Um Caso de Copa escrita por psc07


Capítulo 10
Capítulo 10




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/776609/chapter/10

Se os outros estranharam Lily chamar James pelo primeiro nome no dia seguinte nada comentaram; exceto por um olhar trocado entre Marlene e Remus, a “novidade” passou desapercebida.

Eles tomaram um rápido café da manhã e seguiram para o pavilhão de treinamento, onde encontraram Benjy nas arquibancadas.

—Benjy! – Lily exclamou, sua habitual animação ao ver o colega, que sorriu de volta e a abraçou.

—Hey, parceira! Tudo tranquilo?

—Sim, é muito bom estar de férias... – Ela respondeu e piscou um olho. Os outros cumprimentaram Benjy e se sentaram próximos ao campo – O que está fazendo aqui? – Lily perguntou.

—Bom, hoje teremos a presença da Ministra no treino.

—Quê? – Lily exclamou em surpresa.

—Parece que na Inglaterra há uma conversa de que ela não está dando o apoio dito necessário para o nosso time.

—Bem, óbvio que não! Ela é a Ministra da Magia! Não tem tempo para ficar vendo pessoas voando por aí em vassouras! – Lily disse, depois diminui o tom para um sussurro: – E o filho dela foi assassinado aqui, o que as pessoas esperam?

Benjy deu de ombros.

—O fato é que ela vem. – Ele disse. – Vamos tirar uma foto oficial dela com o time.

—Ela sabe que James é o único suspeito? – Lily perguntou fazendo uma careta. Benjy olhou para ela com uma sobrancelha erguida.

—Não, ela não sabe que James é o suspeito – Ele respondeu, dando grande ênfase no nome. Lily corou levemente.

—Benjy, não...

—Não significa nada, nada aconteceu, eu tenho certeza, parceira – Ele disse, sorrindo – Só vocês naquele quarto de hotel maravilhoso...

Lily revirou os olhos e deu um tapa na cabeça de Benjy, que só fez rir.

—Ei, não era ele que ficava lhe perseguindo em Hogwarts?! – Benjy perguntou – Com uma paixão implacável e ard- ai, ai, eu paro! – Lily havia acertado todas as partes de Benjy que ela conseguiu até ele se render, mas não sem uma risada.

—Não é nada do gênero, Benjy. Ele gostava de mim, mas isso tem quatro anos e-

—Gostava? Tente reverenciava— Marlene interrompeu, se juntando aos dois. Lily revirou os olhos e Benjy gargalhou de novo.

—Não era bem assim, Marls.

—Era exatamente assim, Lils, e você sabe disso. Vocês estão falando de James, não é?

—Que seja. O ponto é que ele é um suspeito que eu estou investigando.

—Que você chama pelo primeiro nome e que está no mesmo quarto de hotel que você – Benjy completou. Marlene riu.

—Com outras quatro pessoas, e mesmo que não tivesse, não significaria nada, devido ao fato de que ele ainda é meu suspeito e também porque não tem nada acontecendo.

—Por enquanto. – Benjy disse, fazendo Marlene rir também. Lily revirou os olhos.

—Vamos, Lily, é só uma brincadeira. Além do mais, não é como se você achasse o garoto fosse feio.

Lily se virou boquiaberta para discutir, mas foi interrompida por outra pessoa.

—Evans, Fenwick, podem parar de conversinha e virem aqui?

A voz firme de Moody fez os dois se viraram imediatamente e seguirem até ele, que vinha acompanhado pela Ministra da Magia. Lily assumiu sua postura de proteção imediatamente, quase ignorando os olhares de surpresa que recebeu de Sirius e Peter.

—Ministra, bom dia – Ela cumprimentou – Meus pêsames pela perda da senhora.

—Ministra, essa é a Auror Evans. Ela está encarregada da investigação secreta referente ao filho da senhora, com a ajuda do Auror Fenwick.

A Ministra olhou para os dois e deu um leve sorriso forçado.

—Sim, sim, já estou familiarizada com Evans. Seria prudente ela estar na minha proteção se deveria estar de férias?

