Shadow escrita por Course


Capítulo 18
XVII - Viver


Notas iniciais do capítulo

Oi!
Sim, eu sei. Eu sumi.
Minha vida foi uma bagunça nos últimos tempos e eu tirei um tempo de tudo, apesar de ter tentado, realmente continuar com a história. Infelizmente, fugir dos problemas nem sempre é o melhor a se fazer, então tive que encará-los de frente.
Acontece que com essa notícia de um novo livro de Crepúsculo, senti saudades da minha Eve.
Então, me comprometo a voltar a escrever, mesmo que ninguém mais se interesse pela história. Mesmo que todo mundo esteja cansado dela.
Eu senti falta da Eve e resolvi voltar a escrever.

Espero que, quem chegou até aqui, esteja ansioso, como eu, pela continuação dessa história.



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Viver

 

Depois de um final de semana tumultuado, seguido por novas descobertas sobre minhas capacidades de pedir desculpas ― que, no fim das contas, resultaram em uma trégua sadia entre mim e Ethan ― e minha caçada bem-sucedida com Emmett e Jasper, não me surpreenderia nada se esta nova semana fosse mais calma e entediante.

Estava começando a criar um ritmo na cidade de Forks e, após os primeiros dias confusos e repletos de sentimentos descontrolados, comecei a me adaptar melhor quando as questões de impulsividade humana gritavam em meu interior.

Depois de uma conversa longa com meu pai a respeito da minha amizade com os humanos, comecei a compreender que, de fato, se eu quisesse não causar problemas e parar de chamar um pouco de atenção excessiva para minhas ações pela escola, precisava me misturar. Assim como Edward, Jasper e Alice faziam agora, já que eles aproveitavam para andar com os amigos de Bella pela escola e aquilo, para minha surpresa, parecia funcionar para afugentar um pouco os olhares curiosos dos outros para nossa família.

Assim, acabei me esforçando para ser mais simpática com os outros nos horários das aulas, evitar ser muito sarcástica e sempre, sempre, sempre que qualquer humano fizesse um comentário despretensioso e que eu considerava fútil e ridiculamente imaturo, eu apenas sorria e acenava levemente com a cabeça, mordendo minha língua e me esforçando para não lançar nenhum protesto de agressividade.

Normalmente, eu percebi, isso acontecia quando Jenny soltava algum comentário fútil e maldoso com relação ao corpo da Alessa, que estava totalmente subordinada às dicas de moda e beleza da víbora que ela ousava chamar de amiga.

Diferente da abordagem dos meus irmãos, de se manterem afastados, isolados, feito um grupo exclusivo, em suas primeiras aparições em Forks antes de Isabella, eu tive a oportunidade de me misturar verdadeiramente, conhecer as pessoas, agir feito uma adolescente normal para minha idade.

Graças aos poderes da minha alimentação no domingo, consegui seguir firme e forte durante a segunda e terça-feira, sem me irritar com ninguém, sem ser grosseira, sem querer faltar aula, sem responder com desdém a alguma pergunta idiota do professor de biologia II ou reclamar das aulas de Artes, em sala, assistindo a filmes descontextualizados com a realidade dos jovens de Forks.

Acontece que, fatidicamente, meu autocontrole estava se esvaindo ao longo dos dias e, justo na quarta-feira, durante um dos meus ensaios com Ethan numa das salas vazias de Literatura, que eu descobri que essa vida de pseudo-humana seria extremamente difícil.

Na verdade, eu nem podia chamar os encontros que eu tinha com Ethan, após as aulas, de verdadeiros ensaios. O que fazíamos, realmente, era conversar sobre minha vida antes de Forks, em que eu tinha que inventar diversas mentiras sobre meu passado e, às vezes, me sentir acuada com suas perguntas. O que ele considerava apenas perguntas de curiosidades, eu sentia como um verdadeiro interrogatório, digno das cenas de filmes de Hollywood. Então, quanto mais eu me cansava com suas perguntas insistentes, mais fácil eu ficava de perder o controle total. E aquilo não era algo que eu quisesse, então, eu, de repente, senti a necessidade de tomar uma atitude.

― Ok, já chega. ― resmunguei e levantei-me do tampo da mesa onde eu estava sentada por, aproximadamente, quarenta minutos, e relatava sobre meu relacionamento com Demetri, adaptando para uma realidade mais recente e num ambiente repleto de órfãos.

― Desculpa, eu sei que já estou te cansando, mas fala sério, Eve. Esse Demetri e você... Cara, isso parece muito uma daquelas cenas de amor proibido, sabe? Em que todos ficam contra, mas o amor de vocês resiste a todas as circunstâncias. ― Ethan estava deitado sob a mesa do professor, com o corpo estirado e apoiando a cabeça em sua mochila, enquanto olhava para o teto bege da sala.

