By My Side escrita por LelahBallu


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Hey!!!

Só um agrado, enquanto não atualizo as demais.
Uma boa leitura a todos, e espero que gostem!!



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Fechei meus olhos enquanto sentia a leve brisa do vento tocar meu rosto.

Eu precisava disso. De alguns minutos longe de todo o drama que havia se tornado minha vida, eu precisava sair da minha casa por alguns minutos.  Isso fazia com que eu me sentisse culpada também, minha mãe estava preocupada comigo, com minha reação e a primeira coisa que eu fiz foi me afastar.

— Hey estranha. – Escutei o timbre suave e masculino falar atrás de mim e virei-me encarando os olhos azuis de Oliver Queen. Pagávamos algumas classes juntos, geralmente nosso contato se limitava a algumas trocas de olhares e então algumas breves trocas de palavras quando juntávamos em uma dupla para apresentar algum trabalho. Eu posso dizer que ele é meu parceiro, mas se limita apenas no que se refere aos nossos trabalhos, no que se refere ao pessoal... Nunca havíamos trocado uma palavra sequer. Oliver Queen é o típico garoto de fraternidade, enquanto eu sou a típica garota que sempre será a primeira da sala, mas a última a ser considerada em um encontro. Minha mãe costuma dizer que minha inteligência intimida os homens bonitos, e que às vezes eu deveria fazer como ela, fingir-me um pouco tola e até mesmo estúpida para fazer com que eles pensassem serem os mais espertos e assim ficarem mais a vontade. No caso de Oliver, eu não achava que isso faria alguma diferença.

— Olá stalker. – Brinquei. Oliver morava do outro lado da cidade, o lado mais rico, seu caminho estava bem desviado da rota. – Você não está me seguindo está?

— Infelizmente não. – Negou com um sorriso pequeno. – Apenas visitando um hospital por perto. Meus pais fazem doações, estávamos fazendo parte de uma espécie de evento. Mas e você? Não está pensando em pular da ponte está? – Perguntou ainda mantendo seu sorriso. A ideia me fez rir, era ridícula. A ponte passava sobre um pequeno lago que havia no parque. Se eu pulasse a única coisa a sair machucada seria meu orgulho.

— Não hoje. – Murmurei. – Você veio até aqui para... – Comecei estranhando o fato dele ter se afastado da família, eu conhecia o hospital, tinha estado lá mais cedo, pela manhã. Era muito perto, mas não era exatamente do lado.

— Escapar dos meus pais. – Confessou. – E toda essa pompa.

— Entendi. – Assenti para então erguer uma sobrancelha e provoca-lo. – Pobre garoto rico? – Ele deu de ombros fugindo de minha provocação, voltei a olhar para frente me concentrando nas pessoas caminhando em volta do lago, no jovem pai carregando seu bebê nos braços enquanto sua esposa ajustava sua bolsa atrás, no casal de idosos passeando de mãos dadas e da mãe ajudando a sua filha a andar de bicicleta. Um nó se formou em minha garganta, memórias de quando minha mãe me ensinou a patinar nesse mesmo parque. Tinha sido tão longe assim?

— O que está acontecendo Felicity? – Oliver perguntou ao meu lado. Eu sequer havia percebido que ele ainda estava lá, envolvida em meus próprios pensamentos ignorei sua presença silenciosa. – Eu estive no hospital hoje.

— Você já disse. – Comentei franzindo o cenho.

— Eu escutei alguns médicos conversando. – Falou hesitante. – Slade Wilson. – Murmurou em tom baixo como se temesse tocar no assunto, mas precisasse. – Ele é amigo da minha mãe e também é um...

— Oncologista. – Completei sabendo por fim onde ele queria chegar. – O que você ouviu?

— Ele falou que havia um caso em especial que o deixava pessoalmente triste. – Apoiou-se com uma mão, seu corpo se voltando para mim, não tive outra opção se não fazer o mesmo, seus olhos me encaravam com cautela, com receio, Oliver parecia estar com medo. – Ele disse “Eu gosto da Srtª Smoak, não esperava isso vindo, foi um choque”.

— E o que mais? – Perguntei precisando escuta-lo.

— Eu não sei. – Respondeu sem desviar seus olhos dos meus. – Eu meio que surtei nesse momento e apenas os deixei para trás.

— É minha mãe. – Murmurei minha voz me traindo e quebrando-se. Seu rosto que até então estava inexpressivo se alterou, muitas emoções se passando neles, nenhuma delas que eu pudesse nomear no momento. – Ela tem câncer. – Por alguns momentos ficamos apenas nos encarando, seus olhos cobertos pelo véu da tristeza, nesse momento não havia mais o brilho de Oliver Queen. Como estaria o meu? Perguntei-me desviando meu olhar do seu. Pálido, esgotado e coberto de preocupação talvez. Era irônico, se eu estive do lado da minha mãe, provavelmente eu passaria pela pessoa com câncer, nunca ela. Ela recebeu a notícia com sua habitual alegria, eu não conseguia entender. Ela ia morrer, ela poderia ao menos tirar esse sorriso do rosto e encarar tudo com seriedade?

Tentei abandonar meus pensamentos, respirar fundo e então me despedir de Oliver com um sorriso forçado, mas eu não conseguia, havia um nó em minha garganta e quando eu ergui meus olhos voltando a encontrar os seus no caminho... Eu não pude me conter, emiti um soluço que me surpreendeu. Eu não queria chorar, não agora, não na frente desse rapaz bonito que nada poderia fazer por mim neste momento.

— Eu sinto muito. – O escutei enquanto pousava uma mão em me ombro.  Eu vi a intenção em seus olhos antes mesmo que ele se movesse se aproximando. Apenas instinto de preservação me fez espalmar uma mão em seu amplo peito o impedindo de me abraçar. Eu podia ver que era isso que ele queria fazer, eu podia sentir em meus ossos que ele queria me envolver em seus braços e me confortar quase tanto que eu queria que ele fizesse.

— Não. – Murmurei encarando seu peito após pegar um rápido vislumbre da confusão em seus olhos. – Você não pode me abraçar.

