Guss me olhou surpreso antes de sorrir. – Tentei não olhar para o corpo dele parado bem na minha frente. – Era impossível não admitir que Guss era bonito e atraente.

Ainda mais sem camisa... – Pensei. – São só esses hormônios de adolescentes que me fazem pensar isso! – me reprovei mentalmente.

— May... – Ele coçou a nuca constrangido.

Não pelo fato de estar sem camisa na minha frente, não era a primeira vez que eu o via assim. Mas eu tinha quase certeza que era por ter desmarcado de sairmos no dia anterior.

— Oi, Guss. – digo sorrindo pra ele.

— Não está brava comigo? – pergunta surpreso.

— Não. Pelo menos você avisou dessa vez. – brinquei.

— Então por que está aqui?

— Izzie. Ela me chamou. – explico.

— Ah sim. Entra... – Ele afastou o corpo um pouco me dando passagem para entrar.

— Ela está no quarto?

— Sim. – confirmou enquanto íamos até a sala.

— May, querida! – a mãe dele abre um sorriso quando me vê.

Antoniete Miles. – Mãe da Izzie e do Guss. – Ela me conhece desde que eu era um bebê. Por ser amiga da minha mãe, foi assim que conheci seus filhos, que hoje são meus amigos.

— Oi, tia Antoniete. – devolvo o sorriso a ela.

— Faz um tempo que você não aparece por aqui... Como está sua mãe? – indaga sorrindo simpática.

— Ela está bem.

— Preciso visita-la qualquer dia. Estou sem tempo esses últimos dias com toda a correria da loja. – diz pegando a bolsa que estava em cima do sofá.

Ela tinha uma loja no centro da cidade. Ela e o marido, pai de Izzie e Guss.

— Ela vai ficar muito feliz. – falei respondendo-a.

Antoniete sorriu antes de vim até mim e se despedir. Assim que saiu pela porta Guss se jogou no sofá.

Fui caminhando até a escada para ir até o quarto de Izzie, quando Guss me chamou.

— Não quer jogar comigo? – perguntou olhando de mim para o vídeo game.

— Não vim aqui pra ficar com você Guss, vim pra ver Izzie. – falei.

Mesmo que eu não estivesse com raiva por ele ter desmarcado comigo, não queria mais me manter tão perto dele. – Guss estava com Lindsay agora, e não seria saudável pra mim alimentar essa “paixão platônica”.

— Quanta educação em! – Ele diz rindo e eu reviro os olhos.

Bato duas vezes na porta do quarto da Izzie, ela abre e assim que me vê me abraça.

— O que houve? Sua mensagem me deixou preocupada! – falei enquanto sentavamos na cama.

— Fiz besteira, May! – Ela diz e abaixa a cabeça.

— Besteira? O que aconteceu? – perguntei preocupada.

— Você se lembra que eu ia sair com o Brian, ontem, certo? – Ela começou a falar.

— Sim, me lembro.

— Então... – A voz de Izzie morreu, e ela tapou o rosto com as mãos.

Foram poucas vezes na vida que vi Izzie com vergonha. Mas nesse momento ela estava.

— Olha pra mim Izzie! – falei tentando tirar as mãos dela do rosto.

Quando enfim consegui fazer ela olhar pra mim, vi que seu rosto estava vermelho de vergonha e seu olhar transparecia arrependimento.

— Você não foi? – pergunto.

— Pior. Eu fui...

— Izzie, ele te fez alguma coisa? – indago preocupada com ela.

— Não, May. Fui eu, eu fiz uma coisa! – Izzie diz.

— O que?

— Quando Brian me chamou pra sair, tudo que pensei foi “nós podemos ser amigos, quero deixar isso claro pra ele hoje.” Mas eu não sabia que não ia ser só nós naquele encontro...

— Como assim? Tinha mais alguém com vocês?

— Ele convidou a Briana e a namorada dela. Quando chegamos no restaurante e as vi tudo que eu quis fazer foi sair correndo, mas eu não podia, certo?! Então eu fiquei lá, vendo o quanto elas estão apaixonadas... – O olhar dela se perdeu em qualquer canto do quarto. Izzie parecia aborrecida.

— Então...? – dei força para ela continuar.

— Então nós comemos, conversamos... E quando estávamos nos despedindo para irmos embora, Nina, a namorada da Briana beijou ela... – Izzie fez uma pausa. – Então eu... Eu... Beijei o Brian!

— Você o que? – falei alto demais.

Já tinha percebido que Izzie não estava afim do Brian. E que mesmo que ela não admitisse com todas as letras, ela estava gostando mesmo da Briana. – Conhecia Izzie o suficientemente bem pra saber que era difícil pra ela dizer que gosta de uma garota.

Mas acho que já está na hora dela pelo menos admitir isso.

