Um Caso de Copa escrita por psc07


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Boa tarde, gente! Obrigada por lerem e espero que gostem :)



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Lily definitivamente detestava trabalhar com celebridades. Isso era de conhecimento geral no Ministério da Magia. Todas as vezes que Alastor Moody lhe encarregava de um caso que envolvia alguma figura famosa, ela revirava os olhos e soltava um muxoxo, indicando seu claro desagrado frente ao trabalho.

Moody não se abalava.

—Algum problema com o caso, Srta. Evans? – Ele perguntava, fixando os dois olhos nela (há muito Lily aprendera a não se mostrar intimidada pelo estranho e vibrante olho falso do Chefe dos Aurores).

—Na verdade, senhor...

Mas Moody não a deixava concluir. Jogava as pastas em cima da mesa dela e acenava com a cabeça, dizendo: “Imaginei que não houvesse. Boa sorte”.

O problema de Lily não era, como muitos imaginavam, a celebridade em si. Ela não tinha nada contra a pessoa, mesmo que muitas vezes ela precisasse chamar esses famosos de volta à realidade. O que realmente incomodava a ruiva era o estardalhaço que era feito ao redor do caso, e na dificuldade que isso causava para seu trabalho.

E, claro, ela odiava estar sob os holofotes.

Lily sempre foi o tipo de pessoa que preferia estar nos bastidores ao invés de ser a estrela. Ela gostava mais de agir sutilmente, e ver seu nome estampado nos jornais quando algum caso era de maior destaque sempre a deixava desconfortável. Sua melhor amiga Marlene achava isso engraçadíssimo, o que deixava Lily exasperada.

—“... e mais uma vez, Lily Evans não deixou o fato de ser jovem influenciar nas investigações, e conseguiu identificar e capturar o culpado pelo ataque em apenas dois dias. Apesar do bom trabalho, a bela ruiva se recusou a dar entrevista, alegando falta de tempo.” – Marlene lera no dia seguinte à prisão do caso mais recente de Lily – Pelo menos dessa vez eles lhe chamaram de bela! – Ela falou com um sorriso imenso enquanto Lily se levantava da sua mesa.

—Honestamente, Marlene, não sei porque você ainda lê essas matérias – Lily retrucou, corando, enquanto arrumava sua bolsa para ir almoçar.

—Porque eu adoro ver você enfurecida desse jeito, bela ruiva – Marlene respondeu, rindo abertamente agora. Lily revirou os olhos – Ora, vamos, Lily! Você não gosta da atenção, mas a maioria das vezes é positiva. Todos adoraram o jeito com que você lidou com o escândalo dos caldeirões contrabandeados.

—Eu particularmente odiei a parte em que os meus dois casos seguintes foram atrapalhados por repórteres querendo uma foto minha. E ainda mais quando me seguiram n’O Caldeirão Furado.

Marlene riu novamente antes delas aparatarem no restaurante em que haviam combinado de se encontrar com Remus Lupin. Apesar da relutância que Lily tinha com a imprensa, Remus, que trabalhava para um jornal semanal, era um de seus melhores amigos.

Lily logo o reconheceu pela aparência frágil e lembrou que a Lua cheia estava se aproximando. Dava para perceber pelas olheiras e pela maneira que seu cabelo castanho-claro estava bagunçado. Mas o sorriso que ele abriu ao ver Lily e Marlene chegando era o mesmo.

—Você já leu o Profeta hoje, Remus, querido? – Marlene perguntou quando se sentou.

—Estive ocupado a manhã inteira com uma coluna sobre uma bela ruiva que não deixa o fato de ser jovem atrapalhar seu trabalho...

Lily revirou os olhos e soltou os cabelos que mantinha presos com um elástico durante o trabalho.

—Até você, Lupin? – Ela retrucou, enquanto o garçom trazia três Cervejas Amanteigadas. Marlene e Remus riram – Que tipo de repórter escreve que uma auror é “bela”, por Merlin?

—Rita Skeeter. – Remus respondeu, dando de ombros – Ela é nova, e dizem que não se importa muito com a veracidade, contato que venda jornais.

Lily fez um barulho de concordância e bebeu um gole da Cerveja. Toda segunda-feira ela e Marlene se encontravam com Remus para almoçarem. Lily gostava muito do fato de sua amizade com os dois ter sobrevivido mesmo quatro anos depois de terem saído de Hogwarts.