— Eu não queria te fazer desconfortável. – Murmurou em tom de desculpas, e até mesmo um pouco envergonhado. Ele tentou dar um passo para trás, mas o contive segurando sua camisa em um agarre forte. Encarei minha mão ainda pousada no centro do seu peito então voltei a encarar seus sérios olhos azuis.

— Eu não posso. – Murmurei deixando um pouco de vulnerabilidade escapar. – Você não estaria me fazendo desconfortável, longe disso, mas se você me abraçar agora, eu vou chorar. – Murmurei sincera. Minha voz ameaçando falhar. – Eu vou começar e não tenho certeza se conseguirei parar, então eu não posso, por que eu ainda não estou pronta para isso.

— Ok. – Assentiu não desviando seus olhos dos meus nem por um segundo. – Então eu vou apenas ficar aqui. Ok? – Respirei fundo, sentindo um pequeno ataque de pânico me dominar, o ar não parecia chegar a meus pulmões. – Felicity. – Escutei seu chamando. – Olhe para mim. – Pediu envolvendo minha mão que ainda permanecia imóvel em seu peito. – Respire fundo, eu estou aqui. Olhe ara mim. – Repetiu quando seguia puxando minha respiração e não encontrava seus olhos com os meus.  – Olhe para mim. – Ao escutar o tom imperioso em sua voz eu não pude evitar mais seus olhos, ainda tentando controlar minha respiração ergui meus olhos até os seus, e suavidade os dominava, seu olhar me acalmou, principalmente quando ele voltou a dizer. – Eu vou apenas ficar aqui, eu estou aqui, ok?

— Ok. – Murmurei por fim, minha respiração se normalizando lentamente. Eu não saberia dizer por quanto tempo ficamos assim, mas ele não saiu. Ele ficou tanto quanto precisei, até o momento em que seu segurança nos encontrou e o alertou que seus pais já haviam ido, entretanto, mesmo assim ele não me deixou até que eu o convenci a ir embora, até o momento em que eu garanti que estava bem e que eu já estava indo para minha casa que era a poucas quadras dali.

Ainda assim ele me acompanhou. Ele não deu nenhuma dica de queria entrar, apenas me assistiu ir até a porta e quando eu me virei ele ainda estava ali, esperando que eu entrasse, ele me presenteou com um sorriso mínimo e deu de ombros como se desculpando, quando eu finalmente entrei e caminhei às pressas para janela pude ver ele se afastar com os ombros curvados, seu segurança apareceu em um carro pouco depois e eu soube que mesmo não tendo dito nada, ele havia nos dado espaço, Oliver entrou no carro após dar uma última olhada para minha casa.

 Eu o vi novamente na aula de bioquímica. Eu sempre me perguntei por que diabos ele fazia bioquímica se não era uma matéria obrigatória para seu curso, mas agora eu não estava muito preocupada com o por quê, eu estava agradecida. Ele não fez um grande alarde, sentou ao meu lado na bancada como todas as outras vezes e não se preocupou em começar uma conversa, mas quando a aula terminou e eu me preparava para atravessar para o próximo bloco para minha próxima aula, eu senti sua mão em meu ombro novamente. Eu senti uma pergunta no seu olhar. Ele queria saber se eu já estava pronta. Balancei minha cabeça em negativa.

— Tudo bem. – Murmurou antes de alcançar minha mochila e coloca-la em seu ombro assumindo o peso para si.

— Eu posso levar isso sozinha. – Murmurei o encarando com um olhar aborrecido.

— Eu sei. – Voltou a dar de ombros. – Não significa que precisa. – Completou antes de avançar alguns passos deixando-me com suas palavras em minha mente, ele parou e me encarou com seu sorriso pequeno. – Você vem? – Pisquei aturdida com sua atitude, mas avancei até que estávamos caminhando lado a lado.

Ele fez disso nossa rotina.

Oliver lentamente se infiltrou em minha rotina, primeiro na faculdade, pagávamos três matérias juntos. Duas das quais não eram obrigatórias, ele sentava ao meu lado e tomava notas, continuávamos com nossa calada parceria que antes havia sido formada por que assim era conveniente, mas que agora havia apenas se tornado natural. Depois ele se infiltrou em minha vida pessoal também, pois após duas semanas disso ele passou a não só me acompanhar de uma sala a outra, ele também passou a me acompanhar até em casa. Uma presença quase silenciosa nos primeiros dias. Mas então ele começou a contar um pouco de si mesmo e me surpreendeu ao ser um bom ouvinte, eu nunca chegava ao assunto mãe com câncer novamente, mas em alguns momentos quando eu estava calada demais, eu sentia sua mão em meu ombro e sua pergunta em seu olhar, mas a resposta ainda era a mesma. Eu ainda não estava pronta.

— Você quer entrar? – Perguntei quando paramos em frente a minha porta, Oliver segurava minha bicicleta junto a si. Eu sempre ia para faculdade nela, mas como ele vinha caminhando comigo, ele vinha a arrastando, sua mochila nas costas, enquanto meus cadernos ficavam na cesta da frente. Ele tinha sorte por minha bicicleta não ser malditamente rosa, não completamente pelo menos.

— Você tem certeza? – Perguntou hesitante.

— Todos os dias você vem andando comigo. – Murmurei inclinando minha cabeça e deixando um sorriso escapar. – Você carrega minhas coisas para lá e para cá também, eu acho que eu lhe devo ao menos um suco.

— Ao menos uma água. – Brincou.

— Vamos. – O chamei pegando minha bicicleta e colocando-a encostada contra a parede da escada quando entramos. Eu sabia que minha mãe estava em algum lugar da casa, provavelmente em seu closet organizando suas roupas mais uma vez. – Você quer subir? – Perguntei hesitante, eu não queria que ele tivesse a ideia errada de que eu estava tentando algo ao leva-lo para o meu quarto, tudo o que eu queria no momento era um pouco de privacidade, mas eu não sabia por quanto tempo minha mãe estaria fora do radar, e ela costuma ser efusiva, ainda mais na presença de alguém como Oliver. Alguém tão bonito e simpático, ela entenderia tudo errado.