—Ministra, se eu estivesse realmente de férias e a senhora aparecesse, eu iria protegê-la de qualquer forma – Lily disse. Moody deu um aceno de concordância enquanto Benjy e a Ministra sorriram. O grupo seguiu para o meio das arquibancadas, aguardando uma pausa do time, enquanto Benjy fazia uma rápida recapitulação do que acontecera até ali na competição.

—Então estamos bem? – A Ministra perguntou por fim.

—Sim, podemos até perder o próximo jogo por uma pequena margem, se o México perder da Alemanha.

—Então para que todo esse alvoroço com a minha ausência? – Ela retrucou – Quando eles vão parar? Não me sinto confortável em deixar o Ministério por tanto tempo.

—Aconteceu alguma coisa, Ministra? – Lily perguntou.

—Um ataque a trouxas. Eu não imaginei que fosse demorar tanto tempo.

Lily fechou a cara. Realmente não havia sentido (na mente dela) para a Ministra estar aqui esperando uma pausa para uma foto. Ela sinalizou a Sirius, que sorriu e acenou. Lily então apontou para o campo e fez um gesto de pausa. Sirius ergueu os polegares e correu para o campo, onde James estava de costas observando a formação dos jogadores.

Sirius falou alguma coisa para o amigo, que se virou meio alarmado e paralisou o treino com um apito. Todos se reuniram onde ele estava e Lily sorriu levemente.

—Então vamos adiantar, Ministra.

A Ministra sorriu e concordou, levantando e seguindo para o campo. A “guarda” a seguiu, com Lily à frente e Benjy e Moody atrás. James foi o jogador a recebê-los com um sorriso.

—Ministra Bagnold, que honra em tê-la aqui conosco – James disse, fazendo uma leve reverência – ainda mais considerando... bem, tudo. Eu sinto muito, senhora. Jack era um menino especial. Eu tinha um laço muito forte com ele.

—Obrigada, Potter. Ele falava muito sobre você.

Os outros integrantes do time prestaram suas condolências e se agruparam para tirar a foto. Lily se ofereceu para usar a câmera, enquanto Moody e Benjy se posicionavam perto da foto, contudo sem aparecer. A Ministra pediu para ver como havia ficado, e foi em direção a Lily para ver.

—Evans – a Ministra sussurrou – eu sei que você é a melhor. Por favor, ache quem fez aquilo com meu menino. Eu só quero justiça.

Lily engoliu em seco e olhou nos olhos da Ministra.

—Estou fazendo tudo o que posso, Ministra. Não vou descansar até achar o culpado – Lily disse em retorno, recebendo um doloroso sorriso como resposta.

Lily não acompanhou Benjy e Moody quando eles foram levar a Ministra para o ponto de aparatação, tudo para manter o disfarce.

Se ela tivesse que ser sincera, ela estava ficando cansada disso. Ela queria mais liberdade, menos sigilo, menos segredos. Queria poder investigar sem temer que Rita Skeeter fosse aparecer de supetão e atrapalhar tudo.

Não que ela fosse falar isso para alguém. Ela não era do tipo que reclamava de um caso ou missão antes que estivesse terminado. Dava azar, ela considerava.

O treino naquele dia só terminou quando escureceu. Cansados, todos concordaram em pedir serviço de quarto pela praticidade. Apesar de ter passado o dia todo voando, James não demonstrava sinais de exaustão – na verdade, a única pessoa que parecia menos cansada que ele era Lily.

Eles se sentaram à mesa para comer e Lily não escondeu sua surpresa.

—Quem pediu pizza? – A garota perguntou, já se servindo.

—Eu – Sirius respondeu – Muito tempo que não como.

—Aprovo completamente – Lily disse sorrindo. Com um aceno da varinha, ela serviu Cerveja Amanteigada nas canecas respectivas. Foi uma refeição mais calma do que o normal, mesmo que Lily não entendesse o motivo de Sirius estar tão cansado.

—Apoio emocional esgota, Evans. – Ele explicou quando Lily perguntou. Ela revirou os olhos, mas ele parecia estar falando sério, já que foi se deitar imediatamente após o jantar.

