A Lenda da Raposa de Higanbana escrita por Lady Black Swan


Capítulo 34
33: Por ela tornaria em cinzas o mundo!


Notas iniciais do capítulo

Hellou!
Obrigada por voltar, você é realmente persistente, não é? ♥
Pois já que veio até aqui... prepare o calmante. XD

Glossário:

Furisode: Um quimono de mangas mais longas e geralmente estampado, usado por mulheres solteiras.

Tasuki: Uma faixa usada para amarrar as mangas do quimono e evitar que atrapalhem em alguma atividade.

Tori tsukune nabe: Cozido com bolinhas de frango.

Ocha-zuke: Uma tigela de chá com arroz que pode receber alguns outros ingredientes, como salmão grelhado e ovas de peixe.

Se houver algo que não entendam me avisem!



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O pincel de Ryosuke subia e descia com movimentos fluídos e precisos sobre o papel, quando ouviu o som do bater das asas de um grande pássaro pousando diante de seu escritório e ergueu a cabeça, os olhos verdes iridescentes.

—Kanji, pode entrar.

A porta deslizou para o lado, e Ryosuke viu o topo da cabeleira vermelha de Kanji, profundamente inclinado com o rosto rente ao chão diante do escritório.

—Ryosuke-sama, perdoe minha intromissão senhor. — suplicou humildemente.

Ryosuke deixou o pincel sobre o suporte e apoiou o queixo nos dedos entrelaçados.

—Kanji, meus amigo, tire a cara do chão, por favor. — pediu — Não precisava vir me sondar, eu garanto que estou verificando todos os seus relatórios e formulários com bastante cuidado. — bocejou e indicou a pilha de relatórios à sua esquerda — Está vendo? Já aprovei o pedido de reforma do píer, mas com certeza não vou aprovar o corte de mais de duzentas e cinquenta árvores da floresta por ano sem o devido reflorestamento de mudas, e quanto aos campos de arroz e a cultura de…

—Meu senhor. Perdoe-me, mas não é por isso que estou aqui. — Kanji o interrompeu, ainda sem tirar a cara do chão — Estou contente que esteja cumprindo com seus deveres, é claro, mas vim até aqui para falar sobre as raposas. — ele ergueu-se, seu rosto cabelos e roupas estavam cobertos de fuligem — Precisava mesmo ter aceitado recebê-las sob o seu teto?

Ryosuke emitiu um ronco nenhum pouco digno, mas rapidamente cobriu a boca para abafar a risada e ergueu a mão livre pedindo por um momento para se recuperar.

—Desculpe Kanji, o que dizia?

O rosto de Kanji se contorceu.

—Mestre, o senhor sabe que não deveria…

—Eu sei não me deveria “rebaixar” a pedir desculpas a um “ser inferior”. — girou os olhos, sentindo-se aborrecido — Tanto quanto você não deveria ter a arrogância de me repreender o tempo todo.

—Eu lamento muito Ryosuke-sama, não foi a minha intenção… — Kanji estava pálido.

Ryosuke acenou com a mão.

—Pare com isso Kanji, eu já te disse que somos amigos. — dispensou suas desculpas — Então o que estava me dizendo sobre nossos convidados raposas?

Kanji pigarreou.

—O filhote é incontrolável, meu senhor!

—É só uma criancinha, ele não é perigoso. — Ryosuke riu.

—E Tamaki-san ameaçou as sete irmãs bakenekos, ele disse a elas que se não houvesse jurado a Ryosuke-sama pelo nome da esposa, já as teria devorado!

—Então devemos ser gratos por ele ser um homem de palavra? — Ryosuke apoiou o rosto de lado sobre a mão, fechando os olhos ao sorrir.

—Mestre!

—Eu sei, eu sei. — continuou rindo — Mas Kanji, raposas não são exatamente conhecidas por ficarem em um mesmo lugar por muito tempo, e essas já estão aqui desde…

—O inverno passado, mestre.

—Isso. — concordou — Então quanto mais tempo eles podem se demorar aqui?

A expressão de Kanji se endureceu.

—Mestre, se não me falha a memória, os honoráveis convidados mencionaram que a raposa a qual eles procuram se acomodou em um mesmo lugar por dois séculos inteiros com a óbvia e única razão de protegê-los. — relembrou-o — Quanto tempo acha então que essas raposas poderão ficar aqui, até recuperarem seu “precioso filhote”?

—Eu entendo suas preocupações, Kanji, mas você certamente compreende que não haveria como eu recusar ajudar a alguém que só quer encontrar quem ama.

A expressão de Kanji suavizou-se e ele curvou-se mais uma vez.

—Eu compreendo mestre, mas… — seus ombros enrijeceram — Por favor, ao menos dê um jeito naquele filhote insubordinável!

Gargalhando Ryosuke recuperou seu pincel, o molhou na tinta e retomou seu trabalho.

*.*.*.*

Agora que não precisava mais esconder e cuidar em segredo de duas raposas sobrenaturais e potencialmente em coma, Yukari finalmente havia retornado ao seu juízo perfeito… ela só gostaria que isso tivesse acontecido um pouco antes, talvez uma semana atrás, quem sabe?

Ao seu lado ouviu a representante estalar a língua.

—Segundo lugar? Eu perdi para Hanyu-senpai outra vez? — ela reclamou — Como se já não bastasse eu ter perdido tanto dinheiro para ele nas apostas do Dia Esportivo, oi Shibuya, se você ver a Ayaka por aí diga a ela que estou furiosa por ter perdido nosso trunfo dos espor…! Shibuya, o que você tem? Está pálida.

E antes que Yukari pudesse lhe dizer que estava bem, a representante a pegou pela mão e a levou para longe do quadro com o ranking de notas exposto.

Yukari nunca havia sido a mais brilhante das alunas, ela nunca havia estado entre os melhores alunos ou atletas da escola, e somente uma vez havia conseguido estar entre os 100 primeiros do ranking… mas ela era aplicada, suas notas eram medianas, portanto sua posição sempre estivera variando entre 170° e 190°, não muito mais longe que isso, mas dessa vez…

—Não foi nada demais. — respondeu engolindo em seco, quando pararam ao lado de uma janela no corredor. — Só fiquei surpresa com minhas notas, é a primeira vez que fico tão baixa no ranking.

A representante sorriu e passou a mão em seu braço.

—Você não estava nada bem na semana passada, não se cobre tanto.

—Sim, mas… — Yukari franziu o cenho.

—Em qual posição ficou?

—Duzentos e noventa e nove. — suspirou.

—Podia ser pior. — a representante tentou consolá-la — Lembra daquela vez em que Ayaka ficou em sétimo lugar de trás para frente, no ranking?

Yukari franziu o cenho.

—E isso com certeza não foi motivo de orgulho algum. — alegou.

—Com certeza não. — a representante sorriu — Mas também não é o fim do mundo, certo?

—Certo. — concordou suspirando.

Uma suave melodia soou pelos auto falantes da escola, logo antes do anúncio de que “todos os alunos que haviam ficado abaixo da posição 250° iriam precisar fazer aulas complementares pelo resto da semana, começando a partir de hoje, até o dia das provas de recuperação”.

—Essa foi quase. — Kaoru comentou aliviada aproximando-se delas — Eu fiquei em 248°.

O sorriso da representante era tenso, e ela deu tapinhas no ombro de Yukari.

—Boas aulas para você, Shibuya.

