Um Caso de Copa escrita por psc07


Capítulo 11
Capítulo 11




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Benjy Fenwick não era geralmente um cara que reclamava do trabalho. Ele amava ser auror; a adrenalina da missão, o senso de recompensa de conseguir, o prazer em ajudar pessoas... e, claro, seus companheiros aurores.

Lily, sua parceira e grande amiga, por exemplo, nunca lhe deixava na mão. Ajudava nos relatórios, lhe dava dicas, e sempre cobria sua retaguarda. Nunca hesitava em lhe ajudar, com o que fosse.

De maneira semelhante, Benjy sempre estava disposto a dar uma mãozinha à ruiva, sem nem questionar.

E foi exatamente por essa confiança mútua que ele seguiu sem pestanejar a tão conhecida corça que lhe acordou na madrugada, trazendo a voz ofegante e levemente desesperada de sua parceira:

Benjy, eu sei que é uma hora péssima, que isso é uma loucura, mas eu preciso de sua ajuda. Por favor, por favor, venha.

***

20 HORAS ANTES

Lily estava sentada lendo o jornal, ao lado de Remus, no sofá, quando James entrou na sala, sapatos na mão e cabelos molhados.

—Acordou cedo hoje – Lily comentou, checando o relógio para ver se realmente eram sete horas da manhã.

—É, o treino será mais cedo, preciso conversar sobre tática – Ele respondeu com um sorriso, sentando na poltrona – Tudo bem, Aluado?

—Poderia estar pior, mas as poções de Lily estão me mantendo bem.

Lily lhe ofereceu um sorriso e uma piscadela, voltando imediatamente para o jornal. James voltou para o quarto e depois para a sala novamente.

—Você está pronta para ir? – Ele perguntou. Lily acenou com a cabeça – Certo, só falta Almofadinhas. Peter e Marlene vão ficar com Aluado de novo...

Uma batida na porta o interrompeu. Lily franziu o cenho.

—Algum dos dois pediu comida? – Ela perguntou. James e Remus negaram, e ela suspirou, pegando sua varinha – Fiquem aqui, sim?

Ela foi calmamente em direção à porta, mas com a varinha firme na mão direita.

—Sou eu, Evans, abre logo – Um rosnado veio do outro lado. Lily soltou uma risada.

—Sr. Moody, por favor entre! – Ela disse, abrindo a porta. O chefe dos aurores adentrou e Lily imediatamente fechou a porta.

—Potter, Lupin – Ele cumprimentou com um aceno, e depois se virou para Lily – Preciso falar com você em particular.

—Er...

—Eu vou descendo para tomar café, não se preocupe – James disse rapidamente, se levantando. Remus o seguiu.

—Eu vou também.

—Remus... – James disse num tom de alerta.

—Estou bem o suficiente para isso, James. Vamos.

—O que há com Lupin? – Moody perguntou.

—Ele não está se sentindo muito bem. O senhor sabe, ele tem uma saúde ruinzinha.

Moody acenou com a cabeça e virou os dois olhos para a garota.

“Oh, não”, ela pensou imediatamente.

—Evans, eu preciso de progressos.

—Eu estou-

—Deixe-me falar. Eu preciso de progressos. No momento tenho apenas um suspeito. Preciso de mais. Ou que esse suspeito realmente seja o culpado. A situação é muito grave, e estou sendo cobrado.

—Senhor, eu estou tentando. Ser babá de James-

—James? – Ele perguntou, erguendo uma sobrancelha.

—Sim, de Potter, está me atrapalhado um pouco, além da investigação sigilosa. E de Rita Skeeter. E do fato de não termos uma única pista.

—Mas nada que fale de suspeitos? – Moody questionou e Lily mordeu o lábio inferior.

—Eu tenho quase certeza que J- Potter não é o culpado.

Moody não respondeu imediatamente. Ele encarou sua auror por alguns segundos.

—Você tem provas?

—Não, senhor, mas... é instinto.