— Sei que foi muito errado! E me arrependo. – fala com sinceridade. – Mas agora Brian não para de me mandar mensagens, ele gosta de mim... – Izzie respirou fundo. – E Briana não responde minhas mensagens... o olhar dela ontem quando viu o beijo...

— Acho que você deveria ser honesta. – falei tocando a mão dela com carinho.

— O que quer dizer? – Izzie olhava em meus olhos.

— Izzie, você gosta da Briana? – perguntei.

Ela desviou o olhar do meu e fechou os olhos, em seguida Izzie sacudiu a cabeça negativamente.

— Não é isso... é só que...

— É só que?

— Ela é uma garota, May! – Izzie diz com irritação. – Chega, não quero mais falar sobre isso.

— As coisas não são assim, Izzie. – falei mantendo a calma.

Ela me olhou frustrada.

— Você se lembra quando eu estava no sétimo ano, e você no oitavo? – Izzie falou depois de minutos em silêncio.

Me recordava claramente disso. De ver Izzie chorar no banheiro por causa de uma garota. Ela nunca quis me dizer o que realmente havia acontecido, sabia que era delicado pra ela, então nunca insisti no assunto.

— Me lembro sim...

— Tinha uma garota, que era da minha turma. Nós nos dávamos bem, éramos amigas... uma vez durante a aula de educação física nós duas nos escondemos atrás das arquibancadas... – Izzie deixou uma lágrima escapar por seus olhos. Segurei mais firme em sua mão dando força a ela. – Nós nos beijamos, uma vez. Eu gostava dela, mas era inocente... A professora viu – Izzie voltou a me olhar nos olhos. – Ela contou para as nossas mães... Sabe como minha mãe reagiu? Ela me bateu naquele dia.

Engoli em seco. – sentia-me tão triste em ver o quanto aquilo machucava ela.

— Izzie eu sinto muito...

— Mas o que a mãe da garota fez, foi pior. Ela tirou ela do colégio, nos disse coisas horríveis. Que aquilo que a gente fez era errado, que nós éramos nojentas... E coisas muito piores. – ela soltou minha mão para poder enxugar as lágrimas.

— Você não é nada disso, Izzie! – digo abraçando-a. – Você não é! – repito.

— Você tem razão, May, preciso ser honesta. – confessou. – Primeiro preciso ser honesta comigo mesmo.

Alguns minutos se passam e desfazemos o abraço, ela sorri pra mim.

— Obrigada! – Izzie me agradece enquanto eu sorria de volta pra ela.

— Só quero o melhor pra você.

— Eu sei! – Ela fala se levantando. – E acho que você também deveria ser honesta com você mesma.

— O que? Do que você está falando? – perguntei sem entender.

— Do Elliot... e do Guss! – Izzie falou provocando-me.

— Vai começar? – respondo com impaciência.

— Eu sei que você é apaixonada pelo Guss... – Izzie falou e eu joguei um travesseiro em sua direção.

— Cala boca! Ele está em casa, quer que ele nos escute?

— Ele está na sala! – Izzie revirou os olhos.

— E daí? Sabe que Guss pode entrar aqui a qualquer momento!

— Tá, tá! – diz dando de ombros – Como eu ia dizendo... Você é apaixonada pelo Guss... Mas, você não sente nada pelo Elliot? – Izzie pronunciou o nome do Elliot quase num sussurro, depois sorriu fazendo graça.

— Claro que não! – respondo rapidamente. – Já te disse que ele é meio idiota!

— Não disse. Você disse que ele era idiota, agora você acha que ele é só um pouco... – ela me olhou com uma sobrancelha arqueada antes de voltar a sorrir. – Quer dizer, você está mudando de opinião sobre ele?

— Cala boca, Izzie! – revirei o olhos impaciente.

— Vou encarar isso como uma confirmação.

Meu celular tocou rapidamente, era uma notificação de mensagem. – Desbloquiei a tela enquanto Izzie mexia no dela.

Como se estivesse adivinhando que estávamos falando dele, Elliot me mandou uma mensagem.

“Está aí?”— Elliot.

Sinto meu rosto esquentar. – Mas por que eu estava com vergonha? – Virei a tela o máximo possível para que Izzie não olhasse.

Pensei no que escrever, mas a pergunta dele era simples, não tinha que responder nada além do que ele perguntou.

“Sim, estou.” – Rose May.

Mordo o lábio nervosa esperando a resposta dele, me distraio por meio segundo e Izzie pega o celular da minha mão.

— Você está trocando mensagens com ele? – Ela praticamente grita. – May! Como você não me conta isso?

Tentei pegar o celular de volta da mão dela. Não queria que Izzie lesse o restante das mensagens que havíamos trocado na noite passada. – Não que tivesse alguma coisa de mais, mas mesmo assim.

— Me devolve Izzie!