― Você sempre deixa de lado o fato de que ele me traiu. ― Relembrei-o e afundei meu corpo em uma das cadeiras no fundo da sala e o mais distante possível dele.

― Tudo bem, tudo bem! Mas, você precisa admitir... Parece mesmo uma cena de filme hollywoodiano. Cara, só consigo sonhar com esse Demetri... Pelas suas descrições, ele parece ser um gato.

― Ele é hétero. ― Cortei seus planos mais uma vez.

Vi sua cabeça se erguer só o suficiente para que ele me olhasse e notei o revirar de olhos e o sorriso sorrateiro surgindo em seus lábios.

― Que foi? Está com medo de que ele venha te visitar e acabe preferindo a mim? Aposto que ele deve curtir loiros.

Bufei, alto o suficiente para que quase toda a escola pudesse ouvir.

― Ele não virá para Forks!

Só a ideia de ter Demetri me rondando e perseguindo meu novo estilo de vida, fazia com que todos os pelos de meu corpo se ouriçassem. Seria um caos na Terra se isso realmente acontecesse.

― Admite, pelo menos, que seria um pouco romântico. Sei lá, sabe? Ele conseguir ser adotado por alguém, por aqui, e vir te visitar? Nossa... Isso seria, no mínimo um-

― Um grande problema. ― Cortei-o instantaneamente ― Esqueceu das partes dessa história que contei em quantas vezes ele me meteu em problemas?

― Porque vocês davam uns amassos à escondida? É, não esqueci essa parte. ― Ele suspirou e levantou-se, endireitando seu corpo e encarando-me sério ― Sei que você contou dos castigos e tudo mais... mas, fala sério, Eve. É uma baita história de filme de romance essa sua.

Deixei meus olhos rolarem na órbita, totalmente consciente de que Ethan não fazia ideia do que estava falando, afinal, ele não sabia do contexto real da minha versão original de Ethan & Eve.

― Falando em romance, acho que sei uma cena perfeita para a gente retratar para essa droga de trabalho de francês. ― Erguendo seu corpo, ele fez menção com uma das mãos para que eu me mexesse do meu lugar e fosse até sua direção.

Assim que estava perto o suficiente, ele pegou uma das minhas mãos, enlaçou na sua e sorriu, triunfante.

― Vamos reencenar a clássica dança de A Bela e a Fera, seguida pelo diálogo na sacada. ― Como se aquela fosse uma ideia brilhante, ele deu um sorriso triunfal de vitória e me encarou animado. ― Nada melhor que a reinterpretação da princesa francesa, inteligente, misteriosa, nova na cidade ―  ele dava passos ao meu entorno, me girando, conforme puxava minha mão e me olhava de forma enigmática ― , e o príncipe esquecido e amaldiçoado. ―  Fez uma leve mesura em minha direção e, ao se recompor, seu sorriso estava de volta ― Eve, fala sério, é perfeito!

― Tá, eu até entendi que você me acha tudo isso o que você falou, mas... por que você seria o príncipe esquecido e amaldiçoado? ― indaguei, largando sua mão e o olhando confusa.

― Ah... bem... complicado. É, deixa para outro dia essa história da minha maldição e abandono. Vamos focar em como me deixar com uma cara mais... fera... e precisamos descobrir se no clube de teatro tem algum vestido amarelo para você. ― Ele foi tagarelando, enquanto pegava sua mochila, colocava uma das alças pendurada no ombro e me aguardava na porta de saída, como se tudo já estivesse resolvido.

Eu não sabia qual seria o melhor momento para revelar à ele que eu jamais havia assistido ao tal filme mencionado, então, deixei que ele me guiasse pelo corredor e tagarelasse sobre as possibilidades de maquiagem e sobre um menino figurinista do teatro da escola que ele tinha uma espécie de lance e que poderia lhe ajudar com tudo.

Era tudo muito estranho. Absolutamente estranho.

Passados quatro dias desde nossa trégua, Ethan e eu desenvolvemos uma rotina esquisita, mas, ainda sim, tranquila.

Ele me ajudou a lidar com muitos problemas iniciais com o celular, por exemplo, de uma forma que nenhum irmão meu fora capaz de o fazer. De certa forma, por minhas limitações cerebrais, enquanto minha sombra está erguida, serem iguais as de um humano, meus irmãos acabam não compreendendo como pode ser difícil, por exemplo, que eu compreenda certas questões dos sistemas. Já Ethan e Alessa pareciam totalmente complacentes de minha situação e, para minha surpresa, não zombaram ou fizeram nenhum comentário irônico quando, logo na segunda-feira, comentei que, por eu ter ficado a vida inteira no “orfanato”, nunca precisei usar celular.