—Evans, você sabe que eu confio em seu instinto. Mas nesse caso, não será o suficiente. Eu preciso de evidências.

—Eu sei disso, eu juro que eu sei, mas quem quer fez isso, fez muito bem. Esse está sendo um dos casos mais difíceis, por todos os fatores.

—Eu entendo. Mas eu preciso lhe cobrar. Ou você inocenta Potter e me dá um novo, ou você me entrega ele. E logo, Evans. Eu preciso de respostas.

—Sim, senhor.

Ele começou a se afastar, mas hesitou e se virou para a garota novamente.

—Lily, eu lhe coloquei nesse caso porque você é a melhor, e porque eu sei que você não se impressiona com famosos. Por favor, não perca a objetividade, sim?

—Isso não será um problema, senhor. – Lily respondeu, encarando seu chefe com sua expressão dura.

No quarto dos meninos, Sirius ouviu finalmente a porta bater e decidiu ir para a sala, levemente atordoado com o que tinha ouvido. Parou, contudo, ao perceber que Lily ainda estava na sala, sentada no sofá com o rosto nas mãos.

Ele se escondeu na porta e observou Lily coçar os olhos cansadamente, e depois se levantar, com uma expressão preocupada, e seguir para a porta, também saindo do quarto.

O cenário não parecia muito favorável para James.

***

James nunca iria deixar de se sentir como ele se sentia ao voar. Ele amava estar no ar, se deixando apenas ir adiante, ir aonde era necessário... a leveza, a velocidade... era uma das melhores experiências que James tivera na vida.

Ainda mais quando era seu time. Era ele o responsável pela seleção de seu país.

E ele adorava aquilo.

A conversa tática com o time não durara muito – apenas o suficiente para eles captarem o que era passado. Logo estavam no ar, se entendendo melhor que James imaginou no início de tudo, mostrando o porquê de serem um dos favoritos a ganhar a Copa.

Nem mesmo Sirius achou algum defeito para falar (tudo bem que Sirius não parecia muito ligado no jogo), e Lily estava olhando para seus papeis novamente. Mas aquilo não deixava James preocupado ou desanimado (não muito, pelo menos). Ambos estavam passando tanto tempo nos treinos que provavelmente mereciam uma folga.

—Cansada de tanto Quadribol? – James perguntou a Lily enquanto eles e Sirius almoçavam.

—Já passou da minha quota há algum tempo, na verdade – Lily confessou. James sorriu.

—Prometo que vamos passar um dia inteiro sem nenhum traço de Quadribol. Feito? – Ele propôs. Lily semicerrou os olhos.

—Um dia inteiro?

—Inteiro.

—Sem nadica de Quadribol? – Lily perguntou desconfiada.

—Nadica de nada – James confirmou, ainda sorrindo.

—E como planeja fazer isso em plena Copa Mundial de Quadribol? – Ela desafiou. James sorriu mais ainda e piscou um olho.

—Isso você deixa comigo.

Ainda sem acreditar completamente no garoto, Lily continuou a comer.

Quando chegaram de volta ao hotel, Lily foi diretamente ao quarto.

—Almofadinhas, tá tudo bem? – James perguntou quando completou uma hora sem o amigo falar nada.

—Quê? Tá sim. Só preocupado com hoje à noite. – Sirius respondeu, abaixando o tom de voz. James assentiu.

—Marquei o treino hoje mais cedo e amanhã mais tarde justamente por causa disso. Vamos descansar um pouco de tarde, sim?

Remus, Marlene e Peter já tinham almoçado e os dois garotos estavam jogando xadrez. Marlene saíra para encontrar uns amigos que estavam na França para a Copa. Como Sirius e James estavam dormindo, Lily aproveitou a calma para arquivar as entrevistas disfarçadas com o gravador, além de reorganizar o material do caso.

Quando Peter também foi dormir, ela foi conversar com Remus. Havia tempo que ela não conseguia falar com ele com privacidade por causa da Copa, e ela também estava levemente cansada.

