos depois da situação da Copa Mundial passada.

Pensando na sua carreira, era difícil estar melhor. Ele continuava sendo a estrela do seu time de infância, tendo sido eleito o melhor jogador do campeonato 2 vezes nas últimas 3 temporadas.

Não apenas isso, mas se manteve como capitão da seleção inglesa, e era o responsável pela classificação antecipada para a próxima Copa Mundial – tanto que o jogo de amanhã não valeria de nada para a Inglaterra.

Ele conseguira um acordo melhor com seu técnico para visitar mais seus pais, e ainda conseguia ajudar Aluado todas as noites de Lua Cheia sem levantar qualquer tipo de suspeita.

E também conseguia tempo para trabalhar com a Ordem da Fênix, que aos poucos se tornava cada vez mais importante na sua vida, que estaria caótica não fosse por ela.

Lily Evans.

Desde que ele e Lily começaram a namorar, era difícil ver James de mau humor. A ruiva entrara na sua vida de um jeito que ele não sabia como fazia antes dela. Eles só não estavam juntos durante as noites de Lua Cheia ou quando eles iriam trabalhar – ela em missões pelo Departamento de Aurores, ele em partidas fora da cidade (e às vezes ele até conseguia levá-la para essas partidas).

Moody tinha a tendência de colocar James e Lily juntos em missões pela Ordem, o que funcionava muito bem para eles – particularmente para James depois do susto de Lily ter passado duas semanas no St. Mungus no ano anterior por uma missão como auror.

Mesmo depois de tanto tempo, só de pensar em Lily ele sorria. Sua paixão de adolescência, um romance tão improvável na época, agora sendo uma realidade melhor que seus sonhos de estudante.

Naquela sexta-feira em particular, contudo, logo após o sorriso ao pensar na ruiva, ele franziu a testa. Desde o início da semana ela não estava se sentindo tão bem, enjoada e vomitando, e ele estava preocupado se ela estaria doente.

Nem mesmo a maravilhosa poção que ela mesma fazia ajudou tanto.

Quando James se deu conta, ele já estava sentado à mesa para a coletiva de imprensa. Com um balanço de cabeça, ele tirou Lily da mente e se concentrou nas perguntas que lhe eram feitas.

Primeiro sobre a expectativa para o jogo do dia seguinte contra a Escócia – um bom jogo, mesmo que não tenha tanto valor em relação a classificação, mas uma boa oportunidade para testar novos jogadores, lembrando sempre da qualidade do outro time.

As coisas para melhorar até a Copa Mundial que se aproximava – algumas coisas, mas que só poderiam ser firmadas com o time realmente definido.

Se ele achava que as chances da Inglaterra eram tão boas quanto na Copa passada – as mesmas de sempre, Karen, as mesmas de sempre.

Se o fato de a namorada dele ter passado a tarde do dia anterior fazendo compras em lojas infantis trouxas com outro homem iria afetar o jogo.

—Er, quê? – James perguntou, o sorriso fácil e carismático desaparecendo. O jornalista que perguntou, contudo, mostrava um sorriso levemente maldoso no rosto e um jornal na mão. De longe, tudo que James conseguia ver era uma foto mostrando uma cabeleira ruiva sendo recostada no ombro de um homem com um cabelo extremamente claro, andando lado a lado, os braços entrelaçados e uma sacola rosa no outro braço, às vezes a cabeça se afastando e virando para encarar o homem e mostrando o sorriso brilhante de Lily Evans. Acima da imagem, a manchete clamava “BELA RUIVA E LOIRO DESCONHECIDO: ESTARIA A AUROR TENDO UM CASO QUE LHE IMPOSSIBILITARIA DE TRABALHAR PELOS PRÓXIMOS 9 MESES?”

James sentiu o sangue se esvaindo do seu rosto. Não precisava nem ler a matéria para saber que tinha sido escrita por Rita Skeeter; ninguém mais seria capaz de escrever uma matéria como aquela.

Engolindo em seco, James forçou um sorriso.

9 meses.

—Ao contrário do que algumas pessoas pensam – Ele respondeu, tentando manter a voz calma – é possível que mulheres e homens possam ser amigos. Isso não afeta em nada como eu jogarei amanhã. Se acabaram as perguntas sobre Quadribol, então estou de saída. Obrigado a todos.

Ainda com um sorriso forçado, James se levantou e, como se combinado, Diana, que assistia à coletiva, tomou seu lugar com um aceno de cabeça. Assim que saiu da sala da coletiva, James já começava a imaginar onde Lily poderia estar naquele momento.

Ele estava com a cabeça confusa. Ele confiava em Lily. 100%. Antes mesmo de começarem a namorar eles tinham tido uma conversa sobre ciúmes – mas tinha sido mais especificamente com Benjy e companheiros aurores e missões. Ela não estava em missão, e aquele não parecia ser Benjy.