—Só espero que não me persigam de novo – Lily comentou.

—Você fala isso como se acontecesse com certa frequência – Marlene retrucou – Foi uma vez só.

—Uma vez a mais do necessário. E Moody insiste em me dar casos com pessoas famosas. Esse dos tapetes, o dos caldeirões, o do cantor do Dragon’s Skin, o do escritor falso... – Lily listou.

—Sinceramente, Lily, eu acho que ele lhe dá esses casos porque você não se deixa levar pelo lado dos famosos – Remus opinou – Você nunca deixou popularidade lhe cegar, ou tratar uma pessoa diferente só por ser mais conhecida.

Os três estavam lembrando da época de Hogwarts, em que Lily enfrentava Remus e seus três amigos quando eles resolviam fazer algum tipo de brincadeira com outro aluno.

—Bem, porque não deveria. Ninguém deveria seguir uma pessoa só pelo fato de ela ser famosa – Lily falou – Eu realmente não me importo com o famoso em si – Ela continuou e Marlene revirou os olhos.

—Sim, sim, sabemos, você quer sua privacidade, blá, blá – Marlene interrompeu – Um dia, Lily Evans, um dia você dará uma entrevista voluntariamente. Um dia.

Foi a vez de Lily revirar os olhos. Remus sorriu e falou sobre a Copa Mundial de Quadribol que estava se aproximando.

—James vai jogar? – Ela ouviu Marlene perguntando a Remus.

—Bem, ainda não saiu a convocação oficial, mas com certeza – Remus respondeu. Lily tentou não se desligar, mas era difícil. Ela odiava Quadribol, e definitivamente não possuía sentimentos... harmoniosos por James Potter, um dos amigos de Remus de Hogwarts. Eles nunca se deram bem na escola, mesmo depois de um ano sendo monitores-chefes juntos.

Enquanto eles falavam, Lily pensava na pilha de relatórios que a esperava. Moody havia prorrogado o prazo para sexta-feira, mas ela precisava preencher a papelada de seis casos – um auror havia sido ferido e estava de licença, portanto todos estavam com mais trabalho.

—Os jogadores sempre conseguem levar uns 10 confidados para a Copa – Lily ouviu Remus comentando quando ela voltou a prestar atenção – Tenho certeza que se eu pedisse, James cederia dois para mim, caso queiram ir. Ele geralmente só leva os pais e os Marotos.

—E a namorada da vez, claro – Marlene comentou, rindo. Lily se segurou para não esboçar nenhuma reação, como revirar os olhos ou suspirar.

—Na verdade, ele não leva nenhuma garota para o jogo porque os pais deles estão lá e ele só apresenta namoradas sérias – Remus discordou – Mas como eu levaria vocês como amigas, não teria problema.

—Oh, eu- hum, eu não sei, Remus – Lily falou ao perceber o convite reforçado – Tenho a impressão que o Ministério vai pedir ajuda dos Aurores para garantir a segurança.

—Mas a Copa será na França – Marlene disse, franzindo a testa.

—Sim, mas eu ouvi boatos de que cada país participante ajudará de alguma maneira na segurança e na manutenção do sigilo.

—De qualquer jeito, temos que esperar pela convocação, que sai na quinta-feira – Remus comentou – Caso ele realmente vá, ele se apresenta na quinta mesmo, e fica sabendo desses detalhes. Quando eu souber eu comento.

Marlene abriu um amplo sorriso e cruzou os dedos, indicando que desejava sorte a James.

—Bom, meninas, agora que já comemos, pedirei licença. Tenho que terminar um artigo e sexta-feira é a Lua cheia.

Lily fez uma careta e se levantou para abraçar o amigo, sendo seguida por Marlene

—Se precisar de alguma coisa durante o fim de semana, pode chamar a gente – Lily ofereceu como geralmente fazia. Remus sorriu.

—Obrigado, Lily. James, Sirius e Peter estarão comigo.

Lily sorriu de volta. Ela podia até não gostar do que Remus e os amigos haviam feito no passado, mas ela tinha que reconhecer a força da amizade dos quatro. E admirar.