—Como passou hoje, Remy? – Lily perguntou, sentando-se no sofá ao lado do amigo, que deitou a cabeça no colo dela.

—Bem, obrigado. Descansando. Amanhã vai ser pior.

—E você já sabe para onde vai? – Ela questionou, se recostando e fechando os olhos enquanto fazia cafuné em Remus.

—Tudo sob controle. Os meninos vão me levar e me trarão de volta amanhã.

Lily murmurou algo em concordância, e sentiu aos poucos sua consciência se esvair, num sono rápido e inesperado, mas muito bem-vindo... a brisa que vinha da porta aberta da varanda aliviando o calor daquele dia, e nem mesmo a claridade atrapalhava...

—Lily!

A garota acordou assustada com o chamado de Marlene, sentando-se rapidamente com a varinha em mãos.

—São que horas? – Lily perguntou ao observar que a lua cheia reluzia brilhantemente no céu escuro pela varanda.

—São duas da manhã.

Lily suspirou e coçou os olhos. Depois focou na amiga e percebeu a expressão apreensiva no seu rosto.

—Marlene...

—Eles não estão aqui. – Marlene disse de uma só vez, como se fosse uma expiração que ela estava segurando há muito tempo. – Eu revirei o quarto todo, desci, mas não achei nenhum deles.

—Marlene, quando você fala “eles” ...

—Os quatro. Nenhum deles está aqui. Inclusive... inclusive James.

Lily xingou baixinho. Remus tinha dito que Sirius e Peter iriam lhe ajudar na transformação, mas ela não esperava que o idiota do James também fosse. Não fora há um mês atrás que ele se encrencara com o Ministério pelo mesmo motivo?

Quando ela se levantou do sofá, pronta para sair procurando pelos 4 palermas, a porta do quarto se abriu, e metade dos supracitados palermas entraram, suados e sujos.

—Oh, não – Marlene murmurou, ao perceber que James não era um dos palermas que havia retornado – Eu vou, hum, comprar alguma coisa no bar... – Ela disse e saiu.

Lily estava de braços cruzados, a aura de durona que tanto impressionara Peter de volta com toda a força.

—Rabicho, vai pegar... eu vou conversar com Lily um pouco...

—Auror Evans. – Lily corrigiu enquanto Peter corria para o quarto. Sirius ergueu as sobrancelhas.

—De volta a formalidades?

—No momento, sim. Me deixei ser levada por vocês, tiraram meu foco do caso... exatamente o que Moody não queria que acontecesse...

—Tiramos seu foco do caso? – Sirius perguntou num tom de incredulidade.

—Cadê seu amigo, Black? – Lily questionou sem rodeios. Sirius suspirou e passou a mão pelos cabelos, num gesto que só podia ter sido aprendido com o amigo em questão.

—Lily, você precisa entender que... nós só queremos ajudar Remus. Ele é seu amigo também, você sabe como ele fica perto de dias como hoje... em dias como hoje.

—Eu entendo isso. Eu sei. Mas no momento, James Potter tem uma ordem expressa de não ficar longe de mim, não importa o motivo. Merda, Black, você tem noção da dificuldade de investigar assim?

—Lily...

—Não! Você não entende isso! Eu aceito calada todas as reclamações de Moody porque eu sei que ele tem razão. Mas nisso? Eu estou sendo uma babá, simplesmente isso. Seu amigo precioso só não está detido no momento porque é uma droga de jogador de Quadribol! E por isso eu tenho que ficar vigiando o que um imbecil de 24 anos faz, porque ele não consegue simplesmente obedecer uma merda de uma ordem do chefe dos aurores, que está aliviando a barra dele.

—Lily, eu sei que é barra pesada pra você, eu sei disso... mas acredite em mim, James é inocente! Ele não matou Jack, ele nunca mataria ninguém!