De qualquer forma não esperei por sua resposta. Indiquei com um gesto vago que ele me seguisse até a cozinha e tão logo pegamos nossas bebidas eu o guiei até o meu quarto no andar de cima, chega a ser engraçado como ele foi até minha cama e sentou no meio, enquanto eu sentei na poltrona no canto do quarto, ele estava completamente à vontade, me encarava com um sorriso cálido, enquanto me limitava a encara-lo insegura. Eu estava completamente desconfortável em meu próprio quarto.

Não éramos adolescentes, estávamos na faculdade e eu definitivamente não era mais virgem, mas ter Oliver Queen em cima da minha cama me deixou tão insegura como fosse.

— Então... – Murmurou encarando-me e me deixando cada vez mais inquieta.

— Então. – Repeti.

— O que você faz quando não está estudando? – Perguntou-me enquanto se levantava e zanzava pelo meu quarto, seu olhar curioso não deixando nada escapar.

— Eu leio. – Falei automaticamente.

— Eu percebo. – Murmurou parando em frente a minha estante de livros, uma parede um completa cheia de livros. Meu tesouro. – Esse deve ser seu santuário. – Comentou deslizando seus olhos apenas brevemente pelos livros.

— Agora mais do que nunca. – Comentei em tom baixo, ele me dirigiu um olhar. Aquele olhar, eu hesitei, quase me entreguei à onda de desespero que vinha me acompanhando, mas a afastei e balancei a cabeça em negativa. Ele moveu-se pelo quarto como se nunca houvesse ocorrido essa breve, mas intensa troca de olhares.

— Você escuta música. – Murmurou movendo seu dedo pelos meus CDs. Eu tinha uma paixão por isso.

— Todo mundo escuta música. – Falei não podendo deixar de sorrir.

— Em um pendrive, ou apenas no celular. – Argumentou. – Quem hoje em dia ainda compra CDs?

— Eu. – Respondi simplesmente. – De qualquer forma você pode ver que na minha caixinha de som está plugado um pendrive. – Apontei. Ele meneou a cabeça, um pequeno sorriso em seus lábios e voltou sua atenção para o porta retrato onde exibia uma foto minha dançando com Barry.

— Quem é esse? – Perguntou erguendo a foto, me apressei em me levantar e alcança-lo tirando-a de suas mãos e colocando de volta ao local. – Namorado? – Perguntou confuso diante minha reação, mais do que isso até, Oliver soava decepcionado.

— Um amigo. –O corrigi. – Melhor amigo. – Frisei. – Este é Barry, ele se mudou poucos dias depois dessa foto.

— Esse é o baile do colegial? – Perguntou finalmente se dando conta de nossas roupas. – Você foi a rainha do baile? – Perguntou incrédulo.

— Tentarei não ficar ofendida. – Murmurei o fuzilando com o olhar. – Mas não, essa é uma réplica da coroa, a escola achou que seria legal sair distribuindo algumas e Barry insistiu que eu usasse. – Suspirei antes de encarar seus olhos que me avaliavam. – Você deve ter sido o rei do baile.  - Ele riu.

— Talvez. – Sorriu. – Se eu tivesse ido.

— Você não foi ao seu baile? – Parecia estranho, eu podia imaginar Oliver andando pelos corredores, usando uma jaqueta de capitão do time e mais tarde levando sua bonita namorada para o baile.

— Eu pensei que seria divertido pilotar a moto do meu pai. – Confessou. – Sem que ele soubesse, é claro que um dia antes eu estaria indo para um hospital e engessando uma perna.

— Você tem sorte que foi apenas uma perna engessada. – O recriminei.

— Bem, esse parece um bom momento de pegar algo do qual eu perdi. – Murmurou indo até minha caixa de som.

— O que você está fazendo?- Perguntei confusa. – Do que você está falando?

— Mais vergonhoso do que eu nunca ter ido ao meu baile... – Murmurou ligando-a. Minhas músicas como sempre estavam no aleatório, demorou mais alguns cliques até ele parar em uma que julgava boa.  – É ter perdido a oportunidade de dançar com a garota mais bonita.

— Oliver? – Perguntei hesitante quando a voz de Taylor dominou o ambiente. Everything Has Changed soando pelo meu quarto. Ele virou-se, um sorriso tímido nos lábios, quase me lembrando de fato um Oliver adolescente. Se eu fosse parar para pensar em Oliver nessa época nunca seria assim. Tímido. Mas foi assim que ele agiu quando parou em minha frente, sua mão segurando a minha e arrastando-me lentamente até ele, eu sabia que em um momento em que eu pudesse pensar direito eu teria pelo menos mil razões para achar que essa era uma péssima ideia, mas neste momento eu não conseguia me lembrar em nenhuma. – Vamos lá Smoak, não negue a um pobre coitado uma dança com a rainha do baile.

— Você não é um pobre coitado. – Neguei embora não fizesse nada para impedir suas mãos de levarem as minhas até seu pescoço, as suas deslizando logo em seguida até minha cintura. – Você está trapaceando.

— Bem, você também não foi a rainha do baile. – Murmurou. Seu sorriso roubando de mim qualquer pensamento coerente, sem perceber me movi com ele, tão sutil que quase não parecia uma dança de fato, só estávamos um nos braços dos outros, nos movendo quase de forma imperceptível. Seus olhos mais uma vez fitavam os meu tão intensamente que para desprender-me de sua força eu encostei minha cabeça contra seu peito, seus braços me rodeando com mais força.

Era estranho estar assim com um cara de quem comecei a falar há apenas duas semanas, tão confortável e segura em seus braços. Oliver em tão pouco tempo havia se tornado uma parte indispensável do meu dia. Senti um braço me soltar apenas para em seguida sentir o leve toque de sua mão em meu rosto, afastando-me do seu peito, ele havia percebido que eu estava me escondendo e agora não me deixava escolha se não encara-lo, sua testa encostou-se a minha, seus olhos absorvendo os meus, ainda assim era muito para mim. Fechei meus olhos, a sensação de estar atingindo a borda me sufocando, eu estava quase lá, prestes a me entregar, mas eu não queria deixar ir.

— Olhe para mim. – Pediu. – Felicity.

— Não. – Murmurei. – Eu ainda não estou pronta.