Ela e Marlene ficaram para comer sobremesa, e pouco tempo depois voltaram para o Ministério. Marlene seguiu para o setor de Execução de Leis, enquanto Lily voltou para a pilha de relatórios em sua mesa. Com um suspiro, ela retornou seus longos cabelos ruivos para o rabo de cavalo e se concentrou no trabalho.

***

Não era necessário conhecer muito James para saber o quanto ele amava seu trabalho. Desde criança seu sonho era ser um jogador profissional de Quadribol, e desde que começou a jogar em Hogwarts, ele percebeu que era factível. E com o apoio que recebia de seus pais, conseguiu perseguir a carreira.

No seu sétimo ano, dois olheiros acompanharam todos os jogos da Grifinória, resultando em uma proposta antes mesmo de terminar os NIEMs. Ele ficou ainda mais satisfeito por quebrar o estereótipo de que jogadores de Quadribol escolhiam a profissão apenas por não conseguir boas notas nos exames finais – foi um dos melhores alunos do ano, juntamente com Aluado e Lily Evans.

Ele se lembrou que alguns professores não acreditaram quando souberam da escolha que ele fizera. “Talento desperdiçado” foi o comentário mais ouvido. Mas isso não importava para James. Ele amava Quadribol.

E estava numa excelente fase – capitão da Seleção inglesa, sua presença na próxima Copa do Mundo estava quase garantida. E ele não escondia o fato.

—Nervoso para a convocação, Potter? – A repórter do seguimento esportivo de uma das principais rádios bruxas perguntou. James sorriu.

—Pode me chamar de James, Karen. Na verdade, eu não fico nervoso antes de momentos importantes, então não estou agora. Ansioso, um pouco, para garantir meu lugar.

—Então se chegarmos à final, você quer que nós acreditemos que você não ficará nervoso antes de entrar em campo? – Karen questionou, com uma sobrancelha erguida. James deu de ombros.

—Eu certamente não ficarei. Tenho um ritual de concentração para o dia do jogo que me impede de sentir qualquer outra coisa.

—Que bom saber! Agora, temos ouvido falar que você está saindo do Puddlemore United... Quão verdadeiro é esse boato?

—Ora, Karen. Você sabe tão bem quanto eu que não há nenhum fundamento nisso. Eu tenho um contrato de mais três anos. O que me faria sair do Puddlemore agora, logo após termos sido campeões?

—Um contrato com o dobro do salário, talvez? – Ela sugeriu. James revirou os olhos.

—Vamos, Karen. Não é nenhuma novidade que eu não jogo pelos galeões, eu sempre disse isso. Também não é segredo que o Puddlemore é meu time de infância. Não vejo nenhuma vantagem em sair, concorda?

—Talvez sair de Londres e ficar mais perto de seus pais? Pelo menos é o que nossas fontes dizem que é o grande trunfo para lhe tirar.

James engoliu em seco. De fato, a distância de seus pais era um fardo em seus ombros. Ele definitivamente não gostava de só ver seus pais uma vez por mês – eles estavam muito velhos para aparatarem sozinhos, e definitivamente não aguentavam uma viagem por flu. Os horários de James não permitiam que ele fosse tanto em casa.

Ele sorriu.

—Bom, não vou negar que essa distância realmente não me agrada muito, mas se interferisse tanto na minha vida, eles não se oporiam a vir para Londres em definitivo – James respondeu verdadeiramente.

—E já que estamos falando de vida pessoal – Karen continuou e abriu um largo sorriso – todos ficam curiosos para saber como vai o coração do astro James Potter.

James teve que rir. Sempre tinha essa pergunta.

—Está bem. Continua do mesmo jeito de sempre.

—Então as fãs podem respirar aliviadas porque ainda têm uma chance de conquistar o coração da esperança da Inglaterra para a Copa do Mundo! Fiquem atentos para a convocação que sairá amanhã e muito obrigada a James Potter!

James lidava bem com a impressa. Era algo natural para ele – ele sabia exatamente o que falar e quando. E também não se importava com alguns repórteres atrás dele.

—Gostei da entrevista, Pontas – Sirius falou quando ele chegou em casa. James sorriu e pegou uma maçã – Principalmente da parte que você mentiu descaradamente ao dizer que não estava nervoso para amanhã.

James deu de ombros.