—Acho que o Potter de alguns anos atrás discordaria disso! – Lily disse, jogando as mãos para cima. Sirius respondeu com uma risada descrente.

—O Potter que salvou Snape de Remus? Esse Potter? Ou o que sempre defendia alguém dos Sonserinos? Porque qualquer um dos dois nunca mataria Jack. Nem o James de hoje.

—Acho que você não está entendendo, Black. Mesmo que eu acredite na inocência dele – e não estou dizendo aqui que acredito! – é a segunda vez que ele desobedece a parte dele do acordo para ele continuar a jogar a maldita Copa! Que diabos vocês fazem de tão importante para Remus? Porque honestamente-

E realmente Lily iria falar algumas verdades que ela tinha guardado por algum tempo – não fosse o Petrificus Totalus que a atingiu inesperadamente.

—Rabicho! – Ela ouviu Black gritar – Você tá maluco?!

—Eu... eu entrei em pânico! Nós precisamos voltar logo!

Lily ouviu Sirius suspirando e logo em seguida indo em sua direção para olhá-la nos olhos.

—Escuta, Lily, me desculpa, ok? Mas é por Remus. Só por Remus. Você sabe como ele é. É a única coisa que conseguimos fazer para ajudá-lo de verdade. Desculpa.

A aparente sinceridade nas desculpas de Sirius não serviu para acalmar a garota. Ela ainda não acreditava que tinha sido amaldiçoada por trás e (pior) por Peter Pettigrew! Com toda a concentração que possuía, conseguiu lançar o contrafeitiço não verbal, mas já era tarde demais. A essa hora, os dois já deviam ter aparatado.

—Merda!

A porta novamente se abriu, dessa vez deixando Marlene entrar.

—Lily?

A ruiva contou rapidamente o que aconteceu, andando de um lado para o outro. Marlene suspirou.

—O que esses idiotas têm na cabeça? – Ela murmurou quietamente.

—Titica de galinha, é isso que esses imbecis têm na cabeça. E agora eu tenho que sair na louca procurando por eles, porque...

Dessa vez, Lily parou de falar voluntariamente, arregalando os olhos e abrindo um leve sorriso de satisfação.

Marlene não entendeu exatamente o que estava acontecendo, o motivo de sua amiga ter ido correndo para o quarto pegar um mapa-múndi e abrir na mesa da sala, murmurando diversos feitiços até que um ponto específico do mapa brilhou.

—51°12'0.00" N, 0°30'0.00" L. Ok. – Finalmente Lily se virou para Marlene – Eu vou resolver isso. Fica aqui. Se Moody aparecer diz que não sabe de nada.

—Ok, eu realmente não sei... – Marlene disse enquanto Lily já se adiantava para a porta correndo.

Era bom que eles tivessem tanto treinamento físico no Ministério, ou Lily teria cansado rapidamente. Ela precisava sair da área protegida da concentração para aparatar onde Potter estava... e quando chegasse lá... ah, Potter se veria com ela...!

Com as coordenadas claras na mente, ela girou e se viu cercada por árvores que mal deixavam a luz do luar passar. Segundo o mapa, aquele lugar poderia ser a floresta que Potter dizia ter estado com os amigos na noite do assassinato.

Ela acendeu a ponta da varinha e respirou fundo, lançando um feitiço para se proteger do frio da floresta. Lily não era inocente a ponto de sair chamando Potter pelo nome; numa floresta possivelmente mágica, chamar atenção para si não era boa ideia.

Então ela foi caminhando pelas árvores, tomando cuidado para não fazer muito barulho e tomando cuidado para não deixar Potter passar desapercebido. Ela estava lembrando justamente da existência da Capa de Invisibilidade de Potter e xingando o objeto quando ouviu barulhos de cascos vindo em sua direção.

Em seguida, um impressionante cervo apareceu, diminuindo a velocidade do galope ao ver Lily, que se aproximou vagarosamente enquanto o animal a encarava.