Apesar do longo treino, James ainda não estava satisfeito, e resolveu que precisava avaliar melhor algumas jogadas, então quando os outros haviam ido dormir, ele pegou sua prancheta e foi para a sala, onde Lily já estava no sofá, com as pernas erguidas no encosto e o tronco no assento. Ao se aproximar mais, percebeu que ela estava lendo um jornal cujas imagens não se moviam.

—Achou o jornal trouxa? – James perguntou, sentando-se (como uma pessoa normal, e não na posição invertida como ela) ao lado da garota, que se virou e sorriu para ele, sem, contudo, sentar-se.

—Moody trouxe para mim, Deus o abençoe. Benjy deixou na recepção agora há pouco – Ela explicou.

—E como está a Copa Mundial? – Ele questionou, deixando sua prancheta de lado. Lily deu um leve riso.

—Copa do Mundo, James, não Mundial.

—Er...

—É só terminologia mesmo... – Ela ergueu o jornal com a página de esportes para mostrá-lo – Mas está bem, a Inglaterra conseguiu classificar para a próxima fase.

—Ah, que bom – James exclamou, mesmo sem fazer a menor ideia do que ele estava falando – Somos os favoritos? – Lily riu da pergunta dele.

—Não mesmo. Estamos muito atrás de váááárias seleções, tipo Alemanha, Itália, Brasil e por mais que meu pai odeie, Argentina.

—E por que seu pai odeia a Argentina? – James perguntou, erguendo uma sobrancelha.

—Bom, esse ano ainda houve uma disputa territorial entre Reino Unido e Argentina por umas ilhas lá na América do Sul, então todos os britânicos trouxas estão jurando a morte dos argentinos...

—Algo me diz que você não se enquadra nisso...

—Bem... – Lily disse, hesitando, e depois sorrindo. James não podia acreditar que eles estavam conversando daquele jeito, como se fossem amigos de fato – eu realmente não queria que eles ganhassem, mas... eles jogam tão bem...! Eles têm esse jogador, sabe, que é simplesmente sensacional, Diego Maradona. O cara é espetacular!

James acenou e sorriu, ouvindo Lily falar tudo sobre Diego Maradona, um tal de Pelé e Zico (ele não tinha certeza se tinha entendido direito, mas ainda assim...), e tantos outros nomes. A garota parecia estar perdida naquele mundo, e ele conseguiu absorver de fato que Lily gostava daquele esporte estranho (que ele ainda não sabia exatamente como era).

Tão perdida que ela só percebeu o quanto estava falando 20 minutos depois da última vez que James pronunciara uma palavra sequer, quando ela corou deu um sorriso constrangido e James achou que ela teria corado, não fosse o fato de sua cabeça estar pendendo para fora do sofá.

—Desculpe, eu me empolguei um pouco – Ela disse, com o mesmo sorriso.

—Sem problemas, Lily. Então a Itália que será a campeã?

—É a minha aposta – Ela confirmou, dando de ombros.

—Eu espero que você esteja errada, sabe. Sou patriota – James disse. Lily revirou os olhos.

—Claro que você é, você é o capitão. Se você não fosse patriota, quem mais seria?

James sorriu e piscou.

—Agora, Evans, me responde por que você está assim no sofá?

Lily sorriu e resolveu sentar normalmente no sofá.

—Eu sempre gostei de sentar assim, desde criança. Não dava para fazer isso no Salão Comunal com todo mundo, mas sempre que eu descia para ler de madrugada eu ficava assim, de frente para a lareira. É uma das coisas que mais sinto falta de Hogwarts. Aquele Salão Comunal de madrugada, no inverno, com minha coberta e a lareira, um livro esperando a ser lido.

Apesar de nunca ter visto, não foi difícil de imaginar a cena para James: uma versão com 12 anos de Lily Evans, engolida pelo cobertor.

—Era assim que eu ficava sabendo sobre todos os casais da Grifinória, inclusive – Ela continuou, colocando o jornal no espaço entre ela e James, um sorriso malfeitor em seu rosto – Eles chegavam na Torre de madrugada dos fins de semana, e eu geralmente estava lá, lendo.

James riu, sacudindo a cabeça em negação.