James tentava racionalizar. A reposta que ele dera ao inconveniente repórter era a lógica, era a que ele sabia que deveria ser verdade – mas naquele momento de descoberta, era difícil não deixar sua mente viajar.

E a caixinha de veludo em seu bolso, que ele levava consigo para todos os lugares, parecia mais pesada.

Ainda estava parado tentando racionalizar o que ele deveria fazer agora quando o coordenador da seleção apareceu com uma cópia do jornal na mão, jogando na direção de James.

—O que você ainda está fazendo aqui? Vai logo – ele disse. James acenou positivamente e pegou a varinha – Só não se atrase para o jogo, Potter.

James aparatou no lobby do Ministério da Magia, no espaço reservado para visitantes. Se encaminhou para o átrio, onde teve a varinha verificada e um crachá emitido. Esse ritual já era comum para James, considerando a quantidade de vezes que ele já viera visitar Lily ou para reuniões com Moody.

Ao entrar no Departamento de Aurores, cumprimentou com um aceno de cabeça alguns funcionários que já conheciam de tanto que ele ia ali. Foi em direção ao cubículo de Lily, mas ela não estava ali. Será que tinha recebido alguma missão naquele dia? Ou no dia anterior, e na foto ela realmente estava numa missão?

Com um suspiro, ele se sentou na cadeira de Lily e estudou a mesa dela. Ele sempre se divertia com a organização quase obsessiva do seu espaço de trabalho, mas naquele dia conseguia perceber algumas coisas fora do lugar, gavetas entreabertas e penas soltas.

—Você não deveria estar na Escócia?

James olhou para cima e percebeu Moody lhe encarando.

—Uh, sim. Mas...

James não terminou de explicar, ele só mostrou o jornal para Moody, que bufou.

—Eu não gosto de você atrapalhando Evans durante o trabalho, Potter – Moody disse – Mas hoje abrirei uma exceção. Campo de treinamento. Aproveite e leve isso para ela, sim?

James pegou o frasquinho de poção que Moody lhe entregou aturdido, levantou e foi para o campo de treinamento. Ele mesmo havia participado de algumas “aulas” com Moody, Lily e Benjy antes de entrar para a Ordem.

Dava para ouvir do lado de fora da porta que Lily estava ensinando algum feitiço novo para os recém-chegados. Havia cerca de 2 anos que Moody havia escalado Lily para repassar conhecimento aos novos.

Com cuidado, ele entrou na sala e observou a namorada corrigindo posicionamento e movimentação de pulso. Não tinha como não admirar o quanto ela se importava e o quanto se esforçava para fazer um trabalho bem feito.

Tão concentrada estava que nem mesmo percebeu James entrando e fechando a porta quietamente. Aos poucos alguns dos novatos foram percebendo a presença de James, e cutucavam um ao outro. Não era novidade que ele e Lily estavam em um relacionamento, e a maioria dali já havia visto os dois juntos.

—Hum, Evans, acho que tem alguém querendo falar com você – Uma garota falou, indicando a porta com a cabeça.

Lily se virou e viu James, que estava com a mão levantada num aceno discreto. Ela franziu a testa, escondendo um sorriso, e James pôde perceber um leve rubor em seu rosto.

—Er, continuem praticando um pouco – Ela falou – Não vou demorar muito.

A expressão de alguns dos novatos indicava que eles haviam visto o jornal e discordavam da não demora de Lily.

—Hey, o que houve? – Lily disse, se aproximando de James e dando um leve sorriso – Você não deveria estar na Escócia sendo uma estrela? – Ela perguntou, colocando as mãos na cintura – O que é isso na sua mão?

—Moody mandou para você – Ele respondeu, estendendo a poção. Ela sorriu e pegou o frasco, virando de uma só vez – Você está bem?

—Quê? Estou sim, só um pouco, er, enjoada. Mas tudo ótimo – Ela respondeu, ajeitando a blusa – Mas o que você está fazendo aqui? Aconteceu alguma coisa?

Em respostas, James mostrou a capa do jornal para Lily, que fez uma cara de surpresa e depois suspirou.

—Vamos fazer uma pausa de 30 minutos, ok? Aproveitem para descansar. Já volto – Ela falou para o resto da classe.

James conseguiu ver alguns risinhos e moedas trocando de mãos antes de ser puxado por Lily para outra sala.

James engoliu em seco quando Lily mordeu o lábio. Ela fazia isso quando estava nervosa. Por que ela estava nervosa?

—É Benjy – Lily disse de imediato – Ele tingiu o cabelo para uma missão.

—Oh – James se sentiu mais aliviado, mas não tanto pois o nervosismo continuava ali.