— Para de ser chata! – Ela se levantou da cama e saiu correndo pelo quarto.

Izzie abriu a porta e saiu apressada pela a escada, sigo ela gritando para que me devolvesse meu celular.

— Isso é invasão de privacidade, Izzie! – gritei irritada quando chegamos a sala.

— O que vocês duas estão fazendo? – Guss perguntou dando pause em seu jogo de vídeo game.

Havia me esquecido que ele estava aqui na sala. – Fuzilei Izzie com o olhar. – Ela parou perto da porta, o celular na mão. Fui até ela com a minha expressão mais raivosa, quando o celular vibrou.

— É ele! – ela falou sorrindo. Izzie olhou para o visor e um segundo depois ela veio até mim e entregou o celular. – Pensei que ele iria dizer algo mais interessante! – revirou os olhos. Enquanto eu lia a mensagem escutei Guss perguntar de quem ela estava falando e Izzie disse o nome do Elliot.

“Sam pediu para avisar que amanhã teremos uma reunião do grêmio.”— Elliot.

Uma pontada estranha de decepção me invadiu por alguns segundos. – Esperava que ele falasse outra coisa... Mas afinal, o que eu estava esperando? Só por que trocamos mensagens por uma noite, isso não significa nada!

Mas ainda assim... Ele parecia diferente na mensagem. Eu não sabia como explicar.

— May! – Guss me chamou.

Voltei a realidade. – Só aí notei que ele havia se aproximado de nós.

— O que esse cara quer com você? – Guss indagou me olhando.

— O que? – pergunto ainda confusa.

— Está com ciúmes, irmãozinho...?! – Izzie provoca.

Guss olhou nos meus olhos. – E agora a pergunta dela também martelava na minha cabeça.

Apesar de grande parte de mim não acreditar. Claro que ele não estava com ciúmes. Isso seria ridículo. Alguém como ele com ciúmes de mim?!

— Não! – ele respondeu sério. Izzie saiu de fininho deixando somente nós dois ali.

A resposta dele não me decepcionou, porque eu sinceramente já esperava por ela.

— Me preocupo com você, May... Você mal conhece esse cara. – Ele diz em tom de reprovação.

Aquilo era sério? – Guss havia me magoado a alguns dias atrás, estava namorando com a Lindsay e mesma assim achava que podia interferir na minha vida?

— Cuida da sua vida, Guss! – digo sentindo-me irritada.

— May...

— Você não tem uma namorada?! Cuida da vida dela. Não preciso que você se meta na minha vida! – falei e em seguida fui até a porta de saída abrindo-a.

Guss veio atrás de mim, mas continuei caminhando apressada pela calçada.

Ele me alcançou, Guss se colocou na minha frente bloqueando a passagem.

— Qual o problema? – indagou confuso.

Olhei em seus olhos. – O problema era gostar dele. Era saber que Guss nunca olharia pra mim da mesma forma que eu olhava pra ele.

— Preciso ir embora! – falo.

— Você não me respondeu. – diz sem se mover.

— Não quero que se meta na minha vida, Guss. – deixo claro.

— Só estou tentando proteger você! – ele se aproximou mais de mim, tocando minha bochecha com carinho. – Você é minha melhor amiga, não quero que ninguém parta seu coração.

Se eu não estivesse me sentindo aborrecida naquele momento, iria rir com muita ironia. – Já que o único garoto que poderia partir meu coração no momento era ele.

— Você e aquele garoto... Elliot, vocês...? – Guss indagou.

— Não existe “nós” entre mim e ele. Somos colegas de grêmio, é isso. – digo incomodada.

— Tudo bem... – Ele sorriu, parecia aliviado. – Fiquei sabendo umas coisas dele, May. De quando ele morava aqui na cidade.

— O que?

— Ele era de outra escola, acho que a uns dois anos atrás. Ele não andava com um pessoal muito legal, sabe?

— Como? – O olhei sem entender, assimilando as coisas. – Que pessoal?

— Não sei direito May. Mas o boato que dizem é que ele foi expulso da escola. – Guss fala.

Mordo o lábio pensando nas coisas que ele estava me dizendo. – Custei a acreditar, pois até onde me lembro, Sam Scott disse que Elliot tinha notas excelentes em sua antiga escola. – E o diretor Moroles nunca aceitaria um garoto problema no nosso colégio. – Já bastava o filho que ele tinha.

— Entendo... – digo pensativa.

— Não acho que ele seja bom pra você. – Guss falou.

— Não tenho nenhum interesse nele, nem em outra pessoa! – digo afim de cortar aquele assunto. – Agora preciso ir pra casa.

— Quer que eu te acompanhe?

— Não, mas obrigada Guss.

Passei por ele e continuei caminhando até chegar em casa.

As coisas que Guss me disse não saiam da minha mente. – Qual seria a verdade sobre Elliot?