Só de pensar nisso a barriga de Yukari já roncava, pois ela havia aberto mão de todo o seu horário de almoço para concertar o quimono de Gintsune na sala de trabalhos manuais.

Yukari franziu o cenho.

—Representante, pode me emprestar seu celular para que eu possa ligar para casa?

A aula seguinte seria Ed. Física e como celulares eram proibidos na escola, Yukari aproveitou o momento no vestiário para ligar para casa, pode-se dizer que seu pai não ficou nada contente.

Tem idéia de como estamos lotados aqui Yukari?!

—Eu sei pai, e sinto muito, desconte do meu pagamento, por favor.

—Certamente que vou! — o pai bufou — Mas não é uma questão de dinheiro Yukari, é uma questão de deveres e responsabilidades! Você é a herdeira e futura proprietária da pousada, não pode ser negligente.

—Eu sei pai, não vai se repetir. — jurou.

O pai fez uma longa pausa do outro lado da linha.

—Está liberada de todos os seus deveres até que suas aulas extracurriculares acabem e as provas passem, mas depois você terá que cuidar das termas e casas de banho todas as noites por uma semana.

—Eu entendo. — o cenho de Yukari se franziu — Obrigada pai.

Desligou e devolveu o celular para a representante com um suspiro, tirando a blusa logo em seguida.

—Yuki eu tenho atividades do clube hoje, então quando suas aulas complementares terminarem, talvez nós possamos ir parte do caminho para casa juntas.

Kaoru tentou consolá-la lhe estendendo a camisa do uniforme de Ed. Física, Yukari sorriu e pegou a camisa.

Mas isso também acabou não saindo como o planejado, pois pouco antes do termino das aulas complementares um novo anuncio soou pelos auto falantes: A aluna Hongo Kaoru deveria comparecer imediatamente à secretaria.

Depois disso Kaoru voltou para casa sem Yukari e sem ter tempo de lhe dar maiores explicações.

—São lindos To-chan. — Momiji sorriu admirando aos lindos tecidos estendidos na grama.

—Eu lhe trouxe os melhores. — Gintsune garantiu orgulhoso.

Momiji sentou-se sobre os calcanhares e passou os dedos pelo fino tecido cor de rosa estampado com uma explosão de flores, sorriu novamente e pegou o quimono estampado com grandes folhas verdes e de fundo negro, segurando-o diante do peito ao virar-se para o irmão mais novo.

—Como fica em mim?

—Maravilhoso. — Gintsune apoiou-se sobre um joelho ao seu lado e entregou-lhe um saco de papel — Também encontrei um boticário, fiquei surpreso porque não sabia que eles ainda existiam então lhe trouxe isso. Para que possa fazer seus cosméticos, irmã.

Momiji estudou o conteúdo: óleos essenciais, azeite de oliva, mel de abelha, flores e folhas desidratadas.

Ela sorriu e passou a mão por seu rosto.

—Você é muito atencioso To-chan.

Seu irmão apoiou o antebraço sobre o joelho e se inclinou um pouco mais para frente.

—Irmã, tem mais alguma coisa que e possa fazer por você?

—Eu estou bem, To-chan, de verdade. — garantiu, mas seu estomago continuava vazio.

O rosto de To-chan nublou-se.

—Irmã, ontem à noite eu realmente ouvi alguém chamar por meu nome. — afirmou — Estou com medo… eu mesmo nunca o pronunciei em voz alta durante toda a minha vida, os únicos que sabem meu verdadeiro nome são você, a mãe e o pai. — e admitir isso era apenas esfregar sal na ferida de que ele havia deixado tanto tempo se passar sem perceber que havia sido sua querida irmã quem o havia chamado até ali. — Então e se a mãe e o pai…

—To-chan! — Momiji chamou-o seriamente — Capturar a mim ou a você é uma coisa, mas nossos pais? Apenas um deles já seria um desafio quase impossível, mas ambos? Afinal lembre-se que um nunca está longe do outro.

Sua irmã tinha razão, é claro, e foi exatamente esse tipo de pensamento que o cegou anteriormente para ver o que estava bem debaixo de seu nariz, afinal a mãe deles era bastante astuta e o pai completamente irascível, e sua querida irmã era habilidosa e impiedosa, seria inimaginável que qualquer um deles houvesse sido aprisionado, e ainda assim…

—Talvez tenha sido um eco.  — Sua irmã sugeriu.

—Um eco?

—O tempo passava diferente no meu confinamento, ou melhor, não passava. — ela explicou — Quem pode saber quanto tempo exatamente meus chamados poderiam demorar até te alcançarem? Talvez o que você ouviu ontem tenha sido apenas um chamado que fiz muito tempo atrás.

—Talvez… — concordou incerto, se levantando. — Você ainda está com fome, não é irmã? Consigo ouvir seu estômago roncar, e eu conheço uma boa casa de chás, ah, e uma ótima confeitaria! — seus pés já estavam deixando o chão — Não se preocupe, volto antes do por do sol!

Mesmo que Yukari houvesse sido liberada de seu trabalho na pousada — se é que ter cada dia descontado de seu pagamento poderia ser chamado de ser liberada —, ela ainda tinha tarefas a realizar em casa, tais como preparar o jantar e lavar a louça, e era exatamente disso que estava cuidando quando a voz de Gintsune soou ao seu lado:

—Eu trouxe doces para você.

Yukari se sobressaltou, deixando a faca que estava lavando cair dentro da pia com um som alto e metálico, ela havia se desacostumado rápido demais com as aparições repentinas dele.

—Doces? — perguntou olhando-o de canto enquanto recuperava a faca, Gintsune estava carregando uma caixa de papelão cor de rosa, cheia de donuts provavelmente — Suponho que não tenha pagado por eles.  — ele ficou em silêncio, ela suspirou — Fiz limonada cor de rosa, está na geladeira, mas acho que não está bem gelada ainda.

—Não faz mal esperar um pouco. — ele respondeu alegremente.

Ele estava de costas para a pia, com os tornozelos casualmente cruzados e o quadril apoiado na pia, tão próximo de Yukari que ela podia sentir o calor que irradiava dele e o braço dele roçando o seu. Por um momento ela não se afastou. Quando ela virou-se, enxugando as mãos no guardanapo, franziu o cenho para o enfeite de cabelo feito de plástico que ele usava, o mesmo que ela lhe deu no dia do festival de verão.

—Você está realmente aqui?

—Estou.                   

—E a sua irmã?

—Eu trouxe para ela meia dúzia de quimonos e hakamas, além de um banquete, doces e chás, ela vai ficar bem até o por do sol. — garantiu.

—Até o por do sol? — franziu o cenho — Também disse que não podia deixá-la sozinha ontem à noite, a sua irmã está com medo d…?

—Sonhei com você. — ele a interrompeu de repente.

As sobrancelhas de Yukari se arquearam.

—O que foi que você disse? — perguntou incrédula achando ter escutado errado.

—Sonhei com você. — ele repetiu pegando a ponta de uma de suas tranças entre o polegar e o indicador. — Enquanto minha irmã e eu dormíamos no seu quarto eu sonhei com muitas coisas, a maioria de coisas desconexas e sem sentido das quais não me lembro nem de um terço, mas por último sonhei com você, havia me esquecido disso até ontem à noite.

Yukari pegou a caixa de donuts de sua outra mão e afastou-se dele para colocá-la sobre a mesa.

—Que tipo de sonho?