—Investigando desde cedo, Evans?

Lily deu de ombros e sorriu novamente.

—A informação se voluntariava para mim, eu não podia negar. Se alguém investigava era você, que sabia todas as fofocas daquele castelo.

E James não pode discutir, pensando na sua Capa e no Mapa. Ele apenas ergueu as sobrancelhas e sorriu também.

—Meu dever como Maroto, querida Evans. Como mais eu poderia obter informações para chantagear as pessoas?

Lily gargalhou e se levantou, pegando o jornal.

—Perigoso admitir esse tipo de coisa para uma auror, Potter.

—Você não está a trabalho, é minha convidada. Tem leis que me protegem – Ele disse. Lily sacudiu a cabeça, ainda rindo.

—Eu sempre estou a trabalho, James.

E dizendo isso, ela se retirou para o quarto que dividia com Marlene, deixando um James ainda sorridente no sofá.

***

Apesar de ter ficado conversando por um bom tempo com James, Lily não se sentia cansada. Na verdade, ela estava mais revigorada que a maioria dos outros dias desde que haviam chegado à França.

Tendo sido a primeira a acordar, ela julgou que poderia fazer um agrado a todos que estavam ali, e rapidamente providenciou um café-da-manhã completo no próprio quarto. Selecionou os sabores de chá que sabia que a maioria gostava, fazendo um feitiço nos alimentos para evitar que esfriassem.

O contentamento dos demais diferenciou bastante essa refeição do jantar de pizza da noite anterior; Sirius e Peter ficaram tão animados com a mesa que não paravam de falar e brincar. James e Marlene conversavam mais calmamente, aparentemente discutindo sobre o torneio em geral.

Remus, Lily notou, estava calado ao seu lado. Olhando mais de perto, era possível perceber sua pele mais pálida e olheiras profundas, uma aparência comum ao garoto uma vez ao mês. Com tudo o que estava acontecendo, Lily esquecera de prestar atenção ao calendário lunar para se preparar.

—Tudo bem, Remy?

Ele sorriu de leve para ela, mas não comeu o croissant que estava em seu prato. Lily apertou a mão dele levemente.

—Quer que providencie outra coisa para você comer? – Ela perguntou.

—Não, não. Estou enjoado. Mais tarde eu como, se eu sentir fome.

—Quer que eu faça alguma coisa?

—Não precisa, Lil, obrigado – Remus disse, com o mesmo sorriso de sempre.

—Eu tenho aquela poção para náusea aqui, trouxe imaginando que isso pudesse ocorrer – Ela ofereceu, sorrindo. Remus riu.

Isso não tenho como recusar.

A ruiva sorriu e piscou para ele, levantando-se de imediato para pegar o frasquinho que tanto ajudaria o amigo; Lily sabia que uma das piores partes da transformação era quão mal ele se sentia nos dias que antecediam a Lua Cheia – não conseguia comer nada, ficava fraco e vomitava.

Lily se encarregara de fornecer poções para náuseas ao amigo desde que descobrira a condição dele. Ao longo dos anos, foi estudando, experimentando e modificando, até chegar numa fórmula perfeita para Remus – alguns dos ingredientes adicionados usados eram específicos para o tipo de enjoo que a licantropia causava.

Remus tomou o frasco e foi se deitar novamente. Mordendo o lábio, Lily separou um prato com um pouco de comida, para caso o amigo conseguisse comer mais tarde.

—Evans, você me ganhou completamente hoje – Sirius disse, ainda sentado à mesa, uma mão na barriga e outra com uma fatia de bacon – Fez tudo isso aqui para a gente e ainda ajudando Remus desse jeito...

—Não seja tolo, Sirius – Lily respondeu – Eu apenas solicitei. Definitivamente não sei fazer isso tudo.

—Ah. Uma pena. Só porque achei que tivesse encontrado alguém que eu definitivamente pudesse casar daqui a 20 anos – Sirius lamentou com um suspiro. Peter, Marlene e Lily riram, enquanto James revirou os olhos.

—O que lhe leva a pensar que eu estaria disponível daqui a 20 anos? – Lily questionou, cruzando os braços. Sirius abriu o seu sorriso mais conhecido.