— Sim, você está. – Murmurou, seu fôlego tão próximo do meu, uma distração bem vinda, mas ainda assim não completamente eficaz. – Você apenas não quer estar.

— Não. – Murmurei sentindo suas mãos em meu rosto.

— Felicity. – Murmurou suavemente. – Por favor, olhe para mim. – Sua voz era tão suave que foi impossível não atender ao seu pedido, seus polegares passou por minhas bochechas e só então percebi que eu já chorava, o que começou um lamento fraco e silencioso aumentou gradualmente até que eu não conseguia conter os soluços, eu não percebi o momento em que ele me ergueu em seu colo, ou o momento em que ele sentou em minha poltrona ainda comigo em seu colo, percebi apenas o momento em que escondi meu rosto em seu pescoço, sua mão acariciando meus cabelos, sua voz baixa e suave dizendo coisas das quais eu não entendia devido aos meus próprios soluços. Eu não saberia dizer, assim como no dia em que ele me tranquilizou, quanto tempo durou, eu fui me acalmando lentamente. Focando nas batidas do seu coração eu me tranquilizei, sentindo seus braços em volta de mim, eu encontrei paz.

— Como você se sente? – Sua voz rouca vibrou em meu ouvido. Mesmo hesitante em fazê-lo eu me afastei um pouco, agora era eu que precisava encontrar seu rosto, seus olhos.

— Melhor. – Murmurei. Minha voz saindo naquele tom horrível que nenhuma garota quer que um cara atraente a escute. Tudo culpa do meu choro. – Ainda é uma merda, ainda doí, mas eu me sinto melhor.

— Eu sei.  – Sorriu. Mas não era o sorriso de que em tão pouco tempo eu havia me acostumado e apegado. Era um sorriso triste, um sorriso que teve o poder de me fazer questionar. – Nunca passa, nunca deixa de doer. Mas de algum jeito, de alguma forma, encontramos uma maneira de seguir em frente.

— Oliver... – Murmurei desconcertada. – Por quê...

— Eu tinha uma irmã. – Confessou. – Thea. – Esclareceu. – Ela morreu. Leucemia. É por isso que meus pais fazem tantas doações ao hospital, eles querem contribuir de alguma maneira para pesquisas. Minha mãe sabe quão difícil foi, quase destruiu nossa família, meus pais... – Hesitou uma respiração. – Eles ainda não são os mesmos, isso meio que os separou.

— Sinto muito. – Murmurei sincera. – Eu realmente sinto tanto. E agora você tem que ouvir as lamentações de alguém que está passando por algo semelhante... É horrível.

— Tudo bem. – Murmurou me acalmando. – Eu escolhi estar aqui com você.

— Sim, mas eu não entendo. – Falei aflita e levantando-me, só então percebi que devia ter me sentindo constrangida por todo esse momento ter estado em seu colo. – Por quê? Você poderia ter me ignorado, ao menos no dia seguinte. – Argumentei. – Após saber sobre minha mãe, você podia ter me ignorado.

— Mas eu não queria. – Murmurou sem hesitar.

— Por pena. – Deduzi.

— Por que você precisa de mim. - Retrucou. – Por que eu preciso de você.

— Não faz sentindo. – Sussurrei. Eu entendia o fato de precisar dele, eu não negaria isso. Eu precisava. Mas como Oliver Queen precisaria de mim? Ele estava bem, apesar do que aconteceu com sua família, da perda de sua irmã, ele mesmo havia dito que de alguma forma havia seguido em frente. Então, por quê Oliver precisava de mim? Como? Não faz sentido.

— Você se lembra da primeira vez que nos conhecemos?- Perguntou sentando em minha cama.

— Eu não sei. – Murmurei tentando de fato me lembrar, sentei-me ao seu lado. – Eu acho que a primeira vez que conversamos foi na segunda semana de aula, você não compareceu a primeira, eu acho. Por que eu era a única sem dupla e quando você chegou ficou preso a mim. – Sorri lembrando-me de quando ele entrou no laboratório, parecendo confuso se deveria realmente estar lá, o único lugar vazio na bancada era ao lado ao meu. Eu me lembro de lançar um olhar aborrecido ao perceber que estava presa ao Ken, e que provavelmente eu teria que lidar com algum estúpido, por que um rapaz tão bonito como aquele deveria ser burro, certo? Eu surpreendentemente estava enganada. Após ficar um pouco desnorteada com seu sorriso de covinhas, eu percebi que Oliver Queen era bem esperto.

— Essa foi a primeira que conversamos. – Assentiu. – Mas não foi à primeira vez em que eu a vi. – Eu fui na primeira semana. – Esclareceu. – Eu só não pagava nenhuma matéria com você ainda. Na verdade eu te vi no meu primeiro dia de aula. – Pisquei surpresa com o que disse. Ele fazia parecer que havia mudado sua grade por mim. - Eu estava me sentindo horrível. Estava inquieto e até mesmo um pouco amargo. No dia anterior havia sido o aniversário de morte de Thea, e por mais que eu não quisesse ir à faculdade, eu fui. Minha mãe insistiu na verdade, ela disse que eu precisava de um pouco de normalidade, falou como se ela mesma não ficasse trancada em seu quarto todos dos dias. Eu não queria ir, mas fui. Eu me lembro que para combinar com meu humor, aquele havia sido um dia frio, havia amanhecido nublado. Eu fui com meu gorro e luvas, e não consegui entrar para a primeira aula, e sentei em alguns daqueles bancos no pátio. Apesar de minhas orelhas estarem congelando eu tirei meu gorro e o torci em minhas mãos, eu estava inquieto demais.

— Você queria apenas ir embora. – Murmurei segurando sua mão que neste exato momento estava inquieta, seus dedos tamborilando sua coxa. Descansei minha mão lá.

— Mas eu havia prometido que não voltaria para casa. – Continuou. – Então eu me levantei e me forcei a entrar. E eu esqueci meu gorro em cima do banco. – Ele sorriu. O que me surpreendeu. – Eu não demorei muito a perceber isso...

— Por que suas orelhas estavam congelando. – Brinquei.