—Não estou. Ansioso é diferente de nervoso. Estou ansioso porque eu sei que serei convocado.

Sirius riu e concordou com a cabeça. Sirius tinha começado a trabalhar no Ministério da Magia assim que saiu de Hogwarts, porém não conseguiu se adequar ao tipo de trabalho – então James o chamou para ser seu agente e ajudá-lo a organizar sua carreira. Era perfeito para ambos, já que James não podia fazer isso durante os treinamentos e Sirius o conhecia o suficiente para saber exatamente o tipo de coisa que James aceitaria ou não.

—De qualquer maneira, você sabe que não pode aparentar tanto para a imprensa – Sirius comentou – Consegui saber que a convocação sairá amanhã, ao meio-dia, pela rádio. O Profeta Diário está muito irritado com isso, então foi negociado que um dos jogadores dará uma entrevista exclusiva para eles. Cá entre nós, o Profeta já entrou em contato e amanhã, às 15h você se encontrará com uma repórter n’O Caldeirão Furado.

James acenou com a cabeça concordando. Isso seria bom para a imagem dele.

—O presidente do Puddlemore mandou uma mensagem por flu e disse que adorou o que você falou – Sirius continuou. James sorriu.

—Apenas a verdade.

—Nesse caso, a verdade foi muito bem-vinda para a sua imagem, então devo lhe parabenizar.

—Obrigado.

—E por fim, confirmando a sua convocação, amanhã já temos uma pequena festa marcada para a noite. Nenhuma imprensa, apenas jogadores e convidados. Nós dois vamos depois de passar no Centro de Treinamento da Inglaterra para pegar a sua credencial.

—Credencial? – James perguntou, franzindo a testa e deixando os óculos escorregarem até a ponta do nariz – Isso é novidade.

—Sim, é uma questão de segurança. Para entrar nos vestiários, é preciso apresentar essa credencial. Eles fizeram algum tipo de feitiço, que a porta só abre com uma credencial e registra quem entrou. Para controle interno, sabe.

—Huh. Legal.

—Então, eu tenho direito a pegar minha credencial hoje, mas Aluado e Rabicho não, nem seus pais. Eles só vão receber as deles na segunda-feira, quando formos para a França em definitivo. Você terá que fazer uma lista com todos os 10 visitantes que quer – Sirius explicou, se encaminhando para a cozinha para pegar uma Cerveja Amanteigada – Entregaremos essa lista amanhã, quando formos pegar as credenciais, então é melhor preparar logo...

Sirius continuou a dar alguns avisos, contudo James não estava completamente concentrado no que Sirius estava falando. Ele não estava nervoso, de jeito nenhum. Mas estava ansioso. E meio-dia de quinta-feira não podia chegar mais cedo.

***

Lily não conseguia entender o motivo de tanto alvoroço e burburinho no Ministério naquela manhã. Parecia que todo mundo tinha alguma coisa para falar com os outros. Não conseguia entender, e – sinceramente – estava levemente irritada, já que a papelada que estava sob sua responsabilidade era mais trabalhosa do que ela imaginara inicialmente.

Toda vez que ela tentava se concentrar, alguém falava em um tom de voz mais alto, ou alguma risada explodia, fazendo com que ela olhasse para cima e tivesse que reler pelo menos duas linhas.

E o pior: a hora do almoço se aproximava, e o barulho só aumentava. E aumentava.

Quando uma gargalhada de um dos seus superiores causou um grande risco no pergaminho em suas mãos, Lily decidiu que já tinha aguentado o suficiente. Começou a separar o material e iria se esconder em uma das antigas salas de julgamento – ninguém ia lá, portanto ela teria a paz que precisava para não levar os relatórios para casa durante o fim de semana.

Mas antes que ela pudesse se levantar, Marlene apareceu.

—Lily, você tem um rádio por aí? – A morena perguntou, já procurando nas coisas de Lily.

—O que você está fazendo aqui? E para que quer um rádio? – Lily perguntou, sem esconder sua irritação. Marlene parou a sua busca e olho incredulamente para a ruiva.

—Você tá brincando, não é?

—Não.

—A convocação da Seleção da Inglaterra sai hoje, na rádio, meio-dia. Todo mundo está falando disso, Lily.