Quando se virou quase se chocou com Gintsune, pois ele estava desconcertantemente perto dela, ele voltou a pegar sua trança e girou a ponta entre os dedos, mas não estava encarando-a quando respondeu com voz monótona:

—Sonhei que puxava suas tranças, mordia seu pescoço e orelhas e a fazia gritar.

Yukari arregalou os olhos e tentou se afastar assustada, mas bateu-se contra a mesa e sua trança continuou presa entre os dedos dele.

—Que tipo de sonho foi esse?! — chiou por entre os dentes com o coração acelerado e os punhos segurando firmemente na borda da mesa para não cair — Estava tentando me devorar?! Ou só me atormentar?!

Gintsune abriu a mão e afastou-se um passo para trás, encarando a palma.

—Devorá-la? Sim, de certa forma acho que era o que eu estava tentando fazer com você. — ele ergueu os olhos para ela — Sobre o tormento, foi um tormento tanto para mim quanto para você… talvez muito mais para mim.

Yukari fez uma careta.

—É porque não se faz isso com amigos.

—Não, não se faz. — ele admitiu desviando o olhar com culpa… talvez até vergonha. — Foi apenas um sonho, não teve significado algum.

Ele murmurou, mas estava falando com ela ou consigo mesmo?

—Eu fiquei muito preocupada durante todo aquele tempo em que vocês estavam dormindo. Sabia? — confessou tentando mudar de assunto. — Então estou aliviada que você esteja bem agora.

—Você me fez um grande favor ao nos abrigar, estou em dívida com você.

—Não foi nada, nós somos amigos afinal…

Começou a dizer, mas ele a interrompeu bruscamente:

—Não, eu definitivamente estou em divida com você!

Afirmou seriamente, agarrando sua mão e a puxando para junto do peito, fazendo-a deslizar por dentro de seu quimono e ficar em contato direto com a pele, sentindo o coração bater logo abaixo.

—O que está fazend…?! — escandalizou-se tentando puxar a mão de volta já sentindo a cor subir às suas faces.

Mas ele a segurou firme onde estava e, de alguma forma, Yukari sentiu-se capturada pelos olhos cinza tempestuosos e perdeu o fôlego.

—Estou em divida com você, Yukari, por isso vou lhe conceder um favor, um desejo se assim preferir, o que quiser, quando quiser, basta me pedir.

Jurou solenemente e, quando finalmente a soltou, Yukari cambaleou para trás sentindo-se desconcertada.

—Mas o que foi isso? — riu nervosa — Um desejo? Agora você é algum tipo de gênio?

Mas quando ergueu o olhar, ele já havia desaparecido.

Franzindo o cenho, Yukari guardou os donuts e voltou a lavar a louça, qual era o problema dele? Primeiro lhe contava sobre como a devorava em seu sonho, depois dizia que ela tinha direito a um desejo? Quem sabe estava realmente se sentindo em dívida com ela, mas estava tentando para fazê-la gastar seu “desejo” pedindo que não a devorasse?

Esse tipo de manipulação seria bem a cara dele, afinal.

—Yuki, pode me servir um copo d’água? — sua avó pediu entrando na cozinha.

—Claro, vovó… — mas quando virou-se ela percebeu o rosto pálido da senhora — Vovó está tudo bem?

—Não. Preciso me sentar. — sua avó puxou uma cadeira — Foi na loja do meu irmão.

*.*.*.*

Akira pousou esbaforido diante do irmão mais novo, agarrando-o pelos ombros e o sacudindo

—Você o perdeu?! — exclamou horrorizado — Como você perdeu nosso irmãozinho que é um bebê?!

—Eu não… eu não sei… — Akihiko balbuciou atordoado — Ele estava aqui e… e nós estávamos brincando… eu o estava jogando para cima e pegando-o de volta, ele estava rindo muito e… e aí saiu voando e sumiu.

—Saiu voando e sumiu?! — Akira agarrou os próprios cabelos e puxou-os com tanta força que quase os arrancou. — Akihiko ele é um bebê! Mesmo que tenha asas é óbvio que não tem como sair voando ainda e, além disso, ele é parte tengu, não enenra para desaparecer assim em pleno ar!

—Eu sei disso, tá bom? — Akihiko reclamou em pânico — Só estou dizendo o que aconteceu.

Akira grunhiu.

—Esqueça isso, temos que achá-lo rápido, antes que mamãe descubra!

—Ela vai ficar furiosa. — Akihiko gemeu.

Então ambos os meninos abriram as asas e saíram voando em direções distintas, para caçar o irmãozinho desaparecido… sem se darem conta que, não muito longe dali, um garoto com os cabelos trançados em uma grossa trança negra ria travessamente com um bebê meio tengu nos braços.

—Eu ouvi histórias parecidas do honorável marido, então estou curioso: por que as raposas são assim tão fascinadas em atormentar os tengus? — alguém perguntou casualmente ali perto.

Quando Anko baixou os olhos, viu o meio dodomeki parado debaixo da árvore, aquele ali costumava ficar de vigia no portão principal do castelo, assim como seu gêmeo vigiava a entrada principal da cidade, e vários de seus olhos estavam atentos ao filhote de raposa na árvore.

Aquela região estava cheia de meios youkais.

—Eu odeio aqueles moleques. — respondeu desgostoso.

Alguns olhos do dodomeki piscaram, mas a maioria permaneceu fixa dele.

—Ah é? — perguntou risonho — Por quê?

Anko pegou o bebê pelos panos e o ergueu fazendo uma careta de raiva, o bebê não reagiu.

—Mamãe está sempre falando de seus queridos filhotes perdidos, ele era tão inteligente, ela era tão bela, ele era tão gentil e carinhoso, e ela era tão delicada! — trincou os dentes — “Sua irmã nunca teria feito isso, seu irmão sempre foi afetuoso…!” E onde é que eles estão agora? Foram embora, nunca conheci nem minha irmã nem meu irmão, eles nunca se importaram, nem sabem da minha existência, mas mamãe continua falando e falando sobre seus filhotes que a abandonaram, enquanto agarra-me para que não a deixe também! Ele até fez uma família nova e adotou um tengu estúpido como seu irmão! E agora só porque meu irmão que nem liga para nós, gosta deles, mamãe quer que sejamos amiguinhos. Então por que eu deveria gostar desses moleques mimados?!

Finalizou rosnando para o pequeno bebezinho, que estendeu a mão e tentou tocar seu rosto.

O dodomeki suspirou e pelo menos meia dúzia de seus olhos haviam se semicerrado com tédio.

—Entendi, entendi, você tem questões a resolver com eles e blá blá blá. — bocejou enfadado — Mas devolva o bebê de uma vez.

Anko fez uma careta e abriu à mão, deixando o bebê despencar, ele não tinha asas? Então que voasse!

—Ouça. — o dodomeki o chamou, quando aparou o bebê meio tengu — A honorável esposa não vai gostar nada se ficar sabendo que esteve arremessando o bebezinho dela por aí. Mesmo que ele pareça ter gostado.

Três olhos na altura de suas costelas observavam como o bebê ria divertido, como se quisesse ser jogado da árvore de novo.

—E quem liga para o que pensa uma humana pequena e fraca?

Anko retrucou mostrando a língua e retomando a forma animal, logo antes de saltar da árvore e sair correndo.