—Você, hum, como você conseguiu esse jornal? Pensei que não lesse mais isso perto de jogos – Ela continuou, quando James não evoluiu com a conversa.

—Não leio. Foi um repórter que me mostrou durante a coletiva de imprensa.

—Por favor me diz que você não saiu imediatamente de lá – Lily pediu, levando as mãos ao seu próprio pescoço. James ergueu as sobrancelhas.

—Não saí. Antes eu fingi que sabia o que estava acontecendo nessa foto – Ele respondeu, um pouco de irritação na sua voz – Você não deveria estar trabalhando ontem? Aqui mesmo?

—Moody nos deu a tarde livre devido às circunstâncias – Lily explicou e suspirou – Eu ia lhe falar de um jeito melhor, juro que ia, mas estava esperando você chegar na segunda, sabe? Não é o tipo de coisa que se fala numa carta, não acha?

—Que circunstâncias? – James perguntou, cruzando os braços. Lily franziu a testa.

—Você não leu a matéria? – Ela questionou. James negou com a cabeça – Oh. Hum, ok, ainda dá tempo de eu salvar isso! Espera aí!

Lily se virou para um armário. James não tinha percebido que eles estavam na sala em que deixavam os materiais para ir para o centro de treinamento. Enquanto Lily procurava alguma coisa no armário, James finalmente resolveu ler a matéria. Chegou na metade e parou. Releu. Empacou no meio novamente.

—Lil – Ele disse, a voz rouca e o coração acelerado. A ruiva soltou uma exclamação e se virou para ele, uma caixa de presente na mão.

—Eu ia lhe dar como um presente de boas-vindas, mas Rita Skeeter estragou a surpresa – Lily comentou, extremamente corada.

—Lily, isso é verdade?

—Quê? Que parte? – Ela perguntou – A que estou tendo um caso? Não mesmo. A não ser que você se considere um caso. Então sim.

—A outra coisa, Lily – James perguntou, deixando o jornal de lado e se aproximando da garota. Ela mordeu o lábio inferior e olhou para a caixa novamente, abrindo-a.

—Eu não sabia se você iria preferir do Puddlemore ou da Inglaterra, então por via das dúvidas eu coloquei o símbolo da Grifinória que não teria erro...

James desviou o olhar dela e encarou a caixa: entre um mundo de papel picotado, estavam dois sapatinhos de pano, minúsculos, tão pequenos que James conseguiu pegar os dois em uma só mão, tomando cuidado para não os amassar. Em cima, o leão da Grifinória, mas quando ele virou a sola, viu seu número e seu nome, como se fosse o seu velho uniforme de Quadribol.

Ele olhou para Lily de novo, boquiaberto; a ruiva estava apreensiva, o lábio inferior ainda sofrendo entre os dentes.

James olhou para o sapato de novo.

Vagarosamente ele estendeu a mão em direção a Lily, observando com cuidado o caminho que a mão fazia, mais lentamente que jamais havia feito para tocar na namorada. Ele hesitou quando estava a alguns centímetros da barriga dela, então Lily pegou a mão dele, elevou a sua blusa, e encostou a mão dele logo abaixo do umbigo.

James olhou para Lily, e percebeu algumas lágrimas no rosto dela.

—Você tem certeza? Isso não é nenhuma vingança pela brincadeira da semana passada não, né? – Ele sussurrou.

Lily riu e negou com a cabeça.

James ainda estava levemente boquiaberto, um pouco em choque.

Ele seria pai! Lily estava grávida dele. Grávida. Eles realmente iriam começar a família como ele sempre sonhou. Não seria só ele e Lily, agora tinha um embrulho no braço dele quando pensava no futuro. James e Lily Potter, e filho. Ou filha. Ele não se importava muito. Ele devolveu os sapatos para a caixa   que Lily apoiara numa mesa e levou a outra mão para o ventre da namorada, sentindo a caixinha de veludo quando vez o movimento.

Oh, droga. Ele tinha esquecido desse detalhe.

Ele só percebeu que tinha se lamentado em voz alta quando percebeu Lily se afastando, um olhar que misturava dor e raiva.

—Não, não, você não entendeu – James exclamou rapidamente, pois ela estava começando a pegar suas coisas de volta – Me escuta! Eu tinha uma surpresa pra você também! Eu ia voltar no domingo ao invés da segunda, estava combinando com Remus para me ajudar. Eu fiz uma reserva naquele restaurante que fomos em Barcelona no nosso primeiro encontro.

—Não foi um encontro – Lily retrucou, por força do hábito. James sorriu e sacudiu a cabeça.

—Tava tudo planejado, inclusive. Agora vai parecer que estou fazendo isso porque você está grávida, mas saiba que não, ok? – James disse. Lily franziu a testa em confusão, até que James respirou fundo e apoiou um joelho no chão.