Touché, Evans. Agora vamos conversar sobre aquela poção de ressaca que você mencionou outro dia?

Lily revirou os olhos, se divertindo com as ofertas cada vez mais insanas do garoto (5 taças de prata com o emblema dos Black, afanadas sem chance de rastreio, ou um pedaço de cortina de cada dormitório de Hogwarts), enquanto eles terminavam de comer.

James e Peter se ofereceram para recolher toda a mesa, uma vez que Lily havia arrumado. Marlene e Sirius foram procurar opções de restaurantes para o almoço.

—Qual a agenda para hoje? – Peter perguntou, quando terminaram de devolver os pratos do hotel.

—Tem treino pela tarde, e depois um evento com os estagiários – James respondeu, bocejando levemente – Pete, você poderia ficar com Aluado? Ele já não está muito bem, e Sirius tem que ir comigo...

O garoto concordou rapidamente, e Marlene se ofereceu para ficar também, de modo que James, Lily e Sirius decidiram almoçar no hotel mesmo para simplificar.

Lily carregava seu gravador na bolsa, pronto para ser ligado no momento em que chegassem ao evento com os estagiários. Ela ficara receosa em deixar Remus, e teria considerado pedir apoio de Benjy, não fosse a oportunidade de conversar com os estagiários. Ainda assim, deixara as poções que pudessem ajudar Remus separadas e devidamente identificadas.

—Se você está assim com Aluado, imagina quando for mãe – Sirius comentou com uma risada rouca que foi interrompida por uma exclamação de surpresa ao ter seu pé preso num buraco no chão.

Lily e James (em meio a gargalhadas) seguraram Sirius para impedir que ele caísse. Ele se estabilizou e retirou o pé do buraco no chão a caminho da saída do complexo.

—Mas que droga de buraco é esse?! – Sirius exclamou. Lily e James ainda estavam rindo, mas a garota se controlou o suficiente para observar o buraco com atenção.

—Parece ser de toupeira. Ou pelúcio. – Ela respondeu, se abaixando para examinar melhor. Foi a vez de Lily de se assustar quando um animal saiu repentinamente do buraco na terra – Olha, é uma toupeirinha! – Ela exclamou.

—O que é isso? – James perguntou, se aproximando do bicho, que estava encolhido e observando Lily; a garota já estava sorrindo.

—É um animal trouxa. Vocês não têm toupeiras?

—Não mesmo – Sirius exclamou – Nós não temos, srta. Trouxa.

Lily deu de ombros e continuou a observar a pequena toupeira. Olhando com mais atenção, dava para perceber que havia vários buracos como aquele pelo gramado – a maioria próxima da grade que cercava, tanto fora quanto dentro.

—Essas pessoas malvadas invadiram a sua terra, não foi? – Lily murmurou para a toupeira, conjurando um pouco de água e oferecendo ao animal.

James e Sirius observaram por mais um tempo enquanto Lily hidratava a toupeira, que se enfurnou em seu buraco novamente quando estava satisfeita.

Eles seguiram e apresentaram suas credenciais na saída, se encaminhando mais rapidamente para o local de treinamento. James se encaminhou diretamente para o gramado, enquanto Sirius e Lily sentaram-se na arquibancada. Sirius tirou um pacote de Feijõezinhos de Todos os Sabores do bolso, e ofereceu a Lily, que aceitou com um sorriso.

—Então, Evans. Percebi que você está mais amigável com meu querido amigo chifrudo.

—Quem? – Lily perguntou em confusão.

—James.

—Ah – Foi só o que ela conseguiu responder, sentindo o rosto corar levemente.

—Acho isso ótimo, excelente. Significa que não acha mais James culpado?

Lily mordeu o lábio inferior e suspirou.

—Sirius, você sabe que eu não posso discutir isso.

—Eu sei. Estou apenas ponderando em voz alta e observando as suas reações.

—Sirius...

—Tudo bem, tudo bem. Só acho que antes tarde do que nunca. Mesmo que quatro anos depois.

—Você mais do que ninguém sabe quão diferente as situações são, Sirius – Lily disse com um suspiro.