Fazia sentido, realmente. Ela não dava a mínima para Quadribol, então ela não tinha como saber isso. Mas a maioria do mundo bruxo se importava com o esporte – ao ponto da idolatria – então todos estavam aguardando pela convocação.

—Eu não estou, obviamente. O que eu realmente sei é que tenho muitas páginas de relatório para completar, então licença.

Lily tentou escapar, porém Marlene segurou seu braço.

—Vamos, espere comigo. Vai sair em 10 minutos. Podemos almoçar e depois eu deixo você ter um pouco de sossego na minha sala.

Marlene tinha uma sala fechada, o que tornou a proposta muito tentadora. Com um suspiro, Lily tirou um pequeno rádio de uma de suas gavetas e entregou a Marlene, se sentando em seguida.

Marlene abriu um imenso sorriso e sintonizou na rádio que iria anunciar a convocação.

—Bem em tempo! – A morena comemorou. Logo mais quatro pessoas vieram cercar a mesa de Lily, que tentou esconder sua irritação – Espero muito que James seja convocado! – Marlene comentou, com um suspiro. Um dos colegas de Lily, porém hierarquicamente abaixo dela, bufou.

—Você está falando de James Potter? – Ele perguntou, num tom de voz condescendente – Claro que ele vai ser convocado. Ele é a alma do time – Marlene revirou os olhos. Lily já estava ignorando tudo, tentando, em vão, concluir o relatório.

—Claro que vai. Mas ainda assim, eu fico nervosa quando um amigo está para ser convocado – Marlene respondeu. Os rapazes mais novos ergueram as sobrancelhas.

—Você quer dizer que Potter é seu amigo, McKinnon? – Outro questionou, cruzando os braços.

—Sim, fomos colegas de casa em Hogwarts. E de ano. Lily aqui foi Monitora-Chefe junto com James – Ela respondeu, erguendo a sobrancelha em desafio. Os aurores olharam para Lily.

—É verdade, Evans?

—Quê? – Lily falou, sem olhar para cima.

—Você foi Monitora-Chefe com James Potter?

—Ah, sim, fui – Ela respondeu, ainda encarando seus relatórios – Se aquele garoto hoje em dia consegue escrever legivelmente, deve agradecer a mim. Nunca tive tanto trabalho pra entender uma letra como a dele.

Enquanto Marlene ria da expressão de espanto dos rapazes (que estavam também iniciando o processo de bombardear Lily com perguntas a respeito do herói inglês durante a adolescência), o rádio começou o tão esperado anúncio.

—E agora, caros ouvintes, chega a tão aguardada hora. O momento que todos esperávamos. Faltando apenas uma semana para a Copa Mundial de Quadribol de 1982, a Seleção Inglesa finalmente nos honra com os 14 nomes que nos representarão na França!

Pela primeira vez aquela manhã, o burburinho no escritório cessou. Até Lily desviou o olhar para o rádio.

Mas para ela, quase todos aqueles nomes nada significavam. Ela não conhecia quase nenhum deles.

Quase.

O êxtase de Marlene quando o nome de James Potter foi anunciado como capitão deixou Lily aturdida. Talvez eles realmente fossem mais amigos que Lily imaginava, ou ela estava muito esperançosa com a oferta de Remus.

De um jeito ou de outro, aquilo não significava muito para Lily. Ela não mantivera uma das relações mais cordiais com o... artilheiro? Apanhador?

—Podemos almoçar agora, Lene? – Lily pediu, depois de Marlene relatar exatamente a emoção de ter visto James Potter atuando aos 12 anos de idade para todos que quisessem ouvir.

—Definitivamente! – A morena respondeu, pegando a bolsa e abrindo um leve sorriso de despedida para os (agora mais de quinze) jovens aurores.

***

Mesmo depois de ter dado uma longa entrevista a Rita Skeeter e de toda a sua confiança, a ideia de que ele seria o capitão da Inglaterra ainda era meio estranha para James.

(“Eu tinha uma grande desconfiança de que iria para a Copa, Rita, mas sendo realmente capitão é um grande sonho para mim”.)

Sirius afirmava o tempo todo que já sabia, mas não conteve seu grito eufórico ao ouvir na rádio. Peter guinchou e pulou em comemoração, excitado ao ver a credencial que já estava em posse de James. Remus sorriu aquele sorriso bondoso de sempre e conteve uma tosse – Lua cheia se aproximava. E todos os quatro, sem exceção, ficaram boquiabertos ao entrarem no alojamento.