*.*.*.*

Com todos os eventos inexplicáveis e acidentes estranhos, as lendas de Higanbana logo deixaram de serem apenas chamarizes para turistas e se tornaram assustadoramente reais, agora todos acreditavam que a cidade estava amaldiçoada e as pessoas estavam apavoradas por isso, turistas começaram fugir e reservas foram canceladas, era a alta temporada de outono e ainda assim Higanbana estava cada vez mais desértica.

Mas no princípio de tudo, a fuga em massa parecia ter começado pelo jardim da Pousada e Casa de Banhos Shibuya.

Por mais cheia que estivesse à pousada, o jardim permanecia vazio durante grande parte do tempo, pois parte dos hóspedes o evitavam e a outra parte se apressava a sair logo depois de por os pés ali, como se, subconscientemente, eles soubessem que não eram bem vindos ali, até mesmo Yukari certa vez quando fora até o jardim tivera um súbito mal estar — talvez ainda mais rápido que os hóspedes — e uma estranha sensação de que não deveria ir até ali, pois não era bem vinda.

Somente sua avó e o jardineiro da pousada não pareciam sentir ou notar nada de incomum, no entanto sua avó vinha estado um pouco aérea desde o ocorrido na casa de Kaoru no inicio da semana, e os cuidados com o jardim eram seu único alento…

Mas a diferença entre Yukari e os hóspedes era que ela sabia o que estava acontecendo, Gintsune havia presenteado o jardim como o pequeno território particular de sua querida irmã.

Afinal ele fazia tudo por ela, não é verdade? Mesmo se tivesse que atear fogo no mundo ele certamente faria sem nem…! Yukari mexeu-se inquieta em seu sono, aproximando-se e aconchegando-se à fonte de calor reconfortante em sua cama.

Sua mão deslizou por uma superfície suave, mas contraditoriamente firme, e algo acariciou suas costas, ela suspirou abraçando-se ao travesseiro.

O travesseiro estremeceu e ela, ainda adormecida, franziu o cenho.

—Eu sabia que você tinha sentido minha falta, Yukari, mas não imaginei que fosse tanta. — uma voz reverberou por dentro do travesseiro e soou acima de sua cabeça, uma garra acariciou sua bochecha, a voz continuou em tom zombeteiro: — E também nunca imaginei que pudesse ser tão ousada!

Os olhos de Yukari se abriram de repente, aquele não era seu travesseiro, sua cabeça estava deitada no ombro de Gintsune, os braços em torno dele e as pernas entrelaçadas as dele, e ela o empurrou para longe, mas ele continuou deitado exatamente no mesmo lugar e só o que conseguiu foi empurrar a si mesma contra a parede ultrajada e escandalizada, e sentou-se puxando seu travesseiro — o travesseiro de verdade — contra o peito, abraçando-o como uma espécie de escudo.

—Gintsune! — chiou irritada — Quantas vezes eu já te disse que não pode subir na minha cama assim?!

Gintsune cruzou os braços atrás da cabeça e olhou-a.

—Desculpe, eu não estava contando. — sorriu de lado — E eu posso ter deitado aqui, mas não fui eu quem te agarrou.

—Eu estava dormindo! — defendeu-se se encolhendo contra a parede.

—E me agarrou inconscientemente? — provocou-a — Nossa Yukari, que tipo de sonhos você anda tendo?

Yukari esticou a perna e chutou com toda a força logo abaixo das costelas de Gintsune, ele mal pareceu sentir.

—Com um mundo onde você tem a mínima noção de ética e possui consciência!

Ele sorriu encarando o teto.

—Ah, mas sonhou comigo. — quando Yukari não respondeu e limitou-se a encolher-se mais contra a parede, ele suspirou — Você não vai mais à pousada durante a noite e passa o dia inteiro na escola.

—Eu estou ocupada com as aulas suplementares para as provas de recuperação. — ela franziu o cenho — Fico surpresa que tenha notado, tem passado tanto tempo cuidando da sua irmã.

—Ah, ela estava tão faminta… — Gintsune murmurou — Depois de mais de um século e meio sem se alimentar, a sua fome simplesmente não consegue ser saciada, especialmente com o tipo de dieta que ela segue.

—Ah eu imagino. — ela resmungou desviando o olhar.

—Mas mesmo aos domingos você não costuma dormir até depois das sete horas e seu sono estava bem agitado quando entrei aqui. — ele comentou — Sério Yukari, com o que estava sonhando? São as provas? Talvez eu possa…

—Por que não me deixa em paz Gintsune?!

Ela respondeu tão bruscamente que Gintsune se surpreendeu, erguendo-se sobre os cotovelos e olhando-a assustado e boquiaberto, quando ela saiu engatinhando até a beira da cama e saiu do quarto batendo a porta.

—E aí ela me deixou lá! Acredita?! — reclamou afrontado, jogando os braços para o alto. — Afinal o que foi que a deixou tão irritada?!

Momiji despejou mais um pouco de óleo de oliva e cera de abelha em uma tigela de porcelana e usou o pilão para amassar a mistura escura que havia ali, para hoje ela havia escolhido o conjunto de furisode estampado com grandes folhas verdes e fundo preto, e as hakamas cinza escuro com detalhes de flores branca bordada próxima a barra da perna esquerda, tendo o cuidado de manter as mangas recolhidas, usando sua fita prateada de cabelo como tasuki.

—É realmente desconcertante. — concordou amassando com movimentos circulares — Eu nunca ouvi falar de homem ou mulher, fosse humano ou youkai, que ficou insatisfeito quando dividiu a cama com você.

—Ah, Yukari e eu não somos amantes e ela é muito pudica, então é normal que se irrite comigo quando deito ao seu lado na cama. — ele explicou calmamente — Mas eu tinha a impressão que, a essa altura, ela já estava um pouco mais acostumada com isso e também ela parecia mais irritada que o normal.

—Me passa a espátula? — Momiji estendeu a mão.

  Gintsune colocou a espátula na mão da irmã e cruzou os braços.

—É como se já estivesse irritada previamente por algo que desconheço!

—E que diferença isso faz? — Momiji começou a passar a pasta escura do recipiente para um pote de porcelana — Você já me contou que sempre tem alguém em algum lugar irritado com você To-chan. Especialmente essa ordinária e irritadiça garota humana.

—Ah, eu não me importo que ela esteja irritada comigo. — Gintsune jogou a cabeça para trás e inclinou-se até apoiar as costas na murada do caramanchão onde estavam sentados — O problema é eu não saber o porquê e ela não querer me dizer.

Momiji acomodou a mistura com a espátula dentro do pote de cerâmica e o fechou.

—Então é só invadir a mente dela.

—Como é? — Gintsune deu um sorrisinho de canto incrédulo, encarando o céu.

—Se invadir a mente dela vai saber porque ela está irritada, mesmo se ela não quiser falar. — Explicou enquanto arrumava doze tiras de papel de seda sobre o tapete de palha trançada diante de si.

—Não posso invadir a mente dela. — Gintsune deu de ombros.

Estendendo a mão para a pequena panela metálica no suporte sobre a chama azulada que Tô-chan criara para ela, Momiji começou a mexer o conteúdo ali dentro com a ajuda de um pincel.

—Por que não?

—Isso só a deixaria mais irritada.

O pincel de Momiji pairou no ar, uma gota escarlate pingou e foi absorvida pela tira de papel arroz logo abaixo.

—E qual o problema? — começou a pintar a tira de papel com passadas cuidadosas de sobe e desce — Você ainda saberia o motivo da irritação dela, e acabou de dizer que não liga se ela está irritada, só para não saber o motivo.

