Uma canção de Josep Puigdemont escrita por Braunjakga


Capítulo 6
A proposta




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VI

 

Josep, Maria e Carles foram levados novamente até o arsenal de guerra de Barcelona, em uma carroça  para prisioneiros

A sala para foram levados era toda revestida de pedra negra.

Havia uma mesa imensa no meio dela e quatro janelas ficavam na parede oeste da sala. Havia também alguns archotes nas paredes. Um imenso brasão da Generatitat, quatro barras vermelhas num fundo amarelo, estava pendurado na parede norte. cercado por duas cortinas vermelhas pra dar mais solenidade para o lugar!

Havia duas portas no norte e no sul da sala, próximos às paredes leste e oeste. Josep, Maria e Carles entraram pela porta no sul da sala, escoltados pelos Miquelets e se sentaram em volta da mesa.

O presidente da Generalitat, Santi Castell, e seu porta-voz, Pere Montserrat, entraram logo depois pela porta no norte.

Pere trazia em suas mãos um grande pergaminho enrolado.

A cara de Josep estava fechada enquanto Carles sorria de tudo aquilo.

Em ambientes fechados com autoridades, Josep ficava sério enquanto que Carles costumava ser divertido e informal na fala e nos modos em qualquer situação.

Maria nem sequer sabia onde estava, preferia ficar muda e calada.

Uma garrafa de vinho e cinco taças foram postas na mesa.

— Aposto que não é pra nós! Só pra eles! Aquele vinho é caro pra caramba! É Codorniu! - Comentou Carles com Josep.

— E eu que trabalho tanto e nem sei que gosto tem um vinho de Sant Sadurni d’Anoia! – Josep se permitiu gargalhar uma única vez com Carles.

— Podem se retirar.

Todos os Miquelets saíram com a ordem do presidente.

Carles foi o primeiro a falar:

— Senhor presidente, o que o senhor vai querer com pessoas como nós, simples caipiras do interior? Como podemos ser úteis a Generalitat e a causa catalã como, o senhor mesmo disse ao meu amigo Josep, moradores de rua dependendo de favores dos coronelas?

— Em primeiro lugar, perdão pelos modo ríspido como eu tratei você, Josep… se eu soubesse antes quem você era e o quanto nos ajudou, sua casa já estaria de pé agora em Girona…

— Ora, que maravilha! Depois de todo o dinheiro que eu gastei!

— A Generalitat de Catalunya vai recompensar seus heróis no devido tempo, Senhor Carles… desde que alguns sacrifícios sejam feitos… fora que nós sabemos que o senhor não tem feito coisas muito “lícitas” no Reino da Espanha…

— Eu sabia que tinha coisa aí… desembucha, president! Sabia que iam pegar meus rabos presos!

— Nada disso…

Pere estendeu a palma da mão no ar e a garrafa de vinho flutuou até Carles, Josep e Maria.

Três das cinco taças de vinho trazidas pelos miquelets saíram de uma ponta até a outro da mesa quando Santi colocou as mãos sobre elas. Pequenas faíscas elétricas saíram das suas mãos.

Josep e Carles se entreolharam. Carles soria, Josep parecia preocupado.

— Senhores, nós somos pessoas que têm “habilidades especiais” que nos diferencia dos comuns, não temos?

Carles ria freneticamente. Abriu a garrafa de vinho, se serviu e riu mais ainda. Josep e Maria se levantaram com tudo da cadeira onde estava:

— Tá maluco, cara? Tu não tá pensando…

Santi se levantou um pouco e ficou andando de um lado para o outro da sala, gesticulando com a mão quando queria trazer emoção ao relato:

— Por muito tempo, nós, catalães, fomos um povo independente até que vieram os castelhanos e acabaram com a nossa independência quando uniram as coroas de Aragão-Catalunya com Castela… Aquilo foi um desastre!

— Que mané coroa de Aragão-Catalunya! Toda essa merda tem o nome de Espanha faz tempo...

— Senhor Carles! Somos diferentes! Nosso sangue, nossa língua, nossos costumes, nossa cultura… são tantas as diferenças que fomos forçados à uma união com os Castelhanos que nunca deu certo e lutamos contra isso em 1640!

— Em 1640 eles tavam lutando contra o roubo das fazendas feito pelo governo! E outra: eu não sou tão diferente de um manchego, de um gitano ou de um galego! Corte a gente ao meio e você vai ver que todo mundo é a mesma merda!

— Agora você me entende! Sim! Espanha nos rouba, nos coloniza e nos devasta! Se a gente não se separar agora, que futuro vai ter nossos filhos?

— E vocês acham que não vão fazer a mesma coisa? Seja aqui ou em Madrid, a gente vai ser roubado de todo jeito! É nossos impostos indo e a gente não vendo nada de volta!

Santi se irritou tentando explicar a “causa” para Carles. Josep fazia sim para cada afirmação de Santi.

— Está bem, você venceu! Mas independente do que você ache ou pense, eu estou aqui para conseguir a independência da Catalunya ou morrer tentando!