Além disso, eles pareciam querer me atualizar com o uso de absolutamente todas as redes sociais possíveis e, aos poucos, fui compreendendo que os jovens dessa geração possuem um certo fanatismo por saber o que as celebridades estão comendo ou onde estão passando as férias.

Era sempre muita coisa para entender, muita coisa para me atualizar, muita coisa para conhecer. Em três dias apenas, eu sentia-me sufocada demais. Por isso, às vezes, incontrolavelmente, eu deixava um comentário ácido escapar, apesar dos meus esforços.

― Ethan ― finalmente resolvi falar ―, acho que teremos um problema nesse trabalho.

Ele, entretido em algo na tela do seu celular, não pareceu notar meu tom aflito.

― Hm?

― Eu... nunca assisti a esse filme que você quer reencenar.

Assim que terminei de falar, pelas feições de espanto do garoto, parecia que eu havia dito alguma blasfêmia ou algo tão horrível que seria passível de penalidade de morte.

― Eve Cullen, como assim você nunca assistiu A Bela e a Fera? Esse é clássico dos clássicos da Disney! O conto de fadas mais perfeito de todos.

Havíamos freado no meio do corredor e eu notei que, apesar de haver pouquíssimos alunos circulando ainda pelo espaço da escola, eu havia, mais uma vez, me tornado o centro das atenções.

― Esqueceu de onde eu vim? Das regras de lá? ― Eu havia inventado uma série de regras do meu falso orfanato para justificar meus poucos conhecimentos do mundo social juvenil atual, então, de certa forma, eu sempre usava a desculpa da órfã para justificar minhas falhas sociais.

― Ah, merda. ― Suspirando, ele pareceu compreender ― Esqueci, Cullen. Tem razão... ― Assentindo com a cabeça, ele passou uma das mãos pela barba por fazer loira e falha em seu queixo, enquanto parecia analisar algo em sua mente ― Bem, precisamos corrigir esse erro o mais rápido possível.

― Eu posso pedir para Alice ou Edward alugarem na locadora o filme e... bem, dou um jeito de assistir vezes o suficiente para gravar a cena exata que você quer que interpretemos. ― Sugeri, já imaginando quais seriam meus planos para o final de semana, depois da minha caçada.

Depois de muitos passeios pelo interior do camarim do teatro, em que Ethan ficou selecionando diferentes modelitos para seu look de príncipe-fera ― seja lá o que isso signifique ―, comecei a sentir o cansaço do dia bater-me de prontidão e esforcei-me para cessar os protestos do loiro enquanto informava que eu deveria ir embora.

― Eu te deixo em casa, Eve. É o mínimo que posso fazer, já que fiquei te enchendo de perguntas ao invés de focarmos nos ensaios. Prometo que amanhã trarei o roteiro e a gente começa a ensaiar... Ah, merda. Amanhã não vai dar. Eu tenho treino de Lacrosse até tarde... Mas na sexta-feira, de certeza, eu ensaio com você.

Eu apenas assentia, sem me importar muito com as palavras de Ethan, enquanto focava-me em enviar uma mensagem para Jasper, informando que eu já havia terminado meu ensaio.

Diferente de muitas cidades nos Estados Unidos da América, Forks, por ser uma cidade minúscula, não possuía transporte público, já que praticamente tudo de interessante resumia-se a poucas quadras no centro. Então, por estar impossibilitada de me locomover sozinha, eu acabava dependendo das caronas dos meus irmãos, principalmente porque, de forma surpreendente, eu não sabia dirigir.

Não que fosse algo impossível para vampiros. Na verdade, os superssentidos praticamente nos habilitavam a dirigir sem auxilio de aulas, contudo... Eu jamais tivera a chance de dirigir um carro ou pilotar uma moto, então eu não saberia dizer se, de fato, eu sabia ou não dominar os motores dos transportes humanos. E, enquanto ninguém se oferecia para me ensinar, eu fazia de conta que o fato de eu ser a única Cullen que não sabia dirigir e que não possuía um carro não era, na verdade, um problema tão grande assim.

Quando, sinceramente, para minhas emoções bem humanas, era um problema gigantesco.

—--

Meu novo quarto era algo surpreendente enorme e extremamente ostensivo, moldado em tons preto, dourado e branco.

