Querida, Elena

Eu não tenho a menor noção de que dia é hoje ou até mesmo que temperatura está fazendo lá fora de nossa casa, a única coisa que eu sei é que você está triste e eu não consigo suportar te ver assim. Eu sou apenas o seu pequeno grande Peter, que se sente impotente por te enxergar dessa maneira...

Você acorda antes das dez da manhã, come ritualmente essa porcaria de cereal com leite, coloca minha comida e sai pra trabalhar... quando volta, não quer brincar comigo ou até sair pra se divertir com seus amigos (você desligou o telefone na cara de todos eles essa semana), você chora o tempo todo e até proíbe sua irmã de vir nos visitar. Eu gosto tanto da Laura, o que ela fez de mal, Elena? Eu só queria que você me dissesse.

Lembro-me que na semana passada você chegou chorando e gritando, derrubou coisas de cima da escrivaninha e jogou tudo pro alto, eu tentei te acolher no pelo, pertinho do meu coraçãozinho, assim como vocês faz quando eu estou afobado, mas você não deixou. Você me pôs pra fora do seu quarto e pela primeira vez eu me senti por ti triste.  

Você escreve nesse computador o tempo inteiro e escuta músicas tristes e melancólicas.... Eu sinto falta de quando você colocava uma música, dançava e pulava em cima da cama, e ainda me chamava pra dançar (adorava quando era Livin' La Vida Loca, a gente dançava mais do que qualquer Ricky Martin).

Seja sincero comigo...

O que aconteceu, Elena?

Por que o Lucas não vem mais me ver? Eu sinto falta dele e do jeito que você sorria quando ele chegava. Você ganhava uma luz tão especial quando estava com ele. Brilhava feito aqueles pontos no céu que vocês sempre estavam elogiando. Melhor que eu e você dançando Ricky Martin, era você e ele dançando Lana del Rey.

Ele não é como os outros humanos que você trazia aqui, Elena. Ele cheirava a bacon e suco de laranja, e vez ou outra, tinha cheiro da minha amiguinha Lucy em seus sapatos. Vocês me levavam pra passear juntos e ver todas aquelas árvores, humanos e gatos antissociais que se recusavam a brincar comigo (bom, quem perdeu foi eles), era tão bom sentir os cheiros e os sabores da rua... agora, depois de tudo, eu passo meus dias dentro de casa vendo apenas a cidade pela imensa vidraça do nosso apartamento. Aqueles trecos de metal andando tão rápido que nem consigo contar, e as pessoas, então? Ligeiras como a chuva que cai na terça.

Eu tentei fazer amizade com o outro morador de nossa casa o gato Felix, assim como você havia me dito e me pedido tanto, mas digamos que não deu muito certo, segundo ele eu sou elétrico demais e ele gosta de um cochilo nas tardes de domingo, será se todo dia é domingo?

Bom, mas toda essa enrolação, foi para tentar ser sincero com você.... Eu me sinto abandonado, Elena.... Sem você parece que o mundo mudou de cor e tudo ficou cheirando ao Felix molhado (sem ofensas amigo bichano). Será se um dia você vai voltar a ser o que era? Voltar a ser a minha Elena? Aquela que fazia carrinho nas minhas costas e brincava comigo sempre que podia. Eu não consigo entender o seu choro ou essa coisa que você chama de sorvete e toma todos os dias desde que o Lucas partiu. Eu só queria te entender ou até poder te abraçar. Sem você eu não sou nada, Elena.

Por isso eu te peço:

Volte logo pra mim...

Com carinho, o cachorro Peter.

Data? Não sei dizer.

Abraços caninos.

Au au!