— El Rey não vai te dar essa independência mais nem ferrando!

— Exato! Ele vai violar nossos direitos e usar toda a força do exército contra a gente, mas a gente tá conseguindo repelir eles, por enquanto, mas isso não vai durar por muito tempo… Uma hora, eles vão mandar chumbo pesado…

Carles ficou tenso com o que ouviu e engoliu em seco:

— E daí nossas habilidades especiais, entram, né? Você tá louco, jão? Eu já vou logo te avisando que tem gente pra meter o bedelho nessas nossas “habilidades especiais” e mandar a gente em cana! Em cana brava!

— Sim, enquanto o “fiscal” dessas habilidades ficar ao lado do Rei em Madrid, eles vão ter tudo contra a gente e nós nada contra eles! Essa é a realidade…

Carles ficou sério. Josep começou a falar:

— Molt honorable president, eu concordo que os espanhóis estão com o nosso conselheiro de habilidades especiais e que eles tem carta branca pra usar isso contra a gente e nós não; agora eu queria entender em que nossas habilidades vão ser úteis nessa guerra…

— Fico feliz, Josep, que tenha entendido nossa urgência… Pere?

Pere estendeu um pergaminho que tinha nas mãos sobre a mesa e começou a explicar.

Aquilo era um mapa da Espanha. mas o mapa tinha algo a mais. Quando Pere esticou-o sobre a mesa, imagens em três dimensões feitas de luz pularam do mapa como aquilo fosse uma maquete:

— Faz uma semana que eu sonhei que há uma arma que pode nos dar a independência. Ela está escondida em Gibraltar, aqui no sul. A missão de vocês é ir até Gibraltar e pegar essa arma pra gente!

Carles ficou em silêncio, pegou a garrafa de vinho Codorniu e bebeu tudo de uma vez. Depois de beber, soltou um riso tão estridente que quase se engasga com o vinho que ainda escorria por sua garganta.

Santi, Pere e Josep estavam sérios:

— Você tá dizendo pra gente invadir uma base militar Inglesa, INGLESA, arriscar nossos traseiros, levar chumbo de inglês pra pegar essa arma? Piada né? Pra inglês ver!

— Eu estou muito sério, Senhor Carles! Pra catalão ver mesmo!

Santi fez um gesto e Pere abriu a porta atrás deles.

Lá estava Meritxell, cercada de dois miquelets.

Carles e Josep se levantam com um susto.

— Vem cá, Txell, vem cá! Vem falar com o President…

A menina loirinha vestia um vestido novo vermelho de bolinhas brancas.

Ela andou até eles e deu para sentir que ela estava banhada e perfumada. Só que também estava com a boca toda lambuzada.

— Tava gostoso o chocolate, Txell?

— Tava sim, tio Santi, bligada!

— Você gostaria de comer chocolate todo dia?

— Sim, tio Santi.

— Que bom! O tio também que dar chocolate pra vocês, mas o papai e o titio Carles não querem…

— Pu que?  

— Porque eles não querem ajudar o tio Santi a conseguir um livro importante pra que você possa ter chocolate todo dia, Txell! Que malvados, não?

Meritxell ficou calada. Não queria falar mal do pai e do tio Carles.

— Txell, você gostou do vestido? De tomar banho quente?

— Gostei muito, tio…

— Você vai ter tudo isso, Txell, se o papai e o titio ajudarem o tio aqui; pede pra eles toparem! Eles só vão ter que ficar fora um mês e, depois que voltarem, vão ser heróis para a vida toda! O que acha?

Meritxell não falava nada, mas os olhos dela escondiam uma súplica escondida e os Miquelets ainda estavam no corredor, com as mãos nos dois bolsos, onde mantinham duas pistolas a disposição prontas para atirar a qualquer momento.

Santi, Pere, Mertxell e os miquelets aguardavam uma resposta dos dois.

Um silêncio se estabeleceu entre eles

Foi Santi quem quebrou aquele silêncio.

— Então, Josep, uma última chamada; quer dar a vida que sua família sempre mereceu e de quebra ser um dos heróis da nossa liberdade ou quer ser um ferreiro falido e ferrado, sem casa andando pelas ruas de Barcelona, vivendo de restos que encontra na avenida diagonal? O que me diz Maria

Maria estava tensa. Apesar de ter servido como “peso morto” a reunião toda, seu rosto escondia uma agonia que não dava para disfarçar e Josep conhecia muito bem.

— Tudo o que eu peço é um simples sacrifício de um, dois meses em troca de uma vida inteira de glória… afinal, não existe almoço grátis!

— Presidente, sempre foi o meu compromisso a Catalunya e a nossa independência; tudo bem, eu topo ir pra Gibraltar e pegar essa arma dos ingleses.

Josep e Santi apertaram as mãos.

O ferreiro estava sério enquanto o President emanava malícia pelos olhos, uma malícia que Carles conhecia muito bem.


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