— Então eu deixei minhas coisas na sala e voltei. – Prosseguiu. – Claro, as chances de alguém tivesse pegado eram grandes. – Seu tom de voz, seu olhar, a pequena lembrança cutucando minha cabeça, fez com que uma suspeita gerasse em minha mente. – Você pegou. – Murmurou fazendo com que a imagem finalmente explodisse em minha mente. Eu de fato havia pego, eu havia encontrado um gorro no primeiro dia de aula. Eu havia usado e levado até o “achados” no final das minhas aulas – Eu te vi, sentando no banco e pegando o gorro, você o encarou por algum tempo, e então colocou. Eu ia conversar com você, mas então você fechou os olhos, inclinou a cabeça e sorriu. E nesse momento o céu se abriu, as nuvens se afastaram e raios de sol aqueceram sua pele, eu a encarei embasbacado até que percebi que foi por isso que você sorria, que foi por isso que você inclinou sua cabeça para trás, você estava aproveitando a chegada do calor suave.

— Então, você vai me dizer que correu para se matricular em minhas aulas por que me viu usando seu gorro? – Perguntei sentindo-me estranha e confusa.

— Não. - Negou prontamente. – Pelo seu sorriso. Aquele momento, foi o único em que eu senti que tudo estava bem, que ia ficar bem. Eu precisava ter mais de seus sorrisos, ainda que breves e impessoais. Eu decidi que queria mais daqueles sorrisos.

— Você realmente é um stalker. – Murmurei aturdida.

— Talvez. – Sorriu. – Eu sei que deveria me sentir culpado.

—Sim, você deveria. – Assenti. Meneei a cabeça, um sorriso nervoso escapando. – Isso é um pouco assustador.

— A palavra que você está procurando é adorável. – Piscou. E droga se nesse momento essa não foi exatamente a palavra que veio em minha mente. – Eu gosto de você, Felicity. E eu acho que você gosta de mim também, mas eu não quero te forçar a nada, esse não é o momento. Eu gosto de ser seu amigo, e é disso que você precisa agora, e estou mais do que contente em ser. – Seu braço envolveu meu ombro puxando-me contra si, sem protestar eu deixei minha cabeça cair contra o seu. Fechei meus olhos enquanto o escutava falar. – Eu só quero que você saiba que eu preciso de você, tanto quanto você precisa de mim.

— Então você realmente precisa de mim. – Murmurei.  Se isso o surpreendeu eu não poderia dizer. Por que eu ainda ocultava meu rosto, estava segura de qualquer constrangimento no momento.

— Eu posso te dar um conselho? – Perguntou após um momento.

— Claro. – Assenti.

— Você precisa conversar com sua mãe. – Sua sugestão fez com que eu me afastasse.

— Eu não sei se vou aceitar esse conselho. – Falei quase rudemente. – Tudo o que minha mãe faz agora é planos para sua morte iminente. Ela já tem tudo acertado sobre seu enterro, seu caixão, tudo. É mórbido demais, e ela ainda me conta com um sorriso nos lábios. Ela está lá, aparentemente bem, faz brincadeiras, e até fisicamente não parece haver nada de errado, mas ela está doente e ignora isso, e ela poderia estar em busca de tratamentos, cirurgias que poderia ao menos prolongar sua vida, mas não, ela está ligando para bufês e escolhendo a roupa que vai usar.

— Ela precisa conversar com você. – Reafirmou. – Ela está se distraindo da maneira que pode, você não pode se afastar agora.

— Eu...

— Converse com ela, Felicity. – Voltou a pedir. – Você não vai se perdoar se não o fizer.

Segurei um novo protesto. Por que eu sabia a partir do momento em que ele me encarou daquela sua forma envolvente e preocupada... Que eu estaria atendendo seu pedido. Então eu apenas assenti. Uma promessa silenciosa de que faria o que ele havia pedido.

A conversa teve que ser adiada já que quando eu ainda estava confortável nos braços de Oliver, minha mãe abriu a porta fazendo com que eu me afastasse dele de imediato. Após algumas piscadas demonstrando surpresa um enorme sorriso foi sua resposta, seu sorriso veio com a pergunta constrangedora de qual seria o nome do rapaz bonito, ou ele ficaria contente em apenas responder por genro? Dali em diante meu rosto não foi de outro tom senão rosa.  Ela conseguiu fazer com que ele ficasse para o jantar, conseguiu me envergonhar cada minuto deste. Oliver parecia encantado com ela, sempre foi assim. Minha mãe era a simpática e alegre, eu sempre fui a que mantinha a distância educada.

Ele saiu da minha casa com um enorme sorriso e um abraço dela. Ela sussurrou algo em seu ouvido e ela assentiu concordado, apesar da curiosidade em perguntar o que ela havia dito, eu guardei minha pergunta para um outro dia, o abracei e pedi desculpas por qualquer inconveniente.

E foi assim que fizemos uma nova rotina.

Pelo menos dois dias na semana Oliver jantava conosco. Logo estávamos sempre juntos e foi impossível eu não acabar me envolvendo com seus amigos. Antes eu não tinha ninguém além da minha mãe. Agora eu tinha Oliver, Tommy e Sara.

— Por que estamos aqui? – Perguntei sentada ao lado de Oliver no enorme sofá rosa claro. Jogada nele era uma descrição mais certa, estávamos tão juntos que o peso do meu corpo estava completamente contra ele. Senti outro peso ser jogado contra mim no lado oposto e encarei Tommy que havia se sentado com um semblante aborrecido, um pacote de pipoca em sua mão, a outra levando algumas a boca. Estávamos no shopping, Oliver havia me arrastado para aqui e me levado até a elegante loja sem qualquer outra explicação.

Eu queria abrir a boca e enche-lo de reclamações, e perguntas, mas tudo o que fiz foi voltar meu olhar para Tommy e perguntar:

— Onde você conseguiu isso? – Ele me encarou confuso e olhou para a pipoca e deu de ombros.

— Estavam distribuindo.  – Explicou. – Algo haver com dia das crianças.

— Tommy. – O chamei.

— Hum?

— Você não é mais criança. – Falei erguendo uma sobrancelha, minha mente indo para a imagem criada desse grande homem entrando em uma fila de crianças e pegando a pipoca destinada a elas.