Gintsune não respondeu, ele tamborilou com os dedos no antebraço, pensando naquilo.

—A Yukari é minha amiga. — respondeu por fim.

—E você não gosta de irritar seus amigos a troco de nada? — Momiji seguiu pintando uma tira de papel após a outra, enquanto falava: — To-chan, você me contou que uma vez viajou com seu irmão tengu e a esposa dele para o litoral, onde o embriagou até deixá-lo desacordado, depois o abandonou sem roupas em uma ilha deserta, e disse a esposa dele que ele estava pescando lulas.

—Não, eu disse que ele estava pescando ostras. — Gintsune a corrigiu erguendo a cabeça e rindo com a lembrança. — E eu estava tentando ajudá-los: aqueles dois estavam completando um século de casados e aquele jumento alado ainda se recusava a mostrar as asas para a esposa! Eu pensei que assim poderia obrigá-lo… mas acredita que ele preferiu voltar nadando?!

—E por que o deixou sem roupas? — sua irmã perguntou-lhe enquanto se concentrava em virar as tiras de papel para pintar agora o outro lado.

—Porque foi hilário. — afirmou sorrindo.

—Suponho que quando enfeitiçou a casa deles para que chovesse lá dentro durante nove dias, também estava apenas tentando ajudar. — comentou irônica, mexendo na mistura vermelha enquanto se preparava para pintar o outro lado das tiras de papel.

—Foi apenas na cozinha. — Gintsune esclareceu rindo com as lembranças — Fiz porque pareceu divertido, mas a esposa ficou tão zangada que eu desapareci por quase três meses!

—Você realmente se divertiu durante esses séculos, To-chan. — comentou sorrindo levemente.

—Sim, uma vez eu… — foi parando de falar conforme a culpa pesava em seu peito e sufocava suas palavras.

Ele estava por aí, brincando e se divertindo enquanto sua irmã…!

—Tô-chan, aquela mulher que cuida do jardim está aqui novamente.

Momiji o chamou com o olhar fixo no jardim, Gintsune seguiu seu olhar, Tsubaki estava fazendo seu percurso diário matinal para cuidar das flores e alimentar as carpas, é claro que nenhum dos dois podia ver a velha senhora por ali, mas ambos eram capazes de senti-la, afinal mesmo que Tsubaki conseguisse visitar o jardim sem ser oprimida pela presença sublime da irmã de Gintsune — que obviamente era demais para humanos suportarem —, somente ele e a irmã eram capazes de adentrar no mundo de raposa que haviam sobreposto ali.

—Tsubaki ama as flores. — Gintsune concordou.

—To-chan. — a irmã tocou-lhe o braço — Estou com fome.

Gintsune sorriu para a irmã, beijou-lhe as costas da mão e colocou o chapéu do tengu sobre a cabeça.

E depois disso não demorou a que mais um restaurante na cidade sofresse um incidente, a noite já estava para cair e Yukari nem precisava ligar a televisão para saber sobre isso, esses incidentes havia se tornados diários, por isso a fuga em massa dos turistas em Higanbana, todos os dias um restaurante era inundado por um cano que estourou, ou parte de uma pousada desabava em um incêndio, ou um carro era arremessado pela porta da frente de algum mercado, ou ainda um caminhão virava na estrada… e em todos os casos dezenas de quilos de alimentos desapareciam.

Não havia nada de normal em todas aquelas calamidades, isso era claro para qualquer um, o professor havia até mesmo lhe perguntado a respeito de raposas, mas ela havia negado. Por que não havia enxergado o que estava bem diante de seus olhos antes?

Afinal Momiji estava tão faminta e Gintsune não tinha absolutamente nenhuma ética, então não era preciso ser nenhum tipo de gênio para entender tudo, e mesmo assim… ela havia se mantido em negação.

E quando Momiji precisara de roupas, praticamente metade de uma árvore entrara voando pela vitrine da frente da loja de quimonos da família de Kaoru e, durante todo o caos e gritaria subsequente, milhares de ienes em roupas simplesmente desapareceram sem deixar rastro.

Yukari sentiu seu estômago se revoltar, ela nem ao menos conseguia encarar Kaoru! Como poderia depois de estar praticamente abrigando e encobrindo o responsável pela desgraça de sua família? O seguro se recusava a pagar por mais de sessenta por cento dos danos e perdas da loja, seu avô precisara ser levado às pressas para o hospital por causa da pressão, a avó estava tomando remédios prescritos para ansiedade, seus pais estavam recorrendo a empréstimos e tentando segurar as pontas, mas pareciam à beira de uma crise de nervos.

E Yukari também não conseguia encarar Gintsune ou, melhor dizendo: não queria vê-lo na sua frente.

Pessoas estavam perdendo seus empregos, investimentos de toda uma vida, negócios de gerações, e ele agia como se não estivesse fazendo nenhum mal a ninguém, como ele podia destruir tantas vidas daquela forma e ainda assim seguir rindo e brincando como se não fosse nada demais?

Era como se para ele tudo não passasse de mais uma de suas pegadinhas inofensivas.

Ás vezes me esqueço de que você, por mais bonito que seja, é na verdade monstruosamente inumano.

Ela mesma havia dito isso certa vez, então porque continuava a ignorar suas próprias palavras? Por que continuava se recusando a encará-lo e dizer em sua cara o que pensava?

Que sabia o que ele fazia, o reprovava por isso, e queria que ele parasse imediatamente… que estava com medo dele e do que ele era capaz, e também do que pensava de si mesma por não conseguir odiá-lo enquanto isso… pois parecia que ficar ao lado de Gintsune enquanto ele destruía tudo com um sorriso no rosto no final só a tornava tão monstruosa quanto ele.

Já estava pressionando a caneta contra o caderno com tanta força que estava à beira de atravessá-lo e, largando-a repentinamente, Yukari pressionou ambas as mãos contra a boca, tentando segurar a ânsia de vômito enquanto suas lágrimas quentes vertiam resultados de todo o estresse e culpa acumulada dentro de si.

Gintsune era impiedosamente desumano.

Sua amizade com ele era antinatural.

E ela era monstruosa.

Monstruosa.

Monstruosa.

Um rugido gutural sacudiu a janela e a porta:

—SE AFASTEM DELA!

De repente foi como se um tornado houvesse tomado forma dentro de seu quarto, ou talvez até um poltegest, suas coisas saíram voando, o relógio despertador espatifou-se em algum lugar, várias folhas de seu caderno foram arrancadas, Yukari gritou e abaixou a cabeça, protegendo-se com as mãos, e agora tudo o que ouvia eram as batidas aceleradas de seu próprio coração, latejando em seu pescoço e ouvidos.

—Yuka…

Quando sentiu algo tocar seu ombro, ela gritou histericamente e tentou afastar-se, socando o ar e esquivando-se ainda de olhos fechados.

—Yukari! Yukari! — ele a segurou firme pelos braços — Sou eu!

Gintsune!

Ela abriu os olhos e o viu ali, mas estava hiperventilando, e não tinha certeza se ele estar ali era realmente melhor.

Havia algo preto e escuro escorrendo da boca dele, Gintsune ajeitou-a, equilibrando-a na cadeira e garantindo que ela não caísse antes de soltá-la, e agachou-se diante dela pegando suas mãos.