Mas de repente não era mais um cervo; de repente, ela achou que estava ficando insana, que ela estava sonhando ou que havia sido atingida por uma maldição; ela achou que talvez seus olhos estivessem a enganado, que todo esse mês era uma mentira e ela estava em um coma.

Porque de repente, o cervo deu lugar a James Potter.

—Eu...você... o quê?!

—O que você está fazendo aqui?! – Potter perguntou, chocado. Lily acordou de seu devaneio, percebendo que era tudo verdade. Ai, Merlin, ela pensou.

—Eu que lhe pergunto, Potter! – Foi o que ela disse em resposta – O que você está fazendo aqui, sem minha supervisão?

—Como você me achou? – Ele ignorou a garota.

—Você realmente acha que eu não iria colocar um feitiço de localização em você depois do que você aprontou naquela festa?

—Feiti- Lily, isso é invasão de privacidade! – Ele exclamou, fazendo Lily rir.

—Bom, no seu caso fugir de mim é motivo para prisão, então acho que você está pior do que eu.

Potter sacudiu a cabeça e passou a mão pelos cabelos.

—Olha, depois nós conversamos, você precisa sair daqui. Agora – Ele disse, se aproximando de Lily, que revirou os olhos.

—Vou junto com você, Potter. Já lhe encobertei demais.

—Lily, você não está entendendo. Estou aqui por Remus-

Tudo aconteceu muito rápido. Num momento, ele estava ordenando que Lily saísse, no próximo ele estava no chão, sangue rapidamente se espalhando ao seu redor, e quando Lily olhou para cima, varinha em riste, se deparou com Remus transformado.

Para sua sorte, contudo, o lobisomem imenso foi arrastado por um igualmente grande cachorro preto, seguindo outro caminho na floresta e deixando Lily com um sangrante James Potter.

—Que merda...! Ai, merda, merda, merda!

Lily se aproximou de Potter, se ajoelhando ao seu lado e confirmando que ele realmente estava desacordado. O sangue ainda se acumulava no chão, então ela virou as costas dele para cima e não conteve o arfar que misturava choque e surpresa.

Era perceptível o estrago feito pelas garras do lobisomem através da camisa (rasgada): quatro cortes profundos e que sangravam mais do que qualquer corte que Lily já havia visto.

Ela pegou o frasco de Essência de Ditamno que sempre carregava com ela e espalhou pelas costas de Potter. Por alguns segundos, pareceu funcionar, mas logo em seguida as feridas começaram a sangrar de novo, com a mesma intensidade.

—Ai que droga! Não se atreva a morrer aqui e agora, Potter!

Por mais que ela tentasse refrear, o desespero a atingiu. Lily sabia que feridas de lobisomens eram amaldiçoadas, que era preciso um conhecimento acima do que ela tinha para resolver aquilo – ela só seria treinada para tal no ano seguinte.

Ela também sabia que não podia ir ao St. Mungus. Não haveria possibilidade de esconder como Potter fora ferido, o que colocava em risco o segredo de Remus. Além do mais, ela teria de admitir para Moody que perdera Potter de vista, e isso era algo que ela pretendia evitar ao máximo; não faltavam motivos para Moody repreendê-la, e ela certamente não queria dar mais um ao chefe.

Ela pensou no que sabia sobre esses ferimentos, que era apenas o que seu pai médico trouxa havia lhe ensinado: era preciso parar, e repor o sangue perdido. Ela tinha a poção para repor o sangue pronta no quarto, mas ela também sabia que só isso não adiantava: Potter estava sangrando, e sangrando muito. Seria a mesma coisa de colocar uma mangueira num balde já furado.

Não, o que ela precisava era parar o sangramento. Se ao menos ela tivesse mais experiência...

E foi aí que ela lembrou. Uma pessoa que tinha mais experiência que ela, e em quem ela podia confiar completamente. Sem mais delongas, ela invocou o patrono para entregar sua mensagem.