— Não mate a criança que ainda existe em mim. – Falou me lançando um olhar horrorizado. – O que estamos fazendo aqui?

— Eu acho que Oliver quer me distrair. – Falei rapidamente.

— Eu não...

— Sim, você quer. – Falei o encarando. – Você sabe que minha mãe começou a segunda rodada de químio e sabe como as coisas ficam feias, você quer me distrair. – Falei convicta. Eu tinha certeza que era isso. Após conversarmos a sério, eu pedi a minha mãe que ela lutasse, por nós duas, por mim. Eu sei que foi egoísta, mas não pude evitar pedir. Ela falou que queria terminar sua vida com dignidade e quer preferia terminar seus dias como era. Quimioterapia era brutal, eu não sabia o quanto até que ela passou pela primeira rodada. Ela negou a primeiro momento alegando que isso apenas a deixaria mais vulnerável e que seus dias seriam mais curtos, estaria sempre cansada e indisposta, sempre passando mal. A contra gosto eu aceitei o que havia dito, eu não poderia exigir isso dela. Então no dia seguinte ela me disse casualmente no café da manhã que havia marcado suas sessões.  – Eu deveria estar com ela agora. – Tão logo terminei de solta-las, senti a mão de Tommy envolver a minha. Seu apoio silencioso.

— Ela está com sua melhor amiga. – Oliver argumentou. – Ela não quer você por perto agora.

— Mas ainda assim eu deveria. – Retruquei.

— Nós iremos. – Prometeu. – Assim que terminarmos isso.

— O que diabos é isso? – Tommy perguntou por fim.

— Sara me mandou uma mensagem. – Oliver explicou. – Pediu que esperássemos aqui.

— Por quê? – Questionei. Nesse exato momento a porta a nossa frente se abriu.

— Por que eu queria te animar. – Sara murmurou com o cenho franzindo, enquanto ajeitava o vestido que caia perfeitamente ao seu corpo. – Mas como sempre você é contra isso. – Resmungou.  – O que acham? – Murmurou estendendo os braços e dando meia volta.

— Ela realmente nos chamou para isso? – Tommy perguntou rabugento. – Não somos seus amigos gays!

— Felicity?  - Sara murmurou o ignorando.

— Você está linda. – Murmurei ainda que assim como Tommy estivesse um pouco irritada por ser trazida a um shopping para ver Sara provar roupas, eu não sabia como Oliver não estava reclamando. Virei meu rosto para encarar o seu e notei que embora Oliver não dissesse nada em palavras seu olhar gritava em protesto.

— Vocês três, parem com os olhares rancorosos. – Pediu. – Eu não vou força-los a ficar me vendo trocar vestidos atrás de vestidos, eu já fiz isso antes de vocês chegarem, quero uma aprovação coletiva, por que esse será o vestido que vou usar na festa de formatura.

— Você vai ter uma festa de formatura? – Perguntei incrédula. Não exatamente pelo seu desejo de comemorar, mas como. Sara era mais do tipo ida a um bar e bebidas para todos. Eu não esperava por ela passando seu tempo escolhendo vestidos para ter seu nome chamado na frente de uma multidão.

— Você não? – Perguntou confusa. Não respondi sua pergunta, não queria lembra-la que eu não estaria me formando em pelo menos dois anos, e não queria lembra-la que todos os meus gastos estavam concentrados no tratamento da minha mãe, e que em dois anos ela não estaria lá, então eu não via muito sentido em fazer uma festa em que minha mãe não estaria, mas minha falta de resposta foi por si só foi à resposta.

— Sinto muito. – Ela murmurou em tom compreensivo.

— Você não deve sentir muito por estar ansiosa por algo que merece. – Murmurei a repreendendo. – Você está linda, e eu tenho certeza que esses dois amigos héteros apreciadores das formas femininas podem concordar.

—Depende. Quem vai ser seu par? – Tommy perguntou franzindo o cenho.

— Não é o baile do colegial Tommy. – Oliver murmurou. – Você está linda Sara, agora podemos sair daqui e ir para a surpresa que você disse ter reservado para Felicity?

— Heim? – Murmurei confusa.

— Você ao menos sabe o significado da palavra “surpresa”?  -Sara retrucou. – Vocês são péssimos amigos, péssimos. – Murmurou antes de voltar para o provador.

— Qual é minha surpresa? – Perguntei assim que a porta foi fechada.

— Depois disso você acha que eu vou contar? – Oliver retrucou.

— Eu preciso saber para disfarçar se eu não gostar. – Expliquei. – Confie em mim, você não quer minha reação real se eu não gostar, eu não sei fingir muito bem na hora, eu não sei fingir nem um pouco. Meu rosto... Ele vai me entregar.

— Eu não sei. – Meneou a cabeça.

— Você sabe. – Murmurei convicta.

— Eu juro, eu não sei. – Retrucou.

— Você sabe. – Acusei. – Você também não é muito bom em mentir Oliver.

— Eu não sei, eu...

— Oh pelo amor de Deus, apenas conte logo. – Tommy pediu impaciente.

— Vamos patinar! – Assustada encarei a porta do provador de onde vinha o grito, logo Sara colocou sua cabeça para fora, seu olhar fulminando o de Oliver. – Eu me nego a deixar você contar isso também.

— Vocês duas vão patinar. – Oliver murmurou dando destaque a vocês. – Eu vou ficar observando.

— Assim como eu. – Tommy assentiu também. Escutei um bufo feminino soar, e logo Sara saia do provador, ela parou apenas para entregar a roupa a atendente e sorrir de forma simpática, quando nos encarou seu rosto se fechou.

— Todos nós vamos. – Falou entre dentes. – Não se esqueça que combinamos algo em grupo.

— Eu não patino. – Oliver murmurou.

— Eu sou muito alto, meu senso de equilíbrio é péssimo. – Tommy deu de ombros.

— Por que precisamos patinar? – Perguntei com um suspiro.

— Por que abriu uma pista de patinação. – Respondeu. – E por que sua mãe disse que você amava patinar.

— Sim, quando eu tinha doze. – Dei de ombros. – Desde então eu não chego perto de um.

— O que aconteceu? – Oliver perguntou curioso.