—O que aconteceu aqui? — os dentes dele, que também estavam todos manchados de preto, pareceram mais pontiagudos que o normal.

Yukari puxou as mãos e fechou-as em punhos apertados.

—Você. — respondeu com voz vacilante.

Gintsune piscou e levantou-se olhando a volta.

—Ah… desculpe a bagunça. — ele levou o polegar ao canto da boca e tirou um pouco da gosma ali. Yukari tinha um pacote de lenços de papel na sua gaveta, ela os entregou a ele em silêncio. — Mas eu não estava falando disso. — ele prosseguiu, aceitando os lenços para limpar a boca — Por que estava chorando? E como atraiu tantas daquelas coisas até aqui?

Yukari franziu o cenho.

—Que coisas?

—Aquela escória asquerosa, havia três ou cinco aqui! Praticamente um exame inteiro! — respondeu sem fazer sentindo algum, enquanto limpava a boca. — Como foi que tantos deles…? — parou — Acho que um ou dois já estavam aqui antes, eu não os notei, eles tinham uma energia semelhante a sua rabugice habitual. — Yukari exclamou ofendida, ele não lhe deu atenção — Mas é possível… — voltando-se novamente para ela, ele amassou os lenços sujos e enfiou-os no bolso — O que te deixou tão abalada?

—O que? — arqueou as sobrancelhas.

—Você os estava criando!

—Criando o que, Gintsune?! — ela se colocou de pé, já irritada com aquela conversa sem sentindo.

Com as mãos nos bolsos ele olhou para mesa dela que agora estava uma completa bagunça.

—Ei relaxe um pouco. — pediu — Não precisa se preocupar tanto com as provas de recuperação, eu poderia te ajudar…

—Não. — Yukari ergueu as mãos — As provas não são o problema.

—Mas tem um problema. — ele afirmou — O que está te incomodando?

Mas quando tentou aproximar-se dela, ela afastou-se.

—Você. — disse de uma vez só.

Gintsune reagiu como se ela tivesse lhe esbofeteado.

—Eu? — repetiu incrédulo — Eu sou o problema? Mas o que foi que eu fiz para você ficar tão abalada assim? Acho que nunca te vi chorando. Eu nem estive por peto… ah. — um sorriso lento se formou em seus lábios — É por que estava solitária, estava sentindo minha falta tanto assim?

Quando ele começou a aproximar a mão de seu rosto, ela afastou-o com um movimento ultrajado.

—Seu… estúpido egoísta narcisista!

—Calma. — pediu rindo enquanto erguia as mãos. — Eu não percebi que estava se sentindo assim. Desculpe. Minha irmã estava faminta e eu tinha que…

—Destruir a cidade, eu sei! — gritou estridente, empurrando-o, ele cambaleou um passo por pura surpresa. — Como pôde causar tudo aquilo Gintsune?! Os restaurantes destruídos, pousadas incendiadas, carros voadores sendo arremessados contra mercados, atacou até mesmo a casa de Kaoru! A casa de Kaoru, Gintsune! — agora que havia começado a falar não conseguia mais se deter, todas as palavras jorravam de si em um turbilhão de fúria: — Como pôde?! Alguém poderia ter se machucado gravemente, poderia ter morrido, e todas as vidas que você arruinou!

—Vidas que arruinei?! — ele repetiu, em um misto de incredulidade e irritação com todas aquelas acusações — Ninguém morreu nem se machucou gravemente!

Declarou zangado como se isso já fosse um grande favor.

—Você destruiu vidas! — irada ela o acusou — Para muitas daquelas pessoas aqueles negócios eram tudo o que tinham!

—Então basta recomeçarem, é o que os humanos sempre fazem afinal: Se reerguem! Recomeçam! Vocês são mais difíceis de exterminar do que baratas!

—Era isso o que você queria? — Yukari o olhou em estado de choque — Nos exterminar?

—Não, claro que não. — Aflito, Gintsune passou as mãos pelos cabelos — Acredite Yukari, se eu quisesse exterminar a cidade você seria a primeira a ficar sabendo! Mas e se eu quisesse, por que não deveria? Toda essa cidade cresceu e prosperou sobre o sofrimento da minha irmã, enquanto vocês contavam histórias e lucravam, ela estava sozinha e faminta na escuridão!

—Mas você está punindo pessoas inocentes! — acusou-o mal conseguindo enxergar com os olhos novamente cheios de lágrimas, enquanto avançava sobre ele e socava-lhe o peitoral e os ombros.

—Estou? — ele segurou-lhe ambos os pulsos — Sabe aquela história que seus ancestrais contavam para atrair clientes, sobre uma bela dama deitada entre os galhos da cerejeira? Era a minha irmã! E eu também estive no templo de Inari local, sabe a história sobre o uchikake divino que somente aqueles dotados de visão espiritual são capazes de enxergar e que atrai viajantes interessados em testarem a extensão de seus poderes? Ele nunca pertenceu a deus nenhum, pois era da minha irmã! Ela o deixou lá quando chegou a essa região, como um tributo a Inari, logo antes de ganhar um novo das criaturas dessa região! E sabem-se lá quantas outras histórias aqui, contadas para atrair turistas, não são histórias sobre minha bela irmã. — finalizou em um tom baixo e irritado, quase rosnando, e quando a soltou Yukari recuou cambaleante — Mas ser selada ali, foi a escolha da minha querida irmã para proteger-me, portanto não estou com raiva e nem fiz nada do que fiz por vingança.

Abraçando a si mesma, Yukari o olhou raivosa e acusatória, mas havia algo mais… ah, ela estava magoada.

Aquele olhar não era divertido quando vinha dela.

—Então por quê? — inquiriu por entre os dentes.

Monstruoso.

Era isso o que aquelas coisas estavam sussurrando aos ouvidos dela quando ele chegou, era isso o que ela estava pensando dele naquele exato instante, não era?

Gintsune sorriu friamente.

—Porque sou monstruoso Yukari, e muito egoísta! — declarou abrindo os braços — Sou certamente a criatura mais monstruosamente egoísta que você conhecerá em toda a sua vida! E sabe o que isso significa? Que não me importa qual serão as consequências eu sempre escolherei aquilo que for melhor para mim. Minha irmã estava faminta então para satisfazê-la eu poderia alegremente transformar o mundo inteiro em cinzas se fosse preciso! Por que se não o fizesse, isso me deixaria devastado!

Yukari havia começado a tremer, mas ela se manteve firme onde estava e, erguendo-o o queixo, olhou-o diretamente nos olhos.

—Você me concedeu direito a um desejo quando te ajudei, pois bem, farei meu desejo agora.

Gintsune fechou os punhos ao lado do corpo.

—Pois então faça.

Ela não vacilou e ao menos por isso Gintsune precisava lhe dar crédito, Yukari podia ser rígida e ranzinza, mas ela seguia seus ideais, mesmo quando estava diante de algo como ele.

—Desejo que pare de devastar Higanbana. — afirmou — Não ataque mais os estabelecimentos comerciais aqui, e não provoque mais caos, infortúnio e infelicidade do que já causou nessa cidade.

Gintsune apertou o maxilar.

—Minha irmã está faminta — reafirmou por entre os dentes, mas por fim assentiu rigidamente com a cabeça. — Mas eu lhe devo, e se esse é o seu desejo, assim será feito.

Por um instante Yukari pareceu relaxar.