—Ai meu Deus – Ela exclamou, levando as mãos à boca.

—Você sabe como eu me sinto em relação a você, Lil. Eu te amo há tanto, mas tanto tempo. Você é sempre a melhor parte do meu dia. Eu morro de preocupação quando você sai nas suas missões, e eu fico ansioso pra lhe ver toda noite. Eu não sei o que eu faria da minha vida sem você agora que você está tão intrinsecamente conectada em tudo. Você não apenas é a auror mais foda que existe nesse lugar, e eu to incluindo Moody nisso, mas você também é uma pessoa maravilhosa, em quem me inspiro todos os dias. Eu sonho todo dia em poder dizer que sou seu marido, e tenho carregado esse anel há 4 meses comigo, sem ter coragem de fazer o que estou fazendo. Lily Evans, você me dá a incrível honra de aceitar se casar comigo?

As lágrimas no rosto de Lily apenas aumentaram, e, sem conseguir falar, ela apenas acenou com a cabeça, se aproximando de James e puxando-o pela camisa da seleção inglesa para ficar em pé e ela poder puxá-lo para um beijo.

—Eu te amo tanto – Ela sussurrou, quando conseguiu falar novamente. James segurava seu rosto com as duas mãos e sorria jubilante – Eu sei que não tínhamos planejado isso agora, mas aconteceu e...

—Shhh – James disse, colocando seu indicador nos lábios dela – Eu te amo. E já amo esse menino com todo meu coração.

—Menino, é?

—Eu tenho um pressentimento.

Lily riu e fungou.

—Tinha que ser seu filho me deixando toda emotiva desse jeito.

James riu e soltou o rosto dela, pegando sua mão esquerda e colocando o anel ali.

—Herança da família Potter – Ele disse, quando Lily olhou para o anel, parecendo ter perdido a capacidade de falar – Quando começamos a namorar, minha mãe separou o anel e me deu. Eu sempre deixei no meu antigo quarto na casa deles, pra você não se sentir pressionada caso achasse.

—É lindo. James, é...

—Parceira, se você ainda não viu o jornal, sugiro que veja, porque seu Capitão não vai gostar muito da...

James e Lily se viraram para a porta que acabava de abrir, mostrando Benjy com seu cabelo de palha falso, um jornal na mão e a outra na maçaneta.

—Oh – Benjy exclamou, olhando para o casal; James ainda segurava a mão de Lily, com o anel bem visível. Benjy desviou o olhar para a joia, em seguida para o rosto de Lily e abriu um imenso sorriso – Eu disse que não ia precisar dar uma surra nele – Benjy exclamou em satisfação.

Lily riu e enxugou o rosto, enquanto James se virava para receber os cumprimentos e parabéns de Benjy, que logo em seguida deu um forte abraço em Lily.

—Você não deveria estar na Escócia? – Benjy perguntou a James depois de apreciar o anel. James revirou os olhos.

—Vocês não deveriam estar caçando Comensais da Morte? – James retrucou em resposta.

—Eu? Talvez. Mas a ruivinha aqui deve ficar um tempinho sem ir às ruas – Benjy respondeu. Lily estreitou os olhos.

—Moody não disse nada sobre isso. Eu já marquei a consulta e meu médico vai dizer se eu posso trabalhar ou não – Lily exclamou, cruzando os braços. James sorriu, dando um beijo na testa da garota.

—Não esquece de dizer que seu trabalho inclui correr e entrar em duelos, sim? – Benjy respondeu, sacudindo a cabeça em negação – Vou continuar lá e depois você volta. Não demore muito ou os novatos vão achar que vocês estão sendo impróprios aqui – Benjy insinuou com um sorriso que parecia ter aprendido com Sirius. Lily corou e James riu – Bem, de novo, no caso – Benjy acrescentou, rindo e fugindo do pote de tinta que Lily jogara em sua direção.

—Acha que você pode ir comigo para a Escócia? – James perguntou, colocando as mãos no ventre de Lily novamente, enquanto ela sorria e apoiava os braços no tórax de James.

—Hum, não sei, por quê? – Ela respondeu, pensando em usar a carta de “preciso contar para meus sogros e pegar o segredo da poção com Fleamont” com Moody.

—Bem, depois do jornal e do espetáculo que dei hoje – James disse, sorrindo, – acho que precisamos dar uma nova entrevista.

Lily gemeu em terror da ideia, e sugeriu que ela deveria apenas ser vista no jogo e deixar a vida seguir. James concordou, mas alegou que provavelmente ela seria entrevistada. Lily deu de ombros e sorriu.

—Essa entrevista eu terei o prazer de dar.


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