Remus pedira para acrescentar duas pessoas na lista de convidados de James, e ele não se importou – Remus não gostava das festas que ele, Sirius e Peter iam, e acabava ficando solitário já que os pais de James sempre ficavam em uma cabine especial, mais afastada. Mesmo assim, tentava demonstrar o máximo de apoio possível.

—Aluado, eu lhe proíbo de ir hoje – James teve de dizer enquanto Remus, em meio a um acesso de tosse, insistia em tentar ir para a festa de comemoração. James sorriu e sentou ao lado do amigo – Amanhã nós comemoraremos do nosso jeito. Você acha que depois de mais de 10 anos eu vou me importar se você não tiver condições de ir para uma festa?

Remus sorrira e agradecera.

E como prometido, os quatro Marotos comemoram do seu jeito – explorando a floresta à luz da Lua cheia.

A única exigência de James em relação ao time era que ele pudesse selecionar duas noites por mês para ficar incomunicável por completo – qualquer problema que houvesse, seria resolvido no dia seguinte. Uma delas era a Lua Cheia e a outra era para despistar. Ele não podia faltar a nenhum jogo – nem Remus jamais deixaria que ele fizesse isso – mas ele se sentia culpado toda vez que deixava Sirius e Peter apenas com Remus. O que começara quando eles tinham 12, 13 anos, adolescentes irresponsáveis e arrogantes, ainda permanecia até hoje, e os quatro sabiam que seria desse jeito até a morte.

O Puddlemore respeitava as noites estranhas de James – a imprensa especulava loucamente, ligando James a festas regadas a drogas e coisas ilegais. Mas nunca conseguiram provar nada, e nunca desconfiaram do calendário lunar.

Então James estava extremamente surpreso de ver o técnico da seleção inglesa e o presidente de seu clube no sábado às 6h da manhã, acompanhado por uma figura que todos sabiam ser Alastor Moody, o chefe dos Aurores, na sua varanda. A casa possuía diversos feitiços anti-aparatação, portanto entrar pela porta da frente realmente era a única maneira de entrar.

Ele e Sirius se entreolharam – será que haviam descoberto que eles eram Animagos? Será que isso seria o suficiente para mandá-los para Azkaban, como McGonagall sempre dissera? James achava que talvez sim – ele era conhecido, e seria excelente dar o exemplo com ele.

—Bom dia, senhores – James disse, se aproximando, e estendendo a mão. O presidente deu um sorriso amarelo, enxugou o suor de sua testa com um lenço e guardou num bolso interno das vestes que usava, então apertou a mão de James, sendo seguido pelo técnico. Moody apenas o encarou, e James se sentiu desconfortável com a profundidade do olho azul-elétrico – Posso ajudá-los com algo?

—Por enquanto, Potter, pode nos convidar para entrar. Queremos trocar algumas palavrinhas com você – Moody disse, sua voz o mesmo rosnado que assustara James na única oportunidade em que vira o auror quando era criança. James acenou positivamente e abriu a porta, indicando o sofá para os três mais velhos sentarem, enquanto Sirius pegava suco de abóbora para todos.

—Então, o que houve? – James perguntou, sentando-se na poltrona à frente do sofá.

—Houve um assassinato no alojamento ontem à noite – Moody falou, sem delongas – hoje de madrugada, para ser mais preciso.

James arregalou os olhos e sentou-se mais ereto. Assassinato? Mas...

—Quem foi...? – Ele conseguiu perguntar, a voz rouca e os óculos caindo. Moody o observava com os dois olhos.

—Um estagiário. Jack Allyson.

James sentiu seu queixo cair e lutou com o bolo que se formara em sua garganta. Jack ainda estava em Hogwarts e ficaria com a equipe inglesa, ajudando na organização do alojamento. Sonhava em jogar Quadribol profissionalmente, e usaria a Copa como chance para tentar alguma proposta.

—Mas... as credenciais. Medidas de segurança. Como isso aconteceu? – James finalmente falou.

—Esse é o problema, Potter – Moody falou novamente – E é por isso que estamos aqui. Temos apenas um registro de credencial sendo usada. E é a sua.


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