—Eu realmente cheguei a acreditar que fôssemos amigos. — ela lamentou, baixando os olhos — Você me ajudou quando precisei, substituiu-me na pousada para que eu pudesse me divertir e descansar durante meu aniversário e naquele dia da semana dourada.

—E nunca lhe passou pela cabeça que eu só fiz isso para me divertir? — provoco cruel — Que eu posso ter achado que seria interessante fazer alguém tão monótona e chata, quebrar seus rígidos princípios para se divertir pelo menos uma vez na vida? — Yukari ficou tensa onde estava, e quando ele avançou cortando a distância entre ambos com um passo largo ela não se moveu — Mas eu também pensei que pudéssemos ser amigos. — confessou pegando-a pelo queixo e obrigando-a a encará-lo novamente. — Mas isso é impossível não é? Porque relações entre humanos e youkais… elas não são para ser. São antinaturais e monstruosas. Realmente não há como dar certo?

Os olhar dela vacilou.

—Não há. — negou magoada.

Ou talvez Gintsune só estivesse vendo os próprios sentimentos refletidos nela.

—Eu lamento muito então.

Ele desculpou-se erguendo a mão esquerda onde uma pequena chama azul queimava na ponta de seu indicador, quando ele a aproximou do rosto de Yukari, ela arregalou os olhos e tentou afastar-se, mas ele a manteve firme onde estava, ainda a segurando pelo queixo, e dando um único gritinho abafado de medo, a colegial fechou os olhos quando as labaredas tocaram o ponto entre suas sobrancelhas, justo onde ela gostava de franzir.

A chama era quente e reconfortante, mas não a queimou quando foi absorvida por sua pele, ela ouviu Gintsune murmurar algumas palavras inteligíveis e, logo em seguida sentiu algo tenro e gentil tocar naquele mesmo ponto e, em choque, deu-se conta que a raposa estava beijando sua testa.

—Já escureceu, é melhor eu voltar para minha irmã agora. — ele declarou afastando-se e soltando-a.

Quando Yukari abriu os olhos, estava só.

E as ataduras da mão direita de Gintsune estavam amontoadas no chão.

*.*.*.*

Mayu ia até ali praticamente todos os dias, e ainda assim sempre ficava surpreendida com as habilidades de jardinagem de Yuri-chan e principalmente com a modéstia da pequena hannya, que conseguia chamar aquele adorável e surpreendente vilarejo em miniatura — incluindo até mesmo “montanhas” e cascatas d’água — para koro-puk-gurus, de um simples “jardim de ervas”, e sempre ficava encabulada e respondia “não ser nada demais”, quando Mayu a elogiava por cuidar sozinha da horta e do pomar que havia no terreno também e que juntos ocupavam mais que uma vez e meia a área da antiga casa onde Mayu morava com o marido e os filhos.

—Eu também tinha uma horta na minha casa. — comentou para os koro-pok-gurus no vilarejo do jardim de ervas — Nada comparado ao que há aqui é claro… mas agora estou imaginando como seria se eu tivesse alguns de vocês me ajudando ali como vocês ajudam Yuri-chan aqui. — riu por um instante, até que se deteve com uma careta — Se bem que Gintsune sempre escavava a minha horta e destruía tudo, acho que ele os comeria junto com os vegetais…

De repente as criaturinhas, que estavam cuidando de suas vidas em paz no pequeno vilarejo, olharam todas para o alto ao mesmo tempo, arregalaram os olhos e começaram a gritar e correr em pânico.

—O que foi? — Mayu arregalou os olhos e ergueu as mãos — Sinto muito, eu não queria assustá-los! Ninguém vai devorá-los, eu só estava…

Mas nenhum deles estava escutando-a, eles corriam para suas casas e trancavam as portas e as janelas.

Uma alegre risadinha soou as costas de Mayu.

—Veja que adoráveis eles são quanto estão apavorados. — comentou Furin — Aposto que são bastante apetitosos também.

—Furin-Sama! — Mayu quase caiu sentada quando olhou para trás.

Furin estava parada bem atrás dela, quatro raposas tubo orbitavam ao seu redor, hoje seu quimono branco era liso na maior, mas dezenas de pequeninas flores azuis estavam estampadas a partir de sua coxa direita e se espalhavam pela barra da roupa, combinando com as flores azuis idênticas também estampadas do lado direito de seu haori negro e com o obi que possuía um suave tom de lavanda.

A maquiagem em volta de seus olhos também era azul hoje, a máscara de raposa branca estava presa ao lado direito de sua cabeça e seus longos cabelos negros estavam jogados por cima do ombro esquerdo com uma fita branca atando-os na ponta, ela parecia quase… inofensiva.

—Apenas Furin está bem, querida. — a raposa curvou os lábios pintados de verde. — Eu estive em seu quarto, é uma criada bem… singular, aquela que você tem ali, um reflexo seu, eu não estou certa? Ela me disse que você estaria aqui. Onde estão seu marido e seus meninos?

—Os meninos… estão brincando por aí. — respondeu levantando-se e tentando limpar um pouco da terra dos joelhos, mas suas mãos estavam tão sujas que só o que conseguiu foi sujar-se ainda mais, ela escondeu-as atrás das costas. — E meu marido está ajudando a concertar um telhado na ala…

—Excelente, então estamos as duas com tempo livre! — Furin bateu palmas alegremente — Tamaki e meu raio de sol também estão por aí resolvendo seus próprios assuntos. Por que não saímos para tomar um chá, querida?

—Eu gostaria muito… — começou a dizer. — Mas agora estou ajudando Yuri-chan, ela só foi buscar alguns barris de água, então quem sabe mais tarde ou outro dia…

—Não precisa se preocupar com a pequena hannya, minha querida. — Furin sorriu e acariciou a lateral de seu rosto com uma garra. — Com certeza ela pode se cuidar muito bem sozinha, os onis tem força e resistência monstruosas, mesmo para os nossos padrões, sabia? Inclusive um filhote doce e “delicado” como aquela garotinha, poderia facilmente arrancar uma grande árvore de suas raízes… então você vem comigo, não é?

Uma raposa tubo deslizou em volta do pescoço de Mayu e apertou suavemente antes de afastar-se novamente.

—É… é claro. — Mayu concordou sem saber mais o que dizer.

Ela gostaria de ter penteado os cabelos, trocado de roupas e lavado as mãos e o rosto antes de sair, mas o sorriso de Furin lhe deu a impressão de que, na verdade, ela não tinha todo esse tempo para se arrumar.

—Meu querido filhote diz que seu marido é um irmão para ele, não estou correta? Portanto suponho que você e seu marido devam ser como filhos para mim também, então seria razoável que passássemos algum tempo juntas. — Furin lhe explicou enquanto andavam pela rua. — Ah, mas não me chame de “mamãe”… a menos que queira ver Tamaki furioso, é claro.

Ela riu.

Não, Mayu certamente não queria ver isso, e ninguém queria também.

—Hum… Furin, onde estão Tamaki-Sama e Anko-kun?

Andar ao lado de Furin na rua trazia a Mayu memórias de dias que agora pareciam bastante antigos, quando ela andava junto com Gintsune e todos abriam caminho e se afastavam assustados enquanto ele fingia não reparar.

—Tamaki saiu para caçar, e como isso seria um pouco difícil nessas terras protegidas por aquele dragão pacifista, ele precisou ir um pouco longe para isso. — Furin girou os olhos com desdém. — E meu raio de sol está brincando por aí, mas eu disse a ele que não saísse do castelo e coloquei dois criados para vigiá-lo em segredo. Oh, quem sabe ele e os seus meninos não se tornam amiguinhos? Seria maravilhoso!