Sirius deu de ombros.

—Mantenho meu argumento. Você é uma garota legal, Lily, e acho que essa experiência vai nos deixar como legado convívio futuro.

—Não seu amigo preso? – Ela perguntou, arqueando uma sobrancelha.

—Ele é inocente.

—E se eu tiver de prendê-lo? – Lily questionou.

—Não vai precisar. Eu confio em seu trabalho, Evans.

Lily se virou para a frente e tentou disfarçar o leve rubor com o elogio de Sirius. Claro que ela sabia que ele deveria confiar, mas daí para ele dizer fazia uma imensa diferença. Ela sabia que Sirius era mais do tipo caladão.

Eles não falaram mais depois disso, ambos concentrados no treino que ocorria em frente. Lily tentava entender os movimentos que James tentava fortalecer, enquanto Sirius olhava criticamente a maneira que o amigo voava.

Como habitualmente faziam, Lily e Sirius esperaram James sair dos vestiários após o treino. Eles já estavam levemente atrasados para o evento com os estagiários, e a presença de James era uma das mais esperadas.

De novo Lily se pegou observando como as pessoas tratavam James. Não era muito diferente quando eram colegas de escola: a estrela do time na frente dos fãs. A maior discrepância era a reação dele frente a tanta atenção. Há 4 anos ele teria se gabado, dizendo que realmente era o melhor, que não havia chance de seu time perder.

Agora James aceitava o elogio com um sorriso, mas desconversava; ele não se fazia o centro da atenção sempre. Dava crédito aos seus companheiros, e respeitava os adversários.

E ao redor de todos aqueles estagiários parecia se misturar. Não fosse o fato de que ela o conhecesse, pensaria que era um deles. Quando Lily se aproximava, podia ouvir que James estava dando dicas para os adolescentes. Tinha gente de diversos países, todos querendo falar com ele.

James não era o único jogador presente; dois franceses também estavam lá, além de um alemão e um brasileiro. Contudo, o assédio de nenhum deles era parecido com o que James estava sofrendo.

—Impressionada? – Sirius perguntou, com um leve sorriso no rosto.

—Eu não sabia que ele era tão importante assim para o Quadribol – Lily respondeu, cruzando os braços.

—Ah, Evans... Ele é o melhor jogador do mundo, e não estou exagerando.

—Eu não acompanho Quadribol – Ela disse, como se estivesse se justificando.

—Eu sei disso. Você nunca gostou, mesmo em Hogwarts. – Sirius comentou, dando um gole de sua bebida. – Eu achava que era por James, mas acho que era algo mais profundo.

—Eu realmente não gosto muito desse esporte. – Lily afirmou, e fez uma careta – Mas sim, seu amigo ajudou no meu gosto – Ela admitiu em seguida. Sirius riu.

—Não vou lhe julgar – Ele respondeu – Não muito, pelo menos. – Sirius suspirou – James mudou, Evans. Claro que ele ainda é arrogante demais para seu próprio bem, não passa uma oportunidade de fazer brincadeiras, e adora a atenção. Mas ele tem os pés no chão agora. E seu coração permanece no lugar certo.

Lily assentiu distraidamente com a cabeça. Ela já tinha percebido tudo aquilo que Sirius lhe dizia, mas não tinha comentado. Tampouco entendia o motivo de ele estar falando sobre aquilo agora.

—É sempre assim? – Ela perguntou, indicando a quantidade de estagiários ao redor de James e ignorando os comentários de Sirius.

—Quase sempre. Mas ele não se importa muito. Na verdade, ele até gosta. – Sirius deu de ombros.

Lily fez uma careta, deixando claro seu desprazer pelo sentimento e fazendo Sirius rir mais uma vez.

—Venha comigo – Ela disse – Preciso perguntar sobre Jack para esses estagiários sem parecer que estou interrogando...

Não foi uma tarefa das mais fáceis. Quase todos os estagiários estavam cercando os jogadores presentes, e era difícil encontrar um momento para se falar.