— Eu conheci os livros. – Sorri. – Encontrei outra maneira de me divertir e de bônus não precisei mais me preocupar com machucados. – Os olhos de Tommy se abriram antes de encarar Sara.

— Eu me nego a fazer isso. – Sara suspirou vencida.

— Está bem, ela me alertou sobre isso. – Disse. – Então pense em algo para fazermos.

— Ninguém quer entrar na fila da pipoca e pegar mais para mim? – Tommy sugeriu.

— Você tem certeza que não tem doze?- Perguntou impaciente.

— O que você quer fazer Felicity?- Oliver questionou-me segurando minha mão, o encarei com um sorriso agradecido.

— Eu quero ver minha mãe.  –Murmurei simplesmente. Ele assentiu concordando e me atraiu para os seus braços, abraçando minha cintura enquanto encarava Sara.

— Pegue suas coisas.  – Indicou a vendedora que a aguardava. – Vamos todos visitar Donna.

— Você acha que ela já está no quarto.  – Tommy perguntou observando Sara se afastar. Meneei a cabeça em negativa.

— Mas acho que quando chegarmos, sim. – Respondi.

Mas eu estava errada.

Quando minha mãe foi conversar com o Dr. Wilson sobre a quimioterapia, eu fui com ela. Ela não gostou, mas eu insisti, eu queria saber sobre todos aqueles assustadores efeitos colaterais e ficar atenta a elas. Parte de mim quis ignora-lo, pensar que era apenas algo que avisam sobre por que precisavam fazer isso, mas que nunca poderia acontecer.

Mas aconteceu.

Foi imediato até, ela teve um coágulo e precisou ir as pressas para a cirurgia. Quando chegamos no hospital ela tinha acabado de entrar, minha vizinha, sua melhor amiga, ficou em choque ao me ver. Não conseguiu expressar em palavras o que aconteceu, ela apenas me abraçou e chorou, e eu ainda ao certo sem saber o que acontecia, se minha mãe estava ou não viva, também chorei. Oliver tomou a dianteira, ele me entregou a Sara e Tommy que imediatamente me rodearam e foi atrás de respostas. Por pouco eu não havia pelo menos tido a oportunidade de ver minha mãe antes da cirurgia.

Ficamos sentados ali por horas, que pareceram dias, eu ouvia vozes, eu sentia os abraços, mas eu não sabia a quem de fato pertencia. Alguém, talvez Tommy forçou-me a tomar um pouco de água, e Sara puxou meu braço para levar-me para longe dali, por apenas alguns minutos. Andamos sem destino pelo hospital, até que a obriguei a me levar de volta.

Estávamos nos aproximando da sala de espera, eu podia ver Oliver em pé, e o médico cirurgião a sua frente, eu quis acelerar meu passo, alcança-los o quanto antes, mas eu parei, subitamente eu parei. Sara me encarou confusa, seu olhar indo até onde Tommy, Oliver e minha vizinha ainda estavam, e de volta para mim. Então ela viu.

Assim como eu havia visto, ela viu.

O olhar do médico.

Aquele tipo de olhar eu jamais esqueceria.

Ele não traria boa notícias, não.

Ele estava aqui para dizer que sentia muito, que havia tentado de tudo, mas que no fim não conseguira.

Minha mãe estava morta.

Respirei fundo, percebendo que o pânico já me dominava e senti a mão de Sara envolver meu braço.

— Felicity... – Sussurrou com angustia.

— Não. – Com um movimento brusco soltei meu braço. – Não. – Repeti antes de lhe dar as costas, e cegamente correr. Eu não poderia lidar com aquilo, eu não poderia fazer isso, não.

Eu corri.

Eu apenas fugi.

E apenas quando parei pude notar para onde tão cegamente meu coração levou.

Com meu coração explodindo, e minha respiração queimando, apoiei minhas mãos na pedra fria, e olhei para o lago. Mais uma vez eu estava parada naquela ponte, mas nada ali acalmava. Não haviam pais com seu bebê, nem idosos com mãos entrelaçadas, e a criança que antes era tão amorosamente protegida pela mãe, havia sumido. Tudo estava escuro, as estrelas acima zombavam de mim.

Eu havia perdido isso também.

Minha mãe nunca conheceria um neto, nunca iria a um casamento meu, e ela já não podia me proteger de possíveis feridas. Por que todos os machucados que a vida poderia ter me dado, perde-la foi a maior que já tive. Meus joelhos cederam e dei as costas ao cenário bonito, os abracei e colando minhas costas contra o concreto gélido. Eu chorei.

Por um longo tempo tudo o que fiz foi chorar.

Por tudo o que perdi.

Por tudo o que não teria.

Então o senti.

Percebi quando silenciosamente sentou ao meu lado.

E não congelei quando com um braço me trouxe para perto de si.

Senti seu cheiro.

Senti seu calor.

Seu amor.

E eu sabia. Mesmo sentindo meu mundo desabar, mesmo sentindo cada parte minha quebrar em mil pedaços, ainda assim eu sabia. Eu sabia que ele estaria ao meu lado.

Oliver.

E foi assim que suportei aquele dia.

E os dias que vieram depois.

Com Oliver, Sara e Tommy  e Barry ao meu lado, eu me despedi da minha mãe. Tudo ocorreu como ela queria, e eu não consegui dizer nada além de palavras vagas, que eu tinha certeza era obrigada a dizer quando alguém próximo morria.

Os dias se transformaram em semanas, e as semanas em meses, a formatura de Sara veio e eu estive lá, genuinamente feliz por ela, mas não estando presente de todo.

Oliver não quebrou nossa rotina, apenas adicionou algo novo. Agora ele entrava junto comigo e subia na cama, me abraçando até que eu finalmente caia no sono. Então ele partia.

Ele foi meu melhor amigo.

Foi paciente.

Foi o que eu precisei.

Até o dia em que senti minhas cobertas sendo puxadas.

— O que diabos?!! – Murmurei abraçando meus seios, mais por puro instinto do que por estar despida, eu vestia um pijama composto, mas a confusão em ver Oliver em pé enfrente a minha cama, me fez esquecer isso. – Oliver?

— Temos que ir. – Murmurou decidido.

— O quê? – Perguntei confusa. – Como você entrou?