Decorado, possivelmente, para acomodar uma princesa da corte britânica, despojava de paredes em gesso, pintadas com uma espécie de tinta branca com mínimos glitters para destacá-las. Uma cama queen size, com dossel e revestida com tecidos de tons preto e dourado estava centralizada na parede maior, acompanhada de duas mesas de cabeceira, sustentando os abajures com os topos moldados de algum material cristalizado. Havia também uma bancada para estudos que fora acomodada exatamente abaixo de uma extensão do quarto que, anteriormente, era uma varanda, mas fora fechada em paredes de vidro para me proporcionar uma vista externa e relaxante das árvores que adornavam a casa e o céu repleto de estrelas durante a noite. Além disso, havia uma enorme estante de madeira branca, repleta de livros, que tomou conta de toda a parede do quarto, em que a porta de entrada estava alocada, fazendo-me sentir mais aconchegada e me possibilitando um hobby para distração quando me cansasse de estudar ou da companhia dos meus irmãos.

Claro que, como minha família gostava de tecnologia, eu também possuía um computador de mesa de última geração, que encontrava-se na minha bancada de estudos, uma televisão que estava alocada na parede, tendo à sua frente duas poltronas a disposição para comodidade dos espectadores das imagens, além de as quatro extremidades do quarto possuírem um sistema de som de última geração, que conectava-se pelo Bluetooth do meu celular ― coisa que só fui aprender realmente com as explicações de Alessa, somadas às aulas extras de Emmett sobre todo o sistema e aparelhagens do quarto.

Definitivamente, tudo ali era diferente do meu antigo quarto em Volterra, que acompanhava uma arquitetura vitoriana, pautada em tons de madeira escura e vermelho sangue. Além, claro, do fato de não haver tecnologia por lá e nenhum espaço dedicado para meus estudos.

O espaço que realmente se assemelhava ao meu antigo lar era o closet que, com toda certeza, teve ajuda de Alice para ser projetado. Eu recordo perfeitamente do brilho no olhar de minha irmã que me acompanhara até meu closet em Volterra e, analisando cada extremidade, gaveta, prateleira, ela encantava-se com os detalhes e a praticidade do meu espaço para acomodar minhas roupas que ultrapassaram os anos.

Uma das coisas que se tornou favorita para que eu passasse meu tempo, aproveitando o silêncio dos meus pensamentos e me dedicando a tentar me tornar uma humana normal e que chamasse pouca atenção, era a prática da leitura de livros de romance juvenis.

Esme e Rosalie rechearam minhas estantes com livros do tema, a meu pedido, e, obtendo a recomendação de alguns bons clássicos de livros de Edward e Isabella ― a distância, já que eu a via raramente, devido aos horários diferentes na escola, além do seu castigo eterno ―, eu passava minhas noites, após algumas horas de estudos e refeições humanas, saboreando alguns livros.

Eu estava lendo um dos clássicos vampirescos favoritos de Rosalie ― Diário de um vampiro ― quando ouvi o soar de batidas na porta do meu quarto.

A minha incapacidade de detectar quem era por meio da percepção dos movimentos por trás da porta me frustrava, mas tentava, todos os dias, lutar contra esse sentimento, porque, no fim das contas, havia sido uma escolha minha realmente aproveitar minha vida como humana por ali.

― Pode entrar. ― Fechando o livro, acomodei-me de forma mais formal na cama, casualmente recordando dos meus costumes volturianos. Deixei minhas pernas caírem na lateral da cama e pousei o livro no meu colo enquanto via meu pai entrar no quarto com um sorriso no rosto e uma bandeja com algo que cheirava deliciosamente nas mãos.

― Esme me disse que você passou o dia no quarto desde que chegou do seu ensaio com Ethan. Está tudo bem?

Vampiros conseguiam esconder com facilidade as emoções, quando queriam, contudo, quando estávamos entre pessoas de confiança, ficávamos menos propensos a disfarçar o que sentíamos verdadeiramente. Pelo olhar curioso e preocupado do meu pai, eu sabia que estava ali para que eu desabafasse com ele, como fazia anos atrás antes dele me deixar.

Ao pousar a bandeja na mesa de centro próxima a uma das minhas poltronas, precisou esperar muito para que eu me acomodasse no chão e me pusesse a comer o ravióli que fora preparado para mim.

― É mais complicado ser humana do que eu estava esperando. ― admiti, com certa dificuldade, depois de algum tempo em silêncio.

Sempre enxerguei mais humanidade no meu pai do que em qualquer vampiro que tenha encontrado em toda a minha vida. E, de certa forma, apesar de ser uma Volturi e ter crescido compreendendo que qualquer coisa relacionada à humanidade é um erro, quando olhava para o homem que sentava-se ao meu lado e me observava devorar a massa, sentia como se nada pudesse ser errado.