—Hã… claro. — Mayu concordou.

De repente Furin enganchou o braço ao dela.

—Vamos comer aqui querida, essa é uma cidade estranha, sabia? Eles pagam com dinheiro pelas coisas aqui, mas eu ouvi dizer que você é conhecida como a prometida do Ryosuke por aqui, então com certeza nós ganharemos um bom desconto.

—O que? Furin-sama eu não posso me passar por prometida de Ryosuke-sama para…!

Mayu foi arrastada lá para dentro.

Satoshi iria ter um ataque quando soubesse, e Mayu nem poderia culpá-lo dessa vez… mas talvez ela pudesse amenizar a situação alegando que a comida de graça viera apenas porque estavam com medo de Furin e seu marido com problemas de controle da ira. Coisa que ela tinha certeza estar bem próximo da verdade…

—Eu sempre cuidei dos meus filhotes com todo zelo e amor, mas todos eles voltaram-me as costas com tanta indiferença! — Furin lamentou-se enquanto uma garçonete de cabelos azuis e três pares de braços as servia — É claro que eu já esperava isso de Minha Flor, aquela menina sempre foi tão fria como se em suas veias corresse o sangue de uma yuki-onna, não uma raposa, mas os meus meninos? Meu raio de sol é tão pequeno e já não quer mais ficar perto de sua linda mãe, quer explorar! Ele diz! Explorar! E meu querido filhote? Ele sempre foi tão carinhoso, era o nosso pequeno e auspicioso príncipe… e agora ignora meus chamados! Não me respondeu nenhuma vez sequer!

A garçonete sorriu fascinada para Mayu, como se ela fosse algum tipo de princesa celestial, e empertigou-se.

—Uma tigela tamanho médio de tori-tsukune nabe, à moda da casa. E uma tigela pequena de ocha-zuke, à moda da casa. — anunciou para as duas — Por conta da casa, é claro!

—Que adorável querida, traga-nos vinho de arroz também. — Furin sorriu para a garçonete, antes de voltar-se para Mayu novamente — Mas você também é mãe, minha querida, pode entender minha dor, não estou certa?

—Sim, é claro, o meu mais velho sempre reclama dos meus beijos. — Mayu concordou entornando a tigela para o primeiro gole do caldo, o sabor era um pouco picante e exótico, mas ela não conseguia adivinha do que era. — e sinto falta do peso do meu bebê nas costas, mas Botan está certa, eu não posso ficar sujando-o de lama todos os dias. E é bom que passe algum tempo com os irmãos.

—A Minha Flor e o meu Querido Filhote sempre foram muito próximos, sabe que um dia ela enfrentou um cão por ele? Por isso não é de se estranhar que quando ela o chamou ele tenha ido correndo. — Furin suspirou, remexendo seu ensopado de um lado para o outro, uma raposa tubo mergulhou e pescou da tigela um pedaço de rabanete branco — E agora ignora minhas tentativas de contatá-lo, filhote desnaturado!

Bateu com força na mesa com o punho fechado, fazendo seu ensopado espirrar e as raposas tubos se assustarem, a eletricidade estalou no ar.

—Talvez ele não esteja ignorando-a. — tentou tranquilizá-la de imediato, já havia visto o que acontecia quando Furin se exaltava — Pode só… estar havendo interferência quem sabe? O mundo humano já está distante há tanto tempo…

Furin piscou.

—Acho que você pode ter razão, Tamaki também disse algo semelhante. — assentiu comendo um pedaço de frango. — O que me faz pensar… eu não estou conseguindo sequer contatá-lo, mas Minha Flor o invocou até lá. E deixando de lado o fato de como foi que ela parou ali, minha pobre flor, eu só consigo pensar que ela, além de ter uma conexão muito mais forte com ele do que uma xícara e um chapéu. — girou os olhos — Também deve ter acumulado energia por uma grande quantidade de tempo.

Mayu suspirou aliviada pela raposa ter se acalmado, e comeu mais um poço de sua porção para que ela própria se acalmasse também.

—Então não é como se Gintsune estivesse ignorando-a senhora… — comentou saboreando uma ameixa.

—Tem razão. — Furin concordou pensativa, alimentando uma de suas kudagitsunes com um pedaço de couve de seu próprio prato — O problema não é meu querido filhote, sou eu e os encantamentos que estou usando! Sim, tem razão querida, meu filhote e minha flor estão em um mundo muito distante, não posso tentar contatá-los de forma tão simples… mas tampouco tenho tempo para reunir energia por tanto tempo, nem sei quanto realmente seria necessário… poderiam ser décadas, e quero falar com eles agora!

Mais ao fundo a garçonete de cabelos azuis que já lhe trazia o vinho pedido por Furin foi parada por uma hari onna que usava os cabelos para carregar vários pedidos ao mesmo tempo.

—Então… — Mayu fez uma pausa para engolir, ainda não conseguia adivinhar o sabor, mas estava delicioso. — O que pretende fazer?

Aquelas garçonetes estavam olhando para elas enquanto falavam? Por favor, que boatos sobre a “prometida de Ryosuke-sama” não começassem a se espalhar…

—Eu posso não arrumar meios de fortalecer a ligação com meus filhotes naquele outro mundo, mas talvez eu possa forjar uma ligação com aquele mundo em si!

—Hum… — Mayu engoliu — Isso parece ótimo, como faria isso?

—É um mundo humano querida, então para conseguir contatá-lo eu preciso de uma parte dele, uma parte humana! — Furin ergueu-se e agarrou ambas as mãos de Mayu repentinamente muito animada — Querida, pode me dar seu sangue?!

Os olhos de Mayu se arregalaram, sua garganta fechou, ela puxou as mãos e começou a tossir violentamente.

—Querida? — Ouviu Furin chamá-la em tom confuso, e então um pouco mais alarmada quando ela foi incapaz de responder porque sua tosse se agravava ainda mais: — Mayu?!

Mayu levou as mãos à garganta, sentindo os olhos encherem-se de lágrimas e a visão ficar turva, curvando-se para o lado, regurgitou o chá.

Ela ouviu vários pratos se quebrando, as vozes ao se redor começaram a aumentar e se misturar, dentre as quais a de Furin se sobressaía:

—O que está acontecendo com ela?!

Um par de mãos agarrou-a.

—Ela está morrendo, nós envenenamos a prometida de nosso mestre! — alguém gritou em pânico, parecia ser uma das garçonetes — O ocha-zuke servido aqui é mortal aos humanos!


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Notas finais do capítulo

Por muito tempo eu refleti se deveria ou não dividir essa história em duas ou até três partes, e escrever uma sequência, mas por fim acabei decidindo que já foi difícil o suficiente conseguir atrair dois ou três leitores para essa história, e eu não queria ter que recomeçar tudo de novo em uma sequência, então é, fique grande como for, mas essa história será um volume único!
De qualquer forma, apenas por questão de curiosidade, saibam que se eu tivesse optado pela sequência, esse capítulo seria exatamente o último capítulo do primeiro volume "A Lenda da Raposa de Higanbana" e só teríamos a estreia do volume 2 no ano que vem! XD
Alguém aí tem algum chute sobre qual seria o nome do volume 2?
Joh-chan, você não conta porque já te dei a resposta, então shhhhhh



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