—Benjy, eu sei que é uma hora péssima, que isso é uma loucura, mas eu preciso de sua ajuda. Por favor, por favor, venha.

Sua corça desapareceu rapidamente, e ela aplicou a essência mais uma vez, na esperança de tentar conter ao menos um pouco a hemorragia. Lily sabia que a sensação de que horas estavam se passando era apenas isso, uma sensação; mas o conhecimento não impedia a ansiedade que a tomava lentamente.

Ela sabia que Benjy a encontraria, já que os aurores tinham um feitiço de localização semelhante ao que ela colocara em Potter. Ela só queria que ele chegasse logo. Potter não podia morrer ali, de jeito nenhum. Seria tudo culpa dela. E Remus...

—Lily? O que está acontecendo?

A voz de Benjy surgiu como um copo de água no deserto. Lily se virou para ele, percebendo apenas agora que seus olhos estavam marejados de lágrimas.

—Isso é Potter? Lily...?

—É ele, Benjy, ele foi atacado por um lobisomem!

—Mas...?

—Benjy, eu também não sei, vamos interrogá-lo depois, mas pelo amor de Deus, fecha essas feridas ou não vai haver ninguém para interrogarmos!

Benjy acenou e se ajoelhou do outro lado de James, em frente a Lily, já fazendo os feitiços para estancar o sangramento. Após alguns segundos, o sangue parou de escorrer, e Lily suspirou em alívio.

—Ele ainda precisa repor o sangue – Ela falou – perdeu muito.

—Vamos para meu alojamento. Podemos aparatar e tenho uma poção lá.

Ela concordou com a sugestão, e se segurou em um braço de Potter, enquanto Benjy segurava o outro. No instante seguinte, eles estavam no que deveria ser o quarto de Benjy. Eles colocaram James na cama, e Benjy foi procurar a poção.

Apesar dos pedidos do parceiro, Lily não falou nada sobre o assunto, apenas que ela havia seguido Potter usando o feitiço de localização.

O sol estava dando sinais que iria nascer quando Potter finalmente acordou. Ele piscou os olhos diversas vezes até reconhecer Lily e Benjy e gemer.

Os aurores estavam em pé ao lado da cama em que James descansava, ambos de braços cruzados e portando expressões nada amigáveis.

—Você nos deve uma baita de uma explicação, James Potter – Lily cobrou quando ele a encarou. O garoto suspirou e tentou se sentar.

—Eu não posso simplesmente dizer que foi o melhor para Remus e fim? – Ele tentou.

Lily endureceu ainda mais a feição.

Não, você não pode dar respostas evasivas e esperar que eu as aceite, Potter. Você tem alguma noção...?

—De novo a mesma conversa? – James interrompeu, revirando os olhos. – Sim, eu tenho noção do que eu fiz, o que prova que é de extrema importância, ou eu...

—Espera um pouco. O que Remus tem a ver com isso? – Benjy perguntou, olhando de Lily para James.

—Eu não vou falar nada na frente dele. – Foi a resposta de James. Lily bufou.

—Pois você deveria estar de joelhos agradecendo a Benjy, porque se não fosse por ele, você estaria sob custódia no St. Mungus. De joelhos, Potter!

—Você sabe muito bem o motivo de eu não querer falar!

—Eu confio em Benjy, Potter! Muito mais do que em você! Por que você acha que eu o chamei? Acha que eu colocaria tudo em risco? Eu e Benjy somos parceiros há muito tempo, e isso nos dá confiança mútua. Então ou você fala, ou vai preso, porque é a segunda vez que desobedece às ordens de Moody.

James trincou os dentes e olhou para o teto.

—É mais do que você acha que sabe. Não é só meu segredo para divulgar.

—Tudo bem, então eu começo – Lily disse, se virando para Benjy – Remus Lupin é um lobisomem. Foi assim desde criança. Ele cursou todos os anos de Hogwarts assim, sem problemas.

Benjy ergueu as sobrancelhas.