― Você não é humana, Eve. ― Diferente do que eu esperava, ele simplesmente soltou algo inusitado ― Você é uma vampira com o dom de reter nossos poderes, aparência e sede por bastante tempo e liberar toda a vulnerabilidade humana que nós perdemos quando nos transformamos.

Provavelmente meus olhos arregalados e a boca escancarada surtiram um efeito engraçado para meu pai, pois deixou escapar um sopro similar a uma gargalhada.

― Filha, entenda ― pousando sua mão gelada em meu ombro e olhando-me de forma branda, ele continuou: ― Quando sugeri que você experimentasse essa outra parte sua, não queria que sofresse. É claro que seu poder é algo surpreendente e instigante a ser analisado e testado, mas, de forma alguma, quero que fique conosco e se sinta mal. Se for demais para você, podemos simplesmente abortar o plano. Você fica na casa e pode deixar seu lado vampiro viver tranquilamente por aqui.

A ideia de não ter que enfrentar mais um dia cansativo de aulas pareceu instigante, entretanto, no fundo, bem no fundo, eu precisava admitir que a experiência de todo não era ruim.

― Eu aprendi muito esses dias vivendo próxima dos humanos. ― De repente, me vi admitindo com mais clareza ― Eu só... fico cansada de... ― engoli em seco, buscando as palavras adequadas ― me sentir tão desajustada, sabe? Eu não sinto que pertenço realmente à algum lugar. Em Volterra, tudo o que eu queria era fugir para me misturar com os humanos e enviar cartas á vocês. Aqui, eu... tento me misturar com os humanos e viver todas essas experiências novas, mas... simplesmente não me encaixo. Sou uma peça solta nesse quebra-cabeça mirabolante que os humanos tentam montar diariamente.

― Achei que estivesse bem com seus novos amigos. Alessa e Ethan, certo? Pelo que Alice me disse, você parecia próxima à eles na escola.

― É, mas... ― Inspirei fundo, tentando oxigenar meu cérebro e organizar melhor as minhas ideias. Com meu cérebro neste lado da sombra, tudo ficava mais difícil de posicionar e organizar, porque um cérebro humano é extremamente limitante. ― Hoje, por exemplo, Ethan decidiu que vamos apresentar um trecho do filme A Bela e a Fera. E ele ficou horrorizado por eu nunca ter assistido. É tão sacal ter que usar uma visão deturpada de uma adolescente órfã que nunca teve a chance de ir ao cinema, quando, na verdade, a história é bem diferente.

Minhas mãos voaram para minha testa enquanto eu acomodava meus cotovelos em cima do tampo de vidro da mesa de centro. Havia uma parte minha que estava aliviada por soltar todas aquelas frustrações, mas, no meu interior, uma fera gritava furiosa comigo por eu me deixar levar por problemas tão mundanos.

Eu estava ali para impedir uma guerra entre dois clãs de vampiros, mas minha maior preocupação parecia ser me adaptar ou não à humanidade. Tudo aquilo, no fim das contas, era frustrante demais.

― Eve, querida. Você passou tanto tempo com o peso da responsabilidade de ser uma vampira perfeita sob seus ombros que nunca se deu a chance de viver sua vida verdadeiramente. Sempre teve que ser a herdeira perfeita, a filha perfeita, a vampira perfeita. ― Acomodando-se ao meu lado, no chão, ele pousou seu braço entorno do meu tronco e puxou-me para perto, fechando-me em um abraço gentil, apesar de gélido ― Estamos com tudo resolvido com a Bella, certo? Suas cartas diárias relatam o que Bella tem feito e seus planos para o futuro. Então, tente, por favor, se desprender do peso dessa responsabilidade e se permitir, ao menos dessa vez, viver.

Mesmo sem falar tudo, era como se ele simplesmente soubesse de todos os pensamentos que me afligiam.

― E como eu posso fazer isso? ― Indaguei, olhando-o em busca de uma resposta esperançosa.

― Abrindo mão do seu controle.


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Notas finais do capítulo

Uma informação: O site que eu hospedava os gifs, infelizmente "caiu" e eu perdi todos eles. Então, vou refazer todos e postar novamente. Teremos adaptações nas imagens, porque eu perdi o modelo de gif também kkkk

— O que acharam do capítulo até aqui?
Queria dizer que, oficialmente, começaremos a ter um divisor de águas a partir de agora. Eve vai realmente buscar experimentar toda essa vida humana, assim como o planejado e o esperado pela sua família.



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