Aos poucos, contudo, eles conseguiram conversar com alguns. Todos falaram a mesma coisa: Jack era um garoto que gostava de todo mundo, que fazia os outros gostarem dele também. Não tinha feito nenhum inimigo. Somente os estagiários britânicos sabiam do seu parentesco.

Mas também ficaram sabendo que ele gostava de ficar até tarde no campo de Quadribol, treinando com sua própria vassoura, até o responsável chamá-lo. Descobriram, ainda, que era um excelente jogador, e que defendia os nascidos-trouxas com unhas e dentes.

Sirius definira a noite como uma perda de tempo para Lily (“de que lhe adianta saber que ele gostava de ficar alimentando os pelúcios?”), mesmo que a garota insistisse que não era da conta dele o resultado daquele dia de campo.

Para Lily, reafirmava suas suspeitas que o assassino era de fora da concentração. Mas por que alguém iria querer assassinar um garoto de 18 anos? Ainda mais Jack, que parecia ser tão bem quisto por tanta gente!

Claro que Lily não compartilhou suas conclusões com Sirius; a única pessoa que ficou sabendo foi Benjy, através da coruja que ela lhe enviou naquela noite.

—Se importam se pararmos para comer? – James perguntou quando os três saíram do prédio – Não consegui comer nada.

—Muitos fãs, Pontas? – Sirius perguntou quando ele e Lily concordaram. James sorriu.

—Bem, sim. Eles eram legais. A maioria quer jogar no futuro, pediram dicas de como treinar forte o suficiente para chegar a nível profissional.

James continuou a falar sobre os estagiários, até que Sirius mandou-lhe calar a boca para comer mais rápido e voltarem logo, pois eles estavam cansados.

—Lily não está cansada, está? – James perguntou, erguendo as sobrancelhas (Sirius teve de se segurar para não revirar os olhos. Francamente. O idiota estava apaixonado mesmo. De novo).

—Na verdade não, mas preciso enviar um arquivo para Benjy – Ela respondeu – Mas pode terminar de comer sem pressa, James – Lily acrescentou, quando James ameaçou se levantar.

—Vou pedir para embalar para viagem. Certeza que não querem nada? – Ele ofereceu. Lily e Sirius negaram, a garota com um sorriso e Sirius cruzando os braços.

O caminho de volta foi preenchido pelo assovio de James, que entonava uma música desconhecida por Lily; ela supôs que fosse alguma banda bruxa que não fosse tão famosa.

Ao chegarem no quarto, Lily imediatamente foi checar Remus, sendo seguida por Sirius e James. Ele estava melhor graças às poções, mas ainda indisposto. Lily se recolheu logo após para enviar o tal arquivo, deixando Sirius e James na sala.

—Cara, não é possível – Sirius disse. James, que estivera olhando na direção de Lily, fixou sua atenção no amigo.

—O quê? – Ele perguntou.

—4 anos. Eu voltei 4 anos no tempo.

James corou e revirou os olhos.

—Não é minha culpa.

—Não, eu acho que não – Sirius concordou – deve ter algum gene seu programado para gostar daquela garota.

—Como você sabe o que é um gene? – James perguntou, erguendo uma sobrancelha. Sirius sorriu e piscou

—Sua ruiva fala bastante.

***

Benjy Fenwick não era geralmente um cara que reclamava do trabalho. Ele amava ser auror; a adrenalina da missão, o senso de recompensa de conseguir, o prazer em ajudar pessoas... e, claro, seus companheiros aurores.

Lily, sua parceira e grande amiga, por exemplo, nunca lhe deixava na mão. Ajudava nos relatórios, lhe dava dicas, e sempre cobria sua retaguarda. Nunca hesitava em lhe ajudar, com o que fosse.

De maneira semelhante, Benjy sempre estava disposto a dar uma mãozinha à ruiva, sem nem questionar.

E foi exatamente por essa confiança mútua que ele seguiu sem pestanejar a tão conhecida corça que lhe acordou na madrugada, trazendo a voz ofegante e levemente desesperada de sua parceira:

Benjy, eu sei que é uma hora péssima, que isso é uma loucura, mas eu preciso de sua ajuda. Por favor, por favor, venha.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Um Caso de Copa" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.