—Então foi ele que atacou James? – Ele questionou.

—Evans, eu juro por Merlin, se você...

—Agora está me ameaçando? – Ela vociferou, se aproximando de James. – Você e seus amigos são uma onda, sabia disso? Mentem, fogem, me azaram pelas costas, e agora está me ameaçando? Eu, que permiti que toda essa palhaçada fosse adiante? Não mesmo.

Então Lily contou que era por isso que ela desconfiava do álibi de James, o que tinha ocorrido até ela chegar na floresta, a suspeita de ser o mesmo local que eles alegavam ter estado na noite do assassinato...

—Qual não foi minha surpresa ao ver o cervo se transformando em James Potter, que me mandava sair, até ser atacado e eu ter de lhe chamar – Ela terminou, enquanto Benjy mostrava surpresa pelas feições – Então ou ele fez uma magia extraordinária, ou é um animago ilegal.

—Por que ilegal, Evans? – Potter perguntou, desviando o olhar de Lily para ele.

—Porque, sua grande besta, eu trabalho no Ministério, e é meu dever saber os Animagos existentes para caso eles se transformem. Então é melhor você contar tudo.

James suspirou e esfregou os cabelos com as duas mãos, olhando de Benjy para Lily.

—Isso não pode sair daqui. Se eles souberem... inferno, Azkaban vai parecer férias. – James suspirou novamente – Nós descobrimos sobre Remus no nosso segundo ano. Ficamos animados por ter um amigo lobisomem...

Então ele contou tudo. Como eles pensaram na maneira de ajudar o amigo, a dificuldade de se transformarem em Animagos ilegais debaixo do nariz de todos os professores, o que eles faziam com Remus até os dias atuais, e como era importante. Sobre como ele era um cervo, Sirius era um cachorro e Peter era um rato.

E, veja bem, Lily estava tentando não se impressionar. De verdade. Ela queria permanecer passiva, objetiva. Mas por Merlin, como é possível ouvir que eles haviam decidido por conta própria virarem Animagos ilegais apenas para dar conforto a Remus? Todos os perigos que passaram? E fazer isso com quinze anos.

—E é assim que conseguimos ajudar Aluado. É por isso que tenho minhas folgas. Sirius é grande, você viu hoje, mas é difícil um só controlar o lobisomem. Então eu tenho que ir. E Remus... todos eles são mais importantes do que Quadribol para mim. Eu faria tudo de novo e mais num piscar de olhos. Porque é isso que se faz pela família.

O fim da declaração de James (que olhava para frente, sem conseguir encarar nenhum dos outros dois) foi recebida com silêncio por alguns minutos.

—Certo. – Benjy disse. – Moody. Precisamos contar para Moody.

—Não! – James exclamou. – Por tudo que é mais sagrado, nenhuma palavra a ele!

—Potter, isso poderia lhe livrar de Azkaban. Bem, não livrar exatamente, porque ser animago ilegal dá pena. Mas muito menor! Não seria perpétua, por exemplo – Benjy disse.

—Não. Se você quiser me prender, me prenda. Mas deixe os outros em paz. Eu saio algemado daqui direto para os Dementadores, mas não toque nos outros.

Benjy olhava boquiaberto para James, que o encarava com extrema intensidade.

—Não é uma escolha, Potter, é o que é. Não posso-

—Benjy.

O chamado foi calmo, baixinho, mas era possível sentir o pedido no nome. Não foi alto, mas foi o suficiente para calar os dois homens.

—Potter, o que vocês fizeram é ilegal. É terrivelmente ilegal. Todos os passos da transformação devem ser acompanhados pelo Ministério. Vocês precisam se registrar.

—Evans...

—Mas, – ela continuou como se não tivesse sido interrompida, – mas não é imoral. Não mesmo.

—Lily...? – Benjy falou. Ela se virou para o parceiro.

—Benjy, eu sei. Eu sei. Mas... como... olha só, eles... quinze anos, Benjy!