— Eu tenho uma chave. – Respondeu simplesmente. – Entre no banheiro e tome um banho, antes que eu faça isso por você. Será divertido, mas eu acho que isso vai deixa-la um pouco irritada.

— Como você tem minha chave? – Perguntei me erguendo e me aproximando para enfrenta-lo.

— Sua mãe me deu, é claro.  – Respondeu simplesmente, parei em choque.

— O quê? – Tive que perguntar. – O que você disse?

— Sua mãe. – Falou. – Você sabe, aquela mulher maravilhosa, e lutadora, que mesmo em meio a morte negou-se a deixar sua filha sem quaisquer proteções.

— Eu...

— Ela conversou comigo. – Revelou. – Com Tommy, com Sara. – Pisquei incrédula. Ele se aproximou e envolveu meu rosto com ambas as mãos. – Ela quis certificar que sempre estaríamos por perto.  Ela nos contou sobre cada parte sua, desde criança e pediu para que tivéssemos paciência, por que por um longo tempo, tudo o que você teve foi ela, e que ia demorar um pouco para você perceber, que agora tinha a nós também.

— Oliver...

— Eu estou fazendo o que minha mãe fez. – Falou. – Eu a vejo todos dias sorrir e dizer que está tudo bem, eu conheço você, eu conheço seus sorrisos. E eu sei que não está tudo bem.

— Então você vai me forçar a levantar da cama, e de outra forma fingir que está tudo bem? – Perguntei sem paciência. – Sim, eu não estou bem, e eu acho que nunca vou estar, minha mãe morrer, é para eu não estar bem! – Gritei. Oliver inclinou seu rosto me analisando.

— Eu sei. – Murmurou abraçando-me. – Eu sei, e é assim que deve ser, mas você deve tentar, você deve isso a ela, tudo o que ela queria é que vocês fosse feliz.

— Como eu posso ser feliz? – Perguntei desesperada. – Como, Oliver? Eu não quero. Minha mãe morreu, e eu estava em um shopping, fingindo que tudo ficaria bem, que a quimioterapia não estava a destruindo. Tudo o que ela queria era sentar no sofá da sala e assistir alguns filmes idiotas comigo, comer pipoca e escolher meu futuro marido com base em comédias românticas, eu a empurrei a fazer aquilo. Eu disse que ela estava desistindo de nós, mas a verdade é que ela desistiu de viver, no momento em que aceitou minha loucura, para me fazer feliz. Então simplesmente tenho que ser feliz agora? – Perguntei o afastando.

— Felicity. – Chamou-me.

— Eu te amo, Oliver. – Murmurei. – E agradeço por cada momento em que esteve ao meu lado, mas chega a ser injusto o quanto eu preciso de você, mas não lhe dou nada em troca.

— Amar não é assim. – Negou. – Eu não quero nada em troca, eu amo você. – Assentiu. – E para mim isso basta. Não estou tentando fazer gestos grandiosos. Eu quero não saltar de paraquedas com uma frase pedindo que se case comigo, eu não vou nomear uma estrela com seu nome. Eu não vou subir em um balão e gritar meu amor por você. – Meneou a cabeça. - E eu não quero que você faça o mesmo por mim. – Concentrei-me em suas palavras, cada uma delas. - As vezes eu vou apenas sentar ao seu lado. Eu vou segurar sua mão, e quando parecer que você vai chorar, eu vou me certificar de estar por perto, para que possa usar meu ombro. Eu vou carregar o peso, mesmo sabendo que você pode, por que eu sei que eu posso fazer isso com você. E eu vou tentar dia após dia, dar um motivo para você sorrir. Aquele sorriso sincero, que me cativou pela primeira vez.

— Oliver...

— Eu vou entender que quando você deita sua cabeça em meu ombro, é por que você sente confortável em meus braços. – Sussurrou. – Que quando você coloca a mão em meu peito, não é para me afastar, você está tentando sentir meu coração, por que você sabe que ele pertence a você. – Engoli em seco percebendo que suas mãos voltaram a me aproximar de sua, me abraçou pela cintura, e sua voz era suave, o timbre rouco e baixo quando sussurrou em meu ouvido.  – Eu não vou gritar ao mundo que eu te amo, por que ambos sabemos, que a única pessoa que realmente deve ouvir, é você. – O abracei e fechei meus olhos assimilando seu calor, seu cheiro, e sim, concentrando-me agora nas batidas do seu coração. – Eu te amo. E eu quero que seja feliz comigo. Não só pelos meus motivos egoístas, mas por que naquele primeiro dia em que sua mãe me conheceu, foi isso que ela me pediu.

Sempre fiquei curiosa sobre aquilo, e nunca ousei pergunta-lo, por que sabia Oliver não esconderia de mim. Senti meu corpo tremer, e as lágrimas voltarem a descer. Mas não apenas de tristeza. Eu estava feliz, por que minha mãe chegou a conhecer Oliver, por que ela teve ao menos a tranquilidade de partir sem se preocupar em me deixar sozinha, e foi compreendendo isso, que na sua paz encontrei a minha.

Eu sabia que ele nunca seria aquele a dar o primeiro passo, pois temia estar se aproveitando de um momento frágil, então recuei apenas para ergue-me nas pontas dos pés e beija-lo. Oliver ainda estava hesitante, confuso em como agir, mas não o deixei hesitar, e tirei sua confusão. Segui o beijando, e demostrando assim, que eu não o queria apenas como melhor amigo, algo que ele jamais deixaria de ser.

Pela primeira vez permiti que Oliver fosse algo além.

Meu amor.

Alguém que esteve comigo cada dia depois, com quem construí uma vida. Quem sempre me acompanhou anos após anos, quando eu visitava minha mãe. Oliver segurou minha mão quando caminhei pela igreja, mudando aquela enfadonha tradição, quando nos casamos. Ele segurou minha mão quando o tirei para dançar em nosso primeiro ano de casados, e não a soltou enquanto eu dava luz a nossa primeira filha. Oliver cumpriu sua promessa silenciosa, não dita, de estar sempre ao meu lado.

Assim como eu estava ao seu.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!!
No vemos nos coments ;)

Xoxo, Lelahballu.



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