—O que é ainda pior, Lily!

—Benjy, olha o motivo, Benjy! Não por glória, mas para ajudar... eu não...

Fenwick encarou a parceira. O que será que estava se passando por debaixo daquela juba ruiva? Ela estaria realmente indo por esse caminho?

—Você está querendo sugerir que não digamos nada a respeito?

—Pelo menos até o fim da investigação. Se falarmos isso agora, eles serão presos imediatamente. E isso acabaria com minhas chances de terminar a investigação. – Lily suspirou, e pegou a mão do parceiro. – Benjy, isso explica como ele estava com Remus no dia. Encaixa com nossas suspeitas. Por favor, confia. Eu sei que o que estou pedindo é muita coisa, mas...

Fenwick suspirou e começou a andar de um lado para o outro.

—Potter, eu gosto de você, cara. Mas isso é...

—Demais. – Lily completou.

—Eu não podia... eu... não era apenas eu. Era Sirius, e Peter, e Remus. – James explicou.

Benjy suspirou.

—Você não tem mais nenhum segredo, certo? – Ele perguntou. James fez uma careta.

—Vou confiscar sua Capa da Invisibilidade – Lily informou – Além disso?

—Nada mais. Nenhum segredo além disso. – James afirmou.

—Vou me manter calado, mas só pelo que Lily disse. Um pé fora da linha, e eu não prometo mais nada.

James assentiu e agradeceu, deitando e fechando os olhos. Lily se virou para Benjy e o abraçou, sussurrando um “obrigada” baixinho.

—É isso que parceiros fazem, certo? Confiam um no outro? – Ele respondeu ao se afastar. Lily sorriu e acenou positivamente com a cabeça.

—É melhor eu e Potter irmos. Devem estar nos procurando, mas não é motivo de preocupação. Só estávamos numa festa com Sirius e Peter, não é mesmo? – Ela disse, olhando para Potter e erguendo as sobrancelhas. Ele sorriu.

—Acho que só preciso trocar a camisa. Derramei alguma coisa nela que acho que não vai sair tão facilmente.

***

Como esperado, os demais estavam preocupados no quarto do hotel. Estavam todos na sala, inclusive Remus (apesar de estar dormindo).

Lily explicou o que ocorreu rapidamente; apesar de um pouco apreensivos, os meninos aceitaram bem. Marlene estava boquiaberta.

—Mas só para lembrar que consegui segurar Benjy só até o fim da investigação. Depois eu não sei. – Lily alertou.

—Você consegue convencer Benjy, Lil. Eu lhe ajudo. – Marlene disse.

—Talvez. – Lily disse. Então apontou a varinha para o quarto e uma poção veio até sua mão. Ela ofereceu a mesma para James. – Beba isso e vá dormir. De tarde você deve estar bem para treinar. Mas por Merlin, não desapareça novamente.

Remus se aproximou de Lily, e ela reconheceu de imediato sua cara de culpado.

—Ah, não, Remus Lupin. Não aceitarei desculpas. Você não tem culpa de nada. Se eu for culpar alguém, será seu amigo. Seus amigos, na verdade. Peter, você tem noção que atacou uma auror por trás?

O garoto corou e murmurou mil desculpas, fazendo Lily sorrir.

—Estou muito cansada, então por hoje passa. Vou me deitar um pouco. Acordo para o treino.

James a observou até o quarto, e seguiu Sirius para o que dividam.

—Você acha que Fenwick vai ficar de bico calado? – Sirius o perguntou.

—Acho.

—Mesmo depois?

—Acho que Evans tem um jeito especial de pedir o silêncio dele – James resmungou. Sirius encarou o amigo boquiaberto.

—Depois do tudo que aconteceu você está com ciúmes de Fenwick, Pontas? Porque se sim, não é nada racional.

Mas aí é que está, James pensou ao se acomodar na cama, ele não tem como saber, porque nunca se sentiu assim, mas o ciúme quase